O trusteísmo foi uma prática do catolicismo romano que ocorreu nos Estados Unidos durante o século XIX.
Essa prática consistia na nomeação de administradores paroquiais leigos, que não possuíam toda a formação católica completa, para gerenciar paróquias em cidades menores e/ou regiões distantes dos grandes centros, nos quais a administração oficial católica era menos presente e escassa.
A prática buscava atender a necessidade de falta de cleros e a falta de administração locais, enquanto os padres, muitas vezes com pouca experiência, se concentravam na pregação e aos assuntos religiosos.
Origens e controvérsias do trusteísmo
No início dos século XIX, a igreja católica crescia nos Estados Unidos. Com o crescimento cresceu-se a necessidade de abertura de paróquias e formações de clero, padres, monges e bispos.
Dado o rápido crescimento e a falta de clero local, em especial nas regiões distantes dos grandes centros urbanos, os fiéis de algumas paróquias começaram a nomear administradores leigos, que não passaram pela formação oficial da igreja, para a gerenciarem os assuntos locais da comunidade.
Em geral os assuntos tratados por esses administradores locais eram considerados de menor relevância e temporais, muito relacionado aos eventos corriqueiros da paróquia. Os padres, que muitas vezes eram rapazes com pouca experiência administrativa, se concentravam nos assuntos religiosos concernentes aos dogmas e práticas da fé.
Dentre os assuntos tratados pelos administrados truteítas, podemos citar:
- Organizar as finanças da paróquia;
- Organizar eventos da comunidade;
- Organizar visitas aos fiéis;
- Organizar os departamentos da paróquia, como jovens, apoio social, entre outros.
A solução apresentada por este movimento denominado “Trusteísmo”, aparentava ser uma solução prática para uma necessidade crescente administrativa. Entretanto, essa prática se tornou uma controvérsia e passou a gerar conflitos entre os administradores leigos e o clero local.
Os administradores leigos muitas vezes buscavam afirmar sua autoridade sobre questões financeiras e administrativas, desafiando a prerrogativa tradicional dos padres e bispos. Isso resultou em conflitos frequentes e, em alguns casos, em disputas prolongadas sobre o controle e a gestão das paróquias.
Intervenção da Igreja Católica Romana sobre o trusteísmo
Diante dos conflitos, a administração central da Igreja Católica Romana, representada pelos bispos norte americanos e por bispos apontados pelo Vaticano, interveio em diversas ocasiões nas paróquias locais. Essa intervenção tinha como objetivo estabelecer a paz entre os fiéis e os padres locais e impor a hierarquia clássica católica.
As intervenções tinha como objetivo reafirmar a autoridade e superioridade do clero na condução dos assuntos eclesiásticos/religiosos. Dessa forma, garantiam a conformidade com o regimento interno e demais regulamentos da Igreja Católica, diminuindo, consequentemente, o poder e relevância dos administradores leigos.
Na visão dos bispos e do Vaticano, esses administradores eram rebeldes e não queriam se submeter a doutrina papal, a hierarquia eclesiástica católico romana e a “Santa Fé”.
Após anos de intervenção, a ordem das paróquias foi restaurada e a prática do trusteísmo foi abandonada nas igrejas norte americana.
Decisão do papa Pio IX
Sob a visão do Papa Pio IX, papa da época, a prática dos trusteísmo era uma “heresia americana” e buscava uma quebra da doutrina católica, separando igreja e estados, religião e administração. [1] O papa promulgou uma carta a Igreja, Sílabo de Erros de 1864, condenando essas práticas.
O Concílio Vaticano I reforçou a doutrina eclesiástica da Igreja e o movimento deixou de ser discutido.
Impacto e Legado
Embora o trusteísmo no catolicismo romano nos Estados Unidos tenha sido objeto de controvérsia e conflito no século XIX, seu legado persiste até os dias atuais.
Mesmo sua prática tendo diminuído significativamente com o tempo, suas ramificações históricas continuam a influenciar as relações entre o clero e os fiéis leigos, bem como a compreensão da autoridade eclesiástica e da governança da Igreja.
Além disso, o caso do trusteísmo nos Estados Unidos destacou os desafios e as complexidades inerentes à relação entre a autoridade eclesiástica e a participação dos fiéis leigos na vida da Igreja.
Ao mesmo tempo, serviu como um lembrete da importância de buscar um equilíbrio entre a autoridade hierárquica e a participação dos leigos, em consonância com os princípios do Concílio Vaticano II sobre a colegialidade e a corresponsabilidade na Igreja.
Vale destacar que no início dos século XIX diversas heresias vinham crescendo nas ampericas, dentre eles podemos destacar o ascetismo.
Trusteísmo e o protestantismo
A prática do trusteísmo pode ter implicações diferentes dentro do contexto do protestantismo, especialmente considerando as diversas denominações e tradições dentro da fé protestante. No entanto, alguns pontos podem ser considerados ao explorar a relação entre essa prática e o protestantismo, como será apresentado abaixo.
Ênfase na participação dos leigos
Assim como no catolicismo romano nos Estados Unidos do século XIX, algumas denominações e vertentes protestantes valorizam a participação ativa dos leigos na governança e administração das congregações, como os batistas.
A prática do trusteísmo pode ser visto como uma forma de encorajar essa participação dos irmãos leigos da igreja com sua liderança, permitindo que administradores leigos sejam colocados a frente de determinados departamentos e tenham o controle sobre questões internas dos departamentos, como finanças.
Variedade de práticas e estruturas
O protestantismo é caracterizado por sua diversidade de tradições e práticas eclesiásticas. Enquanto algumas denominações podem adotar uma abordagem mais hierárquica, com a liderança eclesiástica exercendo autoridade significativa sobre as congregações, outras podem favorecer estruturas mais descentralizadas, onde os leigos têm maior autonomia.
O trusteísmo pode se manifestar de maneiras diferentes em diferentes contextos protestantes, refletindo essas variações.
Autonomia dos departamentos internos da igreja
Ao elencar administradores leigos sobre os diferentes departamentos da igreja, a liderança eclesiástica pode focar na construção de uma visão mais abrangente visando a comunhão e o crescimento da igreja.
Os departamentos acabam recebendo mais autonomia para criar sua própria gerencia interna e dominar sobre os assuntos financeiros, sociais e eventuais eventos que queiram realizar.
Significado da palavra “Trusteísmo”
A termo “Trusteísmo” deriva da palavra inglesa “trust”, que pode ser traduzida como “confiança” em português. O termo em si não possui um significado claro, mas ele se refere a uma filosofia ou prática que enfatiza a importância da confiança nas relações humanas e na sociedade em geral.
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Fontes
[1] Sociologia da religião. Faculdade de Teologia e Ciências (FATEC). p 78-79.