O Diabo, uma figura central na teologia cristã, representa a personificação do mal e o principal adversário de Deus e da humanidade. Sua presença é notável em grande parte da narrativa bíblica, desde a tentação no Éden até o seu destino final.
Compreender Satanás requer uma análise cuidadosa de suas origens, sua natureza, seus métodos de atuação e seu lugar no plano redentor de Deus. Este artigo explora o significado teológico e o impacto dessa figura na fé cristã protestante.
Origem e queda do Diabo
A Bíblia não oferece um relato explícito e detalhado sobre a criação e a queda do Diabo como faz para a criação da humanidade. No entanto, através de diversos textos, a teologia cristã formou uma compreensão sobre sua origem angelical e sua rebelião contra Deus [1].
O Anjo Caído
A interpretação mais aceita é que o Diabo foi originalmente um anjo de grande beleza e poder, criado por Deus.
Sua queda é atribuída à sua soberba e desejo de se igualar ou superar o Criador.
Passagens como Isaías 14:12-15 e Ezequiel 28:12-19 são frequentemente interpretadas como descrições alegóricas da ascensão e queda desse ser angelical, aplicando-as a Satanás, embora em seus contextos originais falem de reis terrestres [2].
Essas passagens, juntamente com referências no Novo Testamento sobre anjos que não mantiveram sua posição original (Judas 1:6) e o “dragão” que foi “lançado para a terra” (Apocalipse 12:7-9), consolidam a ideia de que Satanás e seus demônios são anjos caídos que se rebelaram contra Deus.

Isaías 14:12-15
¹² Como você caiu dos céus, ó estrela da manhã, filho da alvorada! Como foi atirado à terra, você, que derrubava as nações!
¹³ Você que dizia no seu coração: “Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; eu me assentarei no monte da assembléia, no ponto mais elevado do monte santo.
¹⁴ Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo”.
¹⁵ Mas às profundezas do Sheol você será levado, irá ao fundo do abismo!
Isaías 14:12-15 (NVI)
Este texto, dirigido ao rei da Babilônia, descreve uma figura que desejava “subir aos céus” e “colocar seu trono acima das estrelas de Deus”, afirmando “serei semelhante ao Altíssimo”. A teologia cristã viu aqui um paralelo com a arrogância e a queda do Diabo, que o levaram a ser “lançado por terra” (Isaías 14:12-15).
Ezequiel 28:12-19
Semelhantemente, esta lamentação sobre o rei de Tiro descreve uma criatura de “perfeição de beleza”, que estava no “Éden, jardim de Deus” e era “querubim ungido da guarda”.
A sua queda é atribuída à sua beleza e à corrupção da sua sabedoria pela “maldade do seu comércio”. Ele foi “lançado por terra”. A linguagem utilizada evoca a ideia de um ser celestial que se corrompeu (Ezequiel 28:12-19).
Nomes do Diabo
A Bíblia usa uma variedade de nomes e títulos para se referir ao Diabo, cada um revelando uma faceta diferente de sua natureza e atuação.
Satanás: O Adversário
O nome mais comum para o Diabo no Antigo Testamento é “Satanás”, do hebraico satan (שָׂטָן), que significa “adversário” ou “opositor”.
No livro de Jó, Satanás aparece como um acusador que contesta a integridade de Jó diante de Deus (Jó 1:6-12).
Ele também é visto como aquele que tenta e engana, como no incidente do censo de Davi em 1 Crônicas 21:1, onde “Satanás levantou-se contra Israel e incitou Davi a fazer um recenseamento do povo”.
No Novo Testamento, o título “Satanás” mantém seu significado de adversário, sendo o principal inimigo de Deus e da humanidade (Mateus 4:10; 1 Pedro 5:8).

Lúcifer: O portador da Luz e sua interpretação
A palavra “Lúcifer”, do latim: lux ferre (“portador de luz”), não é um nome próprio para o Diabo na Bíblia, mas sim uma tradução da Vulgata Latina para a expressão hebraica helel ben shachar (“estrela da manhã, filho da alva”) em Isaías 14:12. Como mencionado anteriormente, esta passagem se refere originalmente ao rei da Babilônia.
No entanto, devido à majestosa descrição e à subsequente queda, a tradição cristã, desde os Pais da Igreja, interpretou “Lúcifer” como um nome poético ou alegórico para o Diabo antes de sua queda, refletindo sua beleza original e sua glória antes da rebelião [3].
Príncipe deste Mundo
Jesus se refere ao Diabo usando este título (João 12:31; 14:30; 16:11), destacando sua influência e domínio sobre os sistemas mundanos que se opõem a Deus. No entanto, este domínio é temporário e subordinado à soberania divina.
Belzebu
Este nome é encontrado no Novo Testamento, onde Jesus é acusado pelos fariseus de expulsar demônios pelo poder de Belzebu, o “príncipe dos demônios” (Mateus 12:24).
Acredita-se que seja uma corruptela do nome do deus filisteu Baal-Zebul.

O Maligno
Um termo que resume sua natureza essencialmente má (Mateus 6:13; 1 João 5:19).
Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o poder do Maligno.
1 João 5:19 (NVI)
Dragão, Serpente Antiga
Em Apocalipse, o Diabo é simbolizado por um “grande dragão vermelho” e identificado como a “antiga serpente” que enganou Eva no Éden, conectando-o diretamente com a origem do pecado (Apocalipse 12:9; Gênesis 3).
Pai da Mentira, Homicida
Jesus descreve o Diabo com essas características, revelando sua natureza enganosa e destrutiva (João 8:44).
Natureza e atuação do Diabo
A natureza do Diabo é de oposição constante a Deus e a tudo o que é bom. Ele é um ser espiritual, com inteligência, vontade e emoções, embora estas estejam corrompidas pelo mal. Sua atuação no mundo e na vida humana é diversa e multifacetada.
O Tentador e Acusador
Desde a Serpente no jardim do Éden, o Diabo atua como tentador, buscando desviar a humanidade da obediência a Deus.
Ele questiona a palavra de Deus, oferece falsas promessas e incita ao pecado, como fez com Eva (Gênesis 3:1-5) e com o próprio Jesus no deserto (Mateus 4:1-11).
Além de tentador, ele é o “acusador dos irmãos” (Apocalipse 12:10). Ele constantemente tenta desacreditar os crentes diante de Deus e de si mesmos, apontando falhas e pecados para gerar culpa e desânimo, procurando minar a fé e a confiança na graça divina.
Então ouvi uma forte voz do céu que dizia: “Agora veio a salvação, o poder e o Reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo, pois foi lançado fora o acusador dos nossos irmãos, que os acusa diante do nosso Deus, dia e noite.
Apocalipse 12:10 (NVI)

O Enganador e Adversário
A Bíblia também o retrata como um mestre do engano. Ele pode se disfarçar de “anjo de luz” para seduzir as pessoas com falsas doutrinas ou promover o erro como verdade (2 Coríntios 11:14).
Ele é um adversário implacável que “anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1 Pedro 5:8), procurando oportunidades para atacar, oprimir e destruir. Sua estratégia é criar divisão, incitar ao ódio e promover a injustiça.
A limitação de seu poder
Apesar de sua malevolência e poder, a teologia cristã enfatiza que o Diabo não é onipotente, onisciente ou onipresente. Seu poder é limitado pela soberania de Deus. Ele não pode agir sem a permissão divina, como demonstrado no livro de Jó, onde Satanás só pôde afligir Jó até onde Deus permitiu (Jó 1:12).
Senhor disse a Satanás: “Pois bem, tudo o que ele possui está nas suas mãos; apenas não encoste um dedo nele”. Então Satanás saiu da presença do Senhor.
Jó 1:12 (NVI)
A vitória de Jesus Cristo na cruz e na ressurreição selou a derrota final do Diabo, desarmando os principados e potestades (Colossenses 2:15) e dando autoridade aos crentes para resistir às suas investidas (Tiago 4:7; Lucas 10:19).
Destino final do Diabo
Apesar de sua influência no mundo presente, o Diabo tem um destino selado. A narrativa bíblica culmina na sua derrota final e no seu juízo eterno. A morte e ressurreição de Jesus Cristo foram o golpe decisivo contra o Diabo e suas obras.
Em Apocalipse, é descrito que, após um breve período de soltura no fim dos tempos, o Diabo será definitivamente lançado no “lago de fogo e enxofre”, onde será atormentado dia e noite para todo o sempre, juntamente com a besta e o falso profeta (Apocalipse 20:10).
Este é o destino final reservado para ele e seus anjos, um lugar preparado para eles desde o início (Mateus 25:41). Essa consumação final assegura a vitória plena de Deus sobre o mal e a restauração completa da justiça e da paz.

Etimologia e significado do Diabo
O termo “Diabo” provém do grego diabolos (διάβολος), que significa “caluniador”, “difamador” ou “acusador”. Este termo é a tradução da Septuaginta (a versão grega do Antigo Testamento) para o hebraico satan (שָׂטָן), que carrega o sentido de “adversário”, “opositor” ou “inimigo”.
No Antigo Testamento, a palavra satan pode ser usada para se referir a um adversário humano, um anjo de Deus que age como obstáculo (como em Números 22:22), ou a uma figura específica que se opõe a Deus e à humanidade, como no livro de Jó [4].
No Novo Testamento, diabolos é quase sempre usado para se referir àquela figura específica, a personificação do mal, o principal inimigo de Deus e da humanidade. Assim, o nome “Diabo” encapsula suas principais características: a de ser um adversário implacável e um acusador malicioso.
Aprenda mais
[Vídeo] Teológico | Bíblia & Teologia.
[Vídeo] Quem era a serpente que enganou a mulher em Gênesis? – Pr. Marcos Granconato. Igreja Batista Redenção.
[Vídeo] O diabo realmente existe? | Rodrigo Silva. Brasil Paralelo.
Perguntas comuns
Nesta seção apresentamos as principais perguntas, com suas respectivas respostas, acerca deste termo.
Qual é o significado do nome diabo?
O nome “diabo” vem do grego diabolos, que significa “caluniador” ou “acusador”. Ele é o adversário de Deus e da humanidade, sempre buscando enganar e distorcer a verdade.
Quem é diabo na Bíblia?
Na Bíblia, o diabo é uma entidade espiritual maligna, líder dos demônios, que se opõe a Deus e tenta corromper a humanidade. Ele também é conhecido como Satanás.
Qual é a origem do diabo?
A Bíblia não dá muitos detalhes, mas indica que o diabo era um anjo que se rebelou contra Deus. Por causa de sua rebelião, ele e os anjos que o seguiram foram expulsos do céu.
Como o diabo age na mente?
Segundo a crença cristã, ele age por meio de tentações, enganos e mentiras. Ele tenta semear dúvidas, medos e desejos pecaminosos para afastar as pessoas de Deus.
O que o diabo não gosta?
O diabo não gosta de coisas que glorificam a Deus. Ele detesta a obediência, a adoração, a oração e o amor, que fortalecem a fé e a união entre os fiéis.
O diabo pode nos ouvir?
A Bíblia não responde diretamente, mas se entende que não. Satanás sendo um ser espiritual, o diabo pode influenciar e ter conhecimento das ações humanas, embora não seja onisciente como Deus.
O que o diabo faz com as pessoas?
Ele busca tentar, seduzir e influenciar as pessoas ao pecado. Seu objetivo principal é afastar a humanidade de Deus, causar divisão, sofrimento e destruição.
Fontes
[1] Erickson, Millard J. Christian Theology. 3rd ed. Baker Academic, 2013, p. 439-441.
[2] Ryrie, Charles C. Teologia Básica. Mundo Cristão, 2004, p. 119-120.
[3] Strong, James. Strong’s Exhaustive Concordance of the Bible. Hendrickson Publishers, 1990. Ver entrada G1228 (diabolos) e H1966 (helel).
[4] Baker, Warren, and Eugene Carpenter. The Complete Word Study Dictionary: Old Testament. AMG Publishers, 2003, p. 1062 (satan).
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