Sangar

Sangar, o terceiro juiz de Israel, foi levantado por Deus para libertar o povo da opressão dos Filisteus. A Bíblia relata que ele matou mais de 600 soldados inimigos com uma aguilha de conduzir bois.

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Sangar, filho de Anate, foi o terceiro juiz de Israel, de acordo com o livro de Juízes capítulo 3, sendo usado por Deus para libertar o povo dos ataques realizados pelos filisteus.

O relato sobre o juiz é o mais breve de todos os juízes de Israel, seu período de atuação é extremamente discutido entre os estudiosos, assim como sua região de nascimento. Entretanto, sua liderança e coragem em batalhas nos mostram que ele foi um juiz valente, capaz de defender seu povo de um forte inimigo.

Neste artigo apresentamos um pouco da vida e as curiosidade sobre este importante, porém esquecido, juiz de Israel.


Nascimento de Sangar e família

Sangar possui origem camponesa, tendo vivido próximo da região dos filisteus, podendo pertencer as tribos de Dã, Simeão ou Judá. Alguns acreditam que ele pertencia a tribo de Dã e vivia na região da Sefelá, como o juiz Sansão posteriormente, mais especificamente na cidade de Estaol ou Zorá.

A Bíblia não é clara sobre o período em que o juiz viveu. Alguns estudiosos creem que ele foi juiz no mesmo tempo em que Eúde, enquanto outros creem que ele foi juiz no mesmo período em que Débora. Com base em Juízes 5:6 compreendemos que ele foi usado por Deus na mesma época em que a juíza Débora. Sendo que cada um atuou em uma região de Israel.

Tendo como base que Sangar e Débora viveram no mesmo período, podemos supor que ele viveu entre 1250 a.C. e 1190 a.C. Nos últimos de vida de Eúde até a opressão do povo pelos midianitas.

Anate, pai de Sangar

A única menção a Anate na Bíblia está em Juízes 3:31. Não sendo possível dizer nada além deste ter sido pai do juiz Sangar.

Anate, do hebraico Anath (ענת), significa “resposta” [1]. Algumas traduções da Bíblia utilizam o nome Anat.

Controvérsias sobre a paternidade de Sangar e sua região de nascimento

Alguns estudiosos creem que Anate não se refere ao pai de Sangar, mas sim a região em que o juiz nasceu. Nessa linha de pensamento, o juiz teria nascido na cidade de Bete-Anate, uma cidade cananeia do território de Naftali.

Outros estudiosos creem que a expressão “filho de Anate”, usada na Bíblia, se refira a um título de Guerra. Pois Anate também era o nome de uma divindade da guerra para os cananeus.

Nesta visão, o título teria sido dado pelos cananeus que viviam entre os israelitas ou mesmo pelos israelitas idólatras, que cultuavam os deuses pagãos dos povos vizinhos. Esses consideravam que o juiz foi protegido pela falsa deusa Anate.

Ambas as hipóteses se mostram com pouco fundamento. Visto que é estranho de imaginar que Deus levantaria alguém de um povo pagão para libertar Israel ou mesmo que a Bíblia enaltecesse uma falsa deusa cananeia.

O que defendemos é que a expressão “filho de Anate”, de fato, atribui a paternidade de Sangar a Anate.

Tribos de Israel
Tribos de Israel no período da conquista

Cidade de Bete-Anate

A cidade de Bete-Anate estava localizada na tribo de Naftali, região norte de Israel. Apesar de estar no meio do território israelita, era uma cidade cananeia, visto que os israelitas não conseguiram expulsar seus habitantes durante a ocupação da Terra Prometida (Jz 1:33 e Js 19:38).


Sangar contra os filisteus

A Bíblia não fornece detalhes sobre a liderança do juiz Sangar, sobre como Deus o levantou ou como ele conduziu as batalhas contra os filisteus. O texto simplesmente nos diz que “ele matou seiscentos filisteus com um ferrão de conduzir bois” (Jz 3:31).

O fato do juiz utilizar um “ferrão de conduzir bois”, em algumas traduções “aguilha de boi”, indica que ele provavelmente era um camponês e não um guerreiro/soldado como foi Otoniel ou mesmo o juiz Eúde.

Alguns creem que por Sangar utilizar uma ferramenta de arado para o combate indique que Israel estava muito mal equipada para guerras em sua época. Mas isto não faz sentido, visto que havia equipamento no tempo de Eúde e Débora, que foi sua contemporânea.

Sangar - atacando os filisteus
Sangar atacando os filisteus. Iluminura no Speculum humanae salvationis.

Povo filisteu

Os filisteus são descendentes de Caftorim, neto de Cam, filho de Noé (Gn 10:13-14). Eles são, supostamente, originários da região do mar Egeu.

Eram reconhecidos pela metalurgia e sua habilidade de criar espadas de aço. Adoram divindades semitas, sendo sua principal divindade Dagom.

Se organizam em diversas cidades-estados, similar aos gregos. Sendo que cada cidade-estado possuía seu próprio rei e exército.

Saiba mais sobre o povo filisteu em nosso artigos sobre os Filisteus.

Cidades-estados Filisteias
Cidades-estados filisteias (Em vermelho)

Contradição sobre o período em que Sangar foi juiz

Há uma dúvida sobre quem foi o juiz seguinte a Eúde, Sangar ou Débora. De acordo com o final do capítulo 3 de Juízes, Sangar substituiu Eúde e foi usado por Deus para defender Israel das mãos dos Filisteus. Já o capítulo 4 de Juízes nos diz que Débora foi levantada por Deus após Eúde para julgar Israel.

Esta aparente contradição se explica como no caso de Sangar ter sido juiz ao mesmo que outro juiz, provavelmente cada um em determinado região de Israel. O que aparenta ser o caso.

Eusébio de Cesareia diz que ele foi juiz ao mesmo tempo que Eúde. Segundo ele, o período de 80 anos de paz (Jz 3:30) em Israel ocorreu porque Eúde livrou parte do território da opressão de Eglom e Sangar livrou parte do território da opressão dos filisteus. Entretanto não encontramos muitas informações que confirmem esta hipótese. [3]

Adam Clarke, diz que esta contradição se fez porque Sangar foi juiz na região de Judá ao mesmo tempo que Débora foi juíza na região de Efraim [4].

Já John Gill entende que de fato Débora foi juíza após Eúde e que a confusão se dá porque o período em que Sangar foi usado por Deus para libertar o povo foi extremamente curto. Sendo provável que Israel venceu algumas batalhas contra os filisteus, sob sua liderança, mas que não houve uma restauração da adoração do povo para com Deus, como ocorreu no tempo de Otoniel, Eúde e Débora [5].

O que compreendemos é que Sangar e Débora foram juízes durante o mesmo período, tendo como base Juízes 5:6. Sendo que cada um atuou em uma região de Israel, como apontou Adam Clarke. Entretanto, devido a falta de certeza de qual tribo ele pertenceu, não podemos afirmar que ele foi usado por Deus na região da tribo de Judá.


Morte de Sangar e legado

A Bíblia não faz referencias a morte de Sangar, entretanto, acredita-se que ele viveu até o fim dos conflitos da juíza Débora e Baraque contra o o exército cananeu de Jabim II e Sísera. Esse crença se dá pelo fato de Débora ter citado o juiz em seu cântico de vitória, conforme registrado em Juízes 5.

“Nos dias de Sangar, filho de Anate,

nos dias de Jael, as estradas estavam desertas;

os que viajavam seguiam caminhos tortuosos”

Juízes 5:6 (NVI)

Devido a falta de referências bíblicas, não é possível dizer se o juiz faleceu em alta idade ou não. É possível que tenha desfrutado um pouco do período de paz após a derrota do exército cananeu de Hazor e da derrota dos filisteus, realizada por ele.

Legado de Sangar

Devido a sua pouca história e até pouca relevância dentro da história do antigo Israel, o juiz é pouco lembrado e referenciado em obras de arte, teatro, livros, filmes e etc.

A única menção encontrada sobre o nome do juiz se encontra no livro “A Máquina de Pintar Nuvens” de Fernando Veríssimo. O nome Sangar é atribuído a um dos personagens do livro. Entretanto, este personagem não tem nenhuma relação com o juiz israelitas, apenas o nome.


Comparação dos juízes Sangar e Sansão

Muitos comparam Sangar com Sansão, visto que ambos combateram os filisteus e defenderam Israel de seus ataques. Apesar de não serem contemporâneos, ambos foram juízes de Israel e viveram durante o mesmo período histórico, entre a conquista israelita de Canaã e o estabelecimento da monarquia de Israel.

Nesta seção apresentamos uma comparação entre esses grandes juízes israelitas.

AspectoSangarSansão
TriboIncerta, talvez a tribo de DãTribo de Dão
OrigemIncerta, provavelmente camponêsFamília simples, provavelmente de origem camponesa
MotivaçõesCombateu os inimigos de seu povoCombateu os inimigos de seu povo
Conflito PrincipalLutou contra os filisteus, matando 600 inimigosLutou contra os filisteus, matou milhares inimigos
DesfechoNão registradoMorreu após matar muitos os inimigos

Significado do nome “Sangar”

O nome Sangar vem do hebraico Shamgar (שמגר), e o significado mais provável de seu nome é “espada” [2]. Algumas traduções da Bíblia utilizam o nome Samgar.


Aprenda mais

[Podcast] Quem foram os juízes?. Btcast.

[Vídeo] Juízes. Bible Project – Português.

[Vídeo] Sangar (O juiz guerreiro que se pareceu com Sansão). Testemunhando Jesus Cristo.

[Livro] Manual Bíblico. John MacArthur.

[Livro] Juízes para você: Série: a Palavra de Deus para você. Timothy Keller.


Perguntas comuns

Nesta seção apresentamos as principais perguntas, com as respostas, que as pessoas fazem sobre este importante personagem bíblico.

Onde a Bíblia fala de Sangar?

O relato do juiz Sangar se encontra em Juízes 3:31.

Quanto tempo Sangar julgou Israel?

A Bíblia não fala por quanto tempo Sangar julgou sobre Israel. Ele é o juiz menos mencionado em todo o texto bíblico, o que se sabe a seu respeito é que guerreou contra os filisteus, matando 600 homens com uma aguilha de boi, e que foi contemporâneo da juíza Débora.

O que aprendemos com a história de Sangar?

Aprendemos que Deus nos uso apesar das ferramentas, humanamente falamos, que possuímos. O juiz foi capaz de derrotar 600 filisteus com apenas uma aguilha de boi, uma ferramenta comum do campo.

Outras lição que tiramos é que Deus usa as pessoas mais improváveis para realizar feitos grandiosos. O juiz era um simples camponês, que talvez jamais tinha pegado em uma espada, mas mesmo assim foi usado por Deus. Além de derrotar o inimigo ele livrou seu povo de um grande ataque e foi reconhecido por isso.


Fontes

[1] Qual o significado do nome e quem foi Anate na Bíblia? Apologeta

[2] Quem foi Sangar na Bíblia? Apologeta

[3] Eusébio de Cesareia, Crônica, A Crônica hebraica, 32. Do livro de Juízes

[4] Adam Clarke, Commentary on the Bible (1831), Judges, Chapter 4

[5] John Gill, Exposition of the Old and New Testament (1746-63), Judges, Chapter 4

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