Rio Jordão

O rio Jordão é um dos mais antigos e importantes do mundo, sendo palco para diversos eventos históricos de Israel e do Oriente Médio.

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O rio Jordão é um dos rios mais antigos do mundo, tendo sido habitado por diversas civilizações ao longo da história, como os cananeus, israelitas e moabitas.

Nas proximidades do Jordão foram encontrados vestígios arqueológicos de ocupação humana datados de mais de 10 mil anos.

Ao longo dos séculos, o Jordão desempenhou um papel fundamental em eventos históricos, como guerras, tratados, migrações e conflitos.

Durante a Primeira Guerra Mundial, o rio serviu como fronteira entre o Império Otomano e o Império Britânico. Após o conflito, tornou-se parte do Mandato Britânico da Palestina, dividido pela ONU em 1947 em dois estados: um judeu e um árabe. [1]

Além de seu significado histórico, o Jordão tem uma importância econômica considerável para as nações que estão em sua margem, especialmente devido ao turismo religioso e de lazer.

Anualmente, milhares de pessoas visitam o rio para explorar seus locais sagrados, como o local do batismo de Jesus, ou para apreciar suas belezas naturais, como o Mar Morto e o Mar da Galileia, também chamado de Lago Tiberíades.

O rio também tem desempenhado um papel vital no desenvolvimento da agricultura regional, uma das principais atividades econômicas desde a antiguidade.

Neste artigo apresentamos a história antiga e moderna deste importante rio da humanidade, assim como suas características geográficas e importância religiosa.


Geografia, localização e características do rio Jordão

O rio Jordão nasce no Monte Hérmon, acima do mar da Galileia, entre os países da Síria e do Líbano. O rio percorre cerca de 200 km até desaguar no Mar Morto, o mar mais salgado do mundo e considerado o ponto mais baixo de todo o planeta. [2]

O rio corta toda Canaã e Gileade, partindo do norte nas colinas de Golã até o sul, no mar Morto. Ele passa pela atual fronteira de Israel e da Jordânia e Cisjordânia. Ele possui uma largura máxima de 30 metros e uma profundidade média de 1 metro, variando entre 15 e 60 metros. [3]

É pelo fato da maior parte do rio ser rasa que muitas igrejas em Israel e ao longo do mundo, realizam batismo no local.

O rio tem um baixo nível de salinidade, mas vai aumentando conforme corre para o sul e se aproxima do Mar Morto, que é um lago salgado sem saída para o mar. O Mar Morto é famoso por sua alta densidade, que permite que as pessoas boiem em suas águas.

O rio também atravessa o mar da Galileia, que é o maior reservatório de água doce da região.

Curso do rio Jordão, de norte a sul, com alguns de seus afluentes
Curso do rio Jordão, de norte a sul, com alguns de seus afluentes

A região ao longo do rio Jordão, com exceção das proximidades do Mar Morto, é extremamente fértil e por isso diversas cidades se formaram ao longo de seu entorno, como Jericó.

O rio Jordão é dividido em dois cursos, um mais volumoso no norte, e outro com menos volume, na região sul entre o mar da Galileia até o mar Morto.

Nascente do rio Jordão

A nascente do rio Jordão fica no norte do atual Israel, na encosta do monte Hérmon, nas colinas de Golã, a uma altitude de 70 metros. Ela é formada pela confluência de dois rios, o Hasbani e o Dan. O Hasbani nasce na Síria e o Dan nasce em Israel.

Vale do Hula (Curso superior do rio Jordão)

O maior curso do rio se encontra na região norte, iniciando em suas nascentes até o mar da Galileia. Essa região possui diversos nomes, sendo os mais comuns Vale do Hula e Vale de Betsaida.

O rio nasce nas colinas de Golã e conforme desce pela região do Oriente Médio, ele é alimentado por diversos rios como o Hasbani, Banias, Dan e o riacho de Iyyon.

Esse grande volume de rios que desaguam no rio Jordão, deixam essa parte do rio mais volumosa, com águas mais profundas e mais rápidas.

A velocidade do rio diminui quando chega no mar da Galileia, um grande lago de água doce situado no norte de Israel, que fica 210 metros abaixo do nível do mar. Esta região é utilizada principalmente para e pesca.

Mapa do Vale de Hula no norte de Israel
Mapa do Vale de Hula no norte de Israel

Diversas cidades registradas na Bíblia se desenvolveram ao longo do curso superior do Jordão. Dentre as principais podemos citar:

  • Nazaré;
  • Jezreel;
  • Hazor.

Vale do Jordão (Curso inferior do rio)

Depois do mar da Galileia, o volume do rio diminui consideravelmente e se torna extremamente barrento, sendo considerado sujo em alguns pontos. O chamado curso inferior do Jordão, ou simplesmente Vale do Jordão, inicia no mar da Galileia e termina no mar Morto.

O Vale do Jordão é considerado extremamente fértil, sendo o berço de diversos de diversas civilizações antigas como os israelitas e moabitas. Em suas costas se desenvolveu importantes cidades do passado, como Jericó, a cidade mais antiga do mundo.

Ao longo de seu curso o rio vai se tornando cada vez mais salgado, até formar um lago totalmente salgado em seu ponto mais ao sul, o chamado Mar Morto. Devido ao clima muito quente da região dessa parte do rio e do mar Morto, água se evapora rapidamente, enquanto os sais minerais não. Com isso o sal se acumula na região elevando a salinidade local [14]

Foto do Mar Morto pela manhã, visto de Masada
Foto do Mar Morto pela manhã, visto de Masada

Afluentes do rio Jordão

O rio Jordão é alimentado por diversos afluentes, que contribuem para o seu fluxo e volume de água. Esses afluentes do rio constituem diversos rios e ribeiros, que correm através das antigas regiões de Gileade e Canaã, assim como das colinas de Golã e outras regiões do Oriente Médio.

Os principais afluentes do rio Jordão são:

  • Rio Banias, também chamado de rio Hérmon;
  • Rio Dan;
  • Rio Hasbani (Snir);
  • Rio Jarmuque;
  • Rio Jaboque, também chamado de rio Zarqa;
  • Wadi Harod.

Rio Banias

O rio Banias, ou rio Hérmon, é um dos principais afluentes do Jordão. Ele nasce na encosta sul do Monte Hérmon e é famoso por suas águas cristalinas e geladas.

Rio Dan

Suas nascentes se localizam na Reserva Natural de Dan. O rio corre por toda a reserva através do território israelense até desaguar no rio Jordão.

Foto da Reserva Natural de Dan
Foto da Reserva Natural de Dan

Rio Hasbani

O Hasbani nasce no Líbano e corre pela fronteira com Israel até desembocar no Rio Jordão. Ele é o maior dos afluentes do Jordão em termos de comprimento e fluxo.

Rio Jarmuque

O rio Jarmuque é um dos maiores afluentes do Jordão. Localizado a sudeste do mar da Galileia, ele corre através da fronteira entre Israel e Jordânia.

Ele é extremamente importante para a irrigação de fazendas locais a para o abastecimento de água das cidades formadas perto de suas margens.

Rio Jaboque

O Jaboque nasce e corre por dentro do território da atual Jordânia, antiga Gileade. Ele é lembrado por ser o local onde Jacó lutou com Deus e foi abençoado por ele.

Mapa do rio Jaboque, com marcação do rio Jordão a esquerda
Mapa do rio Jaboque, com marcação do rio Jordão a esquerda

Wadi Harod

Sendo menor que os demais afluentes, este pequeno rio drena as água do vale de Jezreel através do lado ocidental do rio Jordão, até desembocar nele. Este pequeno rio é mais significativo durante o período chuvoso, pois seu solo enxarca e carrega um volume maior de água até o Jordão.

Desague do rio Jordão

O rio Jordão deságua no Mar Morto, o ponto mais baixo da superfície terrestre. Seu ponto de desague é um fenômeno geográfico raro. O Mar Morto é um vasto lago de água salgada que fica a 430 metros abaixo do nível do mar.

Devido ao alto calor da região e a salinidade do mar do Morto, a probabilidade de vida em suas águas e em suas margens é extremamente baixa.


Principais atividades econômicas do rio Jordão

Devido ao seu solo rico e importância histórica e religiosa diversas atividades econômicas, de turismo e de lazer se desenvolveram no entorno do rio.

Turismo religioso e de lazer

O rio Jordão atrai milhares de visitantes todos os anos por sua importância histórica e espiritual para judeus, cristãos e muçulmanos. Alguns dos locais mais visitados são o local do batismo de Jesus Cristo, o mar Morto e o mar da Galileia.

Agricultura no rio Jordão

O rio também é uma fonte vital de água para a produção agrícola na região, especialmente de frutas, vegetais, flores e algodão. No entanto, o uso intensivo das águas do rio tem causado a diminuição de seu fluxo e a degradação de sua qualidade.

Pesca

Sendo um rio longo e com um alto volume ele é um habitat para diversas espécies de peixes, como tilápias, carpas e trutas. A pesca é uma atividade econômica importante em algumas áreas próximas ao rio, especialmente no mar da Galileia.

Foto de homem pescando no mar da Galileia, rio Jordão
Foto de homem pescando no mar da Galileia, rio Jordão

História bíblica do rio Jordão

O rio Jordão é mencionado diversas vezes ao longo da Bíblia, sendo palco de batalhas, reconciliações

Abraão e Ló

A primeira vez que o rio é mencionado na Bíblia é na história de Abraão e Ló. Depois de deixarem Ur, Abraão e Ló viajaram juntos até Canaã.

Quando chegaram à terra, eles viram que era uma terra fértil e abundante. No entanto, eles também viram que havia muitas pessoas morando na terra.

Abraão e Ló decidiram se separar para evitar conflitos. Abraão escolheu morar no sul da terra, enquanto Ló escolheu morar no norte, na planície do Jordão. A planície do Jordão era uma terra fértil e irrigada, e Ló logo se tornou um homem rico.

Ilustração representando a separação de Abraão e Ló
Ilustração representando a separação de Abraão e Ló

Jacó e Esaú

Durante os relatos da vida de Jacó a Bíblia nos relata que o patriarca de Israel passou pelo rio ao menos em dois momentos.

Jacó e Esaú eram irmãos gêmeos, mas eram muito diferentes um do outro. Jacó era um homem calmo e pacífico, enquanto Esaú era um homem rude e violento. Após uma trama de sua mãe, para que Jacó roubasse a benção de Esaú, ele fugiu para casa de seu tio Labão para evitar ser morto por seu irmão. Ele passou vinte anos trabalhando para seu tio.

Com medo de seu irmão se vingar, Jacó lhe enviou presentes, na esperança de apaziguar seu irmão. Ele também enviou mensageiros para avisar Esaú de sua chegada.

Esaú veio ao seu encontro com quatrocentos homens. Jacó estava com medo, mas Deus o tranquilizou. Os irmãos se encontraram se reconciliaram nas proximidades do rio.

Ilustração representando o reencontro de Jacó e Esaú
Ilustração representando o reencontro de Jacó e Esaú

A conquista da Terra Prometida

Um dos relatos mais impactantes da Bíblia sobre o rio Jordão se encontra no livro de Josué. Depois de quarenta anos de peregrinação no deserto, os israelitas pararam às margens do rio antes de batalharem pela posse da Terra Prometida.

Seguindo as ordens de Deus transmitidas a Josué, os israelitas atravessaram o rio e conquistaram a Terra Prometida. O rio se tornou um símbolo da entrada dos israelitas na terra que Deus lhes havia prometido.

Batalhas do juiz Gideão contra os midianitas

Durante as batalhas de libertação de Israel contra as invasões midianitas e amalequitas, o rio Jordão, e cidades próximas a ele, foram palco das principais batalhas entre o exército do juiz Gideão, filho de Joás, e o exército de Midiã.

A Bíblia relata que antes dos midianitas se reunirem no Monte Moré para invadir Israel, ele atravessaram o rio Jordão com um exército de mais de 15 mil soldados midianitas.

No monte Moré os midianitas enfrentaram Gideão e seus 300 soldados. Durante um ataque noturno, Deus trouce confusão sobre o exército de Midiã e deu vitória aos israelitas.

Parte dos soldados de Midiã fugiram para cidade de Bete-Sita e Abel-Meolá, sob a liderança de Orebe e Zeebe. A outra parte dos soldados, cerca de 15 mil homens, se reuniram em Carcor.

Após diversas batalhas Gideão e seus soldados capturaram e derrotaram seus inimigos. Os soldados de Midiã, assim como seus chefes, Zeebe e Orebe, e seus reis, Zeba e Zalmuna, foram derrotados e mortos.

Ilustração do juiz Gideão liderando seu exército durante a batalha
Ilustração do juiz Gideão liderando seu exército durante a batalha

Com a vitória Israel, durante o tempo de vida do juiz Gideão, houve paz entre Israel e os povos vizinhos.

Juiz Jefté e as batalhas contra os amonitas

No capítulo 10 do livro de Juízes, durante os relatos do juiz Jefté, os israelitas passavam por um momento de apostasia, no qual deixaram de adorar a Deus e se voltaram para os deuses dos povos vizinhos.

A ira do Senhor se ascendeu contra Israel, e Ele permitiu que os amonitas e filisteus atacassem e dominassem os israelitas. Os filisteus subiram do sul e atacaram as tribos de Judá, Aser e Efraim. Enquanto os amonitas, vindo do leste, atravessaram o rio Jordão e atacaram as tribos de Judá, Benjamin e Efraim.

Passados 18 anos de aflição e opressão, Israel se voltou novamente ao Senhor, que usou Jefté como juiz e libertador.

Jefté liderou os exércitos das tribos israelitas e conquistou a vitória. Trazendo um pequeno período de paz.

O retorno de Jefté, por Giovanni Antonio Pellegrini, cerca de 1700-1725
O retorno de Jefté, por Giovanni Antonio Pellegrini, cerca de 1700-1725

Saul e a guerra contra os filisteus

No início da monarquia em Israel, no segundo ano do reinado de Saul, houve grande opressão sobre os israelitas por parte dos filisteus.

Os filisteus atacavam e saqueavam as terras israelitas, levando parte de sua população como escrava. Tamanho era o medo em Israel, que as pessoas começaram a se esconder em cavernas, entre as montanhas, nas matas e em grutas próximas do rio Jordão.

Durante os ataques a região do rio era utilizada como esconderijo pelos moradores das cidades próximas (1Sm 13:7). Sendo um rio relativamente raso em seu curso inferior, era fácil para os israelitas fugirem para as cidades e terras ao leste durante os ataques.

As cidades “além do Jordão”, cidades israelitas a leste do rio, apesar de menores do que as localizadas na Judeia, eram estratégicas para reorganizar os exércitos e planejar um contra ataque quando a capital era invadida.

Ao longo da guerra contra os povos vizinhos, os exércitos de Israel utilizavam o rio de forma estratégica para ataques, contra-ataques, reorganizar os soldados, para busca de provisões e para descanso das tropas.

O rei Saul não foi capaz de expulsar os filisteus e acabou sendo morto, juntamente de seus filhos, durante as batalhas. Com medo, os habitantes das cidades a leste do rio Jordão fugiram para a Judeia (1Sm 31:7), abandonando suas casas.

Os filisteus ocuparam essas regiões e dessa forma conquistaram regiões estratégicas para atacar Judá e as tribos do sul.

"Morte do Rei Saul", 1848 por Elie Marcuse (Alemanha e França, 1817–1902)
“Morte do Rei Saul”, 1848 por Elie Marcuse (Alemanha e França, 1817–1902)

Reinado de Davi

Ao longo do reinado do rei Davi o rio Jordão esteve presente em inúmeras vezes para deslocamento de suas tropas e fuga em momentos de ataques/golpes.

Batalhas de Davi contra Isbosete

Logo no início do seu reinado o rio foi palco durante as batalhas contra Isbosete, filho do rei Saul.

Na ocasião, Abner, general do exército de Saul, fugiu com suas tropas além do Jordão, planejando reagrupar suas tropas e tomar o trono de Davi, recém nomeado rei de Hebrom. (2Sm 2:29)

Abner acabe sendo assassinado pelas tropas de Joabe, general do exército de Davi. Isbosete, posteriormente, foi morto durante um ataque de Davi.

Rei Davi tocando harpa por Jan de Bray , 1670
Rei Davi tocando harpa por Jan de Bray , 1670

Batalhas contra os Sírios

Novamente, durante uma batalha contra os Sírios, o rio foi utilizado estrategicamente para a movimentação das tropas israelitas e ataque contra os inimigos. (2Sm 10:17)

Após atravessar rapidamente o rio, o rei Davi conseguiu emboscar seu inimigos e evitou uma invasão à Israel.

Tomada de poder de Absalão

Durante o golpe e tomada de poder de Absalão, filho do rei Davi. Davi, ouvindo o conselho de Husai foge com suas esposas, filhos e parte do exército, para o rio Jordão (2Sm 17:16). Absalão, ouvindo que o rei havia fugido pelo rio, o seguiu com suas tropas (1Sm 17:24).

Quando os dois exércitos se encontraram ocorreu uma batalha. Na qual Absalão foi morto por Joabe com três flechas lhe atravessando o coração.

Com a vitória de Davi os líderes de Israel se encontram com o rei nas margens do rio e alguns o acompanham durante seu retorno para Jerusalém.

A morte de Absalão, pendurado pelos cabelos em uma árvore (miniatura alemã do século XIV)
A morte de Absalão, pendurado pelos cabelos em uma árvore (miniatura alemã do século XIV)

Profeta Eliseu

O rio Jordão esteve presente em diversos momentos da vida do profeta Eliseu. Durante sua infância é possível que tenha se banhado e até pescado no rio, visto que a cidade em que nasceu, Abel-Meolá, era próxima do Jordão.

Quando adulto e discípulo de Elias, ele presenciou o profeta Elias ser transladado ao céu por uma carruagem de fogo. O texto relata que momentos antes de ir ao céu, o profetas Elias dividiu as águas do rio com seu manto, atravessando em seco (2Rs 2:7-8).

Após presenciar Elias indo ao céu, Eliseu atravessou o Jordão no mesmo ponto e também dividiu o rio com o manto de Elias, e assim como ele, atravessou o Jordão no seco (2Rs 2:13-15).

Profeta Eliseu representado em um ícone
Profeta Eliseu representado em um ícone

Cura de Naamã no rio Jordão

Uma das histórias mais famosas envolvendo o Jordão, certamente é a história de Naamã, o general Sírio que pediu para ser curado pelo profeta Eliseu.

O texto bíblico relata que Naamã sofria de lepra, é uma infeção crónica causada pelas bactérias que deixa a pele com mal aspecto e cheiro, e ao ouvir falar que Deus usava o profeta Eliseu para realizar milagres e curas pessoas, decide viajar até o encontro do profeta.

Após uma conversa com o profeta, Eliseu diz que para Naamã ser curado ele precisa mergulhar sete vezes no rio Jordão. Naamã a princípio se revolta com Eliseu, pois o rio Jordão na época era extremamente barrento e sujo, o general cria que o profeta tentava humilhá-lo. (2Rs 5:10-14)

Depois de dar ouvidos a um de seus soldados, o general realiza os sete mergulhos no rio e fica completamente curado. Naamã oferece alguns presente em gratidão a Eliseu, mas ele se recusa.

Eliseu recusando os presentes de Naamã, por Pieter de Grebber
Eliseu recusando os presentes de Naamã, por Pieter de Grebber

Eliseu faz o machado flutuar

Em outro momento, quando se encontrava nas margens do rio, o profeta Eliseu presencia um machado de ferro de alguns trabalhadores caindo no Jordão.

Os trabalhadores ficam preocupados por terem perdido seu instrumento de trabalho, mas Eliseu estende sua mão e faz o machado flutuar e os entrega aos trabalhadores (2Rs 6:1-7)

Profecia de Ezequiel sobre o rio Jordão

No livro de Ezequiel (47:1-12), o profeta tem uma visão de um rio que sai do templo de Jerusalém e flui para o leste. Este rio é identificado como o Jordão, que é purificado e torna-se um símbolo de renovação da terra de Israel.

O batismo de Jesus no rio Jordão

A menção mais importante ao rio Jordão na Bíblia, certamente é o batismo de Jesus de Cristo. O batismo de Jesus é um evento importante para a história cristã e bíblica. Ele marca o início do ministério de Cristo na Terra.

De acordo com os relatos dos evangelhos, Jesus foi batizado por João Batista nas águas do rio Jordão. João Batista era um profeta que pregava o arrependimento e o batismo como sinal de purificação. Ele dizia que Jesus era o Messias, o esperado Salvador do mundo.

Quando Jesus chegou ao rio, João tentou impedir que ele fosse batizado, dizendo que ele era o que deveria ser batizado por Jesus. No entanto, Jesus insistiu em ser batizado, dizendo que era necessário que de cumprisse daquela maneira.

Após ser batizado, foi aberto os céus e o Espírito Santo desceu sobre Jesus na forma de uma pomba. O Senhor fala com uma alta voz no céu: “Este é o meu Filho amado, em quem me agrado.” (Mt 3:17)

Batismo de Cristo 1481-1483. Por Perugino, na Capela Sistina, no Vaticano
Batismo de Cristo 1481-1483. Por Perugino, na Capela Sistina, no Vaticano

Jesus durante seu ministério

Mesmo não sendo citado explicitamente, é claro que Jesus Cristo passou diversas vezes pelas redondezas do rio Jordão ao longo de seu ministério, em especial nos momentos em que viajou pela região da Galileia.

Um dos momentos claro em que Cristo passou pela região, é quando Ele volta ao rio, na região em que João o batizara, após alguns judeus o acusarem de blasfêmia. Em João 10:4 a Bíblia relata que Cristo atravessou o Jordão até o local em que foi batizado. Diversas pessoas o seguiram crendo em sua obra e dizendo que tudo o que João Batista havia dito sobre Jesus era verdadeiro.


História do rio Jordão no século XX e XXI

A história do rio Jordão no século 20 foi marcada por conflitos, disputas e cooperação entre os países e povos que vivem em suas margens.

Primeira guerra mundial e o rio Jordão

Durante os anos da primeira guerra mundial e anteriores, o rio foi utilizado com fronteira entre o Império Otomano e Império Britânico. Os dois impérios apoiaram lados opostos durante a primeira grande guerra.

Ao longo do anos da guerra os britânicos, com a ajuda dos povos árabes, conseguiram conquistar a região controlada pelos otomanos.

Após o fim da guerra, em 1922, o rio passou para o Mandato Britânico da Palestina, criado em 1920 pela Liga das Nações. [4]

Mapa do Mandato Britânico da Palestina
Mapa do Mandato Britânico da Palestina

Após a segunda guerra mundial

No ano de 1945 a recém criada ONU (Organização das Nações Unidas) propôs a partilha da região da Palestina em dois estados, um judeu e outro árabe.

O rio Jordão ficou definido com fronteira desses países recém criados com a Jordânia. [5]

Guerra árabe-israelense

Em 1948, após a declaração de independência de Israel, o rio foi um dos cenários da primeira guerra árabe-israelense, que posteriormente resultou na ocupação israelense na Cisjordânia e da faixa de Gaza. [6]

O rio também foi o local onde o rei Abdullah I da Jordânia foi assassinado por um extremista palestino em 1951. [6]

Um Avia S-199 israelense , junho de 1948
Um Avia S-199 israelense , junho de 1948

Criação da OLP

No ano de 1964 a chamada Liga Árabe criou a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que passou a realizar ataques contra Israel a partir de bases localizadas na Jordânia e na Síria.

Israel, por sua vez, começou a construir um canal para desviar parte das águas do rio Jordão para o seu território. [7]

Guerra dos seis dias

Em 1967, o rio foi novamente palco de uma guerra, a denominada Guerra dos Seis Dias, na qual Israel conquistou as colinas de Golã, na Síria, e o leste de Jerusalém, na Jordânia. O rio passou a ser a linha de cessar-fogo entre Israel e os países vizinhos. [8]

Setembro Negro

Entre setembro de 1970 e julho de 1971 o rio Jordão esteve no meio de uma guerra civil na Jordânia, o denominado Setembro Negro. [9]

O rei Hussein da Jordânia expulsou as forças da OLP de seu país, após uma tentativa de golpe de Estado. Milhares de palestinos foram mortos ou fugiram para o Líbano. [9]

Um grupo de fedayeen se rendendo a uma patrulha de fronteira israelense após terem fugido através do rio Jordão , 21 de julho de 1971
Um grupo de fedayeen se rendendo a uma patrulha de fronteira israelense após terem fugido através do rio Jordão , 21 de julho de 1971

Tratado de paz Israel-Jordânia

Em 1994, o rio Jordão testemunhou a assinatura do tratado de paz entre Israel e Jordânia, que reconheceu a soberania de cada país sobre suas respectivas margens do rio e estabeleceu a cooperação na gestão dos recursos hídricos.

O rio Jordão foi novamente estabelecido como fronteira entre os dois países. No entanto, ele tem sido uma fonte de tensão entre Israel e os palestinos, que reivindicam o direito de acesso às suas águas e à sua terra. [10]

Papa João Paulo II

No ano de 2000, o rio Jordão foi visitado pelo papa João Paulo II, que celebrou uma missa no local do batismo de Jesus, reconhecido pela Igreja Católica como sendo na Jordânia. O papa também pediu pela paz e pela justiça na Terra Santa. [11]

Rio Jordão com patrimônio mundial da UNESCO

Em 2004, o rio Jordão foi declarado como Patrimônio Mundial da UNESCO, por sua importância histórica, cultural, religios e natural.

O rio Jordão também foi incluído na lista dos rios mais ameaçados do mundo, por causa da escassez de água, da poluição e do conflito. [12]

Ilustração do Vale do Jordão
Ilustração do Vale do Jordão

Importância religiosa do rio Jordão

O rio Jordão possui grande importância religiosa para judeus e cristão do mundo inteiro. Baixo listamos os principais motivos dessa importância.

Judaísmo

O rio é considerado sagrado para os judeus por várias razões. O rio é o local onde os israelitas cruzaram para entrar na Terra Prometida e conquistar a região de Canaã, como Deus havia prometido por meio de Moisés.

Essa travessia é um evento importante na história judaica e simboliza o cumprimento da promessa do Senhor.

O local da travessia dos israelitas, liderada por Josué, é conhecido como Gilgal e foi marcado com pedras após Deus lhes conceder travessia segura. Diversos judeus realizam peregrinações até o local.

O Jordão também possui um símbolo da purificação e da renovação. Os judeus costumam realizar banhos e batismos no rio Jordão como um ritual de purificação espiritual. O rio ganhou esse símbolo de renovação com a profecia de Ezequiel 47:1-12.

Candelabro e outros elementos do judaísmo
Candelabro e outros elementos do judaísmo

Cristianismo

Para os cristãos o rio é importante pois é o local onde Jesus Cristo, o Salvador, foi batizado por João Batista antes de iniciar seu ministério terreno. O local da batismo é conhecido como Yardenit, e recebe a visita de diversos cristãos ao longo do ano.


Cidades próximas do rio Jordão

O rio Jordão é um dos rios mais importantes do Oriente Médio, possuindo grande relevância histórica e religiosa. Devido a sua importância, diversas cidades foram criadas ao longo de suas margens com o passar dos séculos.

Nesta seção apresentamos as principais cidades criadas nas proximidades do rio:

  • Jericó;
  • Sucote;
  • Peniel;
  • Bete-Seã.

Jericó

Certamente Jericó é a principal cidade criada nas proximidades do rio Jordão. Considerada a cidade mais antiga do mundo ainda em habitação, ela possui mais de 9 mil anos de história.

Conhecida principalmente pelo relato bíblico das batalhas israelitas de conquista da Terra Prometida. Jericó foi a primeira cidade conquista após a travessia de Israel do rio Jordão.

A cidade possuía muralhas altas e impotentes, que vieram ao chão através da ação de Deus em favor de seu povo.

A Tomada de Jericó, por Jean Fouquet
A Tomada de Jericó, por Jean Fouquet

Sucote

A cidade de Sucote fica localizada próxima do rio Jordão e ao rio Jaboque. A cidade é lembrada por ter sido o local no qual Jacó viveu um tempo com sua família, após o seu reencontro com seu irmão Jacó.

Além dos relatos do patriarca Jacó, a cidade é lembrada pelas batalhas do juiz Gideão contra os midianitas. Na ocasião, o juiz pediu auxílio para a cidade durante sua perseguição aos reis Zeba e Zalmuna, mas os moradores da cidade se recusaram a ajudar e acabaram sendo penalizados por sua atitude quando Gideão voltou vitorioso da batalha.

Peniel

Peniel é um cidade construída perto do local onde Jacó lutou com o Senhor, no vau de Jaboque. A cidade é lembrada por conta desta luta e pelos relatos de Gideão, durante sua perseguição aos reis midianitas que fugiam para Carcor.

Assim com Sucote, Gideão pediu auxílio para os moradores de Peniel, mas estes também se recusaram ajudar o exército israelita. Após derrotar os inimigos, Gideão voltou a cidade e assassinou parte de seu moradores.

A campanha de escavação de 2008 ao amanhecer nas ruínas de Tulul edh-Dhahab, possível cidade de Peniel
A campanha de escavação de 2008 ao amanhecer nas ruínas de Tulul edh-Dhahab, possível cidade de Peniel

Bete-Seã

Uma cidade localiza na parte sul do mar da Galileia. Ela é uma cidade com antigas com ruínas. Ela fica próxima ao rio Jordão, na saída do vale de Jezreel. Mencionada algumas vezes na Bíblia, ela foi um importante centro urbano no passado.


Significado do nome “Jordão”

O nome Jordão vem do hebraico yarden que signfica “o que desce” ou “lugar onde se desce” (para beber água). Seu nome faz referência ao fato do rio descer das colinas de Golã e banhar a Galileia e Canaã. [13]

Com o passar da história o nome do rio passou a ser utilizado como sobrenome por algumas família na Europa, sendo frequentemente encontrado no nome de diversas pessoas hoje em dia.


Aprenda mais

[Vídeo] O rio Jordão como você nunca viu! Israel com Aline.

[Vídeo] Onde foi o batismo de Jesus? O rio Jordão desconhecido! Israel com Aline.

[Livro] Geografia Bíblica. Claudionor de Andrade.

[Livro] Geografia da terra santa e das terras bíblicas. Enéas Tognini.

[Livro] O Israel Bíblico: História – Arqueologia – Geografia. Melanie Peetz.

[Livro] Atlas Ilustrado da Bíblia. André Daniel Reinke.

[Livro] O Batismo de Jesus: Uma história do Rio Jordão. Jim Reimann.


Fontes

[1] Histórico da criação do Estado de Israel. Editora Abril.

[2] Conheça 20 lugares extremos do mundo. Vida e estilo.

[3] Por que o mar morto recebe este nome? Mundo educação.

[4] Histórico da criação do Estado de Israel. Revista Veja.

[5] Criação do Estado de Israel. Brasil Escola.

[6] Guerras árabe-israelenses. Brasil Escola.

[7] Conflito pela água do Oriente Médio. Geografia Visual.

[8] Guerra dos Seis Dias. História do mundo.

[9] Clinton Bailey. O Desafio Palestino da Jordânia, 1948-1983: Uma História Política , p.59; João Bulloch. A construção de uma guerra , p.67

[10] Jordânia e Israel, 25 anos de uma paz ‘cada vez mais fria’. Estados de Minas.

[11] Oração do papa João Paulo II no Vale do Jordão. Vatican.va

[12] Local do batismo de Jesus declarado Patrimônio Mundial pela Unesco. Comunidade Bethânia.

[13] Jordão. Sobrenomes Genera.

[14] Mar morto. Brasil Escola.

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