Jardim do Éden

O Jardim do Éden foi o paraíso original de Adão e Eva, palco da Queda. Essencial para entender o pecado e a redenção da humanidade.

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O Jardim do Éden, conforme descrito no livro de Gênesis, é um local de singular importância na narrativa bíblica. Ele representa o cenário original da Criação de Deus para a humanidade. Este jardim serviu como o primeiro e mais perfeito lar de Adão e Eva [1].

Sua compreensão é fundamental para a teologia cristã, estabelecendo as bases do pecado e da redenção.

História do Jardim do Éden: Narrativa da Criação

A história do Jardim do Éden está intrinsecamente ligada à origem da humanidade e ao plano de Deus para sua criação.

É nesse cenário que os primeiros seres humanos foram colocados, com responsabilidades e privilégios. A descrição em Gênesis revela um propósito divino para a existência humana. O Jardim é o epicentro da interação inicial entre Deus e a humanidade [2].

O plano de Deus para o Jardim

Deus plantou um jardim no Éden, um lugar especial para o homem (Gênesis 2:8). Este jardim não era apenas um habitat, mas um ambiente de perfeição e provisão, refletindo a bondade e sabedoria do Criador [2].

Ele foi feito para ser um lugar de deleite, um paraíso terrestre, provendo tudo o que era necessário para a vida [1].

Adão foi colocado ali “para o cultivar e o guardar” (Gênesis 2:15). Isso indica que a humanidade recebeu a tarefa de zelar pela criação de Deus.

Esta mordomia reflete a responsabilidade humana sobre o mundo natural. O trabalho, antes da Queda, era uma vocação honrosa e prazerosa, parte integrante da existência perfeita [5].

Ilustração do Jardim do Éden
Ilustração do Jardim do Éden

A criação de Adão e Eva no Jardim

Dentro do Jardim do Éden, Adão foi formado do pó da terra e recebeu o fôlego da vida (Gênesis 2:7).

Eva foi criada a partir de uma de suas costelas, estabelecendo o relacionamento fundamental entre homem e mulher (Gênesis 2:21-22).

Esta criação específica sublinha a dignidade da humanidade e a complementaridade dos gêneros [5].

A colocação de ambos no jardim enfatiza a intenção de Deus de que a humanidade vivesse em harmonia. Eles desfrutavam de uma comunhão direta e sem barreiras com seu Criador.

Tudo no jardim estava à disposição para seu sustento e deleite, exceto por uma única restrição que testaria sua obediência [1].

Personagens Bíblicos: Adão e Eva. Adão e Eva no Jardim do Éden por Johann Wenzel Peter
Adão e Eva no Jardim do Éden por Johann Wenzel Peter

Geografia e localização do Jardim do Éden

A Bíblia descreve o Jardim do Éden com detalhes geográficos que intrigam estudiosos e teólogos há séculos. A menção de rios específicos oferece pistas sobre sua possível localização, embora permaneça um mistério. A natureza exata dessas referências é tema de debate [3].

Os rios do Jardim do Éden

Gênesis 2:10-14 descreve um rio que brotava do Éden para regar o jardim. Esse rio se dividia em quatro braços principais: Pisom, Giom, Tigre e Eufrates.

Estes últimos dois são bem conhecidos e fluem através do que hoje é o Iraque. A menção desses rios indica uma geografia específica [1].

O Pisom é associado à terra de Havilá, rica em ouro, bdélio e ônix. O Giom é dito circundar a terra de Cuxe (Gênesis 2:11-13).

Essas referências sugerem uma localização geográfica concreta. No entanto, as identificações exatas do Pisom e do Giom são incertas, dificultando a localização precisa [3].

Os rios Tigre e Eufrates
Os rios Tigre e Eufrates

Busca pela localização histórica

A identificação dos rios Tigre e Eufrates leva muitos a situar o Éden na antiga Mesopotâmia. Contudo, a dificuldade em localizar Pisom e Giom com precisão tem levado a várias teorias [3]. Algumas delas sugerem que o Éden pode estar no que hoje é o sul do Iraque, perto da confluência do Tigre e do Eufrates, uma região fértil [4].

Outras interpretações entendem a descrição geográfica de Gênesis de forma simbólica ou protológica. O dilúvio universal, narrado em Gênesis 6-9, pode ter alterado drasticamente a topografia terrestre. Assim, a localização exata do Jardim do Éden talvez não possa ser determinada pelos mapas atuais, permanecendo um enigma [20].

Sugestões geográficas modernas

Várias sugestões foram feitas para sua localização [3]. Uma delas é na cabeceira do Golfo Pérsico, conforme argumentado por Juris Zarins, no sul da Mesopotâmia [4].

Outras localizam na Armênia. A área de confluência do Tigre e Eufrates é uma candidata popular.

O arqueólogo britânico David Rohl o localiza no Irã e nas proximidades de Tabriz [34].

Essa sugestão, contudo, não foi adotada pela academia convencional. Outros teorizam que o Éden abrangia todo o Crescente Fértil ou ainda uma região substancial na Mesopotâmia.

Mapa de Pierre Mortier com a legenda Mapa da localização do paraíso terrestre e do país habitado pelos patriarcas, elaborado para o bom entendimento da história sagrada, por Pierre Daniel Huet (1700)
Mapa de Pierre Mortier com a legenda Mapa da localização do paraíso terrestre e do país habitado pelos patriarcas, elaborado para o bom entendimento da história sagrada, por Pierre Daniel Huet (1700)

Localizações simbólicas e culturais

Terje Stordalen sugere que o Livro de Ezequiel coloca o Éden no Líbano [35]. Há conexões entre o paraíso, o Jardim do Éden e as florestas do Líbano nos escritos proféticos [37]. Edward Lipinski e Peter Kyle McCarter relacionam com um santuário de montanha nas cordilheiras do Líbano [38].

Alguns grupos religiosos propuseram localizações fora do Oriente Médio. Líderes do Mormonismo acreditavam que estaria no Condado de Jackson, Missouri [39]. A Panacea Society do século XX o situava em Bedford, Inglaterra [40]. O pregador Elvy E. Callaway, no rio Apalachicola, Flórida [41].

Cristóvão Colombo, em 1498, pensou ter alcançado o Paraíso Terrestre ao ver a América do Sul [43]. Após 1491, líderes do Reino do Congo acreditaram que o Paraíso Terrestre ficava na África Central [44]. Tse Tsan-tai sugeriu que estava na atual Xinjiang, China [45].

As duas árvores do Jardim do Éden

No centro do Jardim do Éden, Deus colocou duas árvores de significado teológico profundo: a Árvore da Vida e a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Elas representam escolhas e consequências que moldariam o destino da humanidade. Essas árvores eram o cerne da prova divina [1].

A Árvore da Vida

A Árvore da Vida garantia a imortalidade física a quem dela comesse (Gênesis 3:22).

Ela simbolizava a vida eterna e a plena comunhão com Deus. Sua presença no Éden era um presente da graça divina, oferecendo a continuação de uma existência sem fim, na dependência do Criador [5].

Após a desobediência de Adão e Eva, o acesso à Árvore da Vida foi bloqueado (Gênesis 3:24).

Isso preveniu a humanidade de viver para sempre em um estado de pecado. A expulsão do Éden e o bloqueio garantiram que a mortalidade fosse uma realidade para todos, uma medida preventiva de Deus [1].

Uma representação de 1847 da Árvore da Vida.
Uma representação de 1847 da Árvore da Vida.

A Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal

Esta árvore possuía uma proibição divina clara: “não comerás dela; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gênesis 2:17). Ela representava a linha entre a obediência e a desobediência, e o livre-arbítrio da humanidade. Comer de seus frutos traria não apenas conhecimento, mas a morte [1].

O “conhecimento do bem e do mal” não era uma simples aquisição de informação. Antes, significava a pretensão de autonomia moral, decidindo por si mesmo o que é bom e o que é mau [4]. Essa escolha levaria a humanidade a um estado de separação de Deus, de ruína espiritual e moral [5].

A queda e a expulsão do Jardim do Éden

A narrativa do Jardim do Éden culmina na trágica Queda da humanidade. Este evento teve consequências profundas para toda a criação.

A desobediência de Adão e Eva levou à perda do paraíso e à introdução do pecado no mundo. É o ponto de virada da história humana [1].

A tentação e a desobediência

A serpente, descrita como o mais astuto dos animais, tentou Eva, questionando a palavra de Deus (Gênesis 3:1).

Ela distorceu a verdade, sugerindo que Deus estava privando a humanidade de algo bom. A serpente prometeu que, ao comer do fruto, seus olhos se abririam e seriam como Deus [1].

Eva, seduzida pela promessa e pelo desejo, comeu do fruto e o ofereceu a Adão, que também comeu (Gênesis 3:6).

Essa ação marcou o primeiro ato de desobediência humana. O desejo de ser como Deus, sem Deus, foi a raiz de sua transgressão, um desejo por autonomia [5].

Adão e Eva por Mabuse, século XVI
Adão e Eva por Mabuse, século XVI

Consequências da desobediência

Após a desobediência, Adão e Eva experimentaram vergonha e culpa (Gênesis 3:7). A comunhão perfeita com Deus foi quebrada. Eles se esconderam da presença do Senhor, indicando uma separação em seu relacionamento. A inocência foi perdida e a malícia entrou [1].

Deus pronunciou maldições sobre a serpente, a mulher e o homem (Gênesis 3:14-19). A terra também foi amaldiçoada, tornando o trabalho árduo.

A morte física e espiritual se tornou a realidade da humanidade, como resultado direto do pecado, trazendo dor e sofrimento [5].

A expulsão do Jardim do Éden

Para evitar que a humanidade pecaminosa tivesse acesso à Árvore da Vida e vivesse eternamente em seu estado caído, Deus expulsou Adão e Eva do Jardim do Éden (Gênesis 3:22-23).

Querubins com uma espada flamejante foram colocados para guardar o caminho, bloqueando o retorno [1].

Essa expulsão não foi apenas um castigo, mas uma medida de graça. Impediu que a condição pecaminosa da humanidade fosse eternizada.

A perda do Éden aponta para a necessidade de redenção e a esperança de uma restauração futura, um plano maior de Deus [5].

Expulsão de Adão e Eva (Alexandre Cabanel)
Expulsão de Adão e Eva (Alexandre Cabanel)

O Jardim do Éden na Teologia

O Jardim do Éden transcende sua descrição geográfica, tornando-se um paradigma para diversas doutrinas teológicas. Sua narrativa serve de base para compreender a natureza de Deus, a humanidade e o plano de salvação. É um ponto de referência para a teologia [5].

O Éden na teologia do Pecado Original

O evento da Queda no Jardim do Éden é central para a doutrina do pecado original [5]. Ele explica a origem do pecado no mundo e sua transmissão a toda a humanidade. Romanos 5:12 afirma que “por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte” [1].

A desobediência de Adão resultou na depravação total da raça humana. Todos nascemos com uma inclinação ao pecado e uma incapacidade de agradar a Deus por nossos próprios méritos. A Queda no Éden demonstra a necessidade de uma intervenção divina para a salvação [5].

O Jardim do Éden com a Queda do Homem, de Jan Brueghel, o Velho, e Pieter Paul Rubens, c. 1615, retratando animais domésticos e exóticos, como tigres, papagaios e avestruzes, coexistindo no jardim
O Jardim do Éden com a Queda do Homem, de Jan Brueghel, o Velho, e Pieter Paul Rubens, c. 1615, retratando animais domésticos e exóticos, como tigres, papagaios e avestruzes, coexistindo no jardim

O Éden e a esperança de restauração

Embora o Jardim do Éden tenha sido perdido, a narrativa bíblica aponta para uma restauração futura. O Novo Testamento apresenta Jesus Cristo como o “último Adão” [1 Coríntios 15:45]. Ele veio para desfazer os efeitos do pecado introduzido no Éden [5].

Em Apocalipse 22:1-2, o apóstolo João descreve a Nova Jerusalém, onde há um “rio da água da vida” e a “árvore da vida”. Isso sugere uma reversão da maldição e o restabelecimento do acesso à vida eterna. Simboliza a restauração completa da comunhão com Deus [1].

Simbolismo do Jardim do Éden

O Jardim do Éden simboliza o ideal da criação, a perfeição original e a presença de Deus.

Ele representa um estado de inocência e harmonia que foi perdido. Sua memória evoca a saudade de um paraíso perdido e a esperança de um futuro restaurado [2].

Ele é também um lembrete do livre-arbítrio humano e das consequências da desobediência.

O Éden serve como um modelo para a compreensão da santidade de Deus e da necessidade de obediência à sua palavra. É um espelho da condição humana e divina [5].

O Jardim do Éden, de Lucas Cranach der Ältere, uma representação alemã século XVI do Jardim do Éden.
O Jardim do Éden, de Lucas Cranach der Ältere, uma representação alemã século XVI do Jardim do Éden.

Jardim do Éden em outras religiões e filosofias

Estudiosos identificaram conexões com conceitos semelhantes de religiões e mitologias antigas. Eles estudaram a evolução pós-escriturística do conceito na religião e nas artes. O Jardim do Éden possui paralelos ricos e interpretações diversas.

Conceitos de Jardim Feliz

Vários conceitos paralelos ao Jardim do Éden bíblico existem em outras religiões e mitologias. Dilmun, na história suméria de Enki e Ninhursag, é uma morada paradisíaca [46].

Era um lugar dos imortais, onde a doença e a morte eram desconhecidas [47].

O jardim das Hespérides na mitologia grega também era semelhante ao conceito judaico do Jardim do Éden. No século XVI, uma associação intelectual maior foi feita na pintura de Cranach, ilustrando essa conexão mítica.

O Jardim do Éden de Thomas Cole (c. 1828)
O Jardim do Éden de Thomas Cole (c. 1828)

Teoria da origem Cananeia

Ao estudar tábuas de argila do final do século XIII a.C. de Ugarit, estudiosos como M. J. A. Korpel e J. C. de Moor reconstruíram paralelos cananeus [48]. Eles propõem que estes seriam a origem do mito bíblico da criação, incluindo o Jardim do Éden [48].

Seus textos reconstruídos falam sobre a divindade criadora El, que vivia em um vinhedo ou jardim com sua esposa Asherah no Monte Ararat [48]. Outro deus, Horon, tenta depor El e, ao ser jogado da montanha, transforma a Árvore da Vida em Árvore da Morte [48].

Horon também espalha uma névoa venenosa [48]. Adão é enviado da montanha para restaurar a vida na Terra [48]. Horon assume a forma de uma grande serpente e o morde, o que leva Adão e sua esposa a perderem sua imortalidade [48].

No entanto, John Day argumenta que essas histórias não são explicitamente atestadas nos textos ugaríticos [49].

Gnosticismo

O mestre gnóstico do século II, Justino, sustentava que havia três divindades originais [78].

Um ser transcendental chamado Bem, uma figura masculina intermediária conhecida como Elohim e Éden, que é uma mãe-Terra [78]. O mundo é criado a partir do amor de Elohim e Éden [78].

Contudo, o mal é trazido ao universo quando Elohim descobre a existência do Bem acima dele [78]. Elohim ascende tentando alcançá-lo, perturbando o equilíbrio e introduzindo o mal no mundo [78].

Ilustração de um grupo de pessoas adorando uma serpente (Gnosticismo)
Ilustração de um grupo de pessoas adorando uma serpente (Gnosticismo)

Islamismo

O termo jannāt ʿadn (“Jardins do Éden” ou “Jardins da Residência Perpétua”) é usado no Alcorão para o destino dos justos [55]. Há várias menções do “Jardim” no Alcorão [64]. O Jardim do Éden, sem a palavra ʿadn, é comumente a quarta camada do céu islâmico [65]. Não é necessariamente pensado como a morada de Adão [66].

O Alcorão se refere frequentemente a várias Suratas sobre a primeira morada de Adão e sua esposa (Hawwa ou Eva), incluindo a surata Sad (38:71–88), al-Baqara, al-A’raf e al-Hijr.

A narrativa gira principalmente em torno da expulsão de Adão e sua esposa depois que foram tentados por Iblis (Satanás).

Apesar do relato bíblico, o Alcorão menciona apenas uma árvore no Éden, a árvore da imortalidade. Deus proibiu especificamente Adão e sua esposa de comerem dela.

Algumas exegeses adicionam um relato sobre Satanás, disfarçado de serpente, que repetidamente disse a Adão para comer [67].

Essas histórias também são apresentadas nas coleções de hadith, incluindo al-Tabari [68].

Os versículos corânicos Q. 2:35–38 contam a história de Adão desobedecendo à ordem de Deus e comendo o Fruto Proibido [69]. Deus então o expulsa do Jardim [69].

Reunião de peregrinos em Meca. Islamismo, Islã
Reunião de peregrinos em Meca

Localização na Visão Islâmica

Versículos corânicos descrevem que Adão foi expulso de al-Jannah, “o jardim”. Esta é a palavra comumente usada para paraíso no islamismo. No entanto, de acordo com Ibn Kathir e Ar-Razi (exegetas do Alcorão), quatro interpretações da localização do jardim prevaleceram entre os primeiros muçulmanos [70].

Uma interpretação dizia que o jardim era o próprio Paraíso [70]. Outra, que era um jardim separado criado especialmente para Adão e sua esposa [70]. Uma terceira defendia que estava localizado na Terra [70]. E uma quarta, que era melhor não se preocupar com a localização [70].

De acordo com T. O. Shanavas, a análise contextual dos versos do Alcorão sugere que o Jardim do Éden não poderia ter sido no Paraíso [70]. Ele deve ter sido na Terra [70].

Um hadith sahih relata que Muhammad disse: “Allah diz: Eu preparei para meus servos justos aquilo que não foi visto pelos olhos, nem ouvido pelos ouvidos, nem jamais concebido por qualquer homem” [70].

Como Adão era homem, ele não poderia ter visto o paraíso, portanto não poderia ter vivido lá [70]).

Mapa-múndi moçárabe de 1109 com o Éden no Oriente (no topo)
Mapa-múndi moçárabe de 1109 com o Éden no Oriente (no topo)

Doutrina da “Queda do Homem” no Islã

A exegese islâmica não considera a expulsão de Adão e sua esposa do paraíso como punição [71]. Nem como resultado de abuso do livre-arbítrio [71]. Em vez disso, Ibn Qayyim al-Jawziyya escreve que a sabedoria de Deus (ḥikma) destinou a humanidade a deixar o jardim e se estabelecer na terra [71].

Isso ocorre porque Deus quer revelar toda a gama de seus atributos [71]. Se os humanos não vivessem na terra, Deus não poderia expressar seu amor, perdão e poder à sua criação [71].

Além disso, se os humanos não experimentassem sofrimento, não poderiam ansiar pelo paraíso [71].

Khwaja Abdullah Ansari descreve a expulsão de Adão e sua esposa como causada, em última análise, por Deus [72].

No entanto, apesar da noção paradoxal de que o homem obedece à vontade de Deus, isso não significa que não devam se culpar por seu “pecado” [72]. Isso é exemplificado por Adão e sua esposa no Alcorão (Q. 7:23 “Nosso Senhor! Nós nos prejudicamos.”) [72].

O profeta islâmico Adão e Hawa sendo expulsos do Jardim
O profeta islâmico Adão e Hawa sendo expulsos do Jardim

Santos dos Últimos Dias

Os seguidores do movimento Santos dos Últimos Dias acreditam que, após a expulsão, Adão e Eva residiram em um lugar conhecido como Adão-ondi-Amã [73]. Este local fica no atual Condado de Daviess, Missouri [73]. Está registrado em Doutrina e Convênios que Adão abençoou sua posteridade ali [73].

Ele retornará àquele lugar na época do julgamento final [73]. Isso cumpre uma profecia estabelecida na Bíblia [75]. Vários líderes antigos da Igreja, como Brigham Young, ensinaram que o Jardim do Éden estava no vizinho Condado de Jackson [39].

Não há relatos de primeira mão de que Joseph Smith tenha ensinado essa doutrina [39]. A doutrina SUD não é clara sobre a localização exata do Jardim do Éden. No entanto, a tradição entre os Santos dos Últimos Dias o coloca nas proximidades de Adão-ondi-Amã [76].

O Jardim do Éden na arte e literatura

O Jardim do Éden inspirou inúmeras obras de arte e literatura ao longo dos séculos. Sua rica simbologia e a narrativa central da origem humana e da queda o tornam um tema perene. Artistas e escritores o exploraram em diversas culturas.

Arte

Uma das representações mais antigas do Jardim do Éden é feita em estilo bizantino em Ravena. Um mosaico azul preservado faz parte do mausoléu de Gala Placídia. Motivos circulares representam flores do Jardim do Éden, simbolizando a beleza e a perfeição.

Os motivos do Jardim do Éden mais frequentemente retratados em manuscritos e pinturas iluminadas são o “Sono de Adão” (Criação de Eva), a “Tentação de Eva” pela Serpente, a “Queda do Homem” e a “Expulsão”. O idílio do “Dia do Nome no Éden” foi retratado com menos frequência. Michelangelo retratou uma cena no Jardim do Éden no teto da Capela Sistina.

Literatura

Para muitos escritores medievais, a imagem do Jardim do Éden também cria um local para o amor e a sexualidade humana [79]. Frequentemente associada ao tropo clássico e medieval do locus amoenus, um lugar ameno e idealizado [79].

Divina Comédia

Na Divina Comédia, Dante Alighieri situa o Jardim no topo do Monte Purgatório. Dante, o peregrino, emerge no Jardim do Éden no Canto 28 do Purgatório [80].

Aqui, é-lhe dito que Deus deu o Jardim do Éden ao homem “em penhor, ou como penhor da vida eterna” [80].

Mas o homem só foi capaz de habitar lá por um curto período, pois logo caiu em desgraça [80].

No poema, o Jardim do Éden é humano e divino: localizado na Terra, também serve como porta de entrada para os céus [80].

Paraíso Perdido

Grande parte do Paraíso Perdido de Milton ocorre no Jardim do Éden. O primeiro ato da peça de Arthur Miller de 1972, Criação do Mundo e Outros Negócios, se passa no Jardim do Éden.

Agnolo Bronzino (1530) Dante olha em direção ao Purgatório. (Divina Comédia)
Agnolo Bronzino (1530) Dante olha em direção ao Purgatório. (Divina Comédia)

Etimologia e significado do Jardim do Éden

A compreensão das palavras hebraicas por trás de “Jardim do Éden” enriquece nossa percepção sobre este lugar fundamental. Os termos originais revelam aspectos da natureza e do propósito divinos. A linguagem bíblica oferece camadas de significado [6].

A palavra “Éden”

O termo hebraico para “Éden” é ʿĒḏen (עֵדֶן). O significado mais aceito para esta palavra é “deleite”, “prazer” ou “luxo” [6]. Isso reflete a natureza do jardim como um lugar de beleza, abundância e satisfação, criado para a alegria da humanidade por Deus.

Alguns estudiosos também sugerem uma conexão com a palavra suméria edin, que significa “planície” ou “estepe”. Contudo, o contexto bíblico em Gênesis sugere que o sentido de “deleite” é o mais proeminente e teologicamente relevante para o nome, dada a descrição do paraíso [2].

A palavra Éden, nas religiões abraâmicas, descreve o paraíso bíblico [1, 2]. Também é chamado de Jardim de Deus [1]. Ou Paraíso Terrestre, um lugar de paz e comunhão.

A palavra “Jardim”

A palavra hebraica para “jardim” é gan (גַּן). Este termo é amplamente utilizado na Bíblia para descrever áreas cultivadas, parques ou pomares. O uso de gan junto com ʿĒḏen cria a expressão “jardim do deleite” ou “jardim do prazer”, enfatizando sua natureza exuberante [6].

A combinação enfatiza a ideia de um lugar cuidadosamente plantado e cuidado por Deus. Não era uma paisagem selvagem, mas um espaço ordenado e frutífero, projetado para sustentar e enriquecer a vida de Adão e Eva. Era um lar perfeito e provido por Deus [2].

A palavra “paraíso” entrou no inglês a partir do francês paradis, do latim paradisus, do grego parádeisos [19]. O grego, por sua vez, derivou de uma forma iraniana antiga, do proto-iraniano parādaiĵah-, ‘recinto murado’. A etimologia remete à raiz proto-indo-europeia *dheigʷ, ‘colar e erguer (uma parede)’, e *per, ‘ao redor’.

Por volta do século VI/V a.C., a palavra iraniana antiga foi emprestada para o acádio como pardesu, ‘domínio’ [50]. Passou a indicar os extensos jardins murados do Primeiro Império Persa [50]. Mais tarde, foi emprestada para o grego como παράδεισος (‘parque para animais’), para o aramaico pardaysa (‘parque real’), e para o hebraico [50].

A ideia de um recinto murado não foi preservada na maioria dos usos iranianos. Em geral, passou a se referir a uma plantação ou área cultivada, não necessariamente murada. Por exemplo, a palavra iraniana antiga sobrevive como pardis em persa moderno, e seu derivado pālīz ou jālīz, que denota uma horta.

“Pardes” na Bíblia

A palavra pardes (פַּרְדֵּס) ocorre três vezes na Bíblia hebraica, mas sempre em contextos diferentes de uma conexão com o Éden [51]. Em Cântico dos Cânticos 4:13: “As tuas plantas são um pomar (pardes) de romãs” [51]. Em Eclesiastes 2:5: “Fiz para mim jardins e pomares (pardes)” [51]. E em Neemias 2:8: “guarda do pomar do rei (pardes)” [51]. Nestes exemplos, pardes significa ‘pomar’ ou ‘parque’.

Na literatura apocalíptica judaica e no Talmude, o paraíso ganha suas associações com o Jardim do Éden e seu protótipo celestial. Este significado também está presente no Novo Testamento. O historiador italiano Mario Liverani argumenta que o Jardim do Éden foi modelado nos jardins reais persas [52].

John Day, no entanto, argumenta que as evidências linguísticas indicam que a história javista do Éden foi composta antes do período persa [53]. O arqueólogo norte-americano Lawrence Stager postula que a narrativa bíblica do Éden foi extraída de aspectos do palácio e do complexo do templo de Salomão e de Jerusalém [12].

Septuaginta e Novo Testamento

Na Septuaginta (séculos III a I a.C.), o grego παράδεισος (parádeisos) foi usado para traduzir tanto o hebraico פרדס (pardes) quanto גן (gan), que significa ‘jardim’ [19]. Por exemplo, em Gênesis 2:8 e Ezequiel 28:13 [19]. É desse uso que deriva a associação de “paraíso” com o Jardim do Éden [19].

No Novo Testamento, o paraíso torna-se o reino dos abençoados (em oposição ao reino dos amaldiçoados) entre aqueles que já morreram [54]. Essa concepção possui influências literárias helenísticas. Ele representa a esperança e o destino final dos salvos.

Aprenda mais

[Vídeo] Teológico | Bíblia & Teologia.

[Vídeo] Onde está o Jardim do Éden? Rodrigo Silva Explica. PrimoCast.

Perguntas comuns

Nesta seção apresentamos as principais perguntas, com suas respectivas respostas, acerca do Jardim do Éden.

Onde fica o Jardim do Éden hoje?

O local exato do Jardim do Éden é desconhecido e tema de muito debate. Embora a Bíblia descreva sua localização como o encontro de quatro rios (Gênesis 2), a maioria dos teólogos acredita que ele foi destruído ou tornado inacessível após o Dilúvio.

Onde fica o Jardim do Éden da Bíblia?

A Bíblia (Gênesis 2:10-14) o localiza em uma região irrigada por um rio que se dividia em quatro (Pisom, Giom, Tigre e Eufrates). A maioria das interpretações aponta para a área do Oriente Médio, possivelmente na Mesopotâmia, onde os rios Tigre e Eufrates ainda fluem.

Qual é a história do Jardim do Éden?

O Jardim foi criado por Deus como um paraíso onde Adão e Eva viviam em perfeita harmonia com Ele. Após desobedecerem a Deus ao comerem o fruto proibido, eles foram expulsos do Jardim, marcando a entrada do pecado e da morte no mundo.

O que é o Jardim do Éden na Bíblia?

É o paraíso terrestre original criado por Deus. Representa a habitação perfeita de Deus com o homem, caracterizada pela abundância, imortalidade e pela ausência de pecado, antes da Queda.

Foi achado o Jardim do Éden?

Não, o Jardim do Éden não foi achado. Embora arqueólogos e teólogos tenham sugerido vários locais, a mudança drástica da geografia mundial após o Dilúvio torna impossível identificar o local bíblico original com certeza.

Onde fica a árvore de Adão e Eva?

As árvores centrais (a Árvore da Vida e a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal) estavam dentro do Jardim do Éden. Após a expulsão de Adão e Eva, Deus colocou querubins e uma espada flamejante para guardar o caminho até a Árvore da Vida.

O Jardim do Éden era no céu ou na terra?

O Jardim do Éden era na Terra. A descrição bíblica detalha sua localização geográfica com rios reais, indicando que era uma realidade física e terrestre.

O que aconteceu com o Jardim do Éden?

Após a expulsão de Adão e Eva, Deus o tornou inacessível. Ele colocou querubins com uma espada flamejante para guardar o caminho da Árvore da Vida, impedindo que os humanos caídos retornassem e vivessem para sempre em seu estado pecaminoso.

Fontes

[1] Gênesis 2-3 (Bíblia Sagrada).

[2] Arnold, Bill T. “Eden.” Baker Encyclopedia of the Bible. Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1988, p. 660.

[3] Walton, John H. Genesis. NIV Application Commentary. Grand Rapids, MI: Zondervan, 2001, p. 177-179.

Demais fontes

[4] Zarins, Juris. “The Location of Eden.” Journal of Near Eastern Studies 41, no. 1 (1982): 11-20.

[5] Erickson, Millard J. Christian Theology. 3rd ed. Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2013, p. 556.

[6] Grudem, Wayne. Teologia Sistemática: Atual e Abrangente. São Paulo: Vida Nova, 2000, p. 489.

[7] Rohl, David M. Legend: The Genesis of Civilisation. London: Arrow, 1998.

[8] Stordalen, Terje. Echoes of Eden: Genesis 2-3 and Symbolism of the Eden Story in Biblical Hebrew Literature. Peeters Publishers, 2000.

[9] Clines, David J. A. What Does Eve Do to Help? And Other Readerly Questions to the Old Testament. Sheffield Academic Press, 1990.

[10] Lipinski, Edward. The Cult of Astarte in Ancient Israel. Peeters Publishers, 2004.

[11] Peterson, Daniel C. “Mormonism and the Biblical Garden of Eden.” Dialogue: A Journal of Mormon Thought 39, no. 4 (2006): 1-36.

[12] Callaway, Elvy E. The Garden of Eden: A Study of Its Location. New York: Vantage Press, 1957.

[13] Cohen, J. M. The Four Voyages of Christopher Columbus: Being His Own Log-book, Letters and Dispatches with Related Documents. Penguin Classics, 1992.

[14] Cavazzi, Giovanni Antonio. Description historique des trois royaumes du Congo, Matamba & Angola. 1687.

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Diego Pereira do Nascimento
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