Monte Gerizim

O monte Gerizim é uma colina do antigo Israel, atual Cisjordânia, presente em diversos relatos bíblicos do Antigo e Novo Testamento.

·

13 minutos de leitura

·

·

O monte Gerizim é uma montanha localizada na Cisjordânia, na antiga região da Samaria, mencionada na Bíblia. O monte é lembrado por ser o local mais sagrado para os samaritanos, e por ser mencionado durante a conversa de Jesus Cristo com a mulher samaritana, relatado em João 4.

Na região do monte ocorreram diversos eventos histórico-bíblicos importantes, relatados tanto no Antigo, quando Novo Testamento. Neste artigo queremos apresentar as principais características do monte, assim como sua história.


Geografia e outras características do monte Gerizim

O monte Gerizim, localizado na Cisjordânia, é uma das montanhas mais altas de Canaã, com 881 metros de altitude. Ele fica em uma região fértil de Canaã, sendo banhado por diversos rios e riachos da região, que nascem no monte e desaguam no rio Jordão.

Graças aos rios que se formam no monte, as terras de seu entorno são bem irrigadas e próprias para atividades agrícolas, sendo esta a principal atividade econômica da região desde a antiguidade.

O monte fica muito próximo ao famoso monte Ebal, sendo separados por apenas um estreito vale entre eles. No vale entre os montes, se encontra a atual cidade de Nablus [1], reconhecida por alguns estudiosos como antiga cidade bíblica de Siquém [1].

Mapa de Samaria, com marcação do monte Gerizim
Mapa de Samaria, com marcação do monte Gerizim

Flora do monte Gerizim

Até o século XX o Monte Gerizim não possuía uma floresta significativa, até que o império britânico, em 1920, plantou no norte do monte, uma floresta de pinheiros, carvalhos e oliveiras, plantada pelo governo britânico em 1920. [2]

Graças aos rios e riachos presentes na região, a floresta se desenvolveu e hoje abriga uma vasta quantidade de plantas silvestres e flores, além de diferentes espécies de animais e insetos.

Foto do monte Gerizim e sua floresta, com a cidade de Nablus e o monte Ebal ao fundo
Foto tirada de cima do monte Gerizim e sua floresta, com a cidade de Nablus e o monte Ebal ao fundo

Fauna do monte Gerizim

A fauna do monte é composta por diversas espécies de aves, répteis, insetos e mamíferos. Entre as aves, destacam-se o falcão, a águia, o corvo, o pica-pau, o rouxinol, o melro e o pardal.

Já entre os répteis, podemos encontrar diferentes espécies de cobras, lagartos, tartarugas e camaleões. Entre os insetos, há abelhas, borboletas, gafanhotos, cigarras e escorpiões. Por fim entre os mamíferos, há raposas, chacais, lebres, esquilos, porcos-espinhos e hienas. [2]

Clima do monte Gerizim

A região do monte possui um clima mediterrâneo, o que contribuiu para o crescimento de sua floresta. Os invernos na região são chuvosos e os verões secos. O solo é pedregoso, composto ems sua grande parte por calcário. [2]

Principais atividades econômicas na região

  • A agricultura, aproveitando a fertilidade do solo e a abundância de água na região. Algumas das culturas que se produzem no monte Gerizim são trigo, cevada, azeitonas, figos, uvas, tâmaras e amêndoas;
  • A pecuária, criando animais como ovelhas, cabras, vacas e burros;
  • O comércio, pois o monte Gerizim está situado numa rota estratégica entre a planície costeira e o vale do Jordão, facilitando a troca de produtos e serviços com outras regiões;
  • O turismo, pois o monte Gerizim possui uma importância histórica e religiosa para os israelitas e os samaritanos, atraindo visitantes que querem conhecer o seu patrimônio cultural e natural.

Origem e significado do nome “Gerizim”

A origem e o significado do monte Gerizim pode ser interpretado e se originado de duas formas distintas. Essas duas tradução são:

  • “montanhas dos gerizeus”;
  • “montanha dividida”.

Povo gerizeu

A primeira traduz o nome do monte como “montanha dos Gerizeus”. O gerizeus eram uma tribo que habitava as proximidades da Filístia, a terra dos filisteus [3]. Segundo essa interpretação, os gerizeus teriam dado o nome do monte antes da chegada dos israelitas na região, durante um período em que eles peregrinavam pela região de Canaã.

O monte dividido

A segunda interpretação traduz o nome do monte como “montanha cortada em duas”. Essa interpretação se baseia na forma do monte, que é dividido em duas partes por um vale, e na etimologia da palavra em seu original que parece dar esse interpretação. [3]

Fotografia do monte Gerizim e do monte Ebal
Fotografia do monte Gerizim e do monte Ebal

Relatos bíblicos do monte Gerizim

O monte Gerizim é mencionado em quatro ocasiões ao longo da Bíblia. Cada uma dessas ocasiões marcaram momentos importantes na história do povo de Deus.

A Cerimônia das bênçãos e maldições no monte Gerizim

Quando os israelitas entraram na terra prometida, sob a liderança de Josué, eles realizaram uma cerimônia solene no vale entre o monte Gerizim e o monte Ebal.

Essa cerimônia foi ordenada por Moisés, antes de sua morte, como uma forma de demonstrar a aliança entre Deus e seu povo. Nessa cerimônia, seis tribos de Israel se posicionaram no monte Gerizim, e outras seis tribos no monte Ebal.

Os levitas ficaram no meio, junto ao altar, e proclamaram as bênçãos e as maldições que acompanhariam a obediência ou a desobediência à lei de Deus. Todo o povo respondeu com um “amém” a cada declaração, expressando sua concordância e compromisso com a aliança (Dt 27:1-26; Js 8:30-35).

Ilustração de Josué proclamando as pessoas as bençãos e maldições
Ilustração de Josué proclamando as pessoas as bençãos e maldições

Essa cerimônia foi uma forma de lembrar ao povo de Israel que eles eram responsáveis por guardar os mandamentos de Deus, e que as consequências de suas escolhas seriam determinantes para o seu futuro na terra prometida.

Jotão e a parábola das árvores no monte Gerizim

Depois da morte do juiz Gideão, o quinto juís de Israel, seu filho Abimeleque conspirou juntamente com as cidade de Siquém e Bete-Milo para assassinarem toda a família de Gideão. Abimeleque e os moradores das cidades foram até Ofra, cidade natal de Gideão, e mataram setenta do juiz, exceto Jotão, o mais novo, que escapou e fugiu para o monte Gerizim.

Abimeleque se proclamou rei sobre Siquém e Bete-Milo, que o apoiaram na sua rebelião. Jotão, porém, subiu até o topo do monte Gerizim, e dali pronunciou uma parábola aos habitantes de Siquém, que estavam reunidos no vale.

A parábola falava sobre as árvores que queriam ungir um rei sobre si, mas nenhuma das árvores nobres aceitou o convite, somente o espinheiro, que era uma planta inútil e perigosa.

Ilustração de Jotão falando aos habitantes de Siquém
Ilustração de Jotão falando aos habitantes de Siquém

Jotão aplicou a parábola à situação de Siquém, e advertiu que se eles tivessem agido com lealdade e justiça para com a casa de Gideão, eles seriam abençoados. Mas como eles agiram com traição e maldade, eles seriam consumidos pelo fogo que sairia de Abimeleque, e Abimeleque pelo fogo que sairia deles (Jz 9:1-21).

Essa parábola foi uma forma de denunciar a usurpação e a violência de Abimeleque, e de profetizar a sua ruína e a dos siquemitas, que se cumpriram depois de três anos de reinado.

Como Jotão profetizou sobre o monte Gerizim, se cumpriu. No terceiro ano do reinado de Abimeleque sobre Siquém, Gaal, filho de Ebede, liderou uma rebelião contra o rei e seu governador, Zebul.

Abimeleque liderou uma ataque bem sucedido contra os revoltosos a partir da cidade de Arumá. Ele matou os moradores de Siquém e assassinou parte deles queimados, após se refugiarem em uma das torres. Pouco depois, quando Abimeleque atacava a cidade de Tebes, ele acabou sendo ferido por uma pedra de moinho lançado de uma torre por uma mulher.

Para não dizer que foi assassinado por uma mulher, Abimeleque deu ordens para que um de seus soldados o matasse com sua espada. Dessa forma se cumpriu a profecia de Jotão, e os moradores de Siquém e o rei Abimeleque, foram castigados por sua conspiração

A Morte de Abimeleque por Gustave Doré, 1866
A Morte de Abimeleque por Gustave Doré, 1866

A adoração dos samaritanos no monte Gerizim

Depois do cativeiro assírio, que levou embora a maior parte da população do reino do norte de Israel, os assírios trouxeram povos estrangeiros para habitar na região. Esses povos se misturaram com os israelitas remanescentes, e formaram um grupo étnico e religioso distinto, chamado de samaritanos.

Os samaritanos adotavam somente o Pentateuco como sua Escritura sagrada, e rejeitavam a autoridade do templo de Jerusalém. Por isso, eles construíram o seu próprio templo no monte Gerizim, por volta do século IV a.C., e ali adoravam a Deus, seguindo os rituais da lei mosaica.

Ruínas do antigo templo samaritano no cume do monte Gerizim
Ruínas do antigo templo samaritano no cume do monte Gerizim

Esse templo foi destruído pelos judeus, sob o comando de João Hircano, no século II a.C., mas os samaritanos continuaram a venerar o monte Gerizim como o lugar escolhido por Deus para a sua habitação (2 RS 17:24-41; Es 4:1-5; Jo 4:20-22).

Essa adoração samaritana gerou um conflito com os judeus, que consideravam os samaritanos como hereges e impuros, e que afirmavam que Jerusalém era o único lugar legítimo para a adoração a Deus. O monte Gerizim era o símbolo dessa divergência, que refletia uma questão mais profunda sobre a verdadeira adoração a Deus.

Jesus e a mulher samaritana perto do monte Gerizim

No Novo Testamento, o monte Gerizim é mencionado no contexto do diálogo entre Jesus e a mulher samaritana, junto ao poço de Jacó, que ficava perto da cidade de Siquém.

Jesus estava de passagem por Samaria, quando decidiu senta-se junto ao poço construído por Jacó naquela cidade. Ao ver uma mulher, pediu-lhe água e iniciou uma conversa. A conversa de Cristo com essa mulher é uma das mais fascinantes de todo ministério de Jesus.

Durante o diálogo ele explica como ele é a água viva, que sacia a sede espiritual, e que diferente da água do poço, que a pessoa bebe e logo está com sede novamente, a água que ele dá sacia a sede da alma e a pessoas jamais volta a ter sede.

A mulher, intrigada, perguntou a Jesus como ele, sendo judeu, podia pedir água a ela, que era samaritana.

Ela também perguntou sobre a questão da adoração, dizendo que os samaritanos adoravam a Deus no monte Gerizim, mas que os judeus diziam que Jerusalém era o lugar onde se devia adorar.

Ilustração de Jesus conversando com a mulher samaritana
Ilustração de Jesus conversando com a mulher samaritana

Jesus, então, respondeu que a hora estava chegando, e já havia chegado, em que os verdadeiros adoradores adorariam o Pai em espírito e em verdade, e não em um lugar específico. Ele também revelou à mulher que ele era o Messias prometido, o Salvador do mundo (Jo 4:1-26).

Esse diálogo foi uma forma de mostrar que Jesus veio para inaugurar uma nova aliança entre Deus e a humanidade, e que ele era o cumprimento de todas as promessas e profecias do Antigo Testamento.

Jesus também mostrou que ele veio para quebrar as barreiras que separavam os judeus dos samaritanos, e de todos os outros povos, e para oferecer a salvação a todos os que cressem Nele. O monte Gerizim foi o cenário dessa revelação, que apontava para a universalidade e a essencialidade da adoração a Deus.


Importância religiosa do monte Gerizim para os samaritanos

O Monte Gerizim tem uma importância histórica e religiosa significativa. É um lugar sagrado para os samaritanos, que o consideram o centro de sua religião. Essa importância é refletida em sua história.

Os samaritanos eram descendentes dos israelitas que ficaram na terra depois do cativeiro assírio, e que se misturaram com os povos pagãos que foram trazidos pelos assírios.

Eles desenvolveram uma religião baseada no judaísmo que reconhecia apenas os cinco primeiros livros da Bíblia, e que considerava o monte Gerizim como o verdadeiro lugar de adoração a Deus.

Foi no topo deste monte que samaritanos construíram um templo no século IV a.C. para adorarem ao Senhor. Adoração esta realizada três vezes ao ano, no qual os samaritanos sobem ao topo da montanha para celebrar suas festas religiosas.

Peregrinação da Páscoa dos Samaritanos no Monte Gerizim
Peregrinação da Páscoa dos Samaritanos no Monte Gerizim

Eles alegavam que o templo de Jerusalém era uma invenção dos judeus que voltaram do exílio babilônico. O templo samaritano foi destruído pelos judeus no século II a.C., mas os samaritanos continuaram a usar o local para realizarem seus sacrifícios e adoração até hoje. Este culto foi mencionado pela mulher samaritana na conversa com Jesus junto ao poço de Jacó (Jo 4:20-24).

Atualmente há uma pequena aldeia samaritana no topo do monte, chamada de Kiryat Luza. A aldeia conta com 500 habitantes.

Escavações realizadas no local do antigo templo samaritano

Escavações realizadas no local do tradicional templo samaritano revelaram importantes descobertas arqueológicas interessantes.

A primeira equipe a escavar o local foi liderada pelo arqueólogo M. A. Schneider, entre 1931 e 1934. Os arqueólogos encontraram os alicerces de uma igreja cristã, construída no século V pelo imperador Zenão. Ao redor da igreja, havia uma fortificação construída no século VI pelo imperador Justiniano I. [4]

Uma segunda expedição, liderada pelo arqueólogo R. J. Bull, entre 1964 e 1968, descobriu uma grande plataforma de pedras não talhadas, construída no período helenístico. Esta estrutura foi considerada como a fundação do templo samaritano. [4]

O monte Gerizim fotografado a partir de Nablus, em 1900
O monte Gerizim fotografado a partir de Nablus, em 1900

Por cima da plataforma, os arqueólogos encontraram os restos de um templo romano dedicado a Zeus Hipsisto, construído no século II pelo imperador Adriano. De acordo com fontes antigas, um conjunto de portas de bronze que se diz ter pertencido ao templo de Jerusalém foi utilizado nesta estrutura romana. [4]

Os arqueólogos também encontraram uma escada com mais de 1500 degraus de mármore, que ligava o vale ao templo. O templo, assim como as escadas, aparecem em moedas desse tempo. [4]


Aprenda mais

[Vídeo] Monte da benção e maldição. Rodrigo Silva Arqueologia.

[Vídeo] Monte Gerizim, Samaria, Israel. Notícias de Israel.

[Livro] Geografia Bíblica. Claudionor de Andrade.

[Livro] O Israel Bíblico: História – Arqueologia – Geografia. Melanie Peetz.

[Livro] Juízes para você: Série: a Palavra de Deus para você. Timothy Keller.

[Livro] O que aprendemos com a história de Gideão. Eraldo Carlos Batista.

[Livro] Atlas Ilustrado da Bíblia. André Daniel Reinke.


Fontes

[1] Matthew Sturgis, It aint necessarily soISBN 0-7472-4510-X

[2] Monte Gerizim. Wikipedia.

[3] Comentário de Peake sobre a Bíblia

[4] Bull, Robert J, The Excavations of Tell er Ras [As escavações de Tell er Ras] (em inglês).

O que achou deste artigo?

Clique nas estrelas

Média 4.2 / 5. Quantidade de votos: 22

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.