O voto de Jefté

O voto de Jefté foi um voto precipitado realizado pelo juiz Jefté, o oitavo juiz de Israel, e uma das histórias mais controversas da Bíblia.

·

7 minutos de leitura

·

·

O voto de Jefté é uma das histórias mais dramáticas e controversas da Bíblia, registrada no livro de Juízes, capítulo 11.

Jefté, o oitavo juíz de Israel, fez um voto a Deus em um momento de desespero, prometendo sacrificar a primeira pessoa que saísse de sua casa para cumprimentá-lo caso retornasse vitorioso da batalha contra os amonitas.


Contexto do voto de Jefté

Jefté era um guerreiro valoroso, filho de Gileade e de uma prostituta, o que o tornava um bastardo aos olhos da sociedade da época. Após ser expulso por seus meio-irmãos, Jefté se refugiou na terra de Tobe, onde um grupo de homens levianos se juntou a ele.

Quando os amonitas ameaçaram Israel, os anciãos de Gileade buscaram Jefté para liderar a batalha, prometendo-lhe a liderança sobre Gileade se fosse bem-sucedido.

Ilustração dos israelitas se reunindo em Mispá de Gileade, antes de enfrentarem os amonitas e realizar o voto de Jefté
Ilustração dos israelitas se reunindo em Mispá de Gileade, antes de enfrentarem os amonitas

O voto de Jefté e suas consequências

Antes da batalha, Jefté fez um voto a Deus: se obtivesse a vitória, ofereceria como holocausto o primeiro que saísse de sua casa ao seu encontro.

Após a realização do voto de Jefté, o exército israelita se dirigiu para o Reino de Amom para batalha.

A Bíblia não relata os detalhes das batalha dos os israelitas contra os amonitas, apenas que Israel conquistou a vitória e tomou 20 cidades amonitas, dentre elas:

Consequências do voto de Jefté

A tragédia do voto de Jefté desenrolou após seu retorno da batalha, quando sua única filha foi a primeira a recebê-lo com danças e tambores.

Jefté ficou devastado ao perceber que deveria sacrificar sua própria filha. O juiz declarou que não poderia quebrar sua promessa a Deus e deveria sacrificar sua filha.

Sua filha, não nomeada no texto bíblico, aceitou seu destino, mas pediu um tempo de dois meses para lamentar o fato de que morreria jovem, que não se casaria e não formaria uma família.

Após dois meses de lamento a filha de Jefté foi sacrificado como cumprimento de seu voto.

O retorno de Jefté, por Giovanni Antonio Pellegrini, cerca de 1700-1725
O retorno de Jefté, por Giovanni Antonio Pellegrini, cerca de 1700-1725

Interpretações sobre o sacrifício da filha de Jefté

Existe duas principais interpretações acerca do sacrifício da filha de Jefté em seu voto. Essas interpretações são distintas entre si e trazem visões muito distantes uma da outra.

A filha de Jefté morreu

A primeira interpretação sobre o destino da filho de Jefté, e também a mais aceita, diz que de fato sua filha morreu em sacrifício, como cumprimento do voto.

Em seu voto, Jefté prometeu realizar um holocausto em agradecimento de sua vitória. O sacrifício deste holocausto, como já dito, seria o primeiro ser que saísse de sua casa após o juiz voltar vitorioso.

“aquele que sair da porta da minha casa ao meu encontro, quando eu retornar da vitória sobre os amonitas, será do Senhor , e eu o oferecerei em holocausto.”

Juízes 11:31 (NVI)

A palavra “holocausto”, dentro do contexto bíblico, significa “oferta queimada” ou “sacrifício pelo fogo” [1]. Dessa forma, quando Jefté se propõe a apresentar, ou sacrificar, um holocausto ao Senhor, ele tinha em mente que esse holocausto seria queimado, ou seja, morto.

Jefté teria realizado esse voto por desespero e uma clara falta de conhecimento da Lei Mosaica e da vontade do Senhor.

O juiz Jefté era fruto do período de apostasia em que Israel passava. Apesar de israelita, esse possuía um pensamento pagão, no qual cria que Deus desejava sacrifícios similares aos realizados aos deuses pagãos dos povos vizinhos.

Vale desxar claro, que apesar de Jefté ter conquistado a vitória na guerra, sua conquista não foi consequência de seu voto, mas sim da vontade do Senhor. Deus desejava livrar seu povo da opressão amonita, e por isso deu vitória a Israel.

A Filha de Jefté , de Alexandre Cabanel (1879)
A Filha de Jefté , de Alexandre Cabanel (1879)

A filha de Jefté foi dedicada ao serviço do Senhor

A segunda interpretação, menos aceita, diz que o sacrifício realizado por sua filha foi uma vida de dedicação total ao Senhor. Se entregando ao serviço religioso, e não a morte.

Segundo essa interpretação, o voto de Jefté foi feito de forma consciente por um homem temente ao Senhor e conhecedor da Lei Mosaica. Eles creem que Jefté era conhecedor das Escrituras, pois Juízes 11:29 diz que o “o Espírito do Senhor veio sobre Jefté”, e, segundo eles, o Senhor só enviaria o seu Espírito sobre crentes autênticos.

Os estudiosos que defendem essa posição também argumentam que Jefté não agiu por impulso, dado a posição de liderança que ocupava ele deveria ser um homem equilibrado e capaz de agir sensatamente.

Outro ponto levantado por essa interpretação traz grande ênfase ao fato da filha de Jefté lamentar por sua virgindade. Segundo eles, ela se lamentou porque jamais poderia se casar e constituir família.

O principal problema desta interpretação está no fato de não haver nenhum precedente anterior ao período do Juízes, ou mesmo no texto bíblico, de alguém que foi entregue em um sacrifício de serviço ao Senhor. O que há, são relatos de pessoas que foram dedicas ao Senhor desde de sua juventude, como o juiz Sansão e o juiz Samuel, antes mesmo de nascerem.

Ilustração da filha de Jefté e outras moças lamentando enquanto caminham na montanha
Ilustração da filha de Jefté e outras moças lamentando enquanto caminham na montanha

O voto de Jefté foi necessário?

É um consenso entre os estudiosos do Antigo Testamento que o voto de Jefté foi desnecessário, pois o Senhor não precisava de seu sacrifício para libertar Israel. Ao analisar a história dos juízes, vemos diversos momentos que Deus trouxe libertação para Israel apesar das improbabilidades de vitória.

No período da juíza Débora, apesar da desvantagem bélica dos israelitas diante do grande exército de Sísera e Jabim II, Deus trouxe vitória durante a batalha do Monte Tabor. Deus deu vitória para juiz Gideão, mesmo ele estando com um exército de apenas 300 soldados.

Principais falhas do voto de Jefté

A falha de Jefté em seu voto reside em diversos aspectos de sua decisão, dentre eles podemos citar:

  1. Precipitação: Jefté fez um voto sem considerar todas as possíveis consequências, agindo de forma impulsiva;
  2. Falta de discernimento: Ele não compreendia que Deus não necessitava de seu voto e sacrifício para trazer vitória aos israelitas;
  3. Visão distorcida de Deus: Jefté cria que Deus, assim como os deuses pagãos, agia através de barganha;
  4. parece ter confundido fé genuína com barganha, acreditando que precisava oferecer algo extremo para garantir a ajuda divina;
  5. Desconhecimento das Escrituras: A Lei Mosaica proibia sacrifícios humanos, indicando que Jefté talvez não estivesse plenamente ciente dos preceitos de sua própria religião.

Aprenda mais

[Podcast] O voto de Jefté. Btcast.

[Podcast] Quem foram os juízes? Btcast.

[Vídeo] O Sacrifício de Jefté | Juízes 10 – 12.1-15. Escola do discípulo.

[Vídeo] Jefté e o Sacrifício Humano | O Livro de Juízes Cap. 10-12 | Parte 9. Escola do discípulo.

[Vídeo] Jefté sacrificou a própria filha? O que foi o voto? De olho no texto. Dois dedos de teologia.

[Livro] A saga do juiz Jefté. Amazon Books.

[Livro] Estudo do voto de Jefté. Escriba de Cristo.


Fontes

[1] Holocausto e anti-semitismo. Diversitas – Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos.

O que achou deste artigo?

Clique nas estrelas

Média 4.8 / 5. Quantidade de votos: 12

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.