Cristianismo Cultural

Cristianismo cultural é uma ‘fé cristã’ adotada como identidade social, herança familiar ou tradições, mais do que convicção pessoal e relação profunda com Deus.

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O cristianismo cultural é um fenômeno da cultura em que a fé cristã é adotada mais como parte de uma identidade social, uma herança familiar ou um conjunto de tradições do que como uma convicção pessoal e uma relação profunda da sociedade com Deus.

Este conceito levanta importantes reflexões sobre a natureza da fé cristã e sua relação com a sociedade ocidental, como a importância do cristianismo para a atualidade e a necessidade de se manter símbolos cristãos em ambientes públicos.

O termo surgiu no fim do século XX, mas só passou a ser amplamente utilizado e debatido no século XXI, no contexto de debates entre a fé cristã a as ideologias políticas presentes nos países ocidentais. Países que possuem raízes cristãs, que foram colonizados pelos povos europeus cristãos do séculos XV e XVI.

Neste artigo apresentamos uma breve discussão deste termo, assim como sua aplicabilidade, diferentes perspectivas e origem do termo.


Formas do cristianismo cultural

O cristianismo cultural pode se manifestar de diversas formas, em todas refletindo uma adesão superficial à fé cristã, longe das práticas (ortopraxia) e conceitos corretos (ortodoxia) definidos pelas Escrituras e Tradição.

Um exemplo comum é a pessoa que se considera cristã por ter sido batizada na infância, por frequentar a igreja em datas festivas, como Natal e Páscoa, ou por participar de rituais tradicionais, como casamentos e funerais, sem, no entanto, buscar compreender os ensinamentos bíblicos ou aplicar os valores cristãos em sua vida diária.

Outro exemplo ocorre quando as pessoas adotam uma identidade cristã, expressando por suas roupas e redes sociais um cristianismo que não é vivido, apenas para visualmente se alinhar socialmente e culturalmente a um grupo cristão.

Mosaico de Cristo crucificado. Exemplos de Cristianismo Cultural
Mosaico de Cristo crucificado

Neste exemplo, as pessoas não participam dos sacramentos da Igreja, não participam da comunhão, não seguem ou defendem os ideais da fé.

Essa postura frequentemente resulta em uma fé formal ou aparente, sem sinceridade, esvaziada de propósito e devoção genuína.

Pessoas que praticam o cristianismo cultural podem cumprir certas práticas religiosas por hábito ou pressão social, mas carecem de uma conexão viva com Deus, de uma vida de oração consistente ou de um desejo de crescer espiritualmente. Como resultado, a fé se torna um elemento periférico em suas vidas, em vez de um alicerce central que molda suas decisões, relacionamentos e propósitos.


Exemplos de cristianismo cultural no mundo

O cristianismo cultural não se limita a práticas religiosas individuais dos cidadãos comuns, mas também pode ser observado em figuras públicas e influentes. Nesta seção apresento exemplos de políticos, escritores e importantes estudiosos que se declaram “cristãos culturais”.

Cristãos culturais na Europa

Por exemplo, o presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, descreveu-se como um “ateu ortodoxo”, indicando uma identificação com a tradição cristã ortodoxa sem uma crença pessoal. [1]

Da mesma forma Emmanuel Macron, um político europeu, se identificou como um “católico agnóstico”, sugerindo uma conexão cultural com o catolicismo, mas sem uma fé religiosa praticante. [2]

Na história, figuras como Thomas Jefferson, um dos Pais Fundadores dos Estados Unidos, também exemplificam o fenômeno do cristão cultural. Jefferson, apesar de suas dúvidas sobre a divindade de Jesus, via-se como parte da cultura cristã, valorizando seus ensinamentos éticos. [3]

No século XX, o escritor italiano Benedetto Croce argumentou em seu livro Por que não podemos deixar de nos chamar de cristãos que os valores católicos romanos formam a base cultural de todos os italianos, independentemente de sua crença pessoal, descrevendo o cristianismo como uma revolução cultural. [4]

A Fresco No Teto Da Catedral de Roma
A Fresco No Teto Da Catedral de Roma

Na Inglaterra, o ateu declarado Richard Dawkins, autor de The God Delusion, descreveu-se como um “cristão cultural” e “anglicano cultural”, elogiando a ética de Jesus, mas sem adotar a fé religiosa [5]. Similarmente, a ex-primeira-ministra britânica Liz Truss afirmou compartilhar os valores da Igreja da Inglaterra, apesar de não ser uma praticante regular [6].

China e a cultura cristã

Na China, o cristianismo cultural apresenta uma dinâmica única. Historicamente, o cristianismo foi visto como uma “religião estrangeira” (yáng jiào), carregando conotações negativas de influência externa.

No entanto, desde o final do século XX, o termo “cristãos culturais” passou a designar intelectuais chineses que estudam teologia, ética e literatura cristãs, contribuindo para o movimento da teologia sino-cristã. [7]

Acadêmicos como Liu Xiaofeng e He Guanghu, nas décadas de 1980 e 1990, simpatizavam com o cristianismo, visitavam igrejas locais, mas se recusavam a filiar-se a elas e participar de seus ritos. [7]

Sacerdotes maniqueístas, escrevendo em suas escrivaninhas. Manuscrito do oitavo ou nono século de Gaochang , Bacia de Tarim , China
Sacerdotes maniqueístas, escrevendo em suas escrivaninhas. Manuscrito do oitavo ou nono século de Gaochang , Bacia de Tarim , China

Origem e significado de Cristianismo Cultural

O termo “cristianismo cultural” não tem origem em um concílio ou documento teológico específico. Ele surgiu como uma categoria sociológica e teológica para descrever a interação entre a fé cristã e a cultura predominante.

A palavra combina “cristianismo”, que se refere à religião baseada nos ensinamentos de Jesus Cristo, e “cultural”, que aponta para os costumes, valores e tradições de uma sociedade.


Aprenda mais

[Vídeo] O perigo do cristianismo cultural. Canal Cultura Reformada.

[Podcast] Cristianismo cultural. Bibotalk.


Perguntas comuns

Nesta seção apresentamos as principais perguntas, com suas respectivas respostas, acerca deste termo teológico.

Como é a cultura do cristianismo?

As crenças cristãs abrangem a fé na Trindade, na divindade de Jesus, na salvação pela graça e na ressurreição dos mortos. Os principais símbolos do cristianismo são a cruz, que representa o sacrifício de Jesus, e o peixe, adotado pelos primeiros cristãos em tempos de perseguição.

Como o cristianismo influenciou a cultura?

O Cristianismo influenciou de forma significativa diversos aspectos da cultura ocidental, como as liberdades democráticas e o progresso científico-técnico, de um lado, e a preocupação moral, a dignidade humana e a igualdade entre homens e mulheres, de outro.


Fontes

[1] «Belarus president visits Vatican». BBC News. 27 de abril de 2009.

[2] «France’s new president is a ‘zombie Catholic’». Catholic News Agency.

[3] Franklin, Benjamin (1958) [1771]. Autobiography and other writings. Cambridge: Riverside.

[4] Croce, Benedetto (1944). Perchè non possiamo non dirci “cristiani” (em italiano). [S.l.]: Laterza

[5] «Dawkins: I’m a cultural Christian». BBC News. 10 de dezembro de 2007.

[6] Hatton, Ben; Wheeler, Richard (2 de agosto de 2022). «Nicola Sturgeon is an ‘attention seeker’ best ignored, claims Liz Truss». PA Media.

[7] Fällman, Fredrik (2013). «Calvin, Culture and Christ? Developments of Faith Among Chinese Intellectuals». In: Lim, Francis Khek Gee. Christianity in Contemporary China: Socio-cultural Perspectives. London: Routledge. pp. 153–168. ISBN 978-0415528467

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Diego Pereira do Nascimento
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