Teocentrismo

Teocentrismo: Deus é o centro de toda existência, realidade, pensamento e ação, guiando moralidade e propósito. Base para a fé cristã.

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O Teocentrismo é uma perspectiva teológica que coloca Deus como o centro de toda a existência, da realidade, do pensamento e da ação. Ele afirma que Deus é o ponto de referência primário e supremo para tudo, incluindo a moralidade, o propósito da vida e a compreensão do universo.

Esta visão orienta a compreensão do mundo e da fé de muitos crentes, moldando sua cosmovisão e práticas diárias. Neste artigo explicamos o que é esta perspectiva teológica, seu conceito, aplicações e pouco da história.

Fundamentos Bíblicos do Teocentrismo

A Bíblia, em sua totalidade, apresenta uma narrativa profundamente teocêntrica, onde Deus é o criador, sustentador e redentor de tudo o que existe. Desde o Gênesis até o Apocalipse, a soberania e a glória de Deus são temas recorrentes, estabelecendo-o como o fulcro de toda a história e propósito [1].

A Criação e a Glória de Deus

O relato da Criação em Gênesis 1-2 estabelece Deus como o originador de todas as coisas. Ele não apenas trouxe o universo à existência pela Sua palavra, mas também o fez para Sua própria glória e propósito (Gênesis 1:1; Salmo 19:1).

Cada aspecto da criação, desde os céus estrelados até a vida na Terra, reflete a majestade e o poder do Criador. O propósito humano, desde o início, é reconhecer e adorar a esse Deus soberano (Romanos 11:36).

Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém.

Romanos 11:36
Ilustração que representa o Teocentrismo
Ilustração que representa o Teocentrismo

A Aliança e a Centralidade de Deus

Ao longo do Antigo Testamento, Deus se revela como o sujeito ativo e iniciador das alianças com a humanidade. Com Noé, Abraão, Moisés e Davi, Deus estabelece pactos que demonstram Seu plano redentor e Sua fidelidade.

A Lei dada a Israel no Monte Sinai não era apenas um código moral, mas uma revelação da natureza santa de Deus e um guia para um povo que deveria refletir Sua glória entre as nações (Êxodo 20; Deuteronômio 6:4-5).

A Criação de Adão de Michelangelo (1512)
A Criação de Adão de Michelangelo (1512)

Cristo como Manifestação do Teocentrismo

No Novo Testamento, Jesus Cristo é apresentado como a encarnação perfeita do propósito teocêntrico de Deus. Ele não veio para chamar a atenção para si mesmo em detrimento do Pai, mas para revelar o Pai e cumprir Sua vontade (João 5:19; João 14:9).

Colossenses 1:16-17 declara que:

“nele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos sejam soberanias, sejam poderes sejam autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste”.

Colossenses 1:16-17

Esta passagem sublinha a centralidade de Cristo, que, por sua vez, aponta para a glória de Deus Pai. A obra de redenção realizada por Cristo na cruz é o ápice do plano de Deus para restaurar a criação e trazer glória ao Seu nome (Efésios 1:3-14).

História do Teocentrismo na Teologia Cristã

A perspectiva teocêntrica tem sido uma corrente poderosa ao longo da história da teologia cristã, influenciando pensadores e movimentos significativos.

Padres da Igreja e o Teocentrismo

Desde os primeiros séculos do Cristianismo, teólogos como Agostinho de Hipona enfatizaram a soberania de Deus em todos os aspectos da vida e da salvação.

A obra de Agostinho, especialmente em “Confissões” e “A Cidade de Deus”, reflete uma profunda convicção de que Deus é o Alfa e o Ômega, o propósito e o fim de tudo.

Sua famosa frase “Fizeste-nos para ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não encontrar repouso em ti” expressa de maneira sucinta a essência do Teocentrismo [2].

Agostinho de Hipona, por Antonio Rodríguez
Agostinho de Hipona, por Antonio Rodríguez

A Reforma Protestante e a Reafirmação do Teocentrismo

A Reforma Protestante, no século XVI, marcou um retorno vigoroso ao Teocentrismo bíblico, especialmente através das figuras de Martinho Lutero e João Calvino. As “cinco solas” da Reforma – Sola Scriptura, Solus Christus, Sola Gratia, Sola Fide e Soli Deo Gloria – encapsulam essa ênfase na centralidade de Deus.

Soli Deo Gloria

O lema Soli Deo Gloria (Somente a Deus a Glória) sintetiza o coração do Teocentrismo reformado. Ele proclama que toda a vida, toda a adoração e todo o esforço humano devem ser direcionados para a glória de Deus.

Calvino, em suas “Institutas da Religião Cristã”, desenvolveu uma teologia que colocava a soberania de Deus acima de tudo, desde a eleição até a providência divina, argumentando que o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos estão intrinsecamente ligados e que o primeiro precede o segundo [3].

Para Calvino, a criação e a redenção são atos da vontade soberana de Deus para a Sua própria glória.

Teocentrismo e Antropocentrismo

Para compreender plenamente o Teocentrismo, é útil contrastá-lo com o Antropocentrismo, uma visão que coloca o ser humano no centro do universo.

A Perspectiva Antropocêntrica

Essa visão ganhou proeminência a partir do Iluminismo e tem influenciado muitas correntes filosóficas e sociais modernas, onde a autonomia humana e a autorrealização são frequentemente consideradas os valores supremos.

O Antropocentrismo sugere que o homem é a medida de todas as coisas, e que a realidade, a moralidade e o propósito devem ser entendidos a partir da perspectiva e do bem-estar humanos.

Antropocentrismo
Ilustração que representa o Antropocentrismo

A Diferença Fundamental

A principal distinção reside no foco da adoração, do propósito e da autoridade. Enquanto o Antropocentrismo tende a ver Deus, se é que Ele existe, em função do homem (Deus existe para servir aos interesses humanos), o Teocentrismo entende o homem em função de Deus (o homem existe para glorificar a Deus e cumprir Seus propósitos) [4].

No Teocentrismo, a vida humana tem valor e significado porque foi criada por Deus e para Ele, não por um valor inerente e autônomo. O bem-estar humano é buscado, mas sempre dentro do contexto maior da glória de Deus e de Seus mandamentos.

Implicações do Teocentrismo na Vida Cristã

Uma cosmovisão teocêntrica possui amplas implicações para a maneira como os crentes vivem, pensam e interagem com o mundo.

Na Adoração e Espiritualidade

No Teocentrismo, a adoração não é primordialmente sobre o que o indivíduo “recebe” ou “sente”, mas sobre o ato de render honra, louvor e submissão a Deus. Os cânticos, as orações e os sermões são centrados em Deus, exaltando Suas características, Suas obras e Seu plano.

A espiritualidade teocêntrica busca alinhar a vontade pessoal com a vontade divina, reconhecendo a dependência de Deus em cada passo da jornada de fé [Salmo 29:2].

Na Ética e Moralidade

A moralidade teocêntrica não é baseada em preferências humanas ou normas sociais mutáveis, mas nos mandamentos e no caráter imutável de Deus.

O que é “bom” ou “mau” é definido por Ele, não pela sociedade ou pelo indivíduo. A obediência às Escrituras e a busca pela santidade são vistas como formas de glorificar a Deus e viver de acordo com Seu propósito (Mateus 22:37-40).

Na Missão e Evangelismo

A missão cristã, sob uma perspectiva teocêntrica, é impulsionada pelo desejo de ver o nome de Deus glorificado em todas as nações(Salmo 67:1-2).

O evangelismo não é apenas sobre “salvar almas” no sentido humano, mas sobre trazer as pessoas para um relacionamento com Deus para que elas também possam glorificá-Lo e viver para Seus propósitos.

A expansão do Reino de Deus é vista como a manifestação de Sua soberania sobre toda a terra.

Grupo de pessoas realizando evangelismo na rua, dando comida aos mendigos (Justiça Social e Igreja)
Ilustração de um grupo de pessoas realizando evangelismo na rua, dando comida aos mendigos (Justiça Social e Igreja)

Etimologia e significado de Teocentrismo

O termo Teocentrismo é formado a partir de duas palavras de origem grega que, juntas, descrevem sua essência de forma precisa.

Raízes Gregas

  • Theos (Θεός): Significa “Deus”. Esta palavra é central na teologia e aparece em diversos termos relacionados à divindade.
  • Kentron (κέντρον): Significa “centro” ou “ponto fixo”. Refere-se àquilo que está no meio, servindo como foco ou eixo.

Significado Combinado

Portanto, Teocentrismo significa literalmente “Deus como o centro”. Este termo descreve uma visão de mundo ou sistema de pensamento em que Deus é considerado o ponto central e mais importante de toda a realidade. Ele implica que Deus não é apenas o objeto supremo de estudo e adoração, mas também a fonte e o propósito de tudo o que existe, governando todos os aspectos da vida e do cosmos.

Aprenda mais

[Vídeo] Teológico | Bíblia & Teologia.

[Vídeo] Teocentrismo e Antropocentrismo. Historiando FAGUNDES.

Perguntas comuns

Nesta seção apresentamos as principais perguntas, com suas respectivas respostas, acerca deste termo teológico.

O que é a teoria do teocentrismo?

A teoria do teocentrismo afirma que Deus é o centro de todas as coisas. Ela defende que a vida, a sociedade e o universo existem por causa de Deus e para a glória Dele. O teocentrismo influenciou o pensamento medieval, colocando a fé acima da razão.

O que é teocentrismo?

Teocentrismo é a visão de mundo que coloca Deus como o ponto central de toda a existência. Nessa perspectiva, Deus é a fonte de toda a verdade, moralidade e propósito. As ações e a vida humana são compreendidas e julgadas em relação à vontade divina.

Quem foi o principal representante do teocentrismo?

Um dos principais representantes do teocentrismo foi Tomás de Aquino. Durante a Idade Média, ele integrou a filosofia de Aristóteles com a teologia cristã, argumentando que a razão humana e a natureza poderiam levar ao conhecimento de Deus, que era o centro de toda a realidade.

O que é antropocentrismo e teocentrismo?

Teocentrismo é a crença de que Deus é o centro de tudo. Já o antropocentrismo é a visão oposta, que coloca o ser humano como o centro do universo. Enquanto o teocentrismo dominou a Idade Média, o antropocentrismo ganhou força no Renascimento.

O que é ética teocêntrica?

A ética teocêntrica é um sistema moral que baseia o certo e o errado na vontade de Deus. Nesse modelo, a bondade de uma ação é definida por sua conformidade com os mandamentos divinos ou com a natureza de Deus. A moralidade não é relativa ou humana, mas absoluta e divina.

Fontes

[1] Erickson, Millard J. Christian Theology. 3rd ed. Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2013.

[2] Agostinho de Hipona. Confissões. Trad. Maria Luísa Jardim. Lisboa: Quetzal Editores, 2017.

[3] Calvino, João. As Institutas da Religião Cristã. Trad. Dr. Waldyr Carvalho Luz. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.

[4] Lewis, C. S. Cristianismo Puro e Simples. Trad. de Álvaro Ramos. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

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