José de Nazaré é um dos homens mais importantes na narrativa do nascimento de Jesus Cristo. Embora seja um homem pouco mencionado nos Evangelhos, seu papel como o esposo de Maria e o pai terreno de Jesus é de extrema importância.
Ele é apresentado como um carpinteiro, um homem justo e obediente a Deus. Sua história, contada em Mateus e Lucas, demonstra uma fé silenciosa, mas profunda.
Neste artigo apresentamos a vida, a família e o legado teológico deste homem escolhido por Deus para uma tarefa singular.
Origem e família de José de Nazaré
A história de José de Nazaré começa em um período de grande expectativa e opressão para o povo judeu. Ele vivia em Nazaré, uma pequena e, ao que parece, insignificante aldeia na região da Galileia (João 1:46).
Esta área era conhecida por sua população mista. Por vezes, era desprezada pelas elites religiosas de Jerusalém.
Ele vivia sob a ocupação do Império Romano. O contexto político era tenso, com Herodes, o Grande, governando como um rei-cliente de Roma. Havia uma forte esperança messiânica entre os judeus. Muitos aguardavam um libertador político-militar da linhagem de Davi.
Mateus e Lucas, embora apresentem genealogias diferentes, concordam em um ponto. Ele era um descendente legal do Rei Davi (Mateus 1:16; Lucas 3:23).
Isso era uma condição necessária para que seu filho legal, Jesus, pudesse cumprir as profecias do Antigo Testamento sobre o Messias.
Ele é apresentado como um “tekton” (Marcos 6:3). Esta palavra grega significa mais do que apenas “carpinteiro” [1]. Pode incluir ofícios de artesão, pedreiro ou construtor. Era um trabalhador manual, o que sugere uma vida mais modesta, nem rica e nem miserável.

Jacó (ou Heli), pai
A identidade do pai de José de Nazaré apresenta um conhecido debate teológico. O Evangelho de Mateus afirma: “Jacó gerou a José, marido de Maria” (Mateus 1:16).
O Evangelho de Lucas, por outro lado, lista a genealogia. Ele diz que Jesus “era, como se cuidava, filho de José, e este de Heli” (Lucas 3:23).
Teorias sobre a paternidade de José
Várias teorias tentam harmonizar essas duas linhagens. Uma visão antiga, proposta por Sexto Júlio Africano, sugere um casamento levirato [2]. Nesta visão, Jacó e Heli seriam meio-irmãos.
Se Heli morreu sem filhos, Jacó teria se casado com sua viúva. O objetivo seria gerar um herdeiro legal para Heli. Assim, Jacó seria o pai biológico, e Heli o pai legal.
Outra interpretação comum é que a genealogia de Mateus segue a linhagem legal e real de Cristo. Enquanto isso, a de Lucas seguiria a linhagem de sangue de Maria [3].
Nesse caso, Heli seria o pai de Maria. O texto grego de Lucas é ambíguo e poderia ser lido como “filho [por lei] de Heli”.

Mãe de José de Nazaré
A Bíblia não menciona o nome da mãe de José de Nazaré. Ela permanece uma figura anônima nas Escrituras. Sua existência é inferida, mas nenhum detalhe sobre sua vida é fornecido nos evangelhos canônicos.
Tradições posteriores, encontradas em textos apócrifos, tentaram preencher essa lacuna descrevendo que o nome de sua mãe era Ana.
Contudo, este texto é tardio (datado entre os séculos VI e VII). Não é considerado historicamente confiável [4]. Na perspectiva bíblica, o foco permanece firmemente em sua descendência paterna de Davi.
Maria, esposa
Maria é a figura feminina central da natividade e esposa de José. Ela também era da tribo de Judá. Segundo a tradição, ela era possivelmente descendente de Davi, assim como seu noivo [5].
O noivado judaico (kiddushin) era um compromisso legal muito mais sério que o noivado moderno. Era o primeiro estágio do casamento, legalmente vinculativo.
A infidelidade durante este período era tratada como adultério (Deuteronômio 22:23-24).
Foi durante este noivado, antes da festa de casamento (nissu’in), que Maria recebeu o anúncio do anjo Gabriel. Foi quando ela concebeu Jesus pelo Espírito Santo (Lucas 1:26-38).

Jesus Cristo, filho (legal)
Jesus Cristo é o centro de toda a Bíblia, o próprio Deus encarnado que se fez homem para viver entre a Sua Criação e pagar o preço do pecado para reconciliar a humanidade com o Senhor.
Ele foi criado foi José e Maria. Iniciou seu ministério com 30 anos, impactando toda a região em que viveu, as regiões vizinhas e deixou como legado uma Igreja que segue pregando seus ensinamentos, levando outras pessoas a conversão e conhecimento da obra salvadora Dele.
Outros filhos (Tiago, José, Simão, Judas)
Os Evangelhos mencionam que Jesus tinha “irmãos” e “irmãs” (Marcos 6:3; Mateus 13:55-56). Os nomes dos irmãos são: Tiago, José (ou Josés), Simão e Judas. A identidade desses irmãos, assim como suas histórias, é um ponto de debate.
A visão protestante, baseada em uma leitura direta do texto, entende que estes eram filhos mais novos de dos pais de Jesus. A palavra grega adelphos (irmão) é usada [6]. O contexto sugere uma família nuclear.
Outras tradições (Católica e Ortodoxa) propõem visões diferentes. Elas o fazem para proteger a doutrina da virgindade perpétua de Maria. Uma visão de Epifânio diz que eles eram filhos de José de um casamento anterior [7].
Outra visão (de Jerônimo) argumenta que adelphos pode significar “primos” [7]. No entanto, a interpretação mais natural do texto aponta para irmãos mais novos, nascidos do casal.
História de José
A história bíblica de José começa após Maria se encontrar grávida pelo Espírito Santo, sendo ainda sua noiva e antes de viverem juntos. Segundo a Lei Mosaica, e a visão dos homens, isso poderia ser considerado adultério e punido com apedrejamento.
Para não expor sua noiva, e demonstrando compaixão, ele decidiu se divorciar de Maria em segredo, evitando seu apedrejamento.
A visita do anjo
Enquanto José ponderava sobre essa decisão, Deus interveio diretamente. Um anjo do Senhor apareceu a ele declarando “José, filho de Davi”. Esta saudação é vista como um lembrete de sua linhagem real e do propósito profético de sua família.
Ao longo da conversa, o anjo lhe explicou que Maria estava grávida do Espírito Santo, e que a criança era o Messias prometido no Antigo Testamento.
“Não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo”
Mateus 1:20
O anjo também lhe instruiu a chamar a criança de Jesus, que significa “Deus salva”. Após isso, ele se casou com Maria e se absteve de relações até o nascimento de Jesus.

O recenseamento e a viagem para Belém
A narrativa do nascimento de Jesus é encontrada no Evangelho de Lucas. O contexto é político. Um decreto do imperador romano, César Augusto, exigia um recenseamento de “todo o mundo” (Lucas 2:1).
Este decreto exigia que cada pessoa fosse registrada em sua cidade de origem. Para José, isso significava uma jornada longa e difícil. Ele teve que deixar Nazaré, na Galileia, e viajar para o sul, até Belém, na Judeia.
A razão dessa viagem era sua linhagem. Ele foi “porque era da casa e família de Davi” (Lucas 2:4). Belém era a cidade natal de Davi. O decreto romano, sem o saber, se tornou o instrumento de Deus. Ele serviu para cumprir a profecia de Miquéias 5:2, que afirmava que o Messias nasceria em Belém.
A jornada de Nazaré a Belém tem cerca de 150 quilômetros. A pé ou em um jumento, a viagem teria levado muitos dias, talvez uma semana [9]. A viagem foi difícil, especialmente para Maria, que estava nos últimos dias de sua gravidez.
O nascimento de Jesus
Ao chegarem a Belém para o recenseamento, a cidade estava lotada, e não encontraram lugar para eles na “estalagem” (Lucas 2:7).
A palavra grega katalyma sugere que o “quarto de hóspedes” de um parente estava cheio [10].
Forçados a se abrigar em um local destinado a animais, Maria deu à luz um menino.
O texto diz que Maria “envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura” (Lucas 2:7). A manjedoura, um cocho de onde os animais comiam, se tornou o primeiro berço do Messias.
José testemunhou o cumprimento das palavras do anjo em um estábulo rodeado de animais.

Visita dos pastores
A primeira visita que receberam não foi da realeza ou de líderes religiosos. Foram pastores locais, que estavam no campo vigiando seus rebanhos (Lucas 2:8). Um anjo lhes apareceu, anunciando o nascimento do Salvador em Belém.
Os pastores foram e encontraram “Maria, e José, e o menino deitado na manjedoura” (Lucas 2:16). Ele e Maria ouviram o testemunho dos pastores sobre a mensagem angelical.
A circuncisão e a nomeação
Conforme a Lei de Moisés, todo menino judeu deveria ser circuncidado ao oitavo dia (Levítico 12:3). José cumpriu essa obrigação. No oitavo dia, o menino foi circuncidado.
“foi-lhe dado o nome de JESUS, que pelo anjo lhe fora posto antes de ser concebido”
Lucas 2:21
Este foi o cumprimento formal da ordem que ele recebeu em seu sonho (Mateus 1:21). Ele assumiu a paternidade plena de Jesus perante a lei e a sociedade.
A apresentação de Jesus no Templo
Quarenta dias após o nascimento de Jesus, o casal foi ao Templo em Jerusalém para cumprir a Lei (Lucas 2:22; Levítico 12). Eles realizaram o rito de purificação de Maria e a apresentação do filho primogênito.
A oferta que fizeram, “um par de rolas ou dois pombinhos” (Lucas 2:24), era a concessão que a Lei permitia aos pobres (Levítico 12:8). Este detalhe confirma a condição humilde de da família [12].
O Testemunho de Simeão
Enquanto estava no Templo, José testemunhou dois encontros proféticos. O primeiro foi com um homem “justo e temente a Deus” chamado Simeão (Lucas 2:25). O Espírito Santo havia revelado a Simeão que ele não morreria antes de ver o Messias.
Guiado pelo Espírito, Simeão pegou o menino Jesus nos braços e louvou a Deus. Ele declarou que Jesus era a “salvação” de Deus. Ele era “luz para alumiar as nações, e para glória do teu povo Israel” (Lucas 2:30-32). Eles “se maravilharam” com o que foi dito (Lucas 2:33).
Simeão então se dirigiu diretamente a eles. Ele abençoou o casal. Depois, deu uma palavra profética a Maria. Ele disse que Jesus estava destinado “para queda e elevação de muitos em Israel”.
Ele seria um “sinal que é contraditado” (Lucas 2:34). Ele também advertiu que “uma espada traspassará também a tua própria alma” (Lucas 2:35).

Profetisa Ana
Logo depois, uma profetisa idosa chamada Ana aproximou-se. Ela servia no Templo dia e noite (Lucas 2:37). Ela também reconheceu a criança e “dava graças a Deus”. Ela “falava dele a todos os que esperavam a redenção em Jerusalém” (Lucas 2:38).
A visita dos reis magos
O Evangelho de Mateus (cap. 2) relata a visita dos Magos do Oriente, que pode ter ocorrido até dois anos após o nascimento de Jesus. Seguindo uma estrela, eles buscaram o “nascido rei dos judeus”, o que perturbou o Rei Herodes. Herodes os enviou a Belém, fingindo que também queria adorar o menino.
A estrela os guiou até uma “casa” (Mateus 2:11), sugerindo que José já havia encontrado uma moradia. Os Magos adoraram Jesus e ofereceram ouro (para um rei), incenso (para adoração) e mirra (prenunciando seu sacrifício). Esses presentes valiosos provavelmente financiaram a subsequente fuga da família para o Egito.
A fuga para o Egito
Após a partida dos Magos, Herodes percebeu que foi enganado (Mateus 2:12) e, furioso, ordenou o “Massacre dos Inocentes” (Mateus 2:16).
Para proteger a criança, um anjo apareceu a José em sonho, instruindo-o a fugir para o Egito, pois Herodes procurava matar Jesus (Mateus 2:13).
Ele obedeceu imediatamente, partindo “de noite” (Mateus 2:14). Eles viveram como refugiados no Egito, um local seguro fora da jurisdição de Herodes [13], até a morte do rei, o que, segundo Mateus, cumpriu a profecia “Do Egito chamei o meu Filho” (Mateus 2:15).

O retorno para Galileia, e moradia em Nazaré
Após a morte de Herodes, em 4 a.C., um anjo apareceu a José em um terceiro sonho, instruindo-o a retornar com a família para Israel (Mateus 2:19-20).
Ele obedeceu, mas ao saber que Arquelau agora governava a Judeia, ele “temeu ir para lá” (Mateus 2:22). Sendo avisado em um sonho para evitar a região, ele demonstrou discernimento prático e se desviou para a Galileia, estabelecendo-se de volta em Nazaré. Mateus (2:23) conecta essa mudança ao cumprimento da profecia: “Ele será chamado Nazareno”.
Vida de José em Nazaré
Os Evangelhos não detalham os “anos silenciosos” de Jesus, entre seu nascimento e o início de seu ministério.
Durante esse tempo, José cumpriu seu papel de pai, sustentando a família como tekton (artesão/carpinteiro) e provendo a educação religiosa de Jesus, ensinando-lhe a Torá (Deuteronômio 6:6-7).
Jesus aprendeu o ofício de seu pai, sendo mais tarde identificado como “o carpinteiro” (Marcos 6:3). Lucas (2:40) resume esse período como um tempo em que Jesus crescia e se fortalecia em sabedoria e graça.
A visita à Jerusalém
O único relato canônico da infância de Jesus (Lucas 2:41-52) é a visita ao Templo aos doze anos. Como era costume, José e Maria, em sua piedade, levaram-no a Jerusalém para a Páscoa.
Na viagem de volta, presumiram que Jesus estava na caravana e só notaram sua ausência após um dia. Eles retornaram ansiosamente a Jerusalém e, após três dias, encontraram-no no Templo, ouvindo e interrogando os doutores, que se admiravam de sua sabedoria.
Maria expressou a aflição do casal (“teu pai e eu ansiosamente te procurávamos”), ao que Jesus respondeu: “Não sabíeis que me convinha tratar dos negócios de meu Pai?” (Lucas 2:49), distinguindo seu Pai celestial de seu pai terreno.
Embora não tenham compreendido suas palavras, Jesus voltou a Nazaré com eles e “era-lhes sujeito” (Lucas 2:51).
Este é o último evento em que José de Nazaré é mencionado nos Evangelhos.

A morte de José de Nazaré
A Bíblia não registra a morte de José de Nazaré, que desaparece da narrativa após Jesus ter doze anos. A inferência histórica e teológica mais comum é que ele morreu antes do início do ministério público de Jesus.
Essa conclusão é apoiada por três evidências bíblicas:
- A ausência de menções a ele em eventos como as Bodas de Caná (João 2);
- Jesus ser chamado de “filho de Maria” (Marcos 6:3), sugerindo que ele já havia falecido;
- Jesus, na cruz, confiar o cuidado de Maria ao apóstolo João (João 19:26-27), um ato que indica que Maria era viúva.
Textos apócrifos, embora não históricos, narram sua morte antes do início do ministério de Jesus [4]. A maior parte dos escritos descrevem sua morte durante infância de Cristo.
O Caráter e a Teologia de José de Nazaré
Embora José de Nazaré não tenha uma única palavra registrada nos Evangelhos, seu caráter é revelado inteiramente por suas ações. Ele é um exemplo de fé, obediência e retidão.
O homem justo (Dikaios)
A descrição chave de José é “justo” (dikaios) (Mateus 1:19). Este termo, vindo do hebraico tzaddik, descreve alguém que está em um relacionamento correto com Deus. É alguém que obedece à Sua Lei não apenas externamente, mas com um coração devoto.
Sua justiça, não era a justiça auto-justificativa dos fariseus criticados por Jesus. Era uma retidão temperada pela compaixão (eleos, misericórdia). Ele buscou cumprir a Lei (divorciando-se). Ao mesmo tempo, buscou a misericórdia (fazendo-o secretamente).
Ele antecipou o ensinamento de seu próprio filho adotivo, Jesus. Jesus ensinaria que a misericórdia é mais importante que o sacrifício (Mateus 9:13).

O homem obediente
A característica mais marcante de José é sua obediência imediata e inquestionável a Deus. Quatro vezes ele recebeu mensagens de Deus em sonhos. E quatro vezes ele agiu sem hesitação.
- Ele foi instruído a tomar Maria como esposa (Mateus 1:24).
- Ele foi instruído a fugir para o Egito (Mateus 2:14).
- Ele foi instruído a retornar a Israel (Mateus 2:21).
- Ele foi instruído a se desviar para a Galileia (Mateus 2:22).
Em cada caso, a ordem exigia grande fé e sacrifício pessoal. Ele arriscou sua reputação, seu sustento e sua segurança. José é um modelo de fé que age.
Ele é o oposto do profeta Jonas, que fugiu da palavra de Deus. José correu para obedecer, mesmo quando a ordem era difícil ou perigosa.
O “Filho de Davi”
O papel teológico de José é ser o “Filho de Davi”. A saudação do anjo (Mateus 1:20) confirma seu papel. A promessa de Deus a Davi era de que um descendente seu se sentaria no trono para sempre (2 Samuel 7:12-16).
Essa promessa parecia perdida para muitos. A linhagem real havia caído na obscuridade. Havia sido reduzida a um simples artesão em uma aldeia desprezada.
Através da adoção legal de Jesus, José de Nazaré forneceu o elo legal indispensável. Ele conectou Jesus, o Filho de Deus, à linhagem real de Davi, o rei de Israel.
Sem José, o cumprimento da profecia messiânica de Jesus estaria legalmente incompleto. José garantiu que Jesus fosse, por direito, o Rei dos Judeus.

O pai terreno
José de Nazaré representa um modelo de paternidade. Ele não era o pai biológico. Mas ele cumpriu todas as funções de um pai temente a Deus.
Ele foi o protetor de Jesus. Ele o salvou da fúria de Herodes, agindo como um escudo.
Ele foi o provedor de Jesus. Ele sustentou a família com seu trabalho no Egito e em Nazaré.
Ele foi o professor (rabi) de Jesus. Ele o ensinou a Torá, as orações de Israel e um ofício honrado.
Ele demonstrou que a paternidade não é definida apenas pela biologia. Ela é definida pelo amor, sacrifício, responsabilidade e discipulado fiel.
José de Nazaré em textos Extrabíblicos
O silêncio da Bíblia sobre a maior parte da vida de José levou a uma explosão de narrativas em textos apócrifos. Esses textos não são Escritura. Mas eles mostram o desejo da igreja primitiva de saber mais sobre ele.
É importante notar que muitas dessas histórias foram escritas séculos depois. Elas contêm elementos lendários e teologias que se afastam da perspectiva bíblica canônica.
O Evangelho de Tiago (Protoevangelho)
Este texto do século II foca principalmente em Maria, mas menciona José [9]. Ele o retrata como um homem muito mais velho. Seria um viúvo com filhos de um casamento anterior.
Quando Maria é designada para ser cuidada por um guardião do templo, José é escolhido por sorteio. Ele inicialmente protesta, dizendo: “Eu tenho filhos, e sou um homem velho, enquanto ela é uma jovem” [9].
Esta tradição de José como um viúvo idoso tornou-se muito popular. Ela servia a dois propósitos teológicos para algumas tradições.
Primeiro, explicava os “irmãos” de Jesus (como sendo meio-irmãos).
Segundo, reforçava a virgindade de Maria, sugerindo que José era mais um guardião do que um marido.

A “História de José, o Carpinteiro”
Este texto copta, provavelmente do Egito (séculos VI-VII), é uma longa narrativa [4]. Fala sobre a vida e a morte de José, contada pelo próprio Jesus aos seus discípulos.
O texto reitera a ideia de José ser um viúvo idoso. Ele afirma que José se casou com Maria aos 90 anos.
A maior parte do texto é um relato detalhado da morte de José aos 111 anos. Ele descreve o medo de José da morte. Mostra como Jesus e Maria o consolaram.
Jesus repreende os anjos da morte e promete a José que seu corpo não verá decomposição. Embora considerado fictício, este texto foi muito influente na veneração de José. Ele o estabeleceu como o santo padroeiro da “boa morte” [10].
José em outras tradições cristãs
Embora o foco deste artigo seja uma perspectiva bíblica, é informativo entender como José de Nazaré é visto em outras tradições. Isso afeta a cultura e a história.
Na tradição católica romana
A veneração a José se desenvolveu lentamente. Nos primeiros séculos, ele foi ofuscado por Maria e os mártires [17].
Sua popularidade cresceu na Idade Média. Teólogos como Jean Gerson (século XV) promoveram sua devoção [18]. Os papas aumentaram sua importância.
Ele foi declarado “Patrono da Igreja Universal” (Pio IX, 1870) [19]. O Papa Pio XII estabeleceu a festa de “São José Operário” em 1º de maio (1955).
A data foi escolhida para cristianizar o Dia Internacional do Trabalhador [20] O Papa João XXIII inseriu o nome de José no Cânon Romano (Oração Eucarística I) em 1962 [21].

Na tradição ortodoxa oriental
A Igreja Ortodoxa também venera José. Eles se referem a ele como “São José, o Noivo” (ou “Prometido”). Eles celebram sua festa, juntamente com o Rei Davi e Tiago, o “irmão do Senhor”. A celebração ocorre no domingo após o Natal.
A tradição ortodoxa segue firmemente a visão do Protoevangelho de Tiago. Eles acreditam que José era um viúvo idoso. E que os “irmãos” de Jesus eram seus filhos de um casamento anterior [7]. Isso protege a doutrina ortodoxa da “Sempre-Virgem Maria”.
Etimologia e significado de José
O nome José (do hebraico Yosef, יוֹסֵף) era um nome muito comum e honrado em Israel. Ele se origina do patriarca José, filho de Jacó. Esta é a figura central da última parte do Livro de Gênesis.
O nome está ligado a dois verbos hebraicos. Isso é explicado em Gênesis 30:23-24, no nascimento do patriarca.
Primeiro, Raquel, sua mãe, declara: “Deus tirou (asaf) a minha vergonha” (Gênesis 30:23). O nome se relaciona com o verbo “tirar” ou “remover”.
Segundo, ela continua: “O Senhor me acrescente (yosef) outro filho” (Gênesis 30:24). O significado principal do nome é “Ele [Deus] acrescentará” ou “Que Ele acrescente” [22].
Aprenda mais
[Vídeo] Teológico | Bíblia & Teologia.
[Vídeo] “Jesus Cristo tinha Irmãos?” – Augustus Nicodemus. Igreja Presbiteriana de Santo Amaro;
[Vídeo] A História De José Quem foi José O Pai de Jesus? Histórias e Fatos.
Perguntas comuns
Nesta seção apresentamos as principais perguntas, com suas respectivas respostas, sobre este personagem bíblico.
Quem é o pai verdadeiro de Jesus?
Segundo a fé cristã, o pai verdadeiro de Jesus é Deus. A Bíblia (Evangelhos de Mateus e Lucas) narra que Maria concebeu Jesus por obra do Espírito Santo, não por união com José, que atuou como seu pai adotivo e legal na Terra.
Quantos anos tinha José quando casou com Maria, mãe de Jesus?
A Bíblia não menciona a idade de José quando ele se casou com Maria. Textos apócrifos (não canônicos) e tradições posteriores, como o Protoevangelho de Tiago, sugerem que ele era um homem mais velho, possivelmente viúvo, mas isso não está nos Evangelhos oficiais.
Quantos filhos José, pai de Jesus, teve?
A Bíblia menciona “irmãos” de Jesus (Tiago, José, Simão, Judas) e “irmãs”. Há diferentes interpretações: Protestantes geralmente os veem como filhos de José e Maria; Católicos e Ortodoxos os consideram primos ou filhos de um casamento anterior de José (meios-irmãos de Jesus).
Deus fala com José noivo de Maria?
Segundo o Evangelho de Mateus, Deus se comunicou com José (enquanto ele estava noivo de Maria) através de um anjo em um sonho. O anjo explicou a concepção de Jesus pelo Espírito Santo e o instruiu a não temer recebê-la como esposa.
Fontes
[1] “Tekton.” Bible Hub, Strong’s Concordance G5045. Acessado em 20 de outubro de 2025.
[2] Eusébio de Cesareia. História Eclesiástica. Livro 1, Capítulo 7.
[3] Witherington III, Ben. “Mary, Joseph’s, Mother.” Patheos, 13 de maio de 2013.
[4] “A História de José, o Carpinteiro.” New Testament Apocrypha, editado por Wilhelm Schneemelcher. Vol. 1.
[5] “A Paternidade de José.” Catecismo da Igreja Católica. Parágrafos 496-507. (Referenciando a tradição).
Demais fontes
[6] Lightfoot, J.B. “The Brethren of the Lord.” Em St. Paul’s Epistle to the Galatians. Macmillan, 1865. pp. 252-291.
[7] “Brethren of the Lord.” The Orthodox Faith – Volume I – Doctrine and Scripture, OCA. Acessado em 20 de outubro de 2025.
[8] Carson, D.A. “Matthew.” Em The Expositor’s Bible Commentary. Vol. 8. Zondervan, 1984. p. 81. (Analisando a palavra heōs).
[9] “Protoevangelho de Tiago.” Capítulos 9-10. Early Christian Writings. Acessado em 20 de outubro de 2025.
[10] “St. Joseph, Patron of a Happy Death.” Catholic Encyclopedia. New Advent, 1910.
[11] Bailey, Kenneth E. Jesus Through Middle Eastern Eyes. IVP Academic, 2008. pp. 115-120. (Discutindo katalyma).
[12] Justo de Belém. Homilia 2 sobre a Natividade. (Tradição patrística sobre a caverna).
[13] Bock, Darrell L. Luke 1:1-9:50 (Baker Exegetical Commentary on the New Testament). Baker Academic, 1994. p. 235. (Discutindo a oferta dos pobres).
[14] Josefo, Flávio. A Guerra dos Judeus. Livro 2, Capítulo 6. (Descrevendo a brutalidade de Arquelau).
[15] “Bar Mitzvah.” Encyclopædia Britannica. Acessado em 20 de outubro de 2025.
[16] France, R.T. The Gospel of Mark (New International Greek Testament Commentary). Eerdmans, 2002. p. 248.
[17] Suhl, A. “Der Davidssohn im Matthäus-Evangelium.” Zeitschrift für die Neutestamentliche Wissenschaft, 1966. (Discutindo a lenta ascensão da devoção a José).
[18] Gerson, Jean. Oeuvres Complètes. Vol. 7. (Promovendo a “Josefologia”).
[19] Pio IX. Decreto Quemadmodum Deus. 8 de dezembro de 1870.
[20] Pio XII. Discurso Discorso in occasione della Solennità di San Giuseppe artigiano. 1º de maio de 1955.
[21] Papa João XXIII. Motu Proprio Novis hisce temporibus. 13 de novembro de 1962.
[22] “Joseph.” Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon. p. 415.
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