Javã

Javã, filho de Jafé, é o ancestral bíblico dos gregos. Seus descendentes povoaram o Med. e são chave em profecias e comércio.

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Javã, um dos filhos de Jafé, aparece nas Escrituras como um dos homens centrais na genealogia pós-diluviana, cujos descendentes povoaram vastas regiões. Sua menção inicial na Tabela das Nações, em Gênesis, é breve, mas carrega um peso significativo para a compreensão da distribuição étnica e geográfica da humanidade.

Este artigo apresenta a vida deste personagem, seu legado e o impacto de sua descendência nas narrativas bíblicas e históricas.

Ouça nosso podcast sobre este personagem bíblico.

Nascimento e família de Javã

A história de Javã se inicia no período pós-diluviano, um tempo de renovação e repovoamento da Terra após o Grande Dilúvio.

Ele faz parte da segunda geração da humanidade após este evento cataclísmico, sendo um dos sete filhos de Jafé, um dos três filhos de Noé. Sua vida e as de seus irmãos foram fundamentais para a dispersão das nações.

Ele é identificado como ancestral de povos que migrariam para o oeste, especialmente para as regiões do Mediterrâneo e além. O livro de Gênesis 10 detalha sua linhagem como parte da “Tabela das Nações” [1].

Este documento bíblico serve como um registro fundamental da origem de diversos grupos étnicos e geográficos.

Sua descendência é frequentemente associada aos povos gregos e às civilizações do Egeu, estabelecendo uma conexão entre a narrativa bíblica e a história antiga.

Ilustração de Javã, filho de Jafé
Ilustração de Javã, filho de Jafé

Jafé, pai

Jafé foi um dos três filhos de Noé, escolhido por Deus para sobreviver ao Dilúvio. Ele é lembrado por seu respeito filial, ao cobrir a nudez de seu pai juntamente com Sem, demonstrando honra [2].

Suas ações renderam-lhe uma bênção profética de Noé, que indicava uma expansão territorial e uma habitação em “tendas de Sem” [3]. Jafé é o ancestral das nações indo-europeias, que se espalharam principalmente para o norte e o oeste do Oriente Médio. Sua linhagem incluiu povos que se tornariam dominantes no cenário mundial.

Irmãos de Javã

Javã, um dos filhos de Jafé, teve seis irmãos cujas linhagens, de acordo com a Tabela das Nações em Gênesis, deram origem a diversos povos [6].

Gômer

Gômer é o primeiro filho de Jafé mencionado na lista. Historiadores e teólogos tradicionalmente o associam aos cimérios, um antigo povo nômade que habitava as regiões ao norte do Mar Negro. Sua descendência representa os primeiros movimentos migratórios naquela área [7].

Magogue

O nome de Magogue é frequentemente conectado aos povos citas, guerreiros nômades que dominaram as vastas estepes da Eurásia.

Ele se torna uma figura de grande importância em profecias bíblicas posteriores, especialmente no livro de Ezequiel, onde lidera uma coalizão de nações [7].

Ilustração de Magogue, descendente de Jafé
Ilustração de Magogue, descendente de Jafé

Madai

Madai é identificado de forma consistente como o ancestral dos medos, um proeminente povo iraniano da antiguidade. Os medos estabeleceram um império poderoso na região que hoje corresponde ao Irã, antes da ascensão dos persas [7].

Tubal

Tubal, frequentemente mencionado junto com seu irmão Meseque, é ligado a povos que se estabeleceram na Anatólia (atual Turquia).

Muitos estudiosos o conectam aos tabalis, um grupo conhecido em antigos registros assírios por sua presença na Ásia Menor [7].

Meseque

Assim como Tubal, Meseque é o progenitor de povos da Anatólia. Ele é comumente associado aos Mushki, uma tribo que também habitava a Ásia Menor e é mencionada em diversas fontes históricas do antigo Oriente Próximo [7].

Ilustração de Meseque, um dos filhos de Jafé
Ilustração de Meseque, um dos filhos de Jafé

Tirás

Tirás é o último filho de Jafé listado. Sua descendência é associada pelos estudiosos a diferentes povos marítimos. As conexões mais comuns são com os trácios, que habitavam o sudeste da Europa, ou com os etruscos, povo que floresceu na península itálica antes dos romanos [7].

Descendentes de Javã

Os filhos de Javã são explicitamente nomeados na Tabela das Nações em Gênesis 10:4 e 1 Crônicas 1:7: Elisá, Társis, Quitim e Dodanim (também referido como Rodanim em alguns textos) [8, 9].

Esta lista de descendentes é crucial para entender a extensão geográfica e cultural da influência dele. Eles representam os principais ramos dos povos gregos e as ilhas e regiões costeiras do Mediterrâneo.

Társis

Társis é um nome que aparece diversas vezes na Bíblia, frequentemente associado a uma região distante e rica em minerais. Os “navios de Társis” são mencionados em vários livros, indicando embarcações capazes de longas viagens marítimas [11].

A localização exata de Társis é debatida, mas muitas teorias apontam para a Península Ibérica, especificamente a Tartessos antiga na Espanha [12].

Outras sugestões incluem a Sardenha ou até mesmo partes da Índia. Társis era conhecida por sua riqueza em prata, ferro, estanho e chumbo, conforme Ezequiel 27:12, o que aponta para uma economia baseada na mineração e comércio [13].

Jonas partiu de Jafa com destino a Társis, mas foi impedido. Pintura mural de uma catacumba de Roma
Jonas partiu de Jafa com destino a Társis, mas foi impedido. Pintura mural de uma catacumba de Roma

Elisá

Elisá (ou Elishah) é um dos filhos de Javã e é tradicionalmente associado a povos marítimos ou regiões costeiras. Alguns estudiosos o conectam com o povo de Alashiya, que era um nome antigo para Chipre [10]. Outras interpretações ligam Elisá às ilhas do Mar Egeu ou à região da Elide, na Grécia.

A menção de Elisá sugere que seus descendentes se estabeleceram em áreas estrategicamente importantes para o comércio marítimo no Mediterrâneo oriental.

Quitim

Quitim (ou Kittim) é um termo bíblico que se refere aos habitantes da ilha de Chipre, especificamente à cidade de Cítio [14].

Contudo, em contextos proféticos, Quitim pode ter um sentido mais amplo, englobando as ilhas do Mediterrâneo e as terras ocidentais, como a Macedônia ou até mesmo Roma [15].

Daniel 11:30 menciona “navios de Quitim” vindo contra o “rei do Norte”, o que é frequentemente interpretado como uma referência à frota romana ou grega. Isso sugere que os descendentes de Quitim foram povos influentes no cenário político e militar do Mediterrâneo.

O mundo como conhecido pelos Hebreus
O mundo como conhecido pelos Hebreus

Dodanim (Rodanim)

Dodanim (ou Rodanim, como aparece em 1 Crônicas 1:7) é o quarto filho de Javã. Este nome é geralmente associado à ilha de Rodes e aos povos que habitavam essa região [16]. Rodes era um importante centro marítimo e comercial no Mar Egeu.

A variação no nome (Dodanim/Rodanim) pode ser atribuída a diferentes manuscritos ou variações linguísticas ao longo do tempo. A conexão com Rodes reforça a ideia de que a descendência de Javã se espalhou por importantes ilhas e portos do Mediterrâneo.

Javã e os gregos

A associação de Javã com os gregos é uma das mais fortes e amplamente aceitas na exegese bíblica e na história. O termo hebraico para Javã, (Yāwān), é linguisticamente cognato ao grego Ἴων (Iōn), que deu origem ao nome dos Jônios, um dos principais grupos étnicos da Grécia Antiga.

Essa conexão é fundamental para entender a linhagem dos povos helênicos dentro da narrativa bíblica.

A Tabela das Nações e a Grécia

A Tabela das Nações em Gênesis 10 é um mapa etnográfico que vincula Javã diretamente aos povos que viriam a formar a civilização grega [1].

A menção de seus filhos – Elisá, Társis, Quitim e Dodanim – aponta para regiões do Mediterrâneo Oriental e Ocidental, incluindo Chipre, Rodes e possivelmente a Península Ibérica.

Estas áreas foram centros de colonização e comércio grego, confirmando a visão bíblica da origem dos povos gregos.

A dispersão dos descendentes de Sem, Cam e Jafé (mapa do Livro Histórico e Atlas de Geografia Bíblica de 1854)
A dispersão dos descendentes de Sem, Cam e Jafé (mapa do Livro Histórico e Atlas de Geografia Bíblica de 1854)

Javã nas Profecias

O nome Javã assume um significado profético em livros como Daniel e Zacarias, onde frequentemente se refere ao império grego ou helenístico.

Daniel

No livro de Daniel, “Javã” é usado para prever o surgimento de um poderoso reino que sucederia o Império Persa. Em Daniel 8:21, por exemplo, o “bode peludo” que representa o “rei da Grécia” (Javã) é claramente identificado com Alexandre, o Grande [17].

Essa profecia detalha a ascensão e a divisão subsequente do vasto império de Alexandre. Em Daniel 10:20 e 11:2, Javã continua a ser um termo para o poder grego, referindo-se a eventos históricos envolvendo os reis helenísticos.

Zacarias

O profeta Zacarias também menciona Javã em um contexto de guerra e juízo divino. Em Zacarias 9:13, Deus declara:

“Pois entesei Judá para mim como um arco, enchi-o com Efraim; e levantarei os teus filhos, ó Sião, contra os teus filhos, ó Javã, e te farei como a espada de um valente”

Zacarias 9:13,

Esta passagem é interpretada como uma profecia de conflitos futuros entre o povo de Israel e as forças gregas (helênicas).

Historicamente, isso pode ser visto no período dos Macabeus, quando os judeus resistiram à dominação selêucida (um dos reinos helenísticos descendentes do império de Alexandre).

Profeta Zacarias, pintura de Michelangelo no teto da Capela Sistina
Profeta Zacarias, pintura de Michelangelo no teto da Capela Sistina

Javã no contexto cultural

A influência de Javã, como progenitor dos povos gregos, é imensa. A cultura helênica teve um impacto profundo no mundo antigo, influenciando filosofia, arte, ciência, política e linguagem. A disseminação do grego koiné como língua franca facilitou a expansão do cristianismo primitivo [19].

A civilização que Javã “fundou” através de seus descendentes tornou-se um dos pilares da cultura ocidental. O seu legado é, portanto, não apenas uma questão genealógica, mas uma conexão vital entre as narrativas bíblicas e a rica tapeçaria da história humana e da civilização.

O comércio e a marinha de Javã

Os descendentes de Javã foram notórios por sua forte presença marítima e suas atividades comerciais no Mediterrâneo. As terras onde se estabeleceram – Chipre, Rodes, a Península Ibérica – eram pontos estratégicos para o comércio.

Eles se tornaram navegadores experientes e comerciantes influentes, desempenhando um papel fundamental na economia da Antiguidade.

Rota comercial e produtos

Os “filhos de Javã” são mencionados em Ezequiel 27 como importantes parceiros comerciais da rica cidade de Tiro. Este capítulo descreve Tiro como um grande centro comercial, e Javã, Tubal e Mesequim são listados como negociantes que trocavam mercadorias com ela [13].

Eles ofereciam “pessoas e vasos de bronze”, o que indica um comércio de escravos e metais. Essa passagem revela a extensão das redes comerciais dos povos jaféticos e sua capacidade de fornecer produtos valiosos.

Arco do triunfo da cidade de Tiro
Arco do triunfo da cidade de Tiro

Poder naval

A menção de “navios de Társis” e “navios de Quitim” na Bíblia sublinha a proeza marítima dos descendentes de Javã [11, 15]. Estas embarcações eram conhecidas por sua capacidade de realizar longas viagens, conectando portos distantes e facilitando o intercâmbio de bens e culturas.

O poder naval dos gregos, descendentes de Javã, tornou-se um fator dominante no Mediterrâneo, tanto em termos comerciais quanto militares. Esse controle dos mares permitiu a expansão de sua influência e a colonização de novas terras.

Javã em outras referências bíblicas

Além das passagens em Gênesis, Crônicas, Daniel, Zacarias e Ezequiel, Javã aparece em outras partes das Escrituras, reforçando sua identidade como ancestral dos gregos. Essas referências ampliam a compreensão de sua importância na visão bíblica da história e da profecia.

Isaías 66:19

Em Isaías 66:19, Javã é incluído em uma lista de nações distantes para as quais os sobreviventes de Judá seriam enviados para proclamar a glória de Deus.

A passagem diz: “E porei entre eles um sinal, e enviarei os que deles escaparam às nações, a Társis, Pul, e Lude, os que flecham o arco, a Tubal, e Javã, às ilhas de mais longe, que não ouviram a minha fama, nem viram a minha glória; e anunciarão a minha glória entre os gentios” [20].

Esta inclusão mostra que ele e seus descendentes eram reconhecidos como um povo significativo, distante de Israel, mas que seria alvo da mensagem divina.

A conexão Javã-Grécia

A consistência nas referências bíblicas, desde as genealogias pós-diluvianas até as profecias dos reinos e a expansão missionária, solidifica a identificação de Javã com os gregos.

Ele serve como um elo teológico entre a narrativa universal da origem das nações e a ascensão das potências mundiais na história antiga. Sua linhagem é um testemunho da providência divina na dispersão e desenvolvimento dos povos.

Etimologia e significado de Javã

O nome Javã, em hebraico Yāwān (יָוָן), tem uma etimologia que o liga diretamente aos Jônios e, por extensão, à Grécia [21]. A raiz do nome é amplamente aceita como a fonte para a designação hebraica dos gregos. Em textos hebraicos posteriores, o termo “Yāwān” tornou-se sinônimo de “Grécia” ou “grego”.

Essa conexão linguística é vital para entender as referências bíblicas a ele. Ela permite que os leitores associem o ancestral bíblico diretamente com a poderosa civilização grega que emergiria séculos mais tarde.

O nome Javã, portanto, não é apenas um marcador genealógico, mas um identificador cultural e histórico que prefigura a influência helênica.

Aprenda mais

[Vídeo] Teológico | Bíblia & Teologia.

[Vídeo] A descendência dos filhos de Noé – Evidências. Rafael de Souza Araujo.

[Vídeo] JAVÃ, JÔNIOS E OS GREGOS. Estudando A Bíblia.

Perguntas comuns

Nesta seção apresentamos as principais perguntas, com as respostas, que as pessoas fazem sobre este personagem bíblico pouco lembrado na descendência de Jafé.

Quem foi Javã na Bíblia?

Javã foi um dos filhos de Jafé e neto de Noé, listado na Tabela das Nações em Gênesis 10. Ele é tradicionalmente considerado o ancestral dos povos gregos (jônios). Seus filhos — Elisá, Társis, Quitim e Dodanim — são associados a regiões costeiras e ilhas do Mediterrâneo.

Qual é o significado de Javan?

O nome Javã (do hebraico Yāwān) é o termo que o Antigo Testamento utiliza para se referir à Grécia e ao seu povo. Portanto, seu significado está diretamente ligado a essa identidade nacional e geográfica, sendo o nome hebraico para os gregos, especialmente os jônios.

O que significa o Javã na Bíblia?

Na Bíblia, Javã representa o mundo grego e a expansão dos povos marítimos a oeste de Israel. Além de sua importância genealógica em Gênesis, o nome é usado em profecias, como no livro de Daniel, para se referir ao futuro Império Grego de Alexandre, o Grande.

Fontes

[1] Gênesis 10:2 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).

[2] Gênesis 9:23 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).

[3] Gênesis 9:27 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).

[4] Gênesis 6:9 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).

Demais fontes

[5] Gênesis 9:11 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).

[6] Gênesis 10:2 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).

[7] Kidner, Derek. Genesis. Tyndale Old Testament Commentaries. Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1967.

[8] Gênesis 10:4 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).

[9] 1 Crônicas 1:7 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).

[10] Wenham, Gordon J. Genesis 1-15. Word Biblical Commentary. Vol. 1. Dallas: Word, Inc., 1987.

[11] 1 Reis 10:22; Isaías 2:16; Salmo 48:7 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).

[12] Katzenstein, H. J. “Tarsus.” The Anchor Bible Dictionary. Vol. 6. New York: Doubleday, 1992.

[13] Ezequiel 27:12-13 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).

[14] Kittel, Gerhard, ed. Theological Dictionary of the New Testament. Vol. 3. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1965. p. 883.

[15] Daniel 11:30 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).

[16] Strong, James. Strong’s Exhaustive Concordance of the Bible. Nashville, TN: Thomas Nelson, 1990. G2903.

[17] Daniel 8:21 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).

[18] Zacarias 9:13 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).

[19] Bruce, F. F. Paul: Apostle of the Heart Set Free. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1977.

[20] Isaías 66:19 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).

[21] Easton, M. G. Easton’s Bible Dictionary. New York: Harper & Brothers, 1897. “Javan”.

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Diego Pereira do Nascimento
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