Neste sermão “A diferença entre a predestinação e a graça”, Agostinho trata duas das doutrinas mais discutidas da teologia cristã, a predestinação dos eleitos e a graça do Senhor.
Informações sobre o sermão
Preletor: Aurélio Agostinho de Hipona
Texto base: Efésios 2:9-10
9 não por obras, para que ninguém se glorie.
10 Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos.
Efésios 2:9-10 (NVI)
Texto do sermão “A diferença entre a predestinação e a graça” de Agostinho de Hipona
Entre a graça e a predestinação existe unicamente esta diferença que a predestinação é uma preparação para a graça, e a graça é já a doação efetiva da predestinação.
E assim, o que diz o Apóstolo: “(a salvação) não provém das obras, para que ninguém se vanglorie; pois somos todos obra de Deus, criados no Cristo Jesus para realizar boas obras” (Efésios 2:9) significa a graça.
Mas o que segue: “as quais Deus de antemão dispôs para caminharmos nelas”, significa a predestinação, que não se pode dar sem a presciência, por mais que a presciência possa existir sem a predestinação.
Pela predestinação, Deus teve presciência das coisas que haveria de realizar; por isto; foi dito: “Ele fez o que ia ser” (Isaías 45).
Mas a presciência pode versar também sobre as coisas que Deus não faz, como o pecado – de qualquer espécie que seja.
Embora haja pecados que são castigos de outros pecados, conforme foi dito: “entregou-os Deus a uma mentalidade depravada, para que fizessem o que não convinha” (Romanos 1:28), não há nisto pecado per parte de Deus, mas justo juízo.
Portanto, a predestinação divina, que versa sobre o que é bom, e uma preparação, para graça, como já disse, sendo que a graça é efeito da predestinação.
Por isto, quando Deus prometeu a Abraão a fé de muitos povos, dentro de sua descendência, disse: “eu te fiz pai de muitas nações” (Gênesis 17:4), e o Apóstolo comenta: “assim é em virtude da fé, para que, por graça, seja a promessa estendida a toda a descendência” (Romanos 4:16): a promessa não se baseia na nossa vontade, mas sim na predestinação.
Deus prometeu, não o que os homens realizam, mas o que Ele mesmo havia de realizar.
Se os homens praticam boas obras no que se refere ao culto divino, provém de Deus cumprirem eles o que lhes mandou, não provém deles que Deus cumpra o que prometeu; de outro modo, teria provindo da capacidade humana, e não do poder divino, que se cumprissem as divinas promessas, irias em tal caso os homens teriam dado a Abraão o que Deus lhe prometera!
Não foi assim que Abraão creu; ele “creu, dando glória a Deus e convencido de que Deus era poderoso para realizar sua promessa” (Romanos 4:21).
O Apóstolo não emprega o verbo “predizer” ou “pré conhecer” (na verdade Deus é poderoso para predizer e pré-conhecer as coisas), mas ele diz: “poderoso para realizar”, e portanto, não obras alheias, mas suas.
Pois bem; porventura prometeu Deus a Abraão que em sua descendência haveria as boas obras dos povos, como coisa que Ele realiza, sem prometer também a fé – como se esta fosse obra dos homens? E então Ele teria tido, quanto a essa fé, apenas “presciência”? Não é certamente o que diz o Apóstolo, mas sim que Deus prometeu a Abraão filhos, os quais seguiriam suas pisadas no caminho da fé: isto o afirma claríssimamente.
Aprenda mais
[Livro] Confissões de Santo Agostinho – Edição de Luxo.
[Livro] Sobre o Sermão do Senhor na Montanha.
[Livro] Manual Bíblico. John MacArthur.
[Livro] Atlas Ilustrado da Bíblia. André Daniel Reinke.