A Teologia Positiva, também conhecida como Teologia Catafática, é uma abordagem que busca compreender e descrever Deus por meio de afirmações diretas sobre Seus atributos, ações e natureza, conforme revelado.
Ela se concentra em tudo o que pode ser dito sobre Deus de forma explícita e afirmativa, baseando-se principalmente nas Escrituras e na tradição cristã para desenvolver um conhecimento positivo de quem Ele é.
Neste artigo apresentamos os principais conceitos desta abordagem teológica.
A natureza da Teologia Positiva
A Teologia Positiva se distingue por sua metodologia de descrever Deus através de proposições claras e diretas. Em contraste com a Teologia Negativa, que foca no que Deus não é, a Teologia Positiva abraça a possibilidade de articular verdades sobre o caráter e os atos divinos.
Definição e abordagem
O cerne da Teologia Positiva reside na crença de que Deus, em Sua soberana vontade, revelou-se à humanidade de maneiras que podem ser compreendidas e articuladas.
Esta revelação não é meramente um vislumbre obscuro, mas um testemunho claro e multifacetado de Sua identidade e propósito.
A abordagem catafática (do grego kataphasis, que significa afirmação) sustenta que, ao nos comunicarmos sobre Deus, usamos uma linguagem que aponta para Suas características conhecidas, como Sua santidade, amor, justiça e poder.
Essas afirmações não são consideradas projeções humanas, mas respostas à autodescrição de Deus.

Atributos de Deus e revelação
A Teologia Positiva se dedica a explorar os atributos comunicáveis de Deus, aqueles aspectos de Sua natureza que Ele compartilha ou manifesta de forma compreensível aos seres humanos.
Entre eles estão Sua onipotência (capacidade de fazer tudo o que é consistente com Seu caráter), onisciência (conhecimento de todas as coisas), onipresença (presença em todos os lugares), bondade, amor (João 3:16), justiça, misericórdia (Êxodo 34:6-7) e santidade.
A Escritura é a fonte primária para a identificação desses atributos. Quando Deus se revela a Moisés, Ele proclama Seu nome e descreve Sua própria natureza:
“O Senhor! O Senhor! Deus compassivo e misericordioso, longânimo e grande em benignidade e em fidelidade; que guarda a benignidade em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado”
Êxodo 34:6-7
Este é um exemplo vívido de teologia positiva, onde Deus mesmo faz afirmações diretas sobre Quem Ele é. De forma semelhante, o Salmo 145:8-9 declara:
“O Senhor é compassivo e misericordioso, mui paciente e grande em fidelidade. O Senhor é bom para todos; a sua compaixão alcança todas as suas criaturas.”
Salmo 145:8-9
Essas passagens formam a base para se formular um entendimento robusto e afirmativo sobre Deus.

Fundamentos bíblicos da Teologia Positiva
A base da Teologia Positiva está intrinsecamente ligada à convicção de que Deus não é um mistério impenetrável que permanece oculto, mas um ser que ativamente Se comunica e Se dá a conhecer.
O Deus que se revela
Desde os primórdios da criação, Deus tem manifestado Sua glória e poder. Romanos 1:20 afirma que “desde a criação do mundo, os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido claramente vistos, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis.” Aqui, a própria criação serve como uma revelação positiva de certos aspectos de Deus.
Além da revelação geral na criação, Deus Se revelou de formas mais específicas e pessoais. Ele chamou Abraão, fez uma aliança com ele e prometeu descendência (Gênesis 12). Ele libertou Israel do Egito com sinais e maravilhas, revelando Seu poder e fidelidade (Êxodo 15).
Através da Lei dada a Moisés e das palavras dos profetas, Deus revelou Seus mandamentos, Sua vontade para a humanidade e Seus planos para a redenção. Estes atos e palavras são a matéria-prima para a construção de um conhecimento positivo sobre Deus.

A pessoa de Cristo como Revelação Suprema
No Novo Testamento, a Teologia Positiva atinge seu ponto mais alto na pessoa de Jesus Cristo. Hebreus 1:1-3 declara: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo.
Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder.” Jesus é apresentado como a “expressão exata do seu Ser” – a manifestação plena e perfeita de Deus.
João 1:18 reforça esta ideia: “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou.” Cristo, como o Verbo encarnado, torna Deus visível e compreensível.
Quando Filipe pede a Jesus que mostre o Pai, Jesus responde: “Quem me vê a mim, vê o Pai” (João 14:9).
A vida, os ensinamentos, os milagres, a morte e a ressurreição de Jesus são a mais clara e positiva revelação de Deus, de Seu amor, de Sua justiça e de Seu plano de salvação.
Através de Cristo, compreendemos de maneira concreta que Deus é amor (1 João 4:8) e que Ele busca reconciliar a humanidade consigo mesmo (2 Coríntios 5:19).

História da Teologia Positiva
A Teologia Positiva tem sido uma corrente dominante no pensamento cristão ao longo da história, moldando a compreensão da Igreja sobre Deus.
Padres da Igreja e a Teologia Positiva
Os Padres da Igreja Primitiva frequentemente empregaram a Teologia Positiva em suas formulações doutrinárias e em suas defesas contra heresias.
Teólogos como Atanásio, por exemplo, em sua luta contra o Arianismo, não apenas refutaram as ideias errôneas sobre Cristo, mas também afirmaram vigorosamente a plena divindade de Jesus Cristo, baseando-se em passagens bíblicas que declaram a natureza divina do Filho.
Seus argumentos eram profundamente positivos, construindo uma compreensão clara de Cristo como “Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro”, como expresso no Credo Niceno.
Agostinho de Hipona, em suas obras, também delineou os atributos de Deus de forma detalhada, utilizando a razão iluminada pela fé para sistematizar as verdades reveladas na Escritura sobre a Trindade e a natureza divina.

A Reforma Protestante
A Reforma Protestante, com seu princípio de Sola Scriptura (somente a Escritura), intensificou a ênfase na Teologia Positiva. Os Reformadores, como João Calvino e Martinho Lutero, insistiram que todo conhecimento verdadeiro sobre Deus deve ser derivado diretamente das Escrituras.
Suas teologias sistemáticas, a exemplo das Institutas da Religião Cristã de Calvino, são monumentos da Teologia Positiva, onde cada doutrina sobre Deus, o homem, o pecado, a salvação e a Igreja é meticulosamente construída a partir do testemunho bíblico. [1]
Calvino dedicou grande parte de sua obra a descrever Deus em termos positivos: Sua soberania, Sua providência, Sua justiça, Sua graça e Seu amor revelados em Cristo.
Ele argumentava que qualquer tentativa de conhecer a Deus que não estivesse fundamentada em Sua auto-revelação seria vã e levaria à idolatria.
Para os Reformadores, a Teologia Positiva não era apenas uma maneira de descrever Deus, mas a única maneira legítima de fazê-lo, garantindo que a fé estivesse ancorada na Palavra de Deus e não em especulações humanas.

Relação com a Teologia Negativa
Embora a Teologia Positiva e a Teologia Negativa (apofática) sejam frequentemente apresentadas como abordagens contrastantes, elas não são mutuamente exclusivas, mas complementares. A Teologia Positiva afirma o que podemos saber sobre Deus através de Sua revelação, enquanto a Teologia Negativa reconhece os limites da linguagem e da compreensão humana ao tentar descrever a infinitude divina.
A Teologia Positiva, ao afirmar atributos divinos como “Deus é amor” ou “Deus é onipotente”, reconhece implicitamente que nossa compreensão desses termos é sempre analógica e limitada.
Não podemos compreender o amor de Deus em sua totalidade ou o poder de Deus em sua infinitude da mesma forma que compreendemos o amor humano ou o poder físico.
Portanto, mesmo ao fazer afirmações positivas, há uma humildade intrínseca que reconhece a transcendência de Deus, um ponto que a Teologia Negativa acentua.
O objetivo da Teologia Positiva não é esgotar a natureza de Deus, mas apreendê-Lo na medida em que Ele Se dignou a ser conhecido, evitando a idolatria de um Deus criado à nossa imagem.

A importância da Teologia Positiva na Fé Reformada
A Teologia Positiva exerce uma influência significativa na fé reformada, modelando a compreensão doutrinária e a prática da vida cristã.
Compreensão doutrinária
Para as tradições protestantes, a Teologia Positiva é o alicerce para a formulação de todas as doutrinas cruciais. A compreensão da Trindade (um só Deus em três pessoas), da Encarnação (Deus se fazendo homem em Jesus Cristo), da Expiação (a obra salvífica de Cristo na cruz) e da Eleição (a escolha soberana de Deus para a salvação) depende inteiramente das afirmações explícitas das Escrituras.
Os credos históricos e as confissões de fé, como a Confissão de Westminster, são compêndios de Teologia Positiva, sistematizando o que a Igreja crê sobre Deus e Seus desígnios, tudo baseado em passagens bíblicas. Sem a capacidade de fazer afirmações claras sobre a natureza de Deus, a doutrina seria vaga e sem substância.
Adoração e vida cristã
Conhecer Deus através da Teologia Positiva tem implicações profundas para a adoração e a vida diária dos crentes. A compreensão dos atributos de Deus (Bondade, Sua fidelidade, justiça, misericórdia) inspira gratidão, louvor e confiança. Saber que Deus é amor nos encoraja a amá-Lo e a amar o próximo (1 João 4:7-12).
Saber que Ele é justo nos leva ao arrependimento e à busca por retidão. A adoração não é apenas uma resposta emocional, mas uma resposta informada à grandeza e ao caráter do Deus revelado.
O Salmo 103:8-14 é um belo exemplo de como a compreensão positiva dos atributos de Deus leva à adoração e à segurança na fé: “O Senhor é misericordioso e compassivo, longânimo e assaz benigno.
Não repreende perpetuamente, nem conserva para sempre a sua ira. Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniquidades.
Pois quanto o céu se eleva acima da terra, assim é grande a sua misericórdia para com os que o temem.”
A Teologia Positiva, portanto, não é meramente um exercício intelectual, mas o fundamento para uma vida cristã vibrante e para uma adoração genuína.

Etimologia e significado de Teologia Positiva
O termo “Teologia Positiva” deriva da palavra “positiva” no sentido de “afirmativa” ou “que faz declarações explícitas”. Não se refere a um sentido de “bom” ou “otimista”, mas à ação de pôr ou afirmar algo. É o oposto de “negativa”, que seria a ausência de afirmação.
Sua correspondência grega é “catafática” (do grego kataphasis), que significa “afirmação”. Assim, a Teologia Positiva é aquela que se engaja em afirmações sobre Deus, descrevendo Sua essência e Seus atributos com base na Sua revelação, contrastando com a teologia apofática (apophasis), que se concentra na negação de descrições para preservar a transcendência divina.
Aprenda mais
[Vídeo] Teológico | Bíblia & Teologia
[Vídeo] A História do Cristianismo Como Você Nunca Viu | Episódio 01. Escola do Discípulo.
Perguntas comuns
Nesta seção apresentamos as principais perguntas, com suas respectivas respostas, acerca deste termo pouco conhecido na Teologia.
O que é teologia positiva?
A Teologia Positiva, ou catafática, é a abordagem que busca descrever Deus através de afirmações, com base em Sua revelação. Ela se concentra no que Deus é, atribuindo-Lhe qualidades como “amor”, “justiça” e “santo”, confiando que a linguagem pode, ainda que de forma análoga, expressar verdades sobre Ele.
O que é a teologia da confissão positiva?
A teologia da Confissão Positiva, associada ao Evangelho da Prosperidade, ensina que a fé é uma força e que as palavras dos crentes têm poder criativo. Acredita-se que, ao declarar ou “confessar” verbalmente saúde e riqueza com fé, o fiel pode trazer essas bênçãos à existência.
Quais são os 4 pilares da teologia?
Os quatro pilares da teologia, conhecidos como o “Quadrilátero Wesleyano”, são: Escritura, Tradição, Razão e Experiência. A Escritura (Bíblia) é a fonte primária e autoritativa, enquanto a Tradição da Igreja, a Razão humana e a Experiência pessoal com Deus servem como recursos secundários para interpretá-la.
Fontes
[1] Calvino, João. As Institutas da Religião Cristã. Editora Cultura Cristã, 2006.
- Aliança de Noé – 1 de outubro de 2025
- Teologia Positiva – 30 de setembro de 2025
- Teologia Negativa – 30 de setembro de 2025