Siquém foi uma cidade do antigo Israel, da tribo de Manassés, que teve um papel importante na história bíblica. A cidade ficava entre os montes Ebal e Gerizim, na região central de Canaã, e era um ponto estratégico na rota comercial entre o Egito e a Mesopotâmia.
A cidade esteve presente em diversos relatos bíblicos do Antigo Testamento, em especial no período dos patriarcas e do juízes. Sua história se mescla com a história o povo israelita. Nela ocorreram conspirações, tramas políticas, assassinatos, ascensão e queda de reinados.
Além de sua importância para a história de Israel, ela parece ter sido uma importante cidade para os povos cananitas e egípcios, pois é mencionada em documentos egípcios do século XIX a.C. e em textos ugaríticos do século XIV a.C.
Vale ressaltar que o nome Siquém, além de se referir a cidade bíblica, está relacionado ao filho de Hamor, um homem que abusou da filha de Jacó, Diná.
História de Siquém: Primeiros anos
A origem de Siquém é incerta. Independente disto, de com as escavações há evidências de atividade humana em sua região desde 3500 a.C. [1]. Indicando que antes de formar uma cidade, houve breves períodos de atividade humana, sua maioria baseada na agricultura.
Primeiros habitantes
Entre os anos de 3500 e 3000 a.C. uma pequena aldeia se estabeleceu na região onde se criaria a antiga cidade de Siquém. Essa aldeia era composta por poucos camponeses, que plantavam nas encostas dos montes Ebal e Gerizim.
Esse primeiro assentamento teve fim aproximadamente em 3000 a.C. [1]. Seus moradores acabaram se deslocando e migrando para regiões mais férteis e próximas de rios, como o vale do Jordão e o vale de Jezreel.
Chegada de Abraão a Canaã
Foi na região onde se formou a cidade de Siquém, por volta de 2300 a.C., que Abraão, patriarca do povo de Israel, levantou seu primeiro altar ao Senhor.
O texto bíblico de Gênesis 12:6 nos relata que após chegar em Canaã, Abraão, neste tempo chamado apenas de Abraão, atravessa o monte Moré até chegar ao carvalho de Moré, na região onde se formou Siquém.
Neste local Deus aparece a Abraão e lhe promete dar toda a região de Canaã para sua descendência. Após falar com Deus, ele construiu um altar e se dirigiu até as terras de Betel e Ramá.
Fundação de Siquém
A fundação da cidade remonta ao segundo milênio a.C. (1900 a.C). Alguns estudiosos atribuem sua fundação aos povos cananeus, provavelmente amorreus ou hicsos [1]. Outros, porém, atribuem sua fundação a Siquém, filho de Hamor, um homem que abusou de Diná, filha de Jacó, e depois foi assassinato pelos filhos de Jacó.
Apesar de carecer de evidências que comprovem esse fato, é possível que a cidade invadida pelos filhos de Jacó, após o casamento de Diná com o filho e Hamor, seja a cidade de Siquém em seus primeiros anos. O nome Siquém foi atribuído posteriormente a cidade.
Em seu início a cidade de Siquém não desempenhou um papel comercial ou econômico tão relevante em Canaã. Entretanto, sua posição era estratégica e invejada por povos vizinhos, até o ponto de ser atacada pelos egípcios em 1880 a.C. [3]
Após o ataque egípcio, seus habitantes fortificaram as muralhas da cidade e fortaleceram seus portões. [3]
Com o passar dos séculos Siquém se fortaleceu e se tornou uma importante cidade cananita. Sua posição nas montanhas, próxima de terras férteis e perto de uma das principais rotas comerciais da região, a possibilitou crescer comerciante, politicamente e militarmente.
Domínio israelita de Siquém
A cidade de Siquém esteve presente em diversos relatos bíblicos ao longo dos livros de Josué, Juízes, 1 Reis e 2 Crônicas, descrevendo a história da cidade e seus habitantes durante todo o domínio de Israel em Canaã.
Conquista israelita
Siquém foi uma das primeiras cidades que os israelitas conquistaram, depois de Jericó, durante a conquista da Terra Prometida, Canaã, sob a liderança de Josué.
A cidade ficava entre os montes Gerizim e Ebal, onde Deus ordenou que Josué realizasse uma cerimônia de bênção e maldição, conforme a lei de Moisés (Dt 27).
Nessa cerimônia, seis tribos ficaram no monte Gerizim para pronunciar as bênçãos, e seis tribos ficaram no monte Ebal para pronunciar as maldições.
Josué leu todas as palavras da lei diante de todo o povo, incluindo as mulheres, as crianças e os estrangeiros que viviam entre eles (Js 8:30-35).
Siquém, uma das cidades refúgio de Israel
A cidade também foi designada como uma das cidades de refúgio, onde os homicidas involuntários podiam fugir da vingança dos parentes da vítima, até serem julgados ou até a morte do sumo sacerdote (Nm 35:9-34).
Além disso, ela foi uma das cidades dadas aos descendentes de Levi, que não receberam uma herança na terra (Js 21:1-45). A cidade pertencia à tribo de Manassés, mas também era próxima da tribo de Efraim, formando uma região estratégica e influente no território israelita.
Renovação da aliança de Deus com Israel
Em Siquém que Josué reuniu todo o povo, pouco antes de sua morte, para renovar a aliança entre Israel e Deus. Josué lembrou ao povo de toda a história de Deus com seus antepassados, desde Abraão até a conquista da terra prometida, e os exortou a escolherem servir ao Senhor, e não aos deuses das nações vizinhas.
O povo respondeu com firmeza que serviria ao Senhor, pois ele era o seu Deus, que os havia libertado e protegido. Josué fez um pacto com o povo naquele dia, e escreveu as palavras da aliança no livro da lei de Deus.
Josué levantou uma grande pedra debaixo do carvalho que havia no santuário do Senhor, como testemunha da aliança. Ali Josué despediu-se do povo, e morreu com a idade de 110 anos. Ele foi sepultado na região montanhosa de Efraim, ao norte do monte Gaás (Js 24:1-33).
Tumba de José
Antes de morrer, José havia feito um juramento com seus irmãos, pedindo que eles levassem os seus ossos de volta para a terra de Israel (Gn 50:24-26). Os israelitas cumpriram o juramento e tiraram seus osso do Egito.
Após conquistarem a Terra Prometida, os ossos de José foram enterrados no terreno que Jacó havia comprado de Hamor, na cidade de Siquém (Js 24:32). A localização exata desses ossos é desconhecida. No entanto, acredita-se que eles ainda estejam enterrados nas ruínas da cidade.
Reinado de Abimeleque em Siquém, durante o período dos juízes
Abimeleque, um dos setenta filhos do juiz Gideão, conspirou com seus parentes de Siquém para se tornar rei sobre a cidade. Após discursar para os habitantes de Siquém e Bete-Milo, estes concordam com o plano de assassinar os filhos de Gideão, e lhe deram setenta peças de prata do templo de Baal-Berite (Jz 9:1-5).
Abimeleque usou o dinheiro para contratar homens vadios e violentos, com os quais ele foi a Ofra, a casa de seu pai, e matou todos os seus irmãos, exceto Jotão, o mais novo.
Após o massacre, Abimeleque foi a Siquém, onde os cidadãos e os líderes o proclamaram rei junto ao carvalho do memorial que estava ali (Jz 9:6). Jotão, porém, subiu ao topo do monte Gerizim e gritou uma parábola contra Abimeleque e os siquemitas, profetizando a ruína de ambos. Depois ele fugiu para Beer (Jz 9:7-21).
Revolta contra Abimeleque
Deus enviou um espírito de discórdia entre Abimeleque e os cidadãos da cidade, que se rebelaram contra ele. Eles colocaram emboscadas contra ele nos montes e roubaram os que passavam por eles.
Gaal, filho de Ebede, se mudou para Siquém com seus irmãos e ganhou a confiança dos siquemitas. Ele insultou Abimeleque e desafiou-o a lutar. Zebul, o governador da cidade, que era leal a Abimeleque, enviou secretamente mensageiros a ele, avisando-o do plano de Gaal.
Abimeleque e seu exército atacaram a cidade de surpresa e derrotaram Gaal e os siquemitas. No dia seguinte, ele dividiu seu exército em três grupos e assaltou a cidade. Ele tomou a cidade e matou os seus habitantes. Depois ele destruiu a cidade e espalhou sal sobre ela (Jz 9:34-45).
Os que restaram dos cidadãos se refugiaram na torre do templo de Baal-Berite. Abimeleque foi até a torre e a incendiou, matando cerca de mil homens e mulheres. Depois ele foi atacar a cidade de Tebes (Jz 9:46-49).
Morte do rei Abimeleque
Havia em Tebes uma torre forte, onde todos os cidadãos e os líderes se refugiaram. Abimeleque se aproximou da torre para incendiá-la, mas uma mulher lançou uma pedra de moinho sobre sua cabeça e quebrou seu crânio.
O rei pediu ao seu escudeiro que o matasse com a espada, para que não se dissesse que ele morreu por uma mulher.
Assim morreu Abimeleque, conforme a palavra de Jotão. Deus também fez cair sobre os cidadãos de Siquém todo o mal que eles tinham feito.
Reinado de Roboão, de Judá
Depois da morte de Salomão, seu filho Roboão foi a Siquém para ser feito rei sobre todo o Israel (a Rs 12:1). Jeroboão, filho de Nebate, que havia fugido para o Egito, voltou e se apresentou a Roboão.
O povo de Israel pediu a Roboão que aliviasse o jugo pesado que Salomão havia imposto sobre eles. Roboão pediu três dias para pensar na resposta.
Ele consultou os anciãos que haviam servido a Salomão, e eles lhe aconselharam a ser bondoso e atender ao pedido do povo. Mas Roboão rejeitou o conselho deles e seguiu o dos jovens que haviam crescido com ele.
Entretanto, os mais jovens aconselharam Roboão a dizer ao povo que ele tornaria o jugo ainda mais pesado e castigaria com açoites.
No terceiro dia, Jeroboão e todo o Israel vieram a Roboão para ouvir a sua resposta. Roboão lhes falou asperamente, conforme o conselho dos jovens (1 Rs 12:12-15).
Assim, Israel se rebelou contra a casa de Davi e seguiu a Jeroboão, que se tornou rei sobre as dez tribos do norte. Somente Judá e Benjamim permaneceram fiéis a Roboão, que reinou sobre as duas tribos do sul.
Roboão enviou Adorão, que estava encarregado dos trabalhos forçados, para falar com Israel, mas eles o apedrejaram até a morte. Roboão fugiu rapidamente para Jerusalém em sua carruagem.
Domínio babilônico
Após a conquista babilônica de Canaã e destruição do reino de Judá, grande parte dos cidadãos da região, dais como os moradores de Siquém, foram levados cativos e dispersados para outras regiões do império de Nabucodonosor II.
Os remanescentes que ficaram na região restabeleceram o altar da cidade no monte Gerizim e mantiveram sua adoração ao Senhor. Esse altar O altar se tornou um símbolo da unidade do povo de Israel, e seu restabelecimento foi um sinal de esperança para os judeus que estavam sofrendo no cativeiro babilônico. [4]
Fuga dos israelitas remanescentes para o Egito (41:4-9)
Após a destruição de Jerusalém pelos babilônios, Gedalias, o governador nomeado por eles, foi assassinado por Ismael, filho de Netanias, que era da descendência real.
Ismael também matou todos os judeus que estavam com Gedalias em Mispá, e os soldados caldeus que ali se achavam.
No dia seguinte, ele encontrou oitenta homens que vinham de Siquém, Siló e Samaria, trazendo ofertas e incenso para o templo do Senhor. Eles tinham raspado a barba, rasgado as vestes e feito cortes em si mesmos, em sinal de luto. Ismael saiu ao encontro deles, chorando, e os convidou a entrar na casa de Gedalias.
Quando eles entraram na cidade, ele os matou e os lançou numa cova que o rei Asa havia feito, por causa de Baasa, rei de Israel. Ismael deixou dez homens vivos, porque eles lhe disseram que tinham escondido trigo, cevada, azeite e mel no campo. Assim, a cova foi cheia de cadáveres.
Siquém atualmente
Apesar de se saber que a antiga cidade de Siquém se localizava entre os monte Ebal e Gerizim, os estudiosos ainda discutem em que local exato ente os montes.
Aldeia de Askar
Os arqueólogos sugerem que as ruínas da antiga cidade estão localizadas na aldeia de Askar, na Jordânia, perto da cidade e Nablus.
O arqueólogo alemão Ernst Sellin foi o primeiro a encontrar os muros da cidade de Siquém. Os muros eram feitos de grandes pedras, e eram tão bem construídos que os arqueólogos os chamaram de “muros ciclópicos”.
Cidade de Nablus
A maior parte dos arqueólogos, porém, sugerem que a antiga cidade de Siquém a a atual Nablus, moderna.
Nablus é uma importante cidade da Palestina, localizada na Cisjordânia. É a quarta maior cidade da Palestina, com uma população estimada em mais de 150 mil habitantes. [5]
A cidade é um importante centro comercial e cultural. É conhecida por suas indústrias de artesanato, como a fabricação de tapetes, cerâmica e joias. A cidade também abriga várias universidades e institutos de pesquisa. [5]
Geografia de Siquém
A geografia de Siquém é caracterizada por um vale fértil, cercado pelos montes Ebal e Gerizim. A cidade fica a cerca de 550 metros acima do nível do mar, e tem uma fonte de água chamada de Poço de Jacó.
A cidade possuía uma posição estratégica, pois controlava as rotas comerciais entre o norte e o sul da Palestina, e entre o Mediterrâneo e o Jordão.
Principais atividades econômicas de Siquém
As principais atividades econômicas da região no passado foram o comércio e a agricultura. Atualmente a cidade de Nablus expandiu tais atividades e desenvolveu grandemente sua industrialização.
A cidade é um centro comercial e cultural palestino, com um mercado antigo e vários monumentos históricos e religiosos.
A agricultura é baseada no cultivo de oliveiras, figos, uvas, trigo e legumes. A indústria inclui a produção de sabão, têxteis, couro, cerâmica e artesanato. [5]
Clima de Siquém
O clima é mediterrâneo, com verões quentes e secos, e invernos frios e chuvosos, como a maior parte do antigo Israel. A temperatura média anual é de cerca de 19°C, e a precipitação média anual é de cerca de 650 mm. [5]
Fauna e flora
A fauna e a flora da região são típicas da região mediterrânea, com uma diversidade de espécies adaptadas ao clima e ao solo. A vegetação é composta por florestas de carvalhos, pinheiros, ciprestes, loureiros e pistácias, além de arbustos e ervas aromáticas.
Dentre as diferentes espécies de animais inclui mamíferos como raposas, chacais, hienas, lebres, esquilos e porcos-espinhos, além de aves como pombos, perdizes, corvos, águias e abutres.
Importância religiosa de Siquém
A cidade de Siquém tem uma grande importância religiosa para diferentes grupos, pois foi palco de vários eventos históricos relacionados tantos para judeus e samaritanos.
Judaísmo
Para os judeus, a cidade é importantes pois foi o lugar onde Abraão ergueu o primeiro altar ao Senhor quando chegou à Terra Prometida de Canaã. Também foi onde os ossos de José foram sepultados após a tomada da terra.
Judeus samaritanos
Para os samaritanos, Siquém é a cidade mais sagrada, pois é onde fica o monte Gerizim, que eles acreditam ser o verdadeiro local escolhido por Deus para o seu culto. Eles também afirmam ser os descendentes dos antigos israelitas que habitavam Siquém.
Significado de Siquém
O nome da cidade de “Siquém” tem sua origem no hebraico e tem como significado mais provável “ombros” ou “costas”. [6]
Outra interpretação possível é que o nome “Siquém” significa “lugar de reunião”. Esta interpretação é baseada no fato de que a cidade era um importante centro comercial e cultural, e também um importante centro religioso. [6]
Aprenda mais
[Vídeo] Samaria e Siquem desde o Monte Gerizim. Notícias de Israel.
[Vídeo] Siquém – Onde Deus entrega a promessa da Terra Santa. Joel Engel.
Perguntas comuns
Nesta seção você encontra as principais perguntas, com suas respectivas respostas, sobre esta importante cidade bíblica.
Quem é Siquém na Bíblia?
Siquém foi o nome de uma importante cidade do centro de Israel e de um personagem bíblico, que abusou de Diná filha de Jacó.
Onde é Siquém hoje?
A antiga cidade bíblica de Siquém é a atual Nablus, uma cidade que se encontra entre o monte Gerizim e monte Ebal. Nablus de encontra no norte da atual Palestina, no território da Cisjordânia.
Qual a distância de Siquém para o Egito?
Estima-se que a antiga cidade bíblica de Siquém fique a aproximadamente 814km do Egito.
Quem era o rei de Siquém?
O rei de Siquém era Abimeleque, filho do juiz Gideão. Ele foi um rei perverso, que assassinou grande parte de sua família para chegar ao trono.
Quem habitava em Siquém?
A cidade de Siquém era habitada por moradores da tribo de Manassés, sendo o mais famoso, Abimleque, filho de Gideão.
Fontes
[1] Tell Balata Archaeological Park: guidebook. Palestine. Ministry of Tourism and Antiquities.
[2] Assmann, Jan (2003). The mind of Egypt: history and meaning in the time of the Pharaohs. Harvard University Press.
[3] Seger, J. D., THE MB II FORTIFICATIONS AT SHECHEM AND GEZER: A HYKSOS RETROSPECTIVE. Eretz-Israel: Archaeological, Historical and Geographical Studies
[4] Oded Lipschits, The Fall and Rise of Jerusalem: Judah under Babylonian Rule (Winona Lake, Ind.: Eisenbrauns, 2005).
[5] Nablus, Territórios palestinos — estatísticas. Zhuji World.
[6] Siquém, símbolo de Israel Norte. Universidade Metodista de São Paulo.