Abimeleque foi um rei da cidade de Siquém, da tribo de Manassés, e um dos filhos do juiz Gideão, o quinto juiz levantado por Deus para livrar Israel da opressão midianita e amalequita.
Ele era filho do juiz Gideão com uma de suas concubinas. Foi considerado um homem ambicioso e cruel que, após a morte de seu pai, convenceu os homens de Siquém a proclamá-lo rei, assassinando seus familiares e aplicando um golpe na região.
Nascimento e família
Abimeleque nasceu por volta de 1155 e 1160 a.C., após ou no fim das batalhas de libertação de Israel lideradas por seu pai, o juiz Gideão, contra os midianitas, amalequitas e outros povos ao leste de Canaã.
A Bíblia relata que ele foi um filho fora dos casamentos oficiais, sendo fruto de uma relação do juiz Gideão com uma de suas concubinas, mais especificamente com uma concubina da cidade de Siquém, cidade próxima de Ofra.
Por sua mãe ser da cidade de Siquém, alguns creem que ele tenha nascido nesta cidade, usando como base no texto bíblico de Juízes 8:31. E que por esse motivo ele desejava governar especificamente a cidade de Siquém e não todo o Israel.
Apesar deste trecho apenas dizer que o juiz Gideão se relacionou com uma mulher da cidade de Siquém e não necessariamente que teve um filho em Siquém, é correto supor que Abimeleque tenha sim nascido nesta cidade e posteriormente tenha sido levado para Ofra junto de seus irmãos.
“Sua concubina, que morava em Siquém, também lhe deu um filho, a quem ele deu o nome de Abimeleque.”
Juízes 8:31 (NVI)
Entretanto, isso não dá base para supor que por ele nascer em determinada cidade lhe deu o desejo de governá-la. O texto bíblico parece sugerir que Abimeleque desejava governar não apenas Siquém, mas também toda a região e provavelmente até todo o Israel.
Assim como toda a sua família, Abimeleque conviveu com os habitantes Ofra, onde provavelmente lidou com os resquícios de apostasia e sincretismo de seu povo. Em Ofra também presenciou a adoração aos deuses pagãos dos povos vizinhos, Baal e Aserá, antes promovidas por seu avô Joás.
A bíblia não faz menções a filhos de Abimeleque, o que indica que ele não gerou filhos, seja antes ou durante o seu reinado em Siquém.
Após seu golpe para tomar o poder na cidade de Siquém e assassinar seus irmão, com exceção de Jotão, ele governou por três anos sobre a cidade. Sendo deposto e assassinado por volta do ano 1000 a.C.
Gideão, pai de Abimeleque
Gideão, pai de Abimeleque, foi o juiz levantado por Deus em Israel durante a opressão midianita e amalequita dos anos 1150 a.C. Seu pai é lembrado por liderar o exército israelita e conduzir Israel a vitória.
Durante as batalhas deu instruiu Gideão a formar um exército de apenas 300 homens. E com este exército, juntamente de seu filho Jéter e seu servo Purá, Gideão derrotou importantes generais e reis midianitas conduzindo Israel a vitória.
Dentre os generais e reis midianitas derrotas, a Bíblia destaca:
Após as vitórias, Gideão liderou Israel por 40 anos, nos quais o povo adorou ao Senhor e houve paz entre os israelitas e os povos vizinhos.
O nome Gideão tem sua origem no hebraico Gidʻon (גִּדְעוֹן) e tem como significado “aquele que corta com um montante”. [1]
Jéter, irmão mais velho de Abimeleque
Jéter, o primogênito do juiz Gideão, participou ativamente ao lado de seu pai nas batalhas contra os inimigos, sendo escolhido por Deus como um dos 300 guerreiros destacados para a luta.
Há relatos divergentes sobre a coragem de Jéter. Enquanto alguns o consideram um homem destemido, por ter participado junto de seu pai Gideão durante todas as batalhas contra os midianitas, outros questionam essa afirmação visto que ele se acovardou ao executar os reis Zeba e Zalmuna.
Após a captura dos últimos reis de Midiã (Zeba e Zalmuna), enquanto atravessavam o desfiladeiro de Heres, Gideão deu ordens para que seu filho Jéter matasse os reis midianitas, colocando fim a guerra. Jéter, demonstrando medo, não conseguiu executar a ordem, levando alguns a rotulá-lo como não tão valente e até como um covarde.
O nome Jéter tem origem no hebraico Yether (יתר) e significa “abundância”. [2]
Jotão, irmão mais novo de Abimeleque
Jotão foi o irmão mais novo de Abimeleque e o único a sobreviver a seu golpe de poder em Siquém.
Ele foi considerado um rapaz eloquente e de grande inteligência, pois além de ter sido o único de sua família a sobreviver ao ataque contra sua família, ele soube denunciar todo o golpe dado Abimeleque.
O nome Jotão tem sua origem no hebraico Yowtham (יותם), e significa “o Senhor é perfeito”. [3]
Ascensão ao poder
Depois da morte de seu pai Gideão, Abimeleque aspirou ao poder e procurou se tornar rei de Israel. Ele foi até Siquém, onde tinha parentes maternos, e persuadiu os cidadãos a apoiá-lo, argumentando que era melhor ter um rei local do que setenta líderes de Ofra.
Ele também se aproveitou do fato de que seu pai havia sido um grande guerreiro e era reconhecido pelos habitantes de Siquém, pois havia livrado a cidade dos midianitas e construído um altar para o Senhor ali.
Também se aproveitou do desejo dos israelitas de estabelecerem uma monarquia. Após o fim das batalhas de Gideão, os israelitas se reuniram com ele e pediram para que ele os governasse como um rei e que seus filhos seguissem e estabelecessem uma monarquia em Israel.
Na ocasião Gideão se recusou, argumentando que esta não era a vontade do Senhor (Juízes 8:23).
Os moradores de Siquém deram prata, removida do templo de Baal-Berite, o deus cananeu adorado em Siquém.
Com o apoio e o dinheiro de Siquém, Abimeleque contratou homens violentos e sem escrúpulos, que o acompanharam até Ofra.
Em Ofra ele invadiu a casa de seu pai e matou seus setenta irmãos, com exceção de Jotão, o mais novo, que conseguiu escapar e se esconder.
Após a crueldade contra sua família, os habitantes de Siquém e Bete-Milo se reuniram e proclamaram Abimeleque como rei sobre eles.
“Então todos os cidadãos de Siquém e de Bete-Milo reuniram-se ao lado do Carvalho, junto à coluna de Siquém, para coroar Abimeleque rei.”
Juízes 9:6 (NVI)
Reinado e queda de Abimeleque
O reinado de Abimeleque foi breve e sangrento. Ele não governou com justiça e temor a Deus, mas com opressão e crueldade. Ele não respeitou a tradição e a aliança de Israel, mas se aliou aos cananeus e aos seus deuses. Ele não buscou o bem do seu povo, mas apenas o seu próprio interesse e glória.
Denúncias de Jotão
Após a coroação de Abimeleque como rei, seu irmão mais novo Jotão subiu ao topo do monte Gerizim e proferiu uma parábola, conhecida como a parábola de Jotão, dirigida aos líderes de Siquém.
Ele contou a história de árvores (Jz 9:7-15) que procuravam um rei para liderá-las, e as árvores mais úteis recusaram a oferta, enquanto a vinha (representando Jotão) ofereceu um benefício genuíno. Jotão usou essa parábola para denunciar a ilegitimidade do reinado de Abimeleque e profetizou sobre as consequências de sua busca pelo poder.
A parábola de Jotão revelou-se profética quando a relação entre Abimeleque e os cidadãos de Siquém se deteriorou.
Conspirações contra o rei Abimeleque
Após três anos de governo, Deus enviou um “espírito maligno” para criar discórdia entre Abimeleque e os cidadãos de Siquém, que começaram a se arrepender de tê-lo apoiado.
Eles se rebelaram contra ele e colocaram emboscadas nos montes para atacar os que passavam pelo caminho. Também acolheram um homem chamado Gaal, filho de Ebede, que era inimigo de Abimeleque e que se propôs a liderar a revolta.
O rei Abimeleque ficou sabendo da conspiração por meio de Zebul, o governador da cidade e seu aliado, que o informou do que estava acontecendo. Ele então planejou um ataque surpresa contra Siquém, dividindo seus homens em quatro grupos.
O exército de Abimeleque derrotou Gaal e seus seguidores, e perseguiu-os até a entrada da cidade. No dia seguinte, ele saiu novamente para combater os que haviam se refugiado na cidade, e os venceu.
Dessa forma ele capturou a cidade. Depois de capturá-la, ele a destruiu e semeou sal sobre ela, um símbolo de maldição e desolação. Os sobreviventes se refugiaram na torre do templo de Baal-Berite, mas o rei os seguiu e ordenou que seus homens cortassem galhos de árvores e os empilhassem ao redor da torre. Ele ateou fogo à torre, matando cerca de mil homens e mulheres.
Morte de Abimeleque em Tebes
Depois disso, marcharam contra Tebes, outra cidade rebelde. Ele também capturou a cidade, mas quando se aproximou da torre onde se haviam refugiado os moradores, uma mulher lançou uma pedra de moinho sobre a sua cabeça, ferindo-o mortalmente.
Abimeleque, não querendo morrer pelas mãos de uma mulher, pediu ao seu escudeiro que o matasse com a espada. Assim, ele morreu, e os seus homens se dispersaram.
A morte de Abimeleque foi vista como um castigo de Deus por seus crimes contra a sua família e contra Siquém. A Bíblia diz que Deus fez recair sobre a cabeça de Abimeleque todo o mal que ele havia feito, e também sobre os homens de Siquém, que o haviam apoiado. A profecia de Jotão se cumpriu.
Significado do nome Abimeleque
O nome Abimeleque é composto por duas palavras hebraicas: Abi, que significa “meu pai”, e Melek, que significa “rei”. Portanto, o significado literal do nome é “meu pai é rei”. [4]
Aprenda mais
[Podcast] Quem foram os juízes? Btcast.
[Vídeo] Juízes. Bible Project – Português.
[Livro] Manual Bíblico. John MacArthur.
[Livro] Juízes para você: Série: a Palavra de Deus para você. Timothy Keller.
Fontes
[1] Gideão. Dicionário de nomes próprios.
[2] Jeter. Apologeta.
[3] Jotão. Apologeta.
[4] Abimeleque. Significado do Nome.