O Criacionismo é um conjunto de crenças que defendem que o Universo e tudo que nele existe, incluindo a vida e os copos celestes, foram criados por um ser divino, geralmente atribuído à Deus.
Esse conjunto de crenças vão contra a ideia de que o Universo foi criado por meio de processos naturais, como defendido na hipótese do Big Bang.
Dentro da cosmovisão criacionista há diferentes interpretações sobre como essa criação ocorreu e como ela se relaciona com a ciência. Essas variações surgem a partir de diferentes formas de interpretar o texto bíblico e as descobertas científicas.
A visão criacionista tem influenciado religiões e filosofias ao longo dos séculos, gerando intensas discussões no meio científico e religioso. Neste artigo apresento suas principais características, principais pensadores, suas críticas, seu embasamento bíblico e científico,
Criacionismo da Terra Jovem
O Criacionismo da Terra Jovem (CTJ) é a visão mais literalista e tradicional dentro do cristianismo. Seus adeptos acreditam que Deus criou o mundo em seis dias literais de 24 horas e que a Terra tem aproximadamente 6.000 a 10.000 anos, com base na genealogia bíblica de Gênesis. [5]
Essa perspectiva rejeita a teoria da evolução e a ideia de que a Terra tenha bilhões de anos. Para explicar fósseis, camadas geológicas e outras evidências científicas, os defensores do CTJ argumentam que o Dilúvio de Noé foi um evento catastrófico global, responsável por muitas das formações geológicas observadas hoje. [6]
Principais características:
- Terra com cerca de 6.000 a 10.000 anos.
- Criação em seis dias literais de 24 horas.
- O Dilúvio de Noé foi um evento global e responsável por fósseis e formações geológicas.
- Rejeição da macroevolução e do Big Bang.
- Defendida por grupos como Answers in Genesis e Institute for Creation Research.

Criacionismo da Terra Antiga
O Criacionismo da Terra Antiga (CTA) aceita que a Terra e o universo são muito mais antigos, com bilhões de anos, conforme apontam as evidências científicas. No entanto, essa visão mantém a crença de que Deus foi o Criador de todas as coisas. [10]
Os criacionistas da Terra Antiga interpretam Gênesis de forma menos literal e admitem que os “dias” da criação podem representar longos períodos de tempo. [10]
Principais características:
- Aceita que a Terra tem bilhões de anos.
- Interpretação não literal dos dias da criação.
- Rejeita a evolução naturalista, mas admite pequenas mudanças dentro das espécies (microevolução).
- Algumas vertentes aceitam o Big Bang como o início da criação, mas veem Deus como a causa primeira.
- Defendida por organizações como Reasons to Believe.
Dentro dessa perspectiva, há três interpretações principais:
- Criacionismo progressivo;
- Teoria do Dia-Erra;
- Teoria do intervalo.

Criacionismo progressivo
Essa visão sugere que Deus criou os diferentes grupos de seres vivos de forma direta, mas em momentos distintos ao longo das eras.
Nesta visão, a criação ocorreu progressivamente ao longo de não eras e não em seis dias de 24 horas. Embora aceite a idade avançada do universo, rejeita a evolução biológica como explicação para a diversidade das espécies. [10]
Teoria do Dia-Erra
Aqui, os “dias” da criação são interpretados como longos períodos indefinidos, e não como dias literais. Essa teoria busca harmonizar o relato bíblico com as descobertas científicas sobre a formação da Terra e da vida. [11]
Teoria do intervalo (ou Hiato)
Essa teoria sugere que há um intervalo de tempo entre Gênesis 1:1 (“No princípio criou Deus os céus e a terra”) e Gênesis 1:2. Muitos defensores dessa visão acreditam que esse intervalo pode ter durado bilhões de anos, durante os quais ocorreram eventos que explicam a idade da Terra. [12]
No princípio Deus criou os céus e a terra. Era a terra sem forma e vazia; trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
Gênesis 1:1,2 (NVI)
Criacionismo evolucionário (ou Evolução teísta)
O Criacionismo Evolucionário, também chamado de Evolução Teísta, sustenta que Deus criou o universo e a vida, mas usou a evolução como ferramenta para desenvolver a biodiversidade ao longo do tempo. Assim, essa visão tenta conciliar a narrativa bíblica com a teoria da evolução. [7]
Os cristãos adeptos dessa visão interpretam Gênesis de forma simbólica ou alegórica, entendendo que o foco do texto não é ensinar ciência, mas revelar Deus como Criador. Dessa forma, eles aceitam a evolução biológica e o Big Bang, mas acreditam que Deus supervisionou e guiou esses processos. [7]
Principais características:
- Aceitação da teoria da evolução e do Big Bang.
- Deus criou as leis da natureza e guiou o processo evolutivo.
- Gênesis é interpretado de forma simbólica ou teológica.
- Aceitação da idade da Terra conforme a ciência.
- Defendida por cientistas cristãos e pela organização BioLogos.

Criacionismo bíblico literário
Essa visão se baseia no entendimento de que Gênesis 1-2 foi escrito como um texto literário e teológico, sem intenção de fornecer detalhes científicos sobre a criação. Dessa forma, a ênfase está no propósito da criação e na soberania de Deus, e não no tempo exato ou nos métodos usados por Ele. [8] [9]
Os defensores dessa abordagem não tentam conciliar a Bíblia com descobertas científicas específicas, pois entendem que a Escritura não pretende ensinar ciência. Essa visão é comum entre teólogos reformados e estudiosos que seguem uma interpretação mais contextual do texto bíblico. [8] [9]
Principais características:
- O relato de Gênesis ensina verdades teológicas, não científicas.
- O foco está no propósito da criação e na soberania de Deus.
- Aceitação da idade da Terra conforme a ciência, mas sem compromisso com evolução ou Big Bang.

Comparação das visões criacionistas cristãs
Para facilitar a compreensão das diferentes visões criacionistas, elaboramos uma tabela comparativa que resume as principais características de cada visão, incluindo suas bases teológicas, científicas e filosóficas, bem como suas interpretações sobre a origem e idade do universo.
Visão | Idade da Terra | Interpretação de Gênesis | Evolução |
---|---|---|---|
Terra Jovem | 6.000 – 10.000 anos | Literal (dias de 24h) | Rejeita totalmente |
Terra Antiga | Bilhões de anos | Dias como longos períodos | Rejeita a macroevolução |
Evolucionário | Bilhões de anos | Alegórico | Aceita a evolução teísta |
Bíblico literário | Indeterminado | Foco teológico, não científico | Não se posiciona |
Críticas cristãs ao criacionismo
O criacionismo, em suas diversas formas, tem sido objeto de intensos debates teológicos e científicos. Embora essas perspectivas busquem harmonizar as verdades bíblicas com explicações científicas sobre a origem do universo e da vida, elas enfrentam críticas tanto de teólogos cristãos quanto da comunidade científica.
Nesta seção apresentamos as principais críticas realizadas contra a visão criacionista.
Interpretação literalista e contexto bíblico
Uma das principais críticas teológicas a visão criacionista, especialmente ao da Terra Jovem e, em menor grau, ao da Terra Antiga, é sua abordagem literalista do livro de Gênesis.
Teólogos cristãos, como Agostinho de Hipona, argumentaram que os textos bíblicos, incluindo Gênesis, devem ser interpretados à luz de seu contexto literário e cultural, não como tratados científicos.
Agostinho em seu livro a Genesi ad Litteram, sugere que os “dias” da criação podem ser entendidos alegoricamente, alertando contra interpretações que contradizem a razão ou a evidência natural. [1]
Críticos cristãos contemporâneos, como Peter Enns, argumentam que o literalismo ignora o gênero literário de Gênesis, que reflete cosmologias antigas do Oriente Próximo, e não a ciência moderna. [2]
Essas críticas consideram que o texto de Gênesis 1 não deve ser lido de forma literal, mas sim de forma alegórica.
Conflito com a diversidade teológica
Outra crítica cristã é que a visão criacionista podem limitar a diversidade teológica dentro do cristianismo, se tornando radicais contra as visões contrárias.
A visão da Terra Jovem, por exemplo, frequentemente apresenta sua interpretação como a única fiel à Bíblia, desconsiderando as demais visões cristãs que aceitam a evolução teísta ou visões não literalistas.
Esse posicionamento radical tem criado divisões desnecessárias, como observado por teólogos como N.T. Wright, que defendem que a fé cristã deve dialogar com a ciência sem comprometer sua essência espiritual. [3]
Reducionismo teológico
As visões criacionistas do Design Inteligente e da Terra Jovem, são criticadas por reduzir Deus a uma “causa mecânica” ou “designer” limitado ao preenchimento de lacunas científicas.
Essa abordagem, conhecida como “Deus das lacunas”, limita o agir de Deus sobre a história humana e o Universo, O colocando como explicação em pontos dos quais a ciência e a lógica humana não são capazes de explicar. [4]
Aprenda mais
[Vídeo] Adauto Lourenco (Prof. Adauto).
[Vídeo] Visão criacionista – Parte 1. Adauto Lourenco (Prof. Adauto).
[Vídeo] Visão criacionista – Parte 2. Adauto Lourenco (Prof. Adauto).
Perguntas comuns
Nesta seção apresentamos as principais perguntas, com suas respectivas respostas, acerca deste termo teológico.
Como definir o criacionismo?
Criacionismo é um conjunto de crenças que ensina que o Universo, a vida e os corpos celestes foram criados por Deus, conforme descrito em Gênesis 1.
O que é criacionismo bíblico?
O criacionismo bíblico é a crença que prega que o mundo foi criado em 7 dias, conforme descrito em Gênesis 1, na Bíblia cristã.
O que a teoria criacionismo defende?
A teoria do criacionismo defende que o Universo, a Terra e toda a vida foram criados por um ser divino, exatamente como descrito no relato bíblico de Gênesis 1, onde Deus forma o mundo e tudo o que nele existe em seis dias.
Quem criou o criacionismo?
Não existe um autor, ou pensador, específico que lançou a primeira teoria do Criacionismo. O que existe são vários autores ao longo da história que creem na narrativa bíblica de Gênesis 1 e produziram obras que argumentavam em defesa desta narrativa.
Quais são as evidências do criacionismo?
O Criacionismo a existência de um Criador com base em três evidências principais: (1) o ajuste fino do Universo, indicando um propósito (teleologia); (2) estruturas biológicas irredutivelmente complexas, que precisariam funcionar perfeitamente desde sua origem para garantir a sobrevivência dos seres vivos; e (3) a informação complexa e específica no material genético, atribuída exclusivamente a uma inteligência.
O que a ciência diz sobre o criacionismo?
Apesar de existir uma vertente chamada criacionismo científico, a ciência, em seu método rigoroso, não considera as teoria criacionista uma teoria científica uma vez que ela não pode ser testável e replicada em um laboratório.
O que é o criacionismo nas escolas?
O criacionismo nas escolas ensina a origem da vida e do universo com base em narrativas religiosas, como a bíblica, contrastando com a teoria da evolução. É adotado por escolas religiosas ou proposto em projetos de lei curriculares.
Como o criacionismo surgiu?
O criacionismo surgiu a partir de interpretações literais de textos religiosos, como a Bíblia, especialmente o Gênesis, que descreve a criação do Universo e da vida por Deus. Popularizado em tradições judaico-cristãs, ganhou força no século XIX como resposta ao evolucionismo de Darwin. É defendido por grupos religiosos, especialmente em contextos educacionais, oposto à explicação científica da evolução.
Fontes
[1] Augustine. (1982). The Literal Meaning of Genesis (J. H. Taylor, Trans.). Newman Press.
[2] Enns, P. (2012). The Evolution of Adam: What the Bible Does and Doesn’t Say About Human Origins. Brazos Press.
[3] Wright, N. T. (2008). Surprised by Hope: Rethinking Heaven, the Resurrection, and the Mission of the Church. HarperOne.
[4] Bonhoeffer, D. (1953). Letters and Papers from Prison. SCM Press.
[5] Morris, H. M. (1974). Scientific Creationism. Master Books.
[6] Whitcomb, J. C., & Morris, H. M. (1961). The Genesis Flood: The Biblical Record and Its Scientific Implications. Presbyterian and Reformed Publishing.
[7] Miller, K. R. (1999). Finding Darwin’s God: A Scientist’s Search for Common Ground Between God and Evolution. HarperCollins.
[8] Walton, J. H. (2009). The Lost World of Genesis One: Ancient Cosmology and the Origins Debate. InterVarsity Press.
[9] Sparks, K. L. (2008). God’s Word in Human Words: An Evangelical Appropriation of Critical Biblical Scholarship. Baker Academic.
[10] Ross, H. (2001). The Creator and the Cosmos: How the Latest Scientific Discoveries Reveal God. NavPress.
[11] Young, D. A., & Stearley, R. F. (2008). The Bible, Rocks and Time: Geological Evidence for the Age of the Earth. InterVarsity Press.
[12] Pember, G. H. (1876). Earth’s Earliest Ages and Their Connection with Modern Spiritualism and Theosophy. Hodder and Stoughton.
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