No cristianismo, o Céu, os Céus, ou Paraíso, é um lugar espiritual e transcendental onde Deus habita, juntamente dos anjos. Ele é descrito pela Bíblia como o lugar mais sagrado, pois é onde Deus está, um paraíso de perfeita comunhão com o Senhor, em contraste com o inferno.
Ele é o destino dos cristãos salvos após sua morte. Apesar de ser onde Deus habita, ele não é eterno como o Senhor. Ele é um lugar transitório, que os seres humanos que já morreram irão habitar até a “consumação dos séculos”, até o estabelecimento da Nova Terra.
Nesta Nova Terra, os humanos irão habitar eternamente com Deus na Nova Jerusalém.
O céu bíblico, apesar de serem conceitos um pouco diferentes, também pode ser compreendido como o Paraíso.
Neste artigo apresentamos um pouco sobre este conceito bíblico, assim como sua base teológica e diferentes visões a seu respeito.
Céu descrito na Bíblia
Na Bíblia, o Céu é, primeiramente, o lugar onde Deus reside em sua glória, junto aos anjos e demais seres criados por Ele antes da Criação da Terra (Arcanjos, Serafins, Querubins, Seres Viventes, e etc).
Ele é também o destino dos justos, dos que morreram salvos em Cristo Jesus, frequentemente descrito como um paraíso espiritual, um estado de paz, alegria e comunhão eterna com Deus, livre de pecado, sofrimento e morte.
Também é apresentado como o Trono de Deus, um lugar de perfeição e santidade. Para os cristãos, ele representa a promessa de uma vida pós-morte eternamente abençoada ou um retorno ao estado de pureza antes da queda da humanidade, semelhante a um novo Jardim do Éden.
O catolicismo romano possui o conceito da “visão beatífica”, na qual os salvos contemplam Deus em um estado perfeito de existência eterna, consumado pela fé em Jesus Cristo.

O céu é um lugar temporário
O texto bíblico sugere que céu não é o estado final da redenção e nem a morada final do santos. Ele serve como uma morada intermediária para os justos até o cumprimento do Plano da Salvação, que envolve a renovação completa da Criação.
O livro de Apocalipse apresenta uma visão de renovação do mundo do futuro:
Então vi um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado; e o mar já não existia.
Apocalipse 21:1 (NVI)
Essa passagem deixa claro que o Céu e a Terra atuais serão substituídos por uma nova criação, onde Deus estabelecerá Sua presença direta com a humanidade. A Nova Jerusalém descerá sobre a Terra, simbolizando a união perfeita entre do Senhor com sua Criação, restaurando ao estado como era no Jardim do Éden.
Termos referentes ao céu
Existem diversas expressões na Bíblia utilizadas para descrever o céu. Cada uma delas destaca uma de suas características e importância para a fé cristã.
- Reino dos céus (Mt 5:3);
- Vida eterna (Mt 19:16);
- A casa de meu Pai (Jo 14:2);
- Jerusalém celestial (Hb 12:22);
- Paraíso (2Co 12:4);
- Coroa da vida (Tg 1:12).
Céu no cristianismo
O conceito de céu é um doutrina central no cristianismo, mas sua interpretação varia entre as diferentes vertentes cristãs, como catolicismo, protestantismo, ortodoxia e outras denominações.
Nesta seção apresentamos as principais visões cristãs sobre o assunto.
Catolicismo
Na tradição católica, o Paraíso é o estado supremo de comunhão com Deus, caracterizado pela visão beatífica, na qual os salvos contemplam Deus face a face (1Co 13:12).
É o destino final dos justos que, purificados pelo pecado (seja em vida ou no purgatório), alcançam a santidade necessária para entrar na presença divina.
Ele é descrito como um lugar de felicidade eterna, livre de sofrimento (Ap 21:4). A Igreja Católica também enfatiza a conexão entre o céu atual e a futura “nova terra”, onde os redimidos viverão em corpos glorificados na Nova Jerusalém.
A salvação é vista como um dom da graça, obtido pela fé e pelas obras realizadas em cooperação com o Espírito Santo (Tg 2:17).

Protestantismo
No protestantismo, a visão do céu varia entre denominações, mas geralmente é entendida como o lugar ou estado onde os salvos, justificados pela fé em Jesus Cristo (Rm 5:1), desfrutam da presença de Deus para sempre.
Reformados, como luteranos e calvinistas, enfatizam a soberania divina e a salvação pela graça, com o céu como recompensa eterna para os eleitos. Evangélicos frequentemente o destacavam como um paraíso espiritual de alegria e adoração, baseado em passagens como João 14:2.
Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim, eu lhes teria dito. Vou preparar-lhes lugar.
João 14:2 (NVI)
Algumas denominações pentecostais podem enfatizar experiências espirituais vívidas no Paraíso. Quanto à nova criação, muitos protestantes interpretam o “novo céu e nova terra” (Ap 21:1) como uma renovação literal da criação, onde salvos habitarão em uma terra restaurada.
Ortodoxia Oriental
Na Igreja Ortodoxa Oriental, o Paraíso é visto como o estado de união mística com Deus, conhecido como theosis ou deificação, onde os salvos participam da natureza divina (2Pe 1:4).
Ele é visto menos como um lugar físico e mais um estado espiritual de comunhão perfeita com a Trindade. A ênfase está na transformação espiritual, com os justos vivendo na luz divina.
A escatologia ortodoxa também antecipa o “novo céu e nova terra” como a restauração da criação, onde a humanidade viverá em harmonia com Deus. A liturgia ortodoxa reflete essa visão, com hinos que celebram o céu como um estado de glória eterna.

Testemunhas de Jeová
Algumas vertentes, como as Testemunhas de Jeová, têm uma visão distinta, acreditando que apenas 144.000 eleitos habitarão no Paraíso como governantes espirituais (Ap 7:4), enquanto a maioria dos fiéis viverá em uma terra paradísica restaurada.
Mórmons
Os mórmons, da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, entendem o Paraíso em níveis, com o Reino Celestial sendo o mais elevado, onde os fiéis vivem como deuses em comunhão com Deus.
Adventistas
Adventistas do Sétimo Dia enfatizam a nova terra como o destino final, com o céu atual como um estado temporário até a segunda vinda de Cristo.
Entendimento de outras religiões
Além do cristianismo, diversas religiões ao longo da história desenvolveram seus conceitos próprios de céu e Paraíso.
Judaísmo
No judaísmo, a crença da vida após a morte estava associada ao conceito de sheol. O sheol é descrito como um lugar sombrio e subterrâneo onde as almas dos mortos residem, sem alegria ou consciência plena. Não é exatamente um inferno, mas um estado de existência pós-morte, neutro, sem julgamento ou recompensa, comum a todos.
Porque não te louvará a sepultura (Sheol), nem a morte te glorificará; nem esperarão em tua verdade os que descem à cova. O vivente, o vivente, esse te louvará, como eu hoje o faço; o pai aos filhos fará notória a tua verdade. O Senhor veio salvar-me; por isso, tangendo em meus instrumentos, nós o louvaremos todos os dias de nossa vida na casa do Senhor.
Isaías 38:18-20 (ACF)
Alguns estudiosos sugerem que Sheol era um conceito mais antigo, embora essa visão não seja consensual. Os fariseus, uma seita judaica, defendiam a ressurreição, enquanto os saduceus, seus opositores, rejeitavam a ideia da ressurreição dos mortos.
Islamismo
Semelhante às tradições judaicas, como o Talmude, o Alcorão e o Hadith frequentemente mencionam os sete samāwāt (سماوات), plural de samāʾ (سماء), que significa “céu, firmamento, esfera celestial”.
Versículos do Alcorão que citam os samāwāt incluem 41:12, 65:12 e 71:15. A Sidrat al-Muntaha, uma misteriosa e grandiosa árvore de Lote, marca o limite do sétimo céu, representando o ponto máximo para as criaturas de Deus e o conhecimento celestial.
Uma interpretação dos “céus” sugere que todas as estrelas e galáxias, incluindo a Via Láctea, compõem o “primeiro céu”, enquanto outros seis mundos ainda maiores aguardam descoberta pelos cientistas.
Segundo fontes xiitas, Ali enumerou os sete samāwāt como:
- Rafi’;
- Qaeydum;
- Marum;
- Arfalun;
- Hay’oun;
- Arous;
- Ajma’.
No Islã, o destino dos justos após a morte é concebido como Jannah. O Alcorão descreve o Paraíso prometido aos justos como um lugar onde “fluem rios sob ele; seus frutos e sua sombra são eternos”.
Em contrapartida, o destino dos descrentes é o Fogo. O Islã rejeita o conceito de pecado original, sustentando que todos os seres humanos nascem puros, e as crianças vão automaticamente para o paraíso ao morrer, independentemente da religião de seus pais.

Hinduísmo
O Svarga é uma espécie “céu transitório” para almas que realizaram boas ações, mas ainda não alcançaram moksha ou a união com Brahma.
Mitos hurritas e hititas
Na mitologia hitita, o paraíso é a residência dos deuses. No Cântico de Kumarbi, Alalu reinou como rei do paraíso por nove anos antes de gerar seu filho Anu. Posteriormente, Anu foi destronado por seu próprio filho, Kumarbi.
Confucionismo
O conceito de Tian, representa harmonia cósmica, onde residem os ancestrais. Tian, equiparado a Shangdi, era a divindade central no culto imperial chinês, conferindo legitimidade aos governantes.
Budismo
No busdismo existem diversos céus, todos parte do Samsara (realidade ilusória). Pessoas com bom carma podem renascer em um desses Céus, mas a estadia é temporária. O foco budista é escapar do ciclo de renascimentos e alcançar a iluminação (bodhi).

Discussões teológicas
Ao longo da história, diversos teólogos produziram obras que nos ajudaram a compreender o conceito bíblico de céu ou paraíso. Nesta seção apresentamos os pensamentos dos principais teólogos cristãos.
Agostinho de Hipona
Agostinho de Hipona via o Paraíso como o estado de comunhão com Deus, onde os salvos experimentam a visio beatifica , contemplando a essência divina.
Em Confissões (Livro IX), ele descreve o Paraíso como um lugar de descanso eterno e alegria, onde a alma encontra plenitude em Deus. Para Agostinho, o ele é um estado espiritual de união com o Criador, alcançado pela graça divina e fé [1].

Tomás de Aquino
Tomás de Aquino sistematizou a visão do Céu na Suma Teológica. Ele o descrevia como o lugar da perfeita felicidade, onde os salvos contemplam Deus diretamente, alcançando a beatitude.
Aquino argumentava que o Paraíso é um estado de perfeição intelectual e espiritual, com a alma unida a um corpo glorificado após a ressurreição, vivendo plenamente pela graça divina [2].
João Calvino
João Calvino, em Institutas da Religião Cristã, enfatizou a soberania de Deus na concepção do Paraíso. Ele o via como o lugar onde os eleitos, predestinados, gozam da glória divina, reinando com Cristo (Ap 5:10).
Calvino rejeitava especulações, focando na Bíblia como fonte principal para entender o Paraíso como comunhão perfeita com Deus [3].
Tu os constituíste reino e sacerdotes para o nosso Deus, e eles reinarão sobre a terra”.
Apocalipse 5:10 (NVI)

Karl Barth
Karl Barth, em Dogmática Eclesiástica (Volume IV), abordou o Paraíso sob a perspectiva da revelação divina. Ele o via como o domínio da presença de Deus, onde a humanidade redimida participa da glória de Cristo. Barth destacava que o Paraíso é uma realidade escatológica que se manifesta na fé dos crentes, centrada na graça divina [4].
Gustavo Gutiérrez
Gustavo Gutiérrez, na Teologia da Libertação, conecta o Reino dos Céus à justiça social.
Em Beber no Próprio Poço, ele sugere que o Paraíso começa na terra por meio da solidariedade com os oprimidos. Para Gutiérrez, o Paraíso é uma esperança escatológica e um chamado à transformação social, refletindo a identificação de Cristo com os pobres [5].
Michael Allen e Bart Ehrman
Teólogos como Michael Allen, em Grounded in Heaven (2018), resgatam a visio beatifica como central à esperança cristã, enfatizando o Paraíso como a plenitude da relação com Deus. [6]
Já Bart Ehrman, em Heaven and Hell: A History of the Afterlife (2020), argumenta que as concepções cristãs do Paraíso foram influenciadas por ideias greco-romanas, como as de Platão, moldando a visão de um paraíso espiritual [6].
Os três céus citados pelo Apóstolo Paulo
Em 2 Coríntios 12:2-4, o apóstolo Paulo menciona uma visão na qual ele foi arrebatado até o “terceiro céu”. Por não ser detalhado no texto bíblico, muito tem se discutido sobre a interpretação desta visão do apóstolo.
Nesta seção apresentamos as principais interpretações sobre este tema.
Passagem bíblica
Em 2 Coríntios 12:2-4, Paulo escreve:
Conheço um homem em Cristo que há catorze anos foi arrebatado ao terceiro céu. Se foi no corpo ou fora do corpo, não sei; Deus o sabe.
E sei que esse homem — se no corpo ou fora do corpo, não sei, mas Deus o sabe — foi arrebatado ao paraíso e ouviu coisas indizíveis, coisas que ao homem não é permitido falar.
2 Coríntios 12:2-4 (NVI)
Neste texto o apóstolo Paulo descreve uma visão de um homem, possivelmente referindo-se a si mesmo, que levado ao “terceiro céu”. O termo “terceiro céu” leva a compreensão de que se exista mais de um céu, podendo ser três os muito mais.
Compreensão mais comum
A ideia de múltiplos céus não é exclusiva de Paulo, mas reflete uma cosmologia comum no judaísmo do Segundo Templo, século I d.C.
Na tradição judaica, os céus eram frequentemente descritos como esferas ou níveis distintos, cada um com uma função ou propósito específico.
Embora a Bíblia não detalhe explicitamente uma divisão, a menção de Paulo sugere uma estrutura que pode ser interpretada da seguinte forma:
- Primeiro, como sendo a nossa atmosfera;
- Segundo, pode ser interpretado como o cosmo, ou o Universo além da nossa atmosfera;
- Terceiro, por fim, pode ser compreendido como o Paraíso.
Primeiro céu
Geralmente entendido como a atmosfera terrestre, o espaço visível onde estão as nuvens, os pássaros e os fenômenos climáticos.
Em Gênesis 1:6-8, Deus cria o “firmamento” (ou “expansão”), que separa as águas de cima das águas de baixo, e o chama de “céu”. Esse é o domínio físico que podemos observar. Por exemplo, em Deuteronômio 28:12, Deus promete abrir os céus para enviar chuva, referindo-se à atmosfera.

Segundo céu
Associado ao espaço cósmico, onde estão os corpos celestes, como o sol, a lua e as estrelas.
Em Gênesis 1:14-17, Deus coloca os luminares no firmamento dos céus para governar o dia e a noite. Essa região é vista como um nível superior ao céu atmosférico, mas ainda dentro do domínio físico. A menção a estrelas e constelações em passagens como Salmos 8:3 reforça essa ideia.
Terceiro céu
O terceiro céu, conforme mencionado por Paulo, é o domínio espiritual, a morada de Deus e dos seres celestiais. É identificado com o “paraíso” na passagem de 2 Coríntios 12:4, um lugar de glória divina onde palavras inefáveis são ouvidas.
Esta ideia é coerente com a ideia judaica de um céu supremo, como visto em textos apócrifos, como o Livro de Enoque, que descreve múltiplos céus, sendo o mais elevado o lugar da presença divina.
No Novo Testamento, o paraíso também é mencionado por Jesus em Lucas 23:43, quando promete ao ladrão na cruz que ele estaria com Ele no paraíso.
Etimologia e significado de céu
A palavra “céu” tem origem no latim caelum, que significa “céu”, “firmamento” ou “espaço celeste”. A raiz latina está relacionada ao verbo caedere (“cortar” ou “dividir”), sugerindo a ideia de um espaço vasto e aberto, como algo “cortado” ou separado da terra.
Em português, mantém esse sentido, referindo-se à abóbada celeste, o espaço acima da superfície terrestre onde se observam os astros, nuvens e fenômenos atmosféricos.
No contexto cristão, ele se refere ao Paraíso, local onde Deus habita juntamente de seus anjos e para onde os cristão vão após a morte.
Aprenda mais
[Vídeo] O CÉU SEGUNDO A BÍBLIA – Podcast Copiando Jesus com Fabio Coelho.
[Vídeo] Céu e Terra.
Perguntas comuns
Nesta seção apresentamos as principais perguntas, com suas respectivas respostas, acerca deste termo teológico.
Como a Bíblia fala do céu?
O Céu é normalmente descrito nas Escrituras como o local de habitação do Senhor e seu anjos, e o local para onde os cristãos salvos irão após a morte.
Referências
[1] Agostinho. Confissões. Trad. Maria Luiza Jardim Amarante. São Paulo: Paulus, 1999.
[2] Tomás de Aquino. Suma Teológica. Trad. Alexandre Corrêa. Porto Alegre: Edipucrs, 2002.
[3] Calvino, João. Institutas da Religião Cristã. Trad. Waldyr Carvalho Luz. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.
[4] Barth, Karl. Dogmática Eclesiástica. Vol. IV. Trad. Helmut Gollwitzer. Tübingen: Mohr Siebeck, 1961.
[5] Gutiérrez, Gustavo. Beber no Próprio Poço: Itinerário Espiritual de um Povo. Petrópolis: Vozes, 1983.
[6] Ehrman, Bart D. Heaven and Hell: A History of the Afterlife. Nova York: Simon & Schuster, 2020.
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