Teosofia é uma doutrina espiritual e filosófica que busca compreender os mistérios do universo, de Deus e da humanidade por meio de uma síntese de conhecimentos religiosos, filosóficos e científicos
Esta doutrina enfatiza a busca por uma verdade universal que transcende dogmas religiosos específicos, buscando promover uma unidade entre as diversas tradições espirituais do mundo, uma forma de sincretismo.
Neste artigo apresentamos um pouco da origem deste termo, diferentes visões a seu respeito e os perigos que essa doutrina trás para uma fé genuína.
História da teosofia
Embora o termo teosofia tenha raízes em tradições filosóficas antigas, como o neoplatonismo, o gnosticismo e os escritos de místicos cristãos como Jakob Böhme.
A filosofia teosófica moderna está associada à Sociedade Teosófica, fundada em Nova York, em 1875, por Helena Petrovna Blavatsky, Henry Steel Olcott, William Quan Judge e outros. [1]
Blavatsky foi uma figura central no movimento, ela afirmava ter recebido ensinamentos de mestres espirituais ou “Mahatmas” do Oriente, que a orientaram na elaboração de uma doutrina que unificasse as sabedorias espirituais do Ocidente e do Oriente. [2]

Ela surgiu em um contexto de crescente interesse pelo esoterismo, pelo ocultismo e pelas religiões orientais no Ocidente durante o século XIX [3]. Esse período foi marcado pela busca de respostas espirituais que transcendessem o materialismo científico e os ensinos cristãos.
A Sociedade Teosófica foi a uma das dezenas de instituições que surgiram neste período. Algumas buscavam criar um sincretismo entre o cristianismo e as religiões orientais, enquanto outras seguiam uma visão mais espiritualista que negava por completo os ensinos bíblicos do cristianismo.
Fundação da Sociedade Teosófica
A Sociedade Teosófica foi fundada em 17 de novembro de 1875, em Nova York, com o objetivo de promover a ”fraternidade universal e explorar a sabedoria espiritual” [4]. Seguindo visão mais espiritual baseadas em religiões como hinduísmo e budismo.
Helena Blavatsky foi a principal idealizadora do movimento. Muito dos fundamentos do movimentam se baseiam seus livros, Ísis Sem Véu e A Doutrina Secreta.
Em Ísis Sem Véu, de 1877, Blavatsky realiza uma vasta crítica a visão materialista e científica de seu tempo, além de criticar os ensinos e conceitos cristãos do fim do século XIX [2]. Nesta obra, ela apresenta os primeiros conceitos da teosofia moderna e começa a estabelecer os fundamentos da Sociedade Teosófica.

No ano de 1879 a sede da Sociedade Teosófica foi transferida para Adyar, na Índia, com o intuito de se aproximar dos ensinos espirituais orientais, tidos por Blavatsky como a verdade universal. Em Adyar o movimento passou a incorporar elementos religiosos do hinduísmo e do budismo [1].
Blavatsky, em seu segundo livro A Doutrina Secreta, publicado em 1888, apresenta uma sistematização de seus ensinos, definindo que é a filosofia teosófica moderna e a visão de mundo da Sociedade Teosófica [5]. Neste segundo livro, ela abordar conceitos, como, cosmologia, antropologia espiritual e a evolução da alma.
Foi apenas após a publicação deste segundo livro que o movimento teosófico se estabeleceu como uma nova corrente de pensamento do século XIX.
Após a morte de Helena Blavatsky em 1891, Annie Besant assumiu a liderança da Sociedade Teosófica com a visão de expandir os ensinos deixados por Blavatsky para outros continentes.
Expansão e Influência
No final do século XIX e início do século XX, a teosofia ganhou popularidade na Europa, América e Ásia. Annie Besant, então líder do movimento, foi extremamente importante para propagar os pensamentos da sociedade entre os pensadores de seu tempo. [3]
Dentre seus feitos, ela promoveu Jiddu Krishnamurti, um filósofo indiano e membro da sociedade, ao status de “Instrutor do Mundo”, alguém capaz de instruir os líderes mundiais e guiar a humanidade a um caminho de paz e prosperidade. [3]
A Sociedade Teosófica influenciou diversos movimentos culturais e espirituais dos século XX. Dentre eles o movimento New Age, a antroposofia e o até modernismo artístico, inspirando artistas como Wassily Kandinsky e Piet Mondrian. [6]

Declínio e legado da teosofia
Na segunda metade do século XX a Sociedade Teosófica passou por uma série de críticas e divisões internas. A principal causa para a queda de sua influência, foi a exposição da fraude sobre os contatos de Helena Blavatsky com supostos mestre espirituais transcendentais. [1]
Mesmo após as exposições da fraude, a teosofia deixou um legado presente até hoje, influenciando pessoas que buscam o conhecimento de espiritualidades alternativas e baseadas nas religiões orientais.
A Sociedade Teosófica ainda existe, com sedes em diversos países, e continua a propagar os pensamentos sincréticos de Helena Blavatsky.
Fundamentos da teosofia
A teosofia se baseia em quatro fundamentos, conceitos estabelecidos a partir dos escritos de Helena Blavatsky, são eles:
- Cosmologia teosófica;
- Carma e reencarnação;
- Fraternidade universal;
- Mestres espirituais.
Cosmologia teosófica
A cosmologia teosófica, definida no livro A Doutrina Secreta de Blavatsky, propõe que o universo opera em ciclos de manifestação (manvantaras) e repouso (pralayas), regidos por leis espirituais. [1]
Um conceito central é a ideia dos sete planos de existência, que representam diferentes níveis de realidade, desde o mais denso (material) até o mais sutil (divino) [1]. Esses planos são:
- Físico: O mundo material percebido pelos sentidos.
- Astral: Um plano sutil associado às emoções e ao corpo astral, acessado em sonhos ou estados alterados.
- Mental Inferior: Relacionado ao pensamento concreto e à mente cotidiana.
- Mental Superior: O domínio do pensamento abstrato e da intuição espiritual.
- Búdico: O plano da unidade e da compaixão universal.
- Átmico: O nível da alma espiritual, próximo à essência divina.
- Monádico e Divino: Planos superiores que conectam a existência ao absoluto ou à fonte universal.
Para os adeptos desta doutrina a evolução do ser ocorre pela ascensão da consciência através desses planos, com a humanidade progredindo por sete raças-raízes ao longo de eras. Essa visão integra hinduísmo e esoterismo ocidental. [1]
Carma e reencarnação
Nesta doutrina o carma (ação) é a lei de causa e efeito, onde ações geram consequências que moldam vidas futuras, promovendo equilíbrio e aprendizado espiritual. [2]
Enquanto a reencarnação é o processo pelo qual a alma supostamente evolui por múltiplas encarnações, corrigindo erros e desenvolvendo qualidades como compaixão. [2]
Ambos os conceitos são definidos no livro Ísis Sem Véu de Helena Blavatsky. Inspirados pelo hinduísmo e budismo, esses conceitos veem a alma como parte de uma consciência maior. [6]

Fraternidade universal
Segundo a Sociedade Teosófica, a fraternidade universal promove a unidade da humanidade, independentemente de raça, credo ou sexo, uma espécie de essência espiritual comum. [4] Para eles este conceito deve incentivar a tolerância e cooperação por meio do estudo comparativo de religiões, destacando verdades universais compartilhadas.
Esse ideal inspirou ações como o apoio de Annie Besant à independência da Índia, promovendo igualdade e harmonia global. [3]
Mestres Espirituais
Provavelmente o fundamento mais criticado e controverso da teosofia. Para a Sociedade Teosófica existem seres evoluídos que guia a espiritualidade da humanidade. Maitreya, Kuthumi e Djwal Khul, chamados de mestres espirituais ou mahatmas. [5]
Helena Blavatsky afirmava que esses mestres moravam em regiões como o Tibete e que conversavam com ela por meio de cartas, que materializavam em sua casa, e conversas telepáticas. [5]
Blavatsky ainda afirmava que esses mestres eram parte de uma hierarquia espiritual chamada “Grande Fraternidade Branca”, responsável por preservar e transmitir a sabedoria divina através da história humana. [5]
Este fundamento foi muito criticado, e até zombado, por ser muito inverossímil.
Críticas à teosofia
A teosofia tem recebido diversas críticas desde surgimento no fim do século XIX, nesta seção apresentamos as principais críticas a este doutrina.
Inconsistência com a fé cristã
Teólogos cristãos, como Walter Martin, criticam a teosofia por contradizer doutrinas cristãs fundamentais, como a divindade única de Jesus Cristo e a salvação pela graça. Ele também também argumenta que esta doutrina nega a Bíblia como revelação final e suficiente de Deus, colocando os escritos de Blavatsky como verdades universais. [7]
Os conceitos de reencarnação e o carma são vistos como incompatíveis com a ressurreição e o julgamento final. A ideia de mestres espirituais é uma substituição herética de Cristo, enquanto o sincretismo desta doutrina nega a autoridade bíblica. [7]
O sincretismo feito por esta doutrina relativiza a fé cristã em favor de uma visão universalista de salvação, que desconsidera o peso dos pecados cometidos pelo indivíduo e sua necessidade de redenção no Senhor. [1]

Questionamentos sobre autenticidade dos escritos de Helena Blavatsky
Críticos como Peter Washington questionam a autenticidade das alegações de Helena Blavatsky sobre contatos com mestres tibetanos. [8]
O Relatório Hodgson de 1885, da Sociedade para Pesquisa Psíquica, acusou Blavatsky de fraude, provando que as cartas dos mestres espirituais eram fabricadas e que ela plagiava textos esotéricos. [3]
Falta de rigor filosófico
Filósofos como Theodor Adorno criticaram indiretamente a doutrina teosófica por sua falta de rigor lógico, argumentando que sua ênfase em verdades ocultas promove uma visão acrítica.
Acadêmicos renomados, como Olav Hammer, apontam que a esta doutrina simplifica tradições orientais, como hinduísmo e budismo, descontextualizando-as para um público ocidental, o que compromete sua profundidade filosófica. [9]
Ausência de validade científica
Céticos questionam a validade científica de conceitos teosóficos, como os “sete planos de existência” e as “raças-raízes”, por falta de evidências empíricas. Essas ideias são vistas como especulativas, sem base em métodos científicos, acabando com sua credibilidade acadêmica. [3]
Etimologia e significado de teosofia
O termo teosofia deriva do grego, sendo composta pelos termos theos (θεός), que significa “Deus” ou “divino”, e sophia (σοφία), que significa “sabedoria”. Sendo compreendida como “sabedoria divina” ou “sabedoria de Deus”.
Aprenda mais
[Vídeo] Antroposofia e teosofia: Muitos absurdos, pouca filosofia| Carlos Orsi (Diretor do IQC). Prof. Daniel Gontijo.
Perguntas comuns
Nesta seção apresentamos as principais perguntas, com suas respectivas respostas, acerca deste termo.
O que prega a teosofia?
A Teosofia promove a fraternidade universal, a origem espiritual de todos os seres e formas, e a unidade de toda a vida. Aponta uma pseudo fonte eterna e única para todo o conhecimento, revela a essência comum dos grandes mitos das culturas mundiais, delineia a estrutura do cosmos e do ser humano.
O que a teosofia ensina?
Parta Otávio Marchesini, a filosofia teosófica é a sabedoria supostamente obtida por meio da busca e da compreensão de uma verdade. A verdade, o divino e a sabedoria podem ter significados distintos para cada pessoa segundo esta filosofia.
Quem é Deus na teosofia?
A Teosofia afirma não ser uma religião e não reconhece a existência de um deus. A busca pelo sagrado não está vinculada à crença em uma divindade, rejeitando definições religiosas sobre sua forma, localização, ou natureza, seja como entidade corporal ou apenas espírito.
Qual é o símbolo da teosofia?
O principal símbolo da filosofia teosófica é o selo da Sociedade Teosófica, que integra elementos de várias tradições religiosas e filosóficas para expressar a unidade essencial de todas as coisas e a busca pela sabedoria divina. Seus componentes centrais incluem o AUM (ou OM), a suástica, o Ouroboros, a Estrela de Davi, o Ankh e o lema da sociedade.
Fontes
[1] Goodrick-Clarke, N. (2008). The Western Esoteric Traditions: A Historical Introduction. Oxford: Oxford University Press.
[2] Blavatsky, H. P. (1877). Ísis Sem Véu. São Paulo: Editora Pensamento.
[3] Campbell, B. F. (1980). Ancient Wisdom Revived: A History of the Theosophical Movement. Berkeley: University of California Press.
[4] Theosophical Society. (2025). About the Theosophical Society. Disponível em: https://www.ts-adyar.org/.
[5] Blavatsky, H. P. (1888). A Doutrina Secreta. São Paulo: Editora Pensamento.
[6] Ellwood, R. S. (1986). Theosophy: A Modern Expression of the Wisdom of the Ages. Wheaton: Quest Books.
[7] Martin, W. (1985). The Kingdom of the Cults. Minneapolis: Bethany House Publishers.
[8] Washington, P. (1993). Madame Blavatsky’s Baboon: A History of the Mystics, Mediums, and Misfits Who Brought Spiritualism to America. New York: Schocken Books.
[9] Hammer, O. (2001). Claiming Knowledge: Strategies of Epistemology from Theosophy to the New Age. Leiden: Brill.
- Arca de Noé – 24 de setembro de 2025
- Noé – 24 de setembro de 2025
- Lameque pai de Noé – 24 de setembro de 2025