Aliança de Noé

A Aliança de Noé é o pacto de Deus com a humanidade depois do Dilúvio, prometendo nunca mais destruir a Terra. Garante vida e ordem.

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10 minutos de leitura

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A Aliança de Noé se refere ao pacto que Deus estabeleceu com Noé e toda a Criação após o Dilúvio, prometendo nunca mais destruir a terra e todas as criaturas vivas com águas de um dilúvio.

Este pacto fundamental, registrado em Gênesis 9, estabeleceu princípios duradouros para a interação entre Deus, a humanidade e o mundo natural, servindo como uma base para a continuidade da vida e da ordem cósmica.

Neste artigo apresentamos o contexto dessa aliança e seu impacto para a humanidade.

O contexto da Aliança de Noé

A Aliança de Noé surge como um marco teológico significativo após um período de grande tumulto e julgamento divino. Para compreender sua importância, é fundamental examinar os eventos que a precederam.

A corrupção da humanidade antes do Dilúvio

Antes do Dilúvio, a narrativa bíblica descreve um estado de profunda depravação humana.

Gênesis 6:5-7 relata que a maldade do homem era grande na terra, e que todo desígnio dos pensamentos do seu coração era continuamente mau.

Esta corrupção generalizada levou Deus a lamentar a criação da humanidade e a decidir erradicar a vida da face da terra através de um dilúvio global.

Somente Noé foi encontrado justo aos olhos do Senhor, um homem que andava com Deus [1].

Ilustração de Noé fazendo um sacrifício ao Senhor (Aliança de Noé)
Ilustração de Noé fazendo um sacrifício ao Senhor (Aliança de Noé)

O Dilúvio e a Nova Criação

Deus instruiu Noé a construir uma arca para salvar a si mesmo, sua família e amostras de todas as espécies de animais.

O Dilúvio, conforme descrito em Gênesis 7 e 8, foi um evento cataclísmico que resultou na aniquilação de toda a vida terrestre fora da arca. Após 150 dias de águas prevalecendo, Deus fez passar um vento sobre a terra, e as águas diminuíram.

Noé e sua família desembarcaram em terra seca, marcando um novo começo para a humanidade e para a criação. Este evento pode ser visto como uma forma de recriação ou, pelo menos, uma purificação radical que reinicia a história humana sob novas condições [2].

O sacrifício de Noé

Após sair da arca, a primeira ação de Noé foi construir um altar e oferecer sacrifícios de animais limpos a Deus (Gênesis 8:20).

A fumaça do sacrifício subiu, e o Senhor aspirou o cheiro suave, declarando em seu coração que nunca mais amaldiçoaria a terra por causa do homem, nem destruiria todos os seres viventes como havia feito (Gênesis 8:21-22).

²¹ O Senhor sentiu o aroma agradável e disse a si mesmo: “Nunca mais amaldiçoarei a terra por causa do homem, pois o seu coração é inteiramente inclinado para o mal desde a infância. E nunca mais destruirei todos os seres vivos como fiz desta vez.

²² “Enquanto durar a terra, plantio e colheita, frio e calor, verão e inverno, dia e noite jamais cessarão”.

Gênesis 8:21,22 (NVI)

Os termos da Aliança de Noé

A Aliança de Noé possui características distintas que a separam de pactos posteriores feitos com indivíduos específicos ou nações. Sua abrangência e incondicionalidade são pontos centrais.

Uma aliança universal e incondicional

Ao contrário de outras alianças bíblicas que são direcionadas a um povo específico (como a Aliança Abraâmica ou Mosaica), a Aliança de Noé é universal.

Ela é feita com Noé e sua descendência, mas explicitamente se estende a “toda carne que está sobre a terra” (Gênesis 9:10, 12, 16). Isso inclui não apenas os seres humanos, mas também todos os animais e o próprio planeta Terra [3].

Além disso, esta é uma aliança incondicional. A sua validade não depende da obediência humana, mas unicamente da fidelidade e soberania de Deus.

Deus promete unilateralmente manter Sua palavra, independentemente das ações futuras da humanidade. Esta característica ressalta a graça comum de Deus, que sustenta a vida e a ordem do mundo para todos, justos e injustos [4].

Ilustração representando a criação do mundo segundo o Gênesis
Ilustração representando a criação do mundo segundo o Gênesis

Promessas e mandamentos da Aliança de Noé

Os termos da Aliança de Noé, registrados em Gênesis 9:1-17, podem ser divididos em promessas divinas e mandamentos humanos.

Novas diretrizes para a humanidade

Deus abençoa Noé e seus filhos, repetindo o mandamento original dado a Adão: “Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra” (Gênesis 9:1).

A humanidade é novamente comissionada para se reproduzir e exercer domínio sobre a criação, embora agora com uma nova dinâmica:

  • Domínio sobre os animais;
  • Permissão para comer carne;
  • Proibição de derramar sangue humano.
Permissão para comer carne

Pela primeira vez, Deus permite o consumo de carne, estabelecendo que “tudo o que se move e vive vos servirá de mantimento” (Gênesis 9:3).

No entanto, há uma restrição clara: “carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis” (Gênesis 9:4).

Domínio sobre os animais

O medo e o pavor da humanidade serão sobre todos os animais, que agora são sujeitos ao homem (Gênesis 9:2).

Ilustração de animais entrando na Arca
Ilustração de animais entrando na Arca
Proibição de derramar sangue humano

A vida humana é declarada sagrada. Deus estabelece que Ele demandará conta do sangue de qualquer ser humano que o derrame (Gênesis 9:5-6). A pena de morte para o assassinato é instituída:

“Quem derramar o sangue do homem, pelo homem terá o seu sangue derramado; porque, à imagem de Deus, fez o homem”

Gênesis 9:6

Este é um princípio fundamental para a manutenção da ordem social e para o reconhecimento do valor intrínseco da vida humana, criada à imagem de Deus [5].

A Promessa Central

A promessa central e mais proeminente da Aliança de Noé é a de que “nunca mais será exterminada toda a carne pelas águas do Dilúvio; e nunca mais haverá dilúvio para destruir a terra” (Gênesis 9:11). Esta é uma garantia de Deus da preservação da vida e da estabilidade das estações e ciclos naturais (Gênesis 8:22), permitindo que a história da salvação prossiga.

O sinal da Aliança de Noé: O Arco-Íris

Para selar e recordar a Aliança de Noé, Deus estabeleceu um sinal visível e perpétuo: o arco-íris no céu.

Significado do Arco-Íris

O arco-íris serve como um lembrete visual da promessa de Deus. Cada vez que ele aparece nas nuvens, Deus se lembra de Sua aliança com toda a carne e com a terra, e os seres humanos são também lembrados dessa promessa [1].

Teologicamente, o arco não é um arco de caça apontado para a terra com flechas de julgamento, mas um arco de guerra que foi pendurado no céu, apontando para longe da terra, simbolizando que a guerra de Deus contra a humanidade através do dilúvio havia cessado. Ele representa a paz e a misericórdia de Deus estendidas à criação.

“Este é o sinal da aliança que faço entre mim e vós e entre todos os seres viventes que estão convosco, por gerações perpétuas: porei o meu arco nas nuvens; será por sinal da aliança entre mim e a terra.”

Gênesis 9:12-17
Foto de um Arco-íris
Foto de um Arco-íris

Implicações teológicas da Aliança de Noé

A Aliança de Noé tem implicações profundas para a teologia e a compreensão da relação de Deus com o mundo.

Graça comum e sustentação da Criação

Uma das maiores implicações da Aliança de Noé é a doutrina da graça comum. A promessa de Deus de sustentar a ordem natural e preservar a vida na terra, independentemente da fé ou obediência humana, demonstra Sua bondade para com toda a humanidade e toda a criação [6].

Deus providencia chuva, sol e colheitas para todos, pecadores e justos (Mateus 5:45), garantindo a continuidade da vida e a possibilidade de redenção. A Aliança de Noé é a base para a existência contínua do mundo, permitindo que o plano redentor de Deus se desenrole.

A santidade da vida humana

A reafirmação da imagem de Deus no ser humano e a proibição de derramar sangue humano (Gênesis 9:6) estabelecem um fundamento inabalável para a ética da vida. A vida humana é sagrada porque cada pessoa reflete a imagem do Criador.

Este princípio é central para a justiça e a moralidade em todas as sociedades e tem sido um pilar na compreensão cristã da dignidade humana.

Continuidade e base para alianças posteriores

Embora incondicional e universal, a Aliança de Noé não substitui nem invalida as alianças posteriores. Pelo contrário, ela estabelece a base para elas.

A Aliança Noaica garante que a humanidade e o mundo persistirão, permitindo que a Aliança Abraâmica, Mosaica e Davídica se desenvolvam, culminando na Nova Aliança em Cristo.

Sem a preservação assegurada pela Aliança de Noé, a história da redenção não teria onde se desenrolar. O mundo é salvo da destruição total para que um Salvador possa vir.

Ilustração de Jesus Cristo curando um homem leproso
Ilustração de Jesus Cristo curando um homem leproso

Soberania e fidelidade de Deus

A Aliança de Noé é um poderoso testemunho da soberania e fidelidade de Deus. Ele é o Criador que estabelece a ordem, o Juiz que purifica e o Redentor que sustenta Sua criação por meio de promessas inquebráveis. A fidelidade de Deus à Sua promessa, simbolizada pelo arco-íris, assegura que Sua palavra é digna de toda confiança.

Aprenda mais

[Vídeo] Teológico | Bíblia & Teologia

[Vídeo] ALIANÇA DE NOÉ | SÉRIE MARANATHA | Leonardo Silva. Família JesusCopy.

Perguntas comuns

Nesta seção apresentamos as principais perguntas, com suas respectivas respostas, acerca desta aliança realizada por Deus com a humanidade após o Dilúvio.

O que foi a aliança Noética?

A Aliança Noética foi o pacto incondicional que Deus estabeleceu com Noé e toda a criação após o Dilúvio. Nela, Deus prometeu que nunca mais destruiria a Terra por meio de uma inundação. O arco-íris foi estabelecido como o sinal visível dessa aliança, reafirmando a preservação da vida.

Quais são as 3 alianças de Deus?

A Bíblia descreve diversas alianças divinas, mas as três tipicamente destacadas como estruturais no Antigo Testamento são: a Aliança Abraâmica (promessa de terra e descendentes), a Aliança Mosaica (a Lei no Monte Sinai) e a Aliança Davídica (promessa de um rei eterno no trono de Davi). Mas existem muitas outras alianças realizadas por Deus, como a com Noé e de Adão.

Fontes

[1] Bíblia Sagrada. Gênesis 6:5-7; 8:20-22; 9:10, 12, 16. Almeida Revista e Atualizada (ARA).

[2] Sailhamer, John H. The Pentateuch as Narrative: A Biblical-Theological Commentary. Grand Rapids, MI: Zondervan, 1992.

[3] Hasel, G. F. “Covenant (OT).” In The International Standard Bible Encyclopedia. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1979–1988.

Demais fontes

[4] Horton, Michael S. God of Promise: Introducing Covenant Theology. Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2006.

[5] Sproul, R. C. A Teologia do Pacto. São José dos Campos, SP: Fiel, 2011.

[6] Grudem, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo, SP: Vida Nova, 1999.

[7] Baker, Warren, and Eugene Carpenter. The Complete Word Study Dictionary: Old Testament. Chattanooga, TN: AMG Publishers, 2003.

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Débora da Teológico
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