Tirás

Tirás, filho de Jafé em Gênesis, elenca povos antigos, como Tirenos/Trácios. É vital para entender a diversidade pós-Dilúvio e seu papel teológico.

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11 minutos de leitura

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Tirás é um personagem bíblico mencionado no livro de Gênesis, listado como um dos sete filhos de Jafé. Sua presença nas Escrituras é breve, aparecendo nas genealogias pós-diluvianas que descrevem a formação das nações. Embora pouco se diga diretamente sobre sua vida, Tirás representa um elo fundamental na compreensão da diversidade dos povos antigos.

Ele integra a Tabela das Nações em Gênesis 10, que serve como um registro genealógico das origens da humanidade após o Dilúvio.

Este artigo explorará a sua identidade, suas possíveis conexões com povos antigos e o significado teológico de sua inclusão no texto sagrado.

Origem e família de Tirás

A história de Tirás começa com a narrativa do Dilúvio universal, um evento cataclísmico que resetou a humanidade.

Após a arca repousar no Monte Ararate, Noé e sua família iniciaram uma nova fase na história da civilização. Desses sobreviventes, descendem todos os povos da Terra.

Tirás é um dos netos de Noé, nascido de Jafé, um dos três filhos do patriarca.

Ele faz parte da “Tabela das Nações” (Gênesis 10), um documento que cataloga os descendentes de Noé e as diferentes culturas que surgiram a partir deles [1]. Essa lista é uma das mais antigas classificações étnicas conhecidas.

Ilustração de Tirás, filho de Jafé
Ilustração de Tirás, filho de Jafé

Jafé, o pai

Jafé é um dos três filhos de Noé, irmão de Sem e Cam. Ele foi um dos oito sobreviventes do Dilúvio, tendo entrado na arca com sua esposa e família [2]. Sua linhagem é abençoada por Deus, e sua descendência é associada à expansão e habitação em grandes territórios.

A benção de Noé sobre Jafé, registrada em Gênesis 9:27, fala sobre sua capacidade de habitar nas tendas de Sem [3]. Essa profecia tem sido interpretada como a expansão dos povos de origem jafética e sua influência sobre outras culturas. Jafé é o ancestral de muitas nações ocidentais.

Os irmãos de Tirás

Tirás teve seis irmãos, todos filhos de Jafé, cujos nomes também são listados na Tabela das Nações. Juntos, esses irmãos representam as origens de diversos povos e regiões do mundo antigo. Eles são: Gomer, Magogue, Madai, Javã, Tubal e Meseque [4]. Cada um deles é associado a diferentes grupos étnicos e geográficos.

Gomer

Gomer é tradicionalmente associado aos Cimérios, um povo nômade que habitou a região ao norte do Mar Negro.

Eles foram conhecidos por suas incursões militares e sua presença em diversas áreas da Ásia Menor e da Europa Oriental [5]. Suas terras se estendiam por vastas regiões.

Magogue

Magogue é frequentemente ligado aos citas, outro grupo de povos nômades que viviam nas estepes eurasianas.

As referências a Magogue em profecias posteriores, como em Ezequiel 38 e 39, o conectam a grandes e temíveis exércitos do norte [6]. Este nome evoca poder militar.

Ilustração de Magogue, descendente de Jafé
Ilustração de Magogue, descendente de Jafé

Javã

Javã é identificado como o ancestral dos jônios e de outros povos gregos. O termo “Javã” (Yavan) aparece em textos antigos para se referir à Grécia e aos seus habitantes [8]. Essa conexão é fundamental para entender a origem de culturas helênicas.

Tubal

Tubal é associado a povos que habitavam regiões ao redor do Mar Negro, especialmente na Ásia Menor.

Alguns estudiosos o ligam aos tibarenos, mencionados em textos gregos e assírios [9]. Eles eram conhecidos por suas habilidades metalúrgicas e comércio.

Madai

Madai é o progenitor dos medos, um povo que estabeleceu um império na antiga Pérsia, atualmente Irã.

Os medos foram aliados dos babilônios na queda do Império Assírio e tiveram uma influência considerável na política regional [7]. Seu nome é sinônimo de poder e organização.

Ilustração de Madai, filho de Jafé
Ilustração de Madai, filho de Jafé

Meseque

Meseque é frequentemente mencionado junto com Tubal e é associado aos moscos, um povo da Capadócia e regiões vizinhas. Assim como Tubal, Meseque está ligado ao comércio de metais e à atividade militar em profecias bíblicas [10]. Ambos os nomes aparecem em Ezequiel.

Tirás na Tabela das Nações

Tirás é o sétimo e último filho de Jafé listado em Gênesis 10:2 e 1 Crônicas 1:5 [11]. Sua menção, embora breve, é crucial para a abrangência da Tabela das Nações.

Este documento não é apenas uma genealogia, mas um mapa etnográfico das antigas civilizações conhecidas pelos hebreus.

A Tabela das Nações delineia a expansão dos descendentes de Noé, cobrindo grande parte do mundo conhecido na antiguidade.

Sua inclusão assegura que um segmento importante da humanidade seja representado. Ele representa um elo nas origens dos povos que habitavam regiões distantes do Levante.

A dispersão dos descendentes de Sem, Cam e Jafé (mapa do Livro Histórico e Atlas de Geografia Bíblica de 1854)
A dispersão dos descendentes de Sem, Cam e Jafé (mapa do Livro Histórico e Atlas de Geografia Bíblica de 1854)

História de Tirás: Conexões históricas e geográficas

A identidade dos “filhos de Jafé” tem sido objeto de muita pesquisa e especulação. As conexões de Tirás com povos antigos são propostas por muitos historiadores e comentaristas bíblicos. As principais hipóteses o ligam a povos que habitavam regiões do Mediterrâneo e da Europa Oriental [12].

Tirás e os Trácios

Outra importante teoria associa Tirás aos trácios, um povo indo-europeu que habitava a região dos Bálcãs, abrangendo partes da Bulgária, Romênia e Grécia moderna.

Os trácios eram conhecidos por sua bravura guerreira e sua rica cultura, com influências artísticas e religiosas [14].

Homero, em sua Ilíada, menciona os trácios como aliados de Troia, descrevendo-os como um povo numeroso e valente.

A proximidade geográfica da Trácia com a Anatólia, onde outros povos jaféticos como Gomer e Meseque se estabeleceram, fortalece essa hipótese [15]. A cultura trácia floresceu por séculos.

Peltaste Trácio, séculos V e IV a.C.
Peltaste Trácio, séculos V e IV a.C.

Tirás e os Tirenos/Tirsenos

Uma das teorias mais proeminentes conecta Tirás aos Tirenos (ou Tirsenos), um nome que os antigos gregos usavam para se referir aos etruscos, um povo da Itália central. Heródoto, o historiador grego, sugere que os etruscos eram originários da Lídia, na Ásia Menor, e que se estabeleceram na Itália [13].

A presença dos etruscos na Itália, conhecidos por sua avançada cultura e arte, é bem documentada. A conexão com Tirás sugere uma possível origem jafética para este povo influente. Isso posicionaria os descendentes de Tirás na bacia do Mediterrâneo ocidental.

Outras hipóteses

Além das conexões com os tirenos e trácios, alguns estudiosos propõem que Tirás poderia estar ligado a outros povos. Há sugestões que o associam a povos marítimos ou a grupos que se espalharam pela costa do Mar Egeu e além. A diversidade de interpretações demonstra a complexidade da arqueologia bíblica.

A falta de mais informações diretas na Bíblia permite diferentes conjecturas. No entanto, a força das evidências linguísticas e históricas para os tirenos e trácios faz delas as mais aceitas. Essas hipóteses tentam preencher as lacunas deixadas pelo texto bíblico.

Esta cena famosa da parede norte de Medinet Habu é usada frequentemente para ilustrar a campanha militar egípcia contra os povos do mar naquilo que veio ser conhecido como a Batalha do Delta.
Esta cena famosa da parede norte de Medinet Habu é usada frequentemente para ilustrar a campanha militar egípcia contra os povos do mar naquilo que veio ser conhecido como a Batalha do Delta.

Profecias sobre Tirás

Embora Tirás seja uma figura menor nas Escrituras, sua inclusão na Tabela das Nações é teologicamente significativa. Gênesis 10 não é apenas um registro histórico, mas uma demonstração da soberania de Deus sobre todas as nações da Terra. A linhagem de Jafé, incluindo Tirás, expandiu-se vastamente.

A benção de Jafé, “alargue Deus a Jafé, e habite nas tendas de Sem” (Gênesis 9:27), é um tema importante [3]. Essa promessa sugere que os descendentes de Jafé teriam um papel proeminente na história, talvez até mesmo influenciando os povos semitas espiritualmente. Tirás, como parte dessa linhagem, contribui para essa visão.

A Tabela das Nações reflete a providência divina na dispersão e formação dos povos. Cada ramo genealógico, incluindo o de Tirás, ilustra como Deus organizou o mundo pós-Dilúvio. Ele estabeleceu fronteiras e linguagens, mostrando um plano abrangente para a humanidade [16]. A diversidade de povos é parte desse plano.

Etimologia e significado de Tirás

O nome Tirás (em hebraico: תִּירָס, Tîrās) tem uma etimologia que, como a de muitos nomes antigos, é objeto de debate. Embora o significado exato não seja explicitamente declarado na Bíblia, estudiosos buscam pistas em línguas antigas e raízes semíticas [17].

Uma das interpretações mais aceitas conecta Tirás a termos que sugerem “desejo”, “delicadeza” ou “prazer”. No entanto, essas são inferências baseadas em possíveis raízes linguísticas, não em um consenso definitivo [18]. A falta de clareza é comum para nomes muito antigos.

É mais comum que os estudiosos se concentrem na associação de Tirás com os povos que ele supostamente gerou, como os tirenos ou trácios. Nessas associações, o nome funcionaria mais como um epônimo para um grupo étnico. Ele daria o nome a uma nação ou região [19]. Isso é comum em genealogias bíblicas.

A importância do nome Tirás, portanto, reside mais em sua função como um marcador genealógico e etnográfico. Ele identifica uma linha de descendência de Jafé que deu origem a povos específicos. Ele serve para conectar as narrativas bíblicas com a história dos povos do mundo antigo.

Aprenda mais

[Vídeo] Teológico | Bíblia & Teologia.

[Vídeo] A descendência dos filhos de Noé – Evidências. Rafael de Souza Araujo.

Perguntas comuns

Nesta seção apresentamos as principais perguntas, com as respostas, que as pessoas fazem sobre este personagem bíblico pouco lembrado na descendência de Jafé.

Quem era Tirás na Bíblia?

Tirás é uma figura mencionada na Tabela das Nações (Gênesis 10:2 e 1 Crônicas 1:5). Ele foi o filho mais novo de Jafé e, portanto, neto de Noé. Ele é tradicionalmente considerado o ancestral de um povo antigo, embora sua identificação exata seja debatida por historiadores.

Onde Tirás vivia?

A Bíblia não especifica onde Tirás viveu. Historiadores, como Flávio Josefo, tradicionalmente associam seus descendentes aos Trácios. Outras teorias os conectam aos Tirrenos (um nome para os Etruscos) ou a outros “Povos do Mar” que habitavam as costas e ilhas do Mar Egeu.

Fontes

[1] Gênesis 10:2 (Bíblia Sagrada, Almeida Corrigida Fiel – ACF).

[2] Gênesis 7:13 (ACF).

[3] Gênesis 9:27 (ACF).

Demais fontes

[4] Gênesis 10:2 (ACF).

[5] Wenham, Gordon J. Genesis 1-15. Word Biblical Commentary. Vol. 1. Dallas: Word, Inc., 1987. p. 211.

[6] Ezequiel 38:2-3 (ACF); Kidner, Derek. Genesis. Tyndale Old Testament Commentaries. Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1967. p. 110.

[7] Heródoto, Histórias, Livro VII, 62.

[8] Isaías 66:19 (ACF); Smith, William. Smith’s Bible Dictionary. Peabody, MA: Hendrickson Publishers, 2000. p. 302.

[9] Ezequiel 27:13 (ACF); Merrill, Eugene H. Genesis. The New American Commentary. Nashville: Broadman & Holman Publishers, 2000. p. 182.

[10] Ezequiel 38:2 (ACF); Walton, John H. Genesis. NIV Application Commentary. Grand Rapids, MI: Zondervan, 2001. p. 370.

[11] 1 Crônicas 1:5 (ACF).

[12] The New Unger’s Bible Dictionary. Ed. Merrill F. Unger. Chicago: Moody Press, 1988. p. 1286.

[13] Heródoto, Histórias, Livro I, 94.

[14] Strabo, Geografia, Livro VII, Capítulo 1.

[15] Homero, Ilíada, Livro II, 844-845.

[16] Atos 17:26 (ACF).

[17] Davidson, Benjamin. The Analytical Hebrew and Chaldee Lexicon. London: Bagster, 1848. p. 770.

[18] Strong, James. Strong’s Exhaustive Concordance of the Bible. Nashville: Abingdon, 1890. No. H8496.

[19] Matthews, Victor H. Genesis 1-11:26. The New American Commentary. Nashville: Broadman & Holman Publishers, 1996. p. 113.

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