Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal

A Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal foi o ponto de decisão no Éden. A desobediência trouxe o pecado e a separação de Deus.

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A Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal é um elemento central no relato da criação em Gênesis, representando um ponto de decisão fundamental para a humanidade. Sua presença no Jardim do Éden, juntamente com a Árvore da Vida, introduz temas de obediência, liberdade e as consequências da escolha moral.

Este termo teológico, carregado de significado, é explorado em diversas tradições cristãs como o ponto de origem do pecado e da separação entre Deus e a humanidade.

História da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal na Bíblia

A narrativa bíblica descreve a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal como uma das duas árvores especiais plantadas por Deus no Jardim do Éden.

Ela é mencionada pela primeira vez em Gênesis, no contexto da criação do homem e da mulher, e das instruções divinas para eles [1].

O Jardim do Éden com a Queda do Homem, de Jan Brueghel, o Velho, e Pieter Paul Rubens, c. 1615, retratando animais domésticos e exóticos, como tigres, papagaios e avestruzes, coexistindo no jardim
O Jardim do Éden com a Queda do Homem, de Jan Brueghel, o Velho, e Pieter Paul Rubens, c. 1615, retratando animais domésticos e exóticos, como tigres, papagaios e avestruzes, coexistindo no jardim

Localização e Ordem de Deus

Deus estabeleceu o Jardim do Éden como um lar perfeito para Adão e Eva, com abundância de recursos e beleza. Dentro deste jardim, Ele plantou várias árvores, incluindo a Árvore da Vida e a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal (Gênesis 2:9). A localização específica dessas árvores as tornava acessíveis, mas uma proibição foi imposta.

“De toda árvore do jardim podes comer livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás”

Gênesis 2:16-17

Esta ordem estabelecia um limite claro para a liberdade humana. Ele testava a obediência e confiança na palavra do Criador.

A Tentação e a Desobediência

O relato prossegue com a entrada de uma Serpente, descrita como o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus havia feito (Gênesis 3:1).

A serpente questionou o mandamento de Deus e seduziu Eva, apresentando uma alternativa à ordem divina. Ela sugeriu que o fruto não traria morte, mas sim conhecimento e semelhança com Deus (Gênesis 3:4-5).

⁴ Disse a serpente à mulher: “Certamente não morrerão!

⁵ Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal”.

Gênesis 3:4,5 (NVI)

Eva, influenciada pelas palavras da serpente e pela beleza do fruto, comeu dele e também o ofereceu a Adão, que igualmente comeu (Gênesis 3:6). Essa ação representou uma desobediência direta ao mandamento explícito de Deus. O ato de comer do fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal marcou a queda da humanidade.

As Consequências da Escolha

Após a desobediência, Adão e Eva tiveram seus olhos abertos, mas de uma forma que trouxe vergonha e culpa (Gênesis 3:7).

Eles perceberam sua nudez e tentaram esconder-se de Deus. Quando confrontados pelo Senhor, tentaram culpar um ao outro e a serpente.

As consequências da desobediência foram imediatas e profundas. Deus proferiu juízos sobre a serpente, sobre a mulher e sobre o homem (Gênesis 3:14-19).

O solo foi amaldiçoado, o trabalho se tornou árduo e a morte entrou no mundo.

Por fim, Adão e Eva foram expulsos do Jardim do Éden, impedidos de acessar a Árvore da Vida, para que não vivessem eternamente em seu estado decaído (Gênesis 3:22-24). Essa expulsão marcou uma separação significativa entre Deus e a humanidade [2].

Adão e Eva, e a serpente do Paraíso na entrada da Catedral Notre Dame, em Paris
Adão e Eva, e a serpente do Paraíso na entrada da Catedral Notre Dame, em Paris

Compreendendo o “Conhecimento do Bem e do Mal”

A natureza exata do “conhecimento do bem e do mal” adquirido por Adão e Eva tem sido objeto de diversas interpretações teológicas ao longo da história. O termo hebraico para “conhecimento” (da'at) não se refere apenas a uma informação intelectual, mas também a uma experiência profunda e íntima.

Conhecimento Experiencial ou Moral?

Alguns teólogos sugerem que o conhecimento adquirido não era de uma sabedoria moral inerente, mas de uma experiência direta do bem e do mal [3].

Antes da queda, Adão e Eva conheciam apenas o bem, vivendo em comunhão perfeita com Deus. Comer do fruto significou experimentar o mal pela desobediência. Eles passaram a conhecer o mal por tê-lo praticado.

Outra perspectiva defende que o conhecimento implicava a capacidade de discernir e definir o que é bom e o que é mau, de forma autônoma. Anteriormente, Deus era a fonte exclusiva dessa definição.

Após a queda, a humanidade passou a arrogar para si esse poder de estabelecer seus próprios padrões morais, independente da vontade divina [4]. Este “conhecimento” resultou na perda da inocência e na introdução da culpa.

Personagens Bíblicos: Adão e Eva. Adão e Eva no Jardim do Éden por Johann Wenzel Peter
Adão e Eva no Jardim do Éden por Johann Wenzel Peter

Autonomia Humana e a Soberania Divina

A Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal representa um limite imposto por Deus à autonomia humana. Ao proibir o consumo do fruto, Deus afirmava Sua soberania como o único a definir o que é bom e o que é mau. Comer do fruto foi um ato de rebelião que buscou a autonomia moral.

Essa busca por autonomia, embora apresentada como um caminho para ser “como Deus” (Gênesis 3:5), na verdade levou à separação. A humanidade tentou assumir o papel de juiz de si mesma, distorcendo a verdade sobre o bem e o mal. Isso resultou em um conhecimento corrompido, distante da verdade divina [5].

A Finalidade da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal

A presença da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal no Éden não foi um acidente, mas um propósito divino. Sua existência levanta questões sobre a justiça e a sabedoria de Deus.

Contudo, ela é vista como um instrumento essencial no plano de Deus para a humanidade.

O Teste da Obediência

A árvore serviu como um teste da obediência de Adão e Eva. Deus, em Sua soberania, criou seres com livre arbítrio, capazes de amar e obedecer por escolha, e não por compulsão.

O mandamento de não comer do fruto foi o primeiro teste da confiança e lealdade da humanidade para com seu Criador.

A obediência neste ponto teria demonstrado uma submissão voluntária à autoridade de Deus. Teria afirmado que a felicidade e a vida plena estavam em viver dentro dos limites estabelecidos por Ele [6]. A desobediência, por outro lado, revelou uma falha na confiança.

Expulsão de Adão e Eva (Alexandre Cabanel)
Expulsão de Adão e Eva (Alexandre Cabanel)

A Liberdade de Escolha

A existência da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal é inseparável do conceito de liberdade humana. Para que o amor e a obediência tivessem valor genuíno, Adão e Eva precisavam ter a capacidade de escolher entre a obediência e a desobediência. Sem a opção de desobedecer, a obediência não seria uma escolha livre, mas uma imposição.

Deus concedeu aos primeiros humanos a dignidade de fazer escolhas morais. Esta liberdade, embora perigosa, é um aspecto intrínseco da imagem divina no homem. A árvore, assim, simboliza a linha divisória entre a dependência de Deus e a tentativa de autoafirmação.

Distinção da Árvore da Vida

É importante notar que a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal era distinta da Árvore da Vida, também presente no Jardim do Éden (Gênesis 2:9).

A Árvore da Vida estava associada à manutenção da vida eterna e à comunhão ininterrupta com Deus. Comer dela significaria viver para sempre.

Após a desobediência, Adão e Eva foram expulsos do Éden, e o acesso à Árvore da Vida foi bloqueado (Gênesis 3:22-24).

Isso impediria que a humanidade, em seu estado caído, vivesse eternamente em pecado.

Essa distinção ressalta que as duas árvores tinham propósitos diferentes no plano divino. Uma representava a condição para a vida e a outra, a escolha moral.

Adão e Eva - Paraíso , a queda do homem conforme retratada por Lucas Cranach, o Velho , a Árvore do conhecimento do bem e do mal está à direita
Adão e Eva – Paraíso , a queda do homem conforme retratada por Lucas Cranach, o Velho , a Árvore do conhecimento do bem e do mal está à direita

Reflexões Teológicas sobre a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal

O evento da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal tem implicações profundas para a teologia cristã. Ele serve como o ponto de partida para a compreensão da condição humana, da necessidade de redenção e da natureza do pecado.

A Origem do Pecado

O ato de comer do fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal é tradicionalmente visto como a origem do pecado no mundo [7]. O pecado original afetou toda a descendência de Adão.

“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.”

Romanos 5:12

Isso significa que a natureza humana foi corrompida, resultando em uma propensão inata para o pecado e a separação de Deus. A desobediência em Gênesis estabeleceu a realidade do pecado como uma força universal que afeta cada indivíduo [8].

A Necessidade da Graça

O entendimento da queda através da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal sublinha a incapacidade humana de se salvar.

Se o pecado original levou à separação e à morte espiritual, então a humanidade precisa de uma intervenção divina para ser restaurada. Esta intervenção é a graça de Deus, manifestada em Jesus Cristo.

A narrativa do Éden, portanto, não é apenas um relato de desobediência, mas também de promessa de redenção (Gênesis 3:15).

A figura da árvore da desobediência aponta para a cruz de Cristo, onde a obediência de um único homem reverteu as consequências da desobediência de Adão, oferecendo um caminho de volta à vida e à comunhão com Deus (Romanos 5:18-19).

Ilustração de Jesus carregando a cruz (Os Últimos Passos de Jesus)
Ilustração de Jesus carregando a cruz (Os Últimos Passos de Jesus)

Etimologia e significado da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal

O termo “Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal” vem da expressão hebraica etz hada’at tov vara. Cada parte dessa expressão carrega um significado importante.

Árvore (‘etz)

A palavra hebraica ‘etz significa simplesmente “árvore” ou “madeira”. No contexto bíblico, árvores frequentemente simbolizam vida, crescimento, sabedoria ou um ponto de decisão. Aqui, a árvore serve como um objeto físico central para o mandamento divino.

Conhecimento (da’at)

Da’at é a palavra hebraica para “conhecimento”. Como mencionado anteriormente, no hebraico bíblico, da’at muitas vezes implica um conhecimento que é mais do que meramente intelectual. Refere-se a um conhecimento experiencial, íntimo e relacional [9].

Portanto, “conhecimento do bem e do mal” não era apenas saber sobre o bem e o mal teoricamente. Era conhecer o bem e o mal por tê-los vivenciado ou por ser capaz de fazer distinções morais por si mesmo.

Bem (tov) e Mal (ra’)

As palavras tov (bem) e ra’ (mal) abrangem uma vasta gama de significados no hebraico. Tov pode se referir a algo bom, agradável, correto, ou moralmente justo. Ra’ pode significar algo mau, desagradável, prejudicial, ou moralmente errado.

A combinação “bem e mal” pode ser uma figura de linguagem (merismo) que significa “tudo”, isto é, o conhecimento de todas as coisas [10].

No entanto, no contexto de Gênesis, a interpretação mais proeminente é a de um conhecimento moral, a capacidade de discernir ou de definir o que é certo e o que é errado. Essa distinção moral, antes exclusiva de Deus, foi usurpada pela humanidade.

Ilustração da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal
Ilustração da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal

Aprenda mais

[Vídeo] Teológico | Bíblia & Teologia.

[Vídeo] O Pecado Original (Rm 5.12-14). Augustus Nicodemus.

[Vídeo] O que é o ‘fruto proibido’? Cortes do Estranha História.

[Vídeo] A árvore da vida e do conhecimento do bem e do mal | 13/04/2020 | OS GIDEÕES. Rede Super de Televisão.

Perguntas comuns

Nesta seção apresentamos as principais perguntas, com suas respectivas respostas, acerca da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.

O que significa a árvore do conhecimento do bem e do mal?

No livro de Gênesis, representa a fronteira entre a obediência a Deus e a busca humana por autonomia moral. Comer seu fruto simboliza a aquisição da consciência e da capacidade de julgar, resultando na perda da inocência original e na separação de Deus.

Qual é a árvore do conhecimento?

É uma das duas árvores especiais mencionadas no Jardim do Éden na Bíblia. Deus proibiu Adão e Eva de comerem seu fruto, e a desobediência a essa ordem foi o ato que levou à sua expulsão do paraíso, introduzindo o sofrimento e a mortalidade.

Qual a diferença da árvore da vida e a árvore do bem e do mal?

A Árvore da Vida concedia a imortalidade a quem comesse seu fruto. Já a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal oferecia consciência moral e discernimento. Após a desobediência, o acesso à Árvore da Vida foi bloqueado para impedir que a humanidade vivesse eternamente em pecado.

Qual é o sentido da metáfora da árvore do conhecimento?

A metáfora explora a transição da inocência para a experiência. Simboliza a aquisição do livre-arbítrio, da responsabilidade moral e das consequências dolorosas que acompanham o conhecimento. É sobre os limites entre a condição humana e a divina e o desejo humano de transcendê-los.

O que é a dinâmica da árvore do conhecimento?

É um modelo que ilustra como o conhecimento se estrutura e expande. Parte de um “tronco” (princípios fundamentais) e se ramifica em áreas especializadas. Essa dinâmica representa o crescimento, a interconexão e a organização do saber, partindo do geral para o específico, como os galhos de uma árvore.

O que é a árvore do conhecimento na filosofia?

Na filosofia, especialmente em René Descartes, é uma metáfora para a organização de todo o saber humano. As raízes são a metafísica (a base de tudo), o tronco é a física (o mundo natural) e os galhos são as ciências práticas, como a medicina, a mecânica e a moral.

Fontes

[1] Alter, Robert. The Five Books of Moses: A Translation with Commentary. W. W. Norton & Company, 2004.

[2] Wenham, Gordon J. Genesis 1-15. Word Biblical Commentary, vol. 1. Word Books, Publisher, 1987.

[3] Walton, John H. Ancient Near Eastern Thought and the Old Testament: Introducing the Conceptual World of the Hebrew Bible. Baker Academic, 2006.

Demais fontes

[4] Calvin, John. Commentaries on the First Book of Moses Called Genesis. Baker Books, 1993.

[5] Bloesch, Donald G. Essentials of Evangelical Theology, Volume 1: God, Authority, and Revelation. HarperOne, 1978.

[6] Packer, J. I. Knowing God. InterVarsity Press, 1973.

[7] Hodge, Charles. Systematic Theology, Vol. 2. Hendrickson Publishers, 2003.

[8] Erickson, Millard J. Christian Theology. Baker Academic, 2013.

[9] Botterweck, G. Johannes, Ringgren, Helmer, and Fabry, Heinz-Josef (eds.). Theological Dictionary of the Old Testament, Vol. III. Eerdmans, 1978.

[10] Cassuto, U. A Commentary on the Book of Genesis, Part One: From Adam to Noah. Magnes Press, 1961.

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