Jericó

Jericó é uma das cidades mais antigas do mundo e esteve presente em diversos momentos das narrativas bíblicas, sendo de grande importância durante as batalhas de conquista da Terra Prometida e durante o ministério de Cristo na Terra.

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Jericó é reconhecida como a cidade mais antiga do mundo ainda habitada, possuindo mais de 11 mil anos desde de seu surgimento em 9 mil a.C. [1]. Ao longo de sua história esteve presente em diversos relatos bíblicos, como a conquista da Terra Prometida e a passagem de Zaqueu, durante a visita de Jesus Cristo à cidade.

Antes mesmo de os israelitas, liderados por Josué, conquistarem suas muralhas lendárias, a cidade já ocupava um lugar de destaque na paisagem pré-israelita. Situada em uma região estratégica, a cidade testemunhou a ascensão e queda de civilizações antigas.

Neste artigo exploraremos a história dessa fascinante cidade e sua relação com os relatos bíblicos do Antigo e Novo Testamento.


Origem da cidade de Jericó

Jericó é um das cidades mais antigas do mundo em atividade, tendo evidências de habitação desde 9.000 a.C. [1]. Sua origem e as características de seus primeiros habitantes é incerta, mas dada a região e data de povoamento, podemos dizer que são de origem semita, ou seja, pertencem as povos que descenderam de Sem, filho de Noé.

Primeiros habitantes de Jericó

Os primeiros moradores da cidade ficaram na região até 7000 a.C., e ao longo de sua estadia construíram pequenas casas circulares, um santuário, uma torre com escadaria e muros para proteger a cidade [2].

Com o crescimento da cidade, os muros construído inicialmente passaram a ser ampliados e fortificados, até tornar-se uma muralha. Acredita-se que essa primeira muralha tinha como objetivo proteger seus cidadãos não apenas de ataques de tribos/povos rivais, mas também de protegê-los das enchentes dos rios ao redor da cidade [3].

Acerca do tamanho da população desses primeiros habitantes de Jericó, estima-se que tenha alcançado a marca de 2 mil até 3 mil habitantes [4].

Modelo em argila de uma casa circular da antiguidade
Modelo em argila de uma casa circular da antiguidade

Segundo grupo de habitantes

Evidências arqueológicas sugerem que os primeiros habitantes de Jericó desapareceram por volta de 7 mil a.C.. Os motivos desse desaparecimento podem ser diversos, desde migração para outras regiões, extermínio por um povo rival ou assimilação de sua população por outros povos.

O segundo grupo de habitantes da cidade provinham, provavelmente, do norte da atual Síria. Baseavam sua subsistência na agricultura, focada principalmente no trigo e na cevada [4], e não há evidências de comércio com outros povos/regiões.

Esse segundo grupo ficou na região até 6000 a.C. [4].

Período de pouca habitação

Após a saída desse segundo grupo, os historiadores sugerem que Jericó ficou por um período de 1 mil anos sem habitação. Não possuindo registros de povoamento em sua região. Voltando a ser povoada apenas após 5000 a.C. [4]

Entre 5000 a.C. e 3000 a.C. a cidade passou por esporádicos momentos de habitação. Esse período foi marcado por desenvolvimento da cerâmica e criação/pastoreio de ovelhas/carneiros [4].

Ilustração de um pastor de ovelhas
Ilustração de um pastor de ovelhas

Idade do bronze

Ao longo da Idade do Bronze, a cidade passou por um constante crescimento populacional e tecnológico, sendo considerado o período de apogeu da cidade pré-conquista israelita [4][5].

Neste período, Jericó foi conquistada e governada por diversos povos diferentes, como os amorreus e cananeus [4].

A cidade era cercada por longas muralhas, que eram fortificadas com inúmera torres de defesa retangulares [6].


Conquista e destruição de Jericó por Israel

Jericó, antes da conquista pelos israelitas, era uma cidade antiga e estrategicamente localizada no Vale do Jordão. Com suas imponentes muralhas e uma população dedicada à agricultura avançada, a cidade tinha fama por suas fortificações e muralhas impressionantes. A cidade era próspera e muito bem defendida.

Batalha de Jericó

A história de conquista da cidade, conhecida por Batalha de Jericó, ocorre por volta do ano 1400 a.C., quando Josué, filho de Num, assume a liderança de Israel após a morte de Moisés. Josué tem a dura missão de conduzir o povo e conquistar a Terra Prometida.

O texto bíblico nos diz que antes do exército israelita chegar a cidade de Jericó, Deus ordena que o povo dê uma volta ao redor da cidade uma vez por dia durante seis dias, e sete vezes no sétimo dia. Enquanto o povo rodeava a cidade os sacerdotes deveriam tocar suas trombetas e todos darem um “grito de guerra” (Js 6:5).

No sétimo dia rodearam a cidade sete vezes e no momento em que o povo gritou e as muralhas caíram ao chão. Com isso o povo de Deus obteve um grande conquista, sobre uma cidade considerada impossível de se tomar.

Conquista de Jericó
A Tomada de Jericó, por Jean Fouquet

“Quando o povo ouviu o som das trombetas, gritou com toda a força. De repente, o muro de Jericó veio abaixo. O povo atacou a cidade, cada um do ponto onde estava, e a tomou”

Josué 6:20 (NVT)

A cidade e seus habitantes foram completamente destruídos, com exceção de Raabe e sua família, que esconderam os espias enviados por Josué para fazer um reconhecimento na cidade antes de invadi-lá.

Evidências sobre a batalha de Jericó

Estudos arqueológicos recentes buscam na ruínas da atual cidade de Jericó, evidências sobre a existencia de sua muralha e das batalhas relatadas na Bíblia. Entretanto, devido a grande atividade urbana na região, diversos artefatos do período anterior ao domínio Romano se perderam ou foram completamente destruídos. Com isso os historiadores não conseguem datar com precisão quando ocorreu a batalha, ou mesmo onde ela ocorreu de fato. [10]

Ao longo do século XX diversas escavasões ocorreram na região. Diversos arqueólogos trabalharam na busca das muralhas da cidades e em algum resquício da histórica bíblica. Dentre os principais trabalhos arqueológicos da região estão:

  • 1868: Charles Warren identifica Tell es-Sultan como a antiga Jericó bíblica [11];
  • 1907-1909: Escavações por Sellin e Watzinger encontram muros que inicialmente parecem confirmar que a batalha ocorreu, mas posteriormente datados da Idade do Bronze Média (1950-1550 a.C.) [11];
  • 1930-1936: Garstang descobre muros desmoronados datados de 1400 a.C.;
  • 1952-1958: Kenyon demonstra que a destruição ocorreu antes, durante campanha egípcia contra os hicsos, e que Jericó estava desabitada por volta de 1250 a.C., período que segundo o autor ocorreu a batalha. Entretanto a data apresentada por Kenyon não confere com os registros de outros arqueólos e estudiosos da antqiguidade [12];
  • 1995: Testes de radiocarbono confirmam a datação da destruição das muralhas para o final do século XVII ou XVI a.C. [13]

Como pode ser observado, não há consenso entre os historiadores e arquólogos sobre as evidências que comprovam o relato bíblico.


Período dos juízes e monarquia israelita

Após a conquista de Jericó por Josué e o exército de israelita, a Bíblia faz poucos relatos envolvendo a cidade. A maior parte dos relatos são breves citações em versículos isolados.

Jericó durante os ataques de Eglom

Logo no início do período dos juízes de Israel, após a morte do juiz Otoniel, a Bíblia nos relata que os israelitas “mais umas vez fizeram o que o Senhor reprova […]” (Jz 3:12). Por conta disto, Deus permitiu que fossem invadidos e dominados por Eglom, o rei de Moabe.

Eúde - O juiz canhoto
Os judeus se alegram quando Eúde mata Eglon da Weltchronik de Rudolf von Ems, final do século XIV

Por volta de 1315 a.C., Eglom fez uma aliança militar com os amonitas e amalequitas para atacarem Israel. Juntos, os três exércitos marcharam até a região da cidade, chamada de “cidade das palmeiras”.

A cidade de Jericó, e demais cidades de Israel, ficaram sob a opressão de Moabe até o Senhor levantar Eúde, como juiz, para libertar o povo.

Está é a unica menção da cidade durante o período dos juízes.

Se a cidade foi destruída no tempo de Josué, como ela existia no período dos juízes?

Como Jericó foi totalmente destruída no período da conquista da terra, sob a liderança de Josué. Acredita-se que neste período ela não passava de uma vila não murada. [8]

Reconstrução da cidade de Jericó

Nos dias do reinado de Acabe, rei de Israel, Hiel, um homem da cidade de Betel, reconstruiu completamente a cidade de Jericó (Jz 16:34). Conforme as palavras de Josué (Js 6:26), Hiel perdeu seus dois filhos durante a reconstrução da cidade.

Elias e Eliseu em Jericó

Em 2 Reis 2:1-18, encontramos um relato da sucessão profética entre Elias e Eliseu. Momentos antes de ser arrebatado ao céu em um redemoinho de fogo, Elias transfere seu manto para Eliseu, simbolizando a transmissão de autoridade e missão profética.

Seguindo a viagem, após passarem pelo rio jordão Elias é arrebatado ao céu em uma carroagem de fogo, conforme o relato bíblico.

Após isso Eliseu voltou pela estrada em que estava viajando e retorna a Jericó. Na cidade ele inicia seu ministério profético.

Profeta Eliseu representado em um ícone
Profeta Eliseu representado em um ícone

Jericó sob domínio Sírio, reinado de Acaz de Judá

2 Crônicas 28:15 descreve um episódio no qual prisioneiros judeus foram deportados pelos sírios como resultado de um conflito entre os dois povos. Os sírios, sob o comando do rei Rezim, atacaram o reino de Judá, governado pelo rei Acaz, e levaram cativos um grande número de pessoas.

Esses prisioneiros judeus foram levados para Jericó, controlada pelos sírios na época.

A deportação dos prisioneiros para a cidade representou uma etapa no processo de punição e controle exercido pelos sírios sobre o reino de Judá. No entanto, o texto não detalha o período exato em que os prisioneiros permaneceram na cidade.

Gravura do rei Acaz, o idólatra. Por Barry Moser
Gravura do rei Acaz, o idólatra. Por Barry Moser

Em algum momento posterior, conforme indicado na passagem, eles foram reintegrados à comunidade judaica, provavelmente como parte de acordos políticos ou negociações entre os líderes sírios e judaicos.

Rei Zedequias capturado em Jericó após a queda de Jerusalém

Após a queda de Jerusalém para as forças babilônicas, o rei Zedequias, que reinava sobre o reino de Judá, tentou escapar do exército babilônico. Ele fugiu de Jerusalém em direção ao leste, ao rio Jordão.

No entanto, sua tentativa de fuga foi interrompida quando ele foi capturado pelos babilônios nas planícies de Jericó.

Após ser capturado, Zedequias foi levado a Ribla. Em Ribla Nabucodonosor II, rei da Babilônia, mata os herdeiros de Zedequias e cega o rei, em sinal de humilhação sobre ele e Judá.

Após a queda de Jerusalém, Jericó passa para o domínio babilônico, juntamente com as demais cidade da região.

Zedequias em cadeias na frente de Nabucodonosor, da bíblia histórica de Petrus Comestor, 1670
Zedequias em cadeias na frente de Nabucodonosor, da bíblia histórica de Petrus Comestor, 1670

Ministério de Jesus Cristo em Jericó

Algumas passagens do Novo Testamento, durante o ministério e vida de Jesus Cristo, mencionam e/ou se passam na cidade de Jericó. Nesta seção descrevemos as principais passagens.

Cura do cego Bartimeu em Jericó

Enquanto Jesus e seus discípulos seguiam em direção a Jerusalém para celebrar a Páscoa, eles passaram pela cidade de Jericó. (Mc 10:46-52).

Na cidade vivia um homem mendigo e cego, chamado Bartimeu. Ele vivia na beira da estrada pedindo esmolas dos que passavam.

Durante a passagem de Cristo, Bartimeu ouviu a agitação dos moradores da cidades. Em um ato de fé, Bartimeu começa a gritar no meu povo: “Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!”.

Apesar da repreensão da mutidão, Bartimeu seguiu gritando pelo mestre. Até que Cristo o ouviu e o mandou chamar. Diante de toda a multidão, Jesus curou Bartimeu, que passou a enxergar imeditamente.

Saquei na árvore enquanto Cristo passava pela cidade
Entrada de Cristo em Jerusalém (1308) por Duccio di Buoninsegna

Zaqueu, cobrador de impostos de Jericó

Outra passagem de Cristo em Jericó é o relato de Zaqueu, o cobrador de impostos da cidade, encontrado no Evangelho de Lucas (19:1-10).

Zaqueu era chefe dos cobradores de impostos, era um homem rico e odiado por muitos por sua profissão, que era vista como traição ao povo judeu e colaboração com o Império Romano. Os cobradores de impostos eram rejeitados pela população e visto como indignos de fazer parte do povo eleito pelo Senhor.

Durante a passagem de jesus pela cidade, Zaque deseja muito velo, mas por ser pequeno não conseguia ver através das multidão. Zaqueu, então, subiu em uma figueira para ver Jesus passar.

Ao passar pela árvore, Jesus olhou para cima e chamou Zaqueu pelo nome, convidando-o a descer e recebê-lo em sua casa.

Para muitos Cristo se convidou para se visitar a casa de um pecador, mas ao contrário, Ele demonstrou misericórdia e admiração pela fé de Zaqueu,

Jesus convida Zaqueu a descer do sicômoro, mosaico bizantino russo do século XI
Jesus convida Zaqueu a descer do sicômoro, mosaico bizantino russo do século XI

Geografia de Jericó

Localizada no fim do Vale do Jordão, à 258 metros abaixo do nível do mar, Jericó é reconhecida como a cidade mais baixa do mundo. [14]

Por ser uma cidade baixa, irrigada por rios e cercada por desertos, o clima da região é quente e seco na maior parte do ano. Criando uma espécie de clima de estufa.

A cidade é cercada por montanhas, a oeste por parte dos montes de Efraim e a leste por uma cadeia de montanhas do sul de Gileade.

Mapa da cidade de Jericó
Mapa da cidade de Jericó, acima do Mar Morto

Atividade econômicas de Jericó

Sua localização próxima ao rio Jordão, somada a abundância hídrica de todo vale do Jordão, tornaram as terras próxima a cidade férteis. Por conta disto, a principal atividade economica na região tem sido, desde a Antiguidade, a agricultura. [9]

Os principai cultivos na região são:

  • Uva, para a confecção de vinhos;
  • Tamaras;
  • Trigo.

Além da agricultura, por ser próximo a fronteira de Israel com outros reinos (Amom e Moabe) e estar no meio de uma rota comercial entre esses povos, a cidade floresceu com o comércio local. Sendo local para troca de produtos confeccionados pelos povos do leste, como os amonitas e midianitas.

Clima de Jericó

A cidade tem um clima especial por estar perto do Mar Morto. A região de deságue do rio Jordão no Mar Morto possui uma clima subtropical árido, único. No verão, faz muito calor e é o ar é extremamente seco, com temperaturas acima de 30°C. Já no inverno, as temperaturas são mais amenas, por volta de 18°C. Chove pouco durante o ano, só em torno de 200 milímetros.


Etimologia e significado do nome “Jericó”

O nome “Jericó” vem do hebraico Yeriẖo (בעבר) e significa “perfumado” [7].

Ao longo do texto bíblico Jericó também é chamada de “Cidade das Palmeiras”, por conta da quantidade de palmeiras que havia na cidade.

“o Neguebe e toda a região que vai do vale de Jericó, a cidade das Palmeiras, até Zoar.”

Deuteronômio 34:3 (NVI)

Aprenda mais

[Vídeo] A cidade mais antiga do mundo: Como é Jericó na Palestina onde Jesus viveu e tem conflito com Israel. Viaje por conta.

[Vídeo] Conhecendo Jericó bíblica! As muralhas de Josué, o monte da Tentação e a Árvore de Zaqueu! Israel com Aline.

[Livro] Juízes para você: Série: a Palavra de Deus para você. Timothy Keller.

[Livro] Juízes. Robert B. Chisholm Jr.

[Livro] Os outros da Bíblia: História, fé e cultura dos povos antigos e sua atuação no plano divino. André Daniel Reinke.

[Livro] Ministérios de misericórdia: O chamado para a estrada de Jericó. Timothy Keller.

[Livro] Atlas Ilustrado da Bíblia. André Daniel Reinke.


Fontes

[1] Qual é a cidade mais antiga do mundo que ainda existe?. Super Interessante.

[2] International Dictionary of Historic Places: Middle East and Africa. Edição de 1994. p. 367–370.

[3] Akkermans, Peter MM; Schwartz, Glenn M. (2004). A Arqueologia da Síria: dos complexos caçadores-coletores às primeiras sociedades urbanas (c. 16.000–300 aC). Cambridge University Press. pág. 57.

[4] Kenyon, Kathleen Mary. “Jericó, cidade, Cisjordânia”Enciclopédia Britânica.

[5] Kenyon, Kathleen Mary (1957). Desenterrando Jericó . Londres, Inglaterra : Ernest Benn Limited . páginas 213–218.

[6] Kuijt, Ian (2012). O companheiro de Oxford para arqueologia.

[7] Jericó. Significados.

[8] Estudo de Juízes 3:13 – Comentado e Explicado. Versículos Comentados.

[9] A Bíblia de Estudo Ilustrada Holman-HCSB . Broadman e Holman. pág. 1391

[10] J. Bright (1978). História de Israel 6 ed. [S.l.]: Paulus. pp. 166–167

[11] Wagemakers, Bart (2014). Archaeology in the ‘Land of Tells and Ruins’: A History of Excavations in the Holy Land Inspired by the Photographs and Accounts of Leo Boer. Oxbow Books.

[12] Dever, William G. (2006). Who Were the Early Israelites and Where Did They Come From?. Eerdmans.

[13] Bruins, Hendrik J.; van der Plicht, Johannes (1995). “Tell Es-Sultan (Jericho): Radiocarbon Results…” (PDF). Radiocarbon37 (2). Proceedings of the 15th International ¹⁴C Conference: 213–220.

[14] As cidades mais extremas do planeta. El País.

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