Meseque é um dos personagens bíblicos mencionados nas genealogias iniciais da humanidade. Ele figura como um dos filhos de Jafé, neto de Noé, e sua linhagem contribui para a vasta “Tabela das Nações” em Gênesis.
Este nome, embora brevemente citado, carrega implicações significativas para a compreensão das origens dos povos. Sua relevância estende-se também a profecias posteriores.
Neste artigo apresentamos brevemente sua história e legado para a humanidade.
Nascimento e família de Meseque
A história de Meseque tem início após o Dilúvio, em um mundo que recomeçava a ser povoado.
Ele é apresentado como parte da primeira geração nascida após o grande evento que redefiniu a humanidade.
Sua aparição no texto bíblico está inserida no contexto da Tabela das Nações, em Gênesis 10:2 [1]. Esta genealogia é um registro crucial do povoamento da Terra.
Sua origem é fundamental para traçar a dispersão dos descendentes de Noé, delineando as diferentes famílias e grupos étnicos que viriam a formar as civilizações antigas.
A Bíblia não oferece detalhes sobre seu nascimento ou primeiros anos de vida. No entanto, sua inclusão entre os filhos de Jafé estabelece sua posição genealógica.

Jafé, pai
Jafé é um dos três filhos de Noé, ao lado de Sem e Cam. Ele foi poupado do Dilúvio, juntamente com sua família, por estar na Arca [2].
Sua descendência é associada a povos que se estabeleceram nas regiões do norte e oeste, principalmente na Europa e partes da Ásia. A benção de Noé sobre Jafé (Gênesis 9:27) sugere prosperidade e expansão.
Os descendentes de Jafé são frequentemente identificados como os povos indo-europeus em interpretações tradicionais.
Noé, avô
Noé é uma figura central na história do Dilúvio e na renovação da humanidade. Ele foi escolhido por Deus para construir a Arca e preservar a vida diante da corrupção generalizada da Terra [3]. Sua obediência resultou na salvação de sua família e de pares de todos os animais. Após o Dilúvio, Noé se tornou o patriarca de todas as nações.
A linhagem de Meseque, através de Jafé, remonta diretamente a Noé. Isso o conecta a um ponto de recomeço para a humanidade. Noé também plantou a primeira vinha e experimentou o vinho, episódio que levou à maldição de Cam e à bênção de Sem e Jafé. Sua vida marca a transição de um mundo antigo para um novo início.
Irmãos de Meseque
Meseque tinha seis irmãos, todos filhos de Jafé, conforme Gênesis 10:2: Gômer, Magogue, Madai, Javã, Tubal e Tirás [1]. Cada um deles deu origem a distintas nações e povos do mundo antigo. A “Tabela das Nações” em Gênesis 10 é um panorama etnográfico. Ela mapeia a dispersão da humanidade após o Dilúvio.
- Gômer: Frequentemente associado aos cimérios, um povo nômade que habitava a região do Mar Negro [4].
- Magogue: Muitas vezes ligado aos citas, outro povo nômade do norte, ou com associações proféticas de nações hostis [5].
- Madai: Considerado o ancestral dos medos, um antigo império que se uniu aos persas [6].
- Javã: Identificado como o pai dos povos gregos e jônicos, conhecidos por sua cultura marítima [7].
- Tubal: Frequentemente mencionado junto com Meseque, associado a povos metalúrgicos na Anatólia e Cáucaso [8].
- Tirás: Sugere ser o ancestral dos tirsenos, ou etruscos, na Itália, ou de povos relacionados na Trácia [9].
Meseque na Tabela das Nações
A inclusão de Meseque na Tabela das Nações (Gênesis 10) é um ponto teológico relevante. Esta lista genealógica não é apenas um registro de parentescos.
Ela é um documento que traça a origem comum de toda a humanidade a partir de Noé [10]. Ele representa uma dessas ramificações. Ele contribui para a diversidade de povos na Terra.
A Tabela de Nações demonstra que, apesar das divisões linguísticas e geográficas, todos os povos descendem de uma única família. Este é um princípio fundamental para a teologia bíblica da unidade humana.
Cada nome na lista simboliza a fundação de uma nova família. Esta família, por sua vez, se expandiu para se tornar uma nação [11]. Ele é parte integrante dessa narrativa de origem.
Sua menção em Gênesis 10 serve como uma fundação histórica e genealógica. Ela prepara o palco para as futuras interações entre Israel e as nações vizinhas.
A Tabela das Nações ressalta a soberania de Deus sobre a história. Ele organiza o destino dos povos mesmo antes de sua formação completa. Meseque, assim, tem um papel nessa visão cósmica.

Meseque nas profecias de Ezequiel
O nome de Meseque ganha uma dimensão mais profunda nas profecias do livro de Ezequiel. Aqui, Meseque não é apenas um ancestral distante. Ele é identificado como uma nação proeminente e uma força militar significativa na geografia profética [12]. Suas menções em Ezequiel o ligam a outras nações do norte.
Meseque como potência comercial
Em Ezequiel 27:13, Meseque é mencionado em um contexto comercial. O profeta descreve Tiro, uma cidade portuária rica, e seus parceiros comerciais.
“Javã, Tubal e Meseque negociavam contigo; trocavam escravos e utensílios de bronze por tuas mercadorias” [13]. Essa passagem revela a economia e os recursos associados a ele.
A venda de “escravos e utensílios de bronze” sugere que ele era uma região rica em minérios e mão de obra. Isso indica sua habilidade na metalurgia.
Também aponta para uma sociedade com estrutura para atividades comerciais. Essa atividade mercantil demonstra a extensão de sua influência econômica. Ele era um parceiro importante no comércio antigo.

Meseque na lamentação pelos príncipes
Ezequiel 32:26-27 inclui Meseque na lamentação sobre a queda do Egito. O texto descreve os líderes caídos que jazem entre os incircuncisos, na cova. “Ali está Meseque e Tubal, com toda a sua multidão ao redor deles” [14]. Isso os retrata como potências que caíram, apesar de sua força passada.
A referência a ele e Tubal em conjunto reforça sua estreita ligação histórica e geográfica. Eles são agrupados como nações de guerreiros que foram derrotados. Este trecho serve como um aviso profético para o Egito. Ele mostra que mesmo as nações mais poderosas podem ser humilhadas pelo julgamento divino. Ele simboliza o fim da arrogância das nações.
Meseque em Gog e Magogue
As passagens mais extensas sobre Meseque estão nos oráculos de Ezequiel contra Gogue (Ezequiel 38-39). Aqui, ele é descrito como um príncipe de Ros, Meseque e Tubal [15]. Ele é um componente central da coalizão que atacará Israel nos últimos dias. Essa profecia tem implicações escatológicas importantes.
Ele é retratado como uma nação militar formidável, parte de uma ameaça vinda do “extremo norte”. “Assim diz o Senhor Deus: Eis que eu sou contra ti, ó Gogue, príncipe e chefe de Meseque e de Tubal” [16].
Este exército é reunido por Deus para Seus próprios propósitos. Eles servem para manifestar a Sua santidade entre as nações.
A profecia de Gogue e Meseque serve para reafirmar a soberania de Deus sobre a história. Mesmo as nações mais temíveis estão sob Seu controle.
O ataque dele e seus aliados falhará espetacularmente. Isso resultará na glória de Deus sendo manifestada a todas as nações [17]. Ele, portanto, tem um papel nos planos divinos.

Identificação histórica e geográfica de Meseque
A identificação histórica de Meseque tem sido objeto de estudo para arqueólogos e historiadores. A maioria dos estudiosos associa ele ao povo conhecido como Mushki (ou Mušku) nos registros assírios [18]. Os Mushki foram um povo influente na Anatólia oriental, uma região que hoje corresponde à Turquia moderna.
Esses Mushki são frequentemente ligados aos frígios, um reino poderoso na Anatólia. Eles tinham uma capital em Gordião. O reino frígio floresceu entre os séculos XII e VII a.C. [19].
A localização e o período dos Mushki-Frígios correspondem bem às descrições bíblicas dele. Eles eram notórios por sua habilidade na metalurgia.
Os Mushki eram conhecidos por seus conflitos e interações com o Império Assírio. Reis assírios como Tiglate-Pileser I (século XII a.C.) e Sargão II (século VIII a.C.) registraram campanhas militares contra eles [20].
Essa associação com uma potência militar e comercial no norte da região do Oriente Médio valida o retrato bíblico.

Meseque e Tubal
As referências a Meseque e Tubal frequentemente aparecem juntas tanto na Bíblia quanto em fontes extrabíblicas. Tubal é geralmente identificado com o povo Tibareni ou Tabal, também na Anatólia [21]. A proximidade geográfica e cultural desses dois povos é consistente. Ela reforça a imagem de uma aliança regional poderosa, como descrito em Ezequiel.
A presença de Meseque e Tubal como potências do norte na mente dos profetas bíblicos reflete a realidade geopolítica da época. Eles representavam uma força formidável e, por vezes, uma ameaça potencial para Israel. Sua inclusão nas profecias de Ezequiel sublinha a universalidade do plano divino. Este plano se estende a todas as nações.
Etimologia e significado de Meseque
O nome Meseque (em hebraico, מֶשֶׁךְ, Meshekh) tem uma etimologia que sugere múltiplos significados. A raiz hebraica pode estar ligada a verbos como “trazer”, “arrastar” ou “possuir” [22]. Isso pode indicar a ideia de “posse” ou de um “longo arrastar”. Também pode aludir à extensão de um povo ou território.
Em alguns contextos, Meseque foi interpretado como “preço” ou “valioso”. Essa interpretação se alinha com a descrição dele como um povo comerciante em Ezequiel 27.
Eles negociavam bens valiosos como bronze e escravos [13]. Outros estudiosos sugerem uma conexão com “príncipe” ou “chefe”, especialmente em virtude de sua menção como líder em Ezequiel 38:2-3 [15].
A conexão com os Mushki da Anatólia reforça a plausibilidade desses significados. Um povo influente e bem estabelecido poderia ser descrito com termos que denotam posse ou liderança. A riqueza em recursos naturais e sua proeminência militar consolidam essa imagem. Meseque, portanto, não é apenas um nome. Ele evoca a identidade de uma nação.
Aprenda mais
[Vídeo] Teológico | Bíblia & Teologia.
[Vídeo] A descendência dos filhos de Noé – Evidências. Rafael de Souza Araujo.
Perguntas comuns
Nesta seção apresentamos as principais perguntas, com as respostas, que as pessoas fazem sobre este personagem bíblico pouco lembrado na descendência de Jafé.
Onde ficava o Meseque na Bíblia?
Meseque não era uma cidade, mas um povo e uma região associados aos descendentes de Jafé. A maioria dos historiadores o localiza na Anatólia (atual Turquia), provavelmente na área montanhosa perto da costa do Mar Negro, sendo frequentemente mencionado junto com seu vizinho, Tubal.
Qual o significado de Meseque?
O significado exato do nome Meseque (em hebraico: מֶשֶׁךְ, Meshek) é incerto. Algumas teorias sugerem uma raiz que significa “tirar” ou “puxar”, talvez se referindo a comércio. Contudo, seu uso principal na Bíblia é para identificar um povo descendente de Jafé.
O que é Meseque e Quedar na Bíblia?
Mencionados juntos no Salmo 120:5, Meseque e Quedar são usados como uma metáfora para o exílio em meio a povos hostis. Meseque representa um povo distante ao norte (Anatólia), e Quedar, as tribos nômades da Arábia. Juntos, simbolizam um ambiente bárbaro e longe de Deus.
Quem são Meseque e Tubal?
Meseque e Tubal são filhos de Jafé, listados na Tabela das Nações em Gênesis 10. Eles representam povos que habitaram a Anatólia (Turquia). Em Ezequiel, são descritos como nações guerreiras do norte que comerciavam bronze e escravos, e que se aliariam a Gogue na batalha final.
Fontes
[1] Gênesis 10:2 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).
[2] Gênesis 9:27 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).
[3] Gênesis 6-9 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).
Demais fontes
[4] Block, Daniel I. The Book of Ezekiel, Chapters 25-48. The New International Commentary on the Old Testament. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1998. p. 450. (Contexto de Gômer).
[5] Hamilton, Victor P. The Book of Genesis, Chapters 1-17. The New International Commentary on the Old Testament. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1990. p. 343. (Contexto de Magogue).
[6] Easton, Matthew George. Easton’s Bible Dictionary. New York: Harper & Brothers, 1897. “Madai”.
[7] Wenham, Gordon J. Genesis 1-15. Word Biblical Commentary. Vol. 1. Dallas: Word, Inc., 1987. p. 210. (Contexto de Javã).
[8] Allen, M. Tubal. In New Unger’s Bible Dictionary. Chicago: Moody Press, 1988.
[9] Kidner, Derek. Genesis. Tyndale Old Testament Commentaries. Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1967. p. 110. (Contexto de Tirás).
[10] Wenham, Gordon J. Genesis 1-15. Word Biblical Commentary. Vol. 1. Dallas: Word, Inc., 1987. p. 207-208.
[11] Hamilton, Victor P. The Book of Genesis, Chapters 1-17. The New International Commentary on the Old Testament. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1990. p. 341-342.
[12] Block, Daniel I. The Book of Ezekiel, Chapters 25-48. The New International Commentary on the Old Testament. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1998. p. 448.
[13] Ezequiel 27:13 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).
[14] Ezequiel 32:26 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).
[15] Ezequiel 38:2-3 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).
[16] Ezequiel 38:1-16 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).
[17] Ezequiel 39:1-8 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).
[18] Singer, Itamar. The Mushki, the Phrygians and the Cities of the Anatolian Interior. Tel Aviv 35 (2008), 263-277.
[19] Akurgal, Ekrem. Phrygian Art. Ankara: Türk Tarih Kurumu Basımevi, 1955. p. 2-3.
[20] Pritchard, James B. (ed.). Ancient Near Eastern Texts Relating to the Old Testament. Princeton: Princeton University Press, 1969. p. 275-276 (para registros de Tiglate-Pileser I).
[21] Strong, James. Strong’s Exhaustive Concordance of the Bible. Nashville: Thomas Nelson, 1990. H2909 “Tubal”.
[22] Strong, James. Strong’s Exhaustive Concordance of the Bible. Nashville: Thomas Nelson, 1990. H4902 “Meshech”.
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