O rio Arnom, também chamado de Arnon ou Wadi Mujib, é um rio que deságua no Mar Morto. Presente em diversos relatos bíblicos do Antigo Testamento e de escritos antigos dos povos locais, esse rio possui grande importância histórica e religiosa.
Atualmente ele se encontra totalmente dentro do território da Jordânia, sendo palco de diversas histórias do século XX e XXI.
Diversos povos se estabeleceram ao longo de seu curso, fundando diversas cidades, como Aroer, que carregam a história destes povos e nos ajudam a compreender seu modo de viver e cultura.
Neste artigo queremos apresentar a história deste importante rio, assim como descrever parte de suas características e importância religiosa.
História bíblica do rio Arnom
O rio Arnom está presente em diversos períodos da história bíblicas, sendo palco para diversos conflitos entre os israelitas, povo escolhido por Deus, e os povos locais de Canaã.
Domínio amorreu e moabita sobre o rio Arnom
Pouco se sabe sobre a história no entorno rio Arnom antes da passagem e domínio israelita de Gileade. Antes do domínio israelita, diversos povos dominaram a região, se desenvolveram e foram expulsos ou assimilados por outros povos.
Antes da chegada de Israel, a região em volta do rio era dominada em parte pelo povo amorreu e em parte pelos moabitas.
Os amorreus eram um povo originário da Mesopotâmia, que se estabeleceram na região após fugirem de sua terra de origem devido a conflitos com o Império Hitita e outros povos mesopotâmicos. Enquanto os moabitas eram descentes de Ló, o sobrinho de Abraão.
Entre os anos de 1550 a.C. até a 1450 a.C., os amorreus dominaram sobre a região de Gileade e parte das colinas de Moabe, nome dado as terras a leste do rio Jordão. Tendo como marcadores geográficos, o rio Jarmuque no norte e o rio Arnom no sul.
Ao sul do rio, na região mais montanhosa, habitava os moabitas, no chamado Reino de Moabe. Os moabitas foram grandes inimigos dos israelitas no início do período dos juízes. Eles rivalizavam o controle das terras com os amorreus e outros povos do leste.
Conquista israelita sobre o rio Arnom
A Bíblia nos relata que antes da conquista da Terra Prometida, enquanto os israelitas caminhavam pela deserto até Canaã, as terras próximo do rio eram dominadas pelo rei Seom, da cidade de Hesbom.
Durante sua travessia pela região, Israel pediu passagem tranquila para o rei Seom, prometendo seguirem apenas pelas estradas e não invadirem suas terras (Nm 21). Porém, o rei de Hesbom reuniu seu exército e marchou contra os israelitas.
Apesar dos israelitas estarem em menor número, Deus deu vitória e Israel tomou toda a região de Hesbom, que inclui a região sul de Gileade e o rio Arnom, nas montanhas de Moabe.
Após dominar sobre a região sul, Israel seguiu batalhando contra os amorreus e derrotou Ogue, rei de Basã, região norte de Gileade.
Divisão das terras
Com a tomada de Canaã por Israel, o território dominado foi divido entre as tribos. E como acordado antes da travessia do rio Jordão, a região próxima ao rio foi passado para a tribo de Rúbem.
Período dos juízes
Apesar não ser dito explicitamente, durante o período dos juízes a região do rio Arnom passou por inúmeras trocas de domínio. A história bíblica sugere que após a liderança do juiz Gideão a região, antes pertencente a tribo de Rúbem, foi dominada pelos amonitas e outros povos do leste.
O evento mais notável na região do rio é relata durante o registro das batalhas do juiz Jefté contra os amonitas. A Bíblia não nos relata detalhadamente as batalhas, apenas que após os israelitas derrotarem o Reino de Amom, eles conquistaram 20 cidades dos inimigos.
A terra tomada dos inimigos compreendia desde de Aroer, cidade que fica nas margens do rio Arnom, até as regiões de Minite e Abel-Queramim.
Período da monarquia israelita
O único relato ao rio Arnom durante o período da monarquia israelitas se encontra em 2 Reis 10:33. O texto nos relata que após Israel se afastar do Senhor diversas vezes, Deus começou a reduzir o território israelita.
Após Jeú assassinar toda a família de Acabe e começar a reinar sobre Israel (Reino do Norte), Deus levantou o Hazael, rei de Arã-Damasco, para conquistar todas as terras israelitas a leste do rio Jordão, desde do rio Arnom ao sul, passando por toda a terra de Gileade, até Basã ao norte.
“Naqueles dias, o Senhor começou a reduzir o tamanho de Israel. O rei Hazael conquistou todo o território israelita a leste do Jordão, incluindo toda a terra de Gileade. Conquistou desde Aroer, junto ao rio Arnom, passando por Gileade até Basã, terras das tribos de Gade, de Rúben e de Manassés.”
2 Reis 10:32-33 (NVI)
Domínio babilônico sobre Canaã, Gileade e Moabe
A última menção bíblica ao rio Arnom se encontra em Jeremias 48:20, quando Jeremias anuncia a destruição dos moabitas após o domínio de Nabucodonosor II sobre a região.
“Moabe ficou envergonhada, pois está destroçada. Lamentem‑se e clamem! Anunciem junto ao Arnom que Moabe foi destruída.”
Jeremias 48:20 (NVI)
História do período romano
Durante o período romano um forte foi levantado na região pela Terceira Cavalaria Romana dos Alpes. O forte foi chamado de Apud Arnona e ficava na Via Nova Traiana, uma antiga estrada que ligava o Egito, Canaã e a Mesopotâmia.
Essa antiga estrada passava próximo a margem oriental do mar Morto e cruzava o rio Arnom.
Principais civilizações que viveram nas margens do rio Arnom
Sendo essa uma das regiões mais antigas do mundo com sinais de habitação humana e desenvolvimento de cidades. As margens do rio esteve presente em diversos conflitos da antiguidade e está registrado em relatos de diversos povos.
Dentre os principais povos que se estabeleceram na região, podemos citar os:
- Moabitas;
- Amorreus;
- Israelitas;
- Amonitas.
Acredita-se que o povo mais antigo a habitar as terras envolta do rio Arnom foram os moabitas, os prováveis fundadores da cidade de Aroer.
Geografia, localização e características do rio Arnom
O rio Arnom, também conhecido por seu nome árabe Wadi Mujib, é um rio que corre pelo sul da atual Jordânia. Nos tempos bíblico, o rio era utilizado como fronteira entre o reino de Israel, pela tribo de Rúbem, e o Reino de Moabe.
As margens do rio são caracterizadas por um solo fértil e rico em minerais. Uma considerável parte do rio passa por entre as montanhas, criando cânions e paisagens deslumbrantes. Paisagem esta muito apreciada por turistas que visitam a Jordânia. [3]
Nascente do rio Arnom
O rio Arnom nasce nas montanhas de Karak, província da Jordânia, a uma altitude de 900 metros do nível do mar, aproximadamente 1300 metro acima do mar Morto, seu desague.
A região de sua nascente é caracterizada por um clima desértico, sendo predominantemente seco a maior parte do ano.
A nascente do rio também é caracterizada por um solo rochoso e montanhoso.
Afluentes do rio Arnom
O rio Arnom é alimentado ao todo por sete afluente, sendo 2 rios regionais e um sistema de 5 pequenos rios localizados na reserva de Wadi Majib. Seus nomes são:
- Wadi Hidan;
- Wadi Zarqa Ma’in;
- Sistema de rio da reserva de Wadi al-Mujib.
Abaixo descrevemos brevemente cada um desses afluentes.
Wadi Hidan
Conhecido por suas cachoeiras e piscinas naturais, muito visitada por turistas. Local procurado por quem deseja visitar os cânions da região.
Wadi Zarqa Ma’in
É um rio menor que contribui para o aumento do fluxo de água do rio Arnom. Ao longo de seu curso se formaram diversas piscinas naturais.
Wadi al-Mujib
Um sistema de pequenos rios e desfiladeiros que compõem a reserva de Wadi Majib. Famoso por suas trilhas aquáticas e desfiladeiros.
Desague do rio Arnom
O rio Arnom desagua no lado oriental do mar Morto, na região hoje controlada pela Jordânia, em uma altitude de 430 metro abaixo do nível do mar.
Conforme o rio segue seu curso até o mar Morto, suas águas vão se tornando cada vez mais salgadas e o solo em suas margens se tornam menos férteis.
As terras próximas ao desague do rio são praticamente sem vegetação e sem vida. Possuindo apenas pequenos insetos e pouco animais locais. A região do desague também é caracterizada por um calor intenso em grande parte do ano.
Reserva Natural de Wadi Mujib
O lado oriental do rio Arnom, há uns 90 km ao sul de Amã, abriga uma reserva ambiental, chamada de Reserva Natural de Wadi Mujib. Esta reserva é a mais baixa do mundo e possui uma grande diversidade de fauna e flora, além de possuir uma paisagem exuberante. [1]
Grande parte da reserva se encontra em uma região montanhosa de clima desértico, que abriga diversos cânions.
Criada em 1987, a reserva se estende das encostas do mar Morto até as montanhas de Karak e Madaba. Possuindo diversos biomas, como floresta, deserto e solos rochoso, nas montanhas, a reserva é banhada pelo rio Arnom e seus sete afluentes. [1]
Algo curioso, é que o ponto mais da reserva alto está a 1277 metros acima do nível do mar. Com isso, a reserva possui, do ponto mais baixo até o mais alto, 1707 metros de altura. [2]
Fauna e flora do rio Arnom, na reserva Wadi Mujib
A reserva abriga mais de 300 espécies diferentes de plantas, diversas espécies de animais, em especial carnívoros, aves migratórias, entre outros. A região das montanhas, a de mais difícil acesso de toda reserva, é conhecida por servir de refúgio para espécies de felinos e cabras. [3]
Cânions de Wadi Mujib
Além de sua grande variedade de fauna e flora, a reserva Wadi Mujib é conhecida conta de suas trilhas, grutas e cânion em meio das montanhas.
Segundo os historiadores, durante última era glacial o nível do mar morto subir cerca de 240 metros. Com isso inundou todas as áreas mais baixas das montanhas, criando os cânions, as baías e bolsões que encontramos hoje nas proximidades do rio.
As principais trilhas dos cânions são [3]:
- Trilha siq;
- Trilha do cânion;
- Trilha malaqi;
- Trilha íbex;
- Trilha al hidan.
Além das trilhas uma tirolesa foi instalada na reserva para a diversão dos turistas e dos moradores da região.
Barragem e represa do rio Arnom
Além dos cânions e da bela paisagem no entorno do rio Arnom, há uma represa e uma barragem que foi construída em 1982. A barragem possui uma estrutura de 75 metro de altura e 300 metros de largura.
A represa criada pela barragem armazena 110 milhões de metros cúbicos garante o abastecimento de água para todas as cidades e fazendas da região.
Principais atividades econômicas no rio Arnom
Diversas atividades econômicas e de subsistência se desenvolveram nos entornos no rio Arnom ao longo da história. Nesta seção apresentamos as principais delas.
Agricultura no rio Arnom
Pelo entorno do rio ser em sua grande parte montanhoso, pouca atividade agrícola se desenvolveu em suas margens. As poucas áreas férteis foram utilizadas para o plantio de poucas variedade de grãos, frutas e legumes, todos utilizados para a subsistência dos povos que na região viveram ao longo dos séculos.
A principal atividade agrícola desenvolvida foi o plantio de trigo.
Turismo no rio Arnom (Reserva de Wadi Mujib)
O turismo é a principal atividade econômica na região em volta do mar Morto.
Os cânions da reserva Natural de Wadi Mujib é um destino popular para caminhadas, rafting, escalada e camping. Diversas pousadas e restaurantes na região que atendem aos turistas.
Além dos cânions, há alguns termas ao longo do rio que buscam apresentar uma opção de lazer para quem deseja fazer atividades menos radicais.
Atividade pecuária
Assim como a agricultura, a pecuária foi uma atividade que pouco se desenvolveu na região do rio. Devido a seu solo rochoso, o que mais se desenvolveu foi o pastoreio de ovelhas e cabras.
Pesca
Apesar da pesca ser a principal atividade econômica utiliza pelos moradores dos rios de Canaã e de Gileade, assim como o rio Jordão e o rio Jarmuque. O rio Arnom não possibilita que essa atividade se desenvolva em toda sua extensão.
Pelo fato do rio correr entre e dentro das montanhas, a pesca é uma atividade perigosa, sendo realizada em pequenos pontos, que não mais planos.
Cidades e construções próximas do rio Arnom
As terras em volta do rio são carregadas de história. Ao longo dos séculos diversas cidades e povos se desenvolveram em suas margens. Nesta seção apresentamos as principais cidades e monumentos próximos ao rio.
Aroer
Aroer é uma antiga cidade localizada a 15 km ao sul de Amã, capital da Jordânia. A cidade é reconhecida como uma das mais antigas do mundo e possui uma rica herança histórica e arqueológica.
Acredita-se que a cidade tenha sido fundada pelos moabitas, povo descendente de Moabe, um dos filho de Ló, sobrinho de Abraão.
A cidade ficava estrategicamente localizada nas margens do rio Arnom, e era utilizada como defesa do território. Esta era a cidade mais fortificada da região.
Atarote
Atarote era uma cidade fundada pelos moabitas localizada ao norte do rio Arnom. Assim como Aroer ao sul, essa cidade era utilizada para defesa das terras moabitas.
Ela era uma cidade menor, e ficava em uma área de constantes disputas territoriais. Inicialmente entre os moabitas e amorreus, posteriormente pelos moabitas e israelitas.
Monumento Mesha Stele
A Mesha Stele, é uma monumento de pedra datado do século IX a.C. Ela foi erguida pelo rei Mesa, de Mobe, durante os reinados de Jordão, rei de Israel, e Josafá, rei de Judá.
Esse monumento trás uma inscrição comemorando sua vitória sobre Israel. Acredita que essa batalha é a mesma descrita em 2 Reis 3:4-27. Entretanto, conforme relata o bíblico, Israel e Judá não foram derrotadas em batalhas. Ao contrário, Israel e Judá desistiram da batalha após o rei moabita sacrificar seu primogênito em holocausto sobre as muralhas da cidade.
Significado do nome “Arnom”
O nome “Arnom” comumente é traduzido como “Rio que desagua no mar Morto”.
Aprenda mais
[Vídeo] Imagens Aéreas da Terra Santa – Mar Morto, Rio Jordão, Galiléia, Deserto do Neguev e muito mais! Israel com Aline.
[Livro] Geografia Bíblica. Claudionor de Andrade.
[Livro] Geografia da terra santa e das terras bíblicas. Enéas Tognini.
[Livro] O Israel Bíblico: História – Arqueologia – Geografia. Melanie Peetz.
[Livro] Atlas Ilustrado da Bíblia. André Daniel Reinke.
[Livro] O Batismo de Jesus: Uma história do Rio Jordão. Jim Reimann.
Fontes
[1] Mujib Nature Reserve. Royal Society for the Conservation of Nature.
[2] Wadi Mujib: canyoning para lavar a alma. Territórios.
[3] Wadi Mujib. Jordan Tourism Board.
[4] Wadi Mujib. Wikipedia.