Filisteus

Os filisteus são um dos povos mais antigos do mundo, os grandes inimigos de Israel. Sua história é marcada por guerras e idolatria.

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25 minutos de leitura

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O povo filisteu é um dos povos mais intrigantes relatado no Antigo Testamento. Eles fizeram parte do período dos juízes e início da monarquia de Israel, guerrearam diversas vezes contra o povo de Deus, participaram de intrigas políticas e influenciaram negativamente a religiosidade israelita.

Por diversos momentos a longo da história bíblica lemos os conflitos entre os israelitas e os filisteus. Alguns dos principais relatos deste povo se encontra no livro de Juízes. Primeiramente quando o juiz Sangar batalhou contra eles, matando mais de 600 soldados inimigos com uma “aguilha de bois”. Depois quando o juiz Sansão os enfrentou ao longo de toda sua vida, até morrer nas mãos dos filisteus.

Neste artigo apresentamos a origem do povo, sua cultura, a relação com Israel e os personagens bíblicos, além de diversas curiosidades.


Origem dos filisteus e migração para Canaã

A Bíblia nos diz que os filisteus são descendentes de Caftorim, neto de Cam, filho de Noé (Gn 10:13-14). Caftorim viveu na ilha de Caftor, ilha do Chipre [1]. Seus descendentes se espalharam pela região, conquistando mais território ao longo da ilha e no sul da Ásia Menor (Anatólia, atual Turquia).

O desenvolvimento e crescimento desses povos ocorreu antes da conquista de Canaã pelos israelitas (1400 a.C), durante a Idade do Bronze (3000-1200 a.C).

A origem dos povo é incerta, diversas hipóteses já foram levantas e não há consenso entre os principais historiadores. O mais certo é que são originários da região do mar Egeu, provavelmente da ilha de Creta [2].

Filisteus, um dos povos do mar

As terras do entorno do mar Egeu são tidas como sua origem devido a grande quantidade de materiais arqueológicos encontrados na região, que se assemelham aos resquícios arqueológicos encontrados na Filisteia [2], região que abrigou as cinco cidades-estado dos filisteus.

Teatro de Gortina, ruínas de Creta
Teatro de Gortina, ruínas de Creta

É correto supor que os descendentes de Caftorim migração da ilha do Chipre (Caftor) para o norte e oeste, se estabelecendo nas regiões da Ásia Menor e ilhas de Rhodes e Creta. Os motivos que forçaram a migração podem ser diversos, como guerras locais, procura de áreas para pesca ou plantio.

A enciclopédia Britannica os identifica como sendo um dos Povos do Mar, que viviam na ilha de Creta. Esses povos travaram diversas batalhas contra os egípcios, invadindo e conquistando suas terras no tempo do faraó Ramsés III. [3]

Migração dos filisteus para região da Filisteia

Os filisteus acabaram por ocupar a costa sudoeste de Canaã, território chamado de Filístia ou Filisteia.

Acredita-se que migraram do mar Egeu para a região de Canaã em 2000 a.C. ou 1800 a.C. devido a conflitos travados contra os egípcios durante e após a vida do faraó Ramsés III, segundo alguns estudiosos, [3].

É provável que os egípcios os tenha repelido e atacado sua terra natal, forçando a migração de seu povo para outros territórios.

Os Filisteus | Das origens ao apogeu em Canaã

Ocupação dos filisteus em Canaã

A ocupação da terra foi marcada por inúmeras batalhas com os povos locais. Ocuparam, principalmente, as cidades de Gaza, Ascalom, Asdode, Gate e Ecrom, sendo Gate a cidade mais populosa.

Eram reconhecidos por sua habilidade de criar equipamentos de guerra, como espadas de aço, e pelo manuseio com o ferro (metalurgia). O que explica terem se estabelecido na região até que com certa facilidade, já que os povos locais eram mais agrários e tinham pouco equipamento de militar.


Sociedade filisteia

Os filisteus estabeleceram uma série de cidades-estado na região costeira de Canaã, incluindo Gaza, Ascalom, Ecrom e Gate. Suas cidades eram caracterizadas por suas fortificações e economia baseada no comércio e agricultura, além do bom manuseio do ferro, possuindo uma metalurgia mais avançada que os habitantes das terras vizinhas.

Por possuírem sua origem nos Povos do Mar, vindos da região do mar Egeu, é correto imaginar que possuíam uma certa cultura marítima.

Estima-se que a população filisteia, após sua chegada em Canaã (1200 a.C.), era de aproximadamente 25 mil pessoas [6]. Atingindo seu pico populacional 100 anos depois, com 30 mil habitantes.

Apesar de sua origem estar ligada na migração do mar Egeu para Canaã, os historiadores determinaram que a maior parte de sua população possuíam origem indígena [6]. O que sugere que se mesclaram com os povos locais, os anexando a sua cultura.

Contra os israelitas
Ilustração representando uma vitória sobre os israelitas (1896)

Idioma filisteu

Por ser tratar de uma cultura antiga e por haver pouco material sobre a cultura em forma escrita, é difícil definir qual idioma foi utilizado/desenvolvido pelos filisteus ao longo de sua história. Com base em resquícios arqueológicos, como cerâmicas, foi identificado que utilizaram uma linguagem não-semita (Não descende de Sem, filho de Noé) [7].

Mapa dos povos descendentes de Jafé, Cam e Sem
Mapa dos povos descendentes de Jafé, Cam e Sem

Dado o fato de não haver relatos sobre alguma dificuldade de comunicação entre os israelitas e os fariseus na bíblia, como é feito em relação aos babilônicos e os assírios. Entende-se que o idioma filisteu era comum ao idioma hebraico.

Pela origem do povo ser da região do mar Egeu, sul da Europa, alguns historiadores determinam que seu idioma é de origem indo-europeia [8], como o latim.

No discorrer de sua história e relação com os povos vizinhos, é certo afirmar que a língua filisteia, assim como a hebraica, sofreu variações e influências das línguas vizinhas [9].

Economia filisteia

Os filisteus possuíam bastante experiência em metalurgia. Com esse conhecimento eles construíram e comercializaram armamentos de guerra (Espadas, escudos e elmos) com os povos vizinhos. Também construíram materiais em bronze e ouro considerados mais complexos, como imagens de divindades pagãs [10].

A Bíblia nos relata em 1 Samuel 13:19-22, que nos anos de reinado do Rei Saul os israelitas dependeram, quase que completamente, da metalurgia dos filisteus.

Sendo necessário que ferramentas básicas, como, foices, martelos e arados, fossem levados para as cidades filisteias para serem afiados e/ou confeccionados.

Além da metalurgia, foram encontrados evidencias de zonas industriais rudimentares nas cidades filisteias, para produção de azeite, vinho e cerveja. Produtos esses que eram consumidos por seu próprio povo e vendido para as regiões vizinhas [11].

Museu Corinne Mamane da Cultura Filistéia
Museu Corinne Mamane da Cultura Filistéia

Cidades filisteias

Como já mencionado neste artigo, as cidades dos filisteus se localizavam na região costeira do sudoeste da terra de Canaã, região denominada de Filístia ou Filisteia, nome esse mais utilizado pelos historiadores e público em geral.

Ao longo dos anos os filisteus dominaram diversas cidades na região, mas acabaram se concentrando em cinco cidades principais: Asdode, Ascalom, Ecrom, Gaza e Gate.

Vale ressaltar que algumas dessas cidades são consideradas as mais antigas da história, tendo sido construídas pelos primeiros humanos, descendentes de Cam e Sem.

Podemos comparar as cidades filisteias com as cidades gregas em termos de organização, pois cada cidade era independente das demais, eram cidades-estado. Cada cidade instituía suas próprias leis e modelo governamental/militar.

A Bíblia nos diz que cada cidade filisteia possuía seu próprio rei, o que nos sugere que os filisteus possuíam uma organização monárquica interna de cada cidade.

As regiões das antigas cidades filisteias se mantém povoadas e hoje se tornaram importantes cidades israelitas e palestinas, possuindo milhares de habitantes.

Abaixo segue uma descrição de cada uma das cidades filisteias.

Cidades-estados Filisteias
Cidades-estados filisteias (Em vermelho)

Asdode

A cidade de Asdode era reconhecida por seu porto marítimo, o que possibilitava que as demais cidades filisteias, em especial Ecrom e Gate, fizessem o comércio de seus produtos com outros povos.

A localização da cidade a tornou um forte ponto comercial marítimo regional, o que trouxe riqueza para a cidade.

A Bíblia nos relata, que no final da vida do juiz Eli, o povo da cidade de Asdode derrotaram Israel em batalha e tomaram a Arca da Aliança da cidade de Siló.

A arca foi levada para dentro do templo de Dagom, divindade pagã cultuada pelos filisteus, como troféu de guerra. Deus enviou doenças sobre os moradores da cidade e fez com que a estátua de Dagom caísse e se quebrasse diversas vezes, por medo levaram a arca para a cidade de Gate.

Ruínas das muralhas e portões de Asdode
Ruínas das muralhas e portões de Asdode

A Bíblia faz outros relatos sobre a cidade de Asdode, como:

  • A batalha dos filisteus contra o rei Uzias de Israel (2 Cr 26:6);
  • Os casamento de homens israelitas com as mulheres da cidade (Ne 13:23-24);
  • Entre as cidades em que Filipe anunciou de Cristo, após ser transladado (At 8:40).

O Novo Testamento se refere a cidade de Asdode como Azoto, uma tradução de seu nome em grego.

Ascalom

A cidade de Ascalom se localizava nas margens do mar mediterrâneo, como Asdode, na região central da Filístia. É uma cidade pouco mencionada na Bíblia, tendo sido relatada principalmente em contextos de guerras/batalhas entre os filisteus e os israelitas.

Apesar de ser uma cidade marítima e possuir um porto, o comércio de Ascalom são foi tão expressivo como o da cidade de Asdode. É provável que o porto da cidade fosse menor e menos movimentado.

A Bíblia nos relata que seus habitantes travaram batalhas contra o povo de Israel, sendo as principais menções da cidade na batalha contra o juiz Sansão (Jz 14:19) e no relato da Arca da Aliança em território filisteu (1 Sm 6:17).

Ruínas do Parque Nacional de Ascalom
Ruínas do Parque Nacional de Ascalom

Ecrom

A cidade filisteia de Ecrom era a mais próxima da terra de Israel, estando a menos de 20 km de Jerusalém. Sua localização um dos principais alvos entre as guerras travadas entre os filisteus e israelitas.

Ecrom era uma cidade menor, não possuía um comércio tão forte como as cidades filisteias da costa ou mesmo quanto a grande cidade de Gate. Sua localização a possibilitava desenvolver um pequeno comércio agrícola, como as tribos israelitas vizinhas (Judá e Simeão).

Gaza

A cidade de Gaza estava localizada as margens do mar Mediterrâneo, como as cidades de Ascalom e Asdode. Era reconhecida por seu comércio com o Egito, sendo um porto comercial relevante na região.

Gaza é reconhecia com uma das cidades mais antigas do mundo, existindo anos antes de ser conquistada pelos filisteus. Sua origem é incerta, mas acredita-se que tenha sido construída e habitada pelos primeiros povos cananeus.

A Bíblia relata que Gaza era uma cidade fortificada que resistiu a conquista israelita da região, assim como as cidades de Gate e Asdode (Js 11:22). Esta também é a cidade na qual Sansão foi levado após ser traído por Dalila e ter os olhos furados pelos soldados filisteus (Jz 16:21).

Pintura de Gaza de David Roberts 1839 na Terra Santa Siria Idumeia Arabia Egito e Nubia

Gate

A cidade de Gate era reconhecida como a maior cidade dentre todas as demais cidades filisteias. Apesar de não ser uma cidade portuária como Asdode, Ascalom e Gaza, sua localização a favorecia por estar no cruzamento de rotas comerciais entre os povos da região e os portos do povo.

O fato da cidade estar no meio de rotas comerciais impulsionou seu crescimento populacional e militar, sendo reconhecida como uma das cidades mais militarizadas e fortificadas da região. Possuía um exército bem treinado e equipado, impulsionado pela metalurgia avançada dos filisteus.

Gate é mencionada na bíblia com a cidade em que o rei Davi buscou refúgio, enquanto fugia do rei Saul. Além de mencioná-la em batalhas contra o juiz Sansão.


Religião filisteia e deuses filisteus

Os filisteus eram um povo pagão que adoraram divindades cananeias e mesopotâmicas comuns de seu tempo. Dentre as principais divindades adoradas podemos citar Dagom e Astarote. Dentre as divindades menos cultuadas podemos citar Baal e Marnas.

Muito do que se sabe sobre a religião filisteia, é devido as relatos bíblicos e descobertas arqueológicas realizadas nas regiões de cada cidade.

Os deuses adorados pelos filisteus eram:

  • Dagom;
  • Astarote;
  • Baal;
  • Marnas.

Dagom

Dagom era uma divindade pagã de origem fenícia, cultuada pelos povos cananeus e mesopotâmicos. Sua aparência era retratada como possuindo tronco de homem e no lugar de pernas possuía uma calda de peixe, similar as sereias.

Considerado a divindade da prosperidade, Dagom era associado a agricultura e pesca, principais fontes de riquezas dos filisteus e demais povos cananeus. Seu nome geralmente é traduzido como “grão”, remetendo a ideia de ser o protetor da agricultura.

Diversas referência a Dagom são feitas na Bíblia, dentre as principais podemos citar:

  • Sansão é levado ao templo de Dagom, após ser capturado pelos filisteus (Jz 16:23-30);
  • A Arca da Aliança é levada ao templo de Dagom na cidade de Asdode, após Israel perder a batalha para os filisteus (1 Sm 5:1-5).

Para saber mais acesse nosso artigo sobre a divindade Dagom.

Imagem de Dagom
Divindade pagã Dagom representada em desenho.

Astarote

Astarote era uma divindade pagã cultuada por diversos povos cananeus. Considerada a divindade da fertilidade, amor e guerra, sendo retratada de forma sensual e associada a maternidade. Seu nome pode ser traduzido para “aquela que se deita” ou “aquela que caminha”.

A Bíblia condena diversas vezes o fato do povo de Israel de afastar de Deus e adorar divindade pagãs, dentre elas Astarote. O culto a Astarote pelos israelitas é relatado diversas vezes no Antigo Testamento, e ele ocorreu até a conquista de Israel pelos babilônios e persas.


Guerras entre filisteus e israelitas

O povo filisteu é frequentemente lembrado por seus conflitos com os israelitas, conforme registrado no Antigo Testamento.

Esses conflitos definiram a história de Israel e marcou diferentes momentos do povo, desde o período do juízes, formação da monarquia israelita e política dos reinos de Israel e Judá.

Nesta seção listamos os principais conflitos e o que cada produziu na história da antiga Israel e, consequentemente, na história bíblica do Antigo Testamento.

Batalhas com Sangar, terceiro juiz de Israel

O primeiro confronto bíblico dos filisteus com os israelitas está relatado em Juízes 3:31. Quando Sangar, então juiz em Israel, batalhou e matou 600 filisteus com um “ferrão de conduzir bois”.

Sangar - atacando os filisteus
Sangar atacando os filisteus. Iluminura no Speculum humanae salvationis.

Conflitos dos filisteus e Sansão

A Bíblia nos relata no capítulo 13 do livro de Juízes que os israelitas fizeram o que era mal aos olhos de Deus, e por isso o Senhor os entregou nas mãos dos filisteus. Eles oprimiram Israel por 40 anos, até o nascimento de Sansão, filho de Manoá, juiz que o Senhor levantou para libertar os israelitas.

Sansão foi um juiz controverso, pois em diversos momentos ele não se portou de maneira aprovável por Deus. Ele desejou, se deitou e casou com mulheres filisteias, indo contra a ordem do Senhor.

Sansão se casa com uma filisteia

O primeiro conflito entre o juiz israelita e os filisteus se deu quando o juiz, ele se apaixonou por uma filisteia. Sansão propôs um enigma aos soldados, mas estes não foram capazes de responder e ameaçaram sua noiva filisteia.

Sua noiva após tanto importuná-lo, conseguiu a resposta para o enigma e a passou para os soldados. Após responderem o enigma, o “espírito do Senhor” se apoderou de Sansão, que se dirigiu a cidade de Ascalom e matou trinta soldados.

Morte de Sansão

Após esse confronto, os filisteus tiveram diversos embates com Sansão, sendo o mais significado o último na cidade de Gate.

Ele novamente se apaixonou por uma mulher filisteia (Dalila) que o importuna para descobrir o segredo de sua força. Depois de muito incomodar, o juiz conta o segredo de sua força para Dalila, que repassa o segredo para os filisteus.

Enquanto Sansão dormia, Dalila cortou seus cabelos, segredo de sua força, e os soldados invadiram sua tenda e o capturaram. O juiz teve os olhos furados e foi levado para templo de Dagom na cidade de Gaza.

No fim de sua vida Deus age com misericórdia e usa Sansão para matar os governantes filisteus, que realizavam uma festa dentro do templo de Dagom em Gaza. O “Espírito do Senhor” toma o juiz, que acaba por derrubar as colunas do templo, que desaba sobre todos os soldados e generais que estavam no local.

Sansão destruindo o templo de Dagom
Sansão destruindo o templo de Dagom

Conflitos no tempo de Eli

Eli é um dos últimos juízes de Israel, relatado nos primeiros capítulos do livro de 1 Samuel. Eli foi um juiz considerado ruim para o povo, pois ele se calou diante dos pecados de seus filhos e ele enviou a Arca do Senhor para o campo de batalha, onde ela foi captura pelos filisteus, após derrotarem os israelitas.

A Bíblia nos relata que Eli, aos 98 anos, estava sentado em uma cadeira ao lado da estrada de Siló, quando recebeu a notícia que seus dois filhos foram mortos na batalha e que a Arca da Aliança foi levada pelos filisteus. No momento Eli caiu para trás com a notícia e acabou morrendo com a queda.

Arca da aliança em Asdode

A Arca da Aliança foi levada para o templo de Dagom em Asdode, como troféu de guerra e lembrança da derrota dos israelitas. Entretanto a presença de Deus fez com que a estátua de Dagom, dentro do templo, caísse e se quebrasse diversas vezes.

O texto bíblico também menciona que Deus fez com que diversas doenças caíssem sobre os moradores da cidade.

Com medo, os filisteus levaram a arca para a cidade de Gate. Em Gate Deus também fez cair uma doença sobre seus habitantes.

Por fim a arca foi levada para Ecrom, cidade filisteia na fronteira entre a terra dos filisteus e Israel. Em Ecrom decidem enviar a arca de volta para Israel (1 Sm 5:10), junto de umas imagens feitas em ouro.

Filisteus tomando a Arca do Senhor
Filisteus capturando a Arca da Aliança

Conflitos no tempo de Samuel

Samuel foi o último juiz de Israel e durante sua vida o povo de Israel batalhou diversas vezes contra os filisteus.

Sendo criado pelo juiz Eli, Samuel teve contato com batalhas desde dos primeiros anos de sua vida. Após de tornar juiz, Samuel liderou os israelitas contra o povo filisteu na cidade de Mispá.

Samuel derrota os filisteus

Com o fim e vitória da batalha, Israel conquistou uma grande vitória sobre seus inimigos e trouxe uma relativa paz até o início da monarquia israelita.

O texto bíblico nos relata que na velhice de Samuel os israelitas se voltam contra Deus e exigem um rei para Israel. Samuel sob orientação de Deus unge Saul com rei sobre o povo.

Mesmo com o povo sob liderança do rei Saul, Samuel teve contato com os conflitos entre os dois povos e morreu sem experimentar um período longo de paz, como ocorreu com os primeiros juízes de Israel.

Ana apresentando seu filho Samuel ao sacerdote Eli
Ana apresentando seu filho Samuel ao sacerdote Eli

Guerras dos filisteus contra o rei Saul

Saul se tornou rei já adulto, perto de seus 30 anos, e todo o seu reinado foi marcado por embates contra o povo filisteu. Eles eram considerados um povo numeroso e poderoso nesse período (1067 a.C.).

A primeira guerra no reinado do rei Saul está registrado em 1 Samuel 13. O texto bíblico nos relata que o povo filisteu possuía um forte exército, bem equipado com 30 mil carros de guerra, 6 mil cavaleiros e um numeroso exército de infantaria.

Saul derrotado pelos filisteus

Diante do inimigo, o povo de Israel se esconde, enquanto Saul prepara um exército para defendê-los. Após pecar contra Deus, oferecendo um sacrifício no lugar do profeta Samuel, Saul perde a batalha e as cidades israelitas são invadidas e saqueadas.

Essa humilhante derrota fez com que Israel perdesse parte de seu território para os filisteus, que oprimiam os habitantes das regiões conquistas.

Até que Jônatas, filho do rei Saul, invade o acampamento dos soldados inimigos causando uma grande confusão. Saul se aproveita da distração para persegui-los e expulsá-lo das terras de Israel.

Jônatas derrota os filisteus

A vitória de Saul resultou em um breve período de paz entre os israelitas e os filisteus, até que o exército inimigo se levanta novamente contra Israel com um grande exército, que contava com a presença do gigante Golias.

Essa nova invasão filisteia causou grande medo nos israelitas, devido a presença do gigantes Golias, que ameaçava e desafiava o povo de Israel a enfrentá-lo.

Neste momento da história surge Davi, que se tornaria rei posteriormente, que derrota Golias e conduz o exército a vitória.

O restante da vida de Saul é marcado por diversas batalhas contra o exército filisteu, até sua morte pelas mãos do inimigo.

A morte de Saul, e de seu filho e herdeiro Jônatas, marcou uma grande derrota de Israel nas mãos de seus inimigos.

"Morte do Rei Saul", 1848 por Elie Marcuse (Alemanha e França, 1817–1902)
“Morte do Rei Saul”, 1848 por Elie Marcuse (Alemanha e França, 1817–1902)

Guerras dos filisteus contra o rei Davi

Davi nasceu no tempo do reinado do rei Saul. Sua vida foi marcada por batalhas contra os povos vizinhos e a relação de Davi de com filisteus é marcada por guerras, alianças e traições.

Davi e Golias

Ainda jovem Davi enfrenta e derrota o gigante Golias, com uma pedra e uma funda. Esse é o evento mais notório da vida de Davi. Após sua vitória, Davi se integra ao exército israelita e enfrenta diversas batalhas contra os povos vizinhos de Israel.

Davi se alia aos filisteus

A fama de Davi cresce até o ponto do, então, rei Saul ficar com ciúmes dele e obrigá-lo a fugir para as terras filisteias. Davi foge para a cidade de Gate atrás de refúgio, mas acaba se fingindo de louco para não preso pelos inimigos.

Apesar dessa situação inusitada, o rei de Gate (Aquis) recebe Davi como mercenário, que passa a trabalhar para o rei Gate liderando seu pequeno exército contra os inimigos dos filisteus.

Como anteriormente Davi foi um inimigo dos filisteus, os reis das demais cidades filisteias não o aceitou trabalhando para seus exércitos. Davi, junto de seu exército, acaba deixando as terras filisteias após inúmeras batalhas e conflitos.

Após da morte do rei Saul, Davi é ungido rei na cidade de Hebrom. Após um período de intensas batalhas entre contra os filisteus, os líderes de Israel se dirigem até Hebrom pedindo para Davi governá-los e libertá-los das mãos dos inimigos.

Davi mata Golias
David levanta a cabeça de Golias conforme ilustrado por Josephine Pollard (1899)

Os filisteus atacam o rei Davi

Sabendo que Davi se tornou rei, os filisteus iniciam um grande levante contra o povo do Senhor. Entretanto Deus instruí o rei e o povo de como devem batalhar, os conduzindo a vitória.

Ao longo da vida do rei Davi houve diversos outros momentos de batalhas contra os filisteus, o texto bíblia não é claro sobre todos os detalhes envolvendo os conflitos.

O que podemos tirar com base na história relatada em 2 Samuel, é que após Davi se tornar rei sobre Israel, o poder do povo filisteu foi se enfraquecendo a ponto de não se tornarem uma ameaça tão grande quanto foram durante o reinado de Saul.

Davi foi usado por Deus para pacificar a terra de Israel, unificar as tribos, criar uma nação israelita e pacificar os povos vizinhos. Sua vida foi marcada por guerra, conflitos familiares e devoção a Deus.

Após a morte de Davi houve um próspero período de paz de Israel para com os povos vizinhos. Seu filho Salomão, rei de Israel e Judá, teve um reino pacífico e não entrou em guerra com os filisteus.

Ilustração dos filisteus batalhando
Ilustração dos filisteus batalhando

Guerras com os demais reis de Judá e Israel

Após a morte de Davi e Salomão, houve poucos conflitos entre os filisteus e Judá ou Israel. Devido ao enfraquecimento do exército inimigo nas mãos de Davi e ascensão de outros reinos, as cidades filisteias foram gradativamente perdendo seu poder e influência.

Houve poucas batalhas entre os filisteus e judeus/israelitas descritas na Bíblia após Salomão.

Zinri, rei de Israel, e os filisteus

Breves batalhas entre os israelitas e os filisteus ocorreram no reinado de Asa, de Judá. Durante seu reinado, o Reino de Israel fortificou diversas cidades ao sul de seu território, próximas da região da Sefelá e do Vale de Soreque.

A Bíblia relata que os israelita tomaram algumas das cidades filisteias, o que sugere que ocorreram algumas batalhas entre eles e o Reino de Israel, ao norte, e foram facilmente dominados. Neste período o exército filisteu não era tão superior aos demais povos e por isso não demonstravam tanto perigo como no período dos Juízes.

Josafá, rei de Judá, faz aliança com os filisteus

Durante o tempo do rei Josafá, de Judá, houve uma breve aliança entre os israelitas e os filisteus (2Cr 17:11). Essa aliança não é descrita detalhadamente pelo texto bíblico, mas acredita-se que ele se deu por meio da dominação de Judá e as cidades filisteias.

O texto bíblico diz os filisteus traziam presentes a Josafá. O que pode ser interpretado como um pagamento de tributo, o agradecimento de um auxílio ou mesmo um pagamento pelo auxílio, provavelmente militar.

Uzias, rei de Judá, derrota os filisteus

Conforme o texto bíblico registra em 2 Crônicas 26:6-23, Uzias, rei de Judá, entrou em guerra contra os filisteus. Durante as batalhas, o exército judeu derrubou as muralhas de Gate, Jâmnia e Asdode.

Durante esta pequena guerra entre os dois povos, os judeus derrotaram também os árabes de Gur-Baal e os meunitas.

Acaz, rei de Judá, é derrotado pelos filisteus

Durante o reinado de Acaz de Judá, os judeus travaram uma grande batalha contra o remanescente dos filisteus. Devido ao enfraquecimento do exército, Judá perdeu parte do seu território para os filisteus, que dominaram cidades importantes como Aijalom de Dã e Bete-Semes.


Declínio e desaparecimento dos filisteus

Após o reinado do rei Davi, em Israel, o poder e supremacia militar dos filisteus se enfraqueceu muito em Canaã. Gradativamente a nação de Israel tomava posse das terras filisteias, o que diminuía mais seu poder e população.

Além da tomada de posse de suas terras pelos israelitas, o surgimento e ascensão dos impérios regionais exerceram pressão sobre os filisteus. Esses impérios dominaram os filisteus em diversos momentos e com isso a estabilidade territorial e política deles foi se enfraquecendo.

Com o passar dos anos a identidade do povo foi se diluindo com as culturas dos povos conquistadores, a ponto de deixar de existir completamente.

A última menção aos filisteus na Bíblia ocorre no livro de Jeremias, quando o império babilônico captura a cidade de Ascalom.


Significado do nome “filisteu”

O nome “filisteu” usado em nossa língua, tem origem no latim Philistaeu‑ e Philistinu‑ (filistino), que comumente é traduzido como “habitante da Filisteia” [4]. Outra tradução possível é “brutamontes” ou “povo bronco” [5], que cremos fazer mais sentido.

A Bíblia grega (Septuaginta) utiliza dois termos para se referir a este povo:

  1. Allóphyloi (Ἀλλόφυλοι), traduzido como, “de outra raça” ou simplesmente “estrangeiros” [4];
  2. Phylistiim (Φυλιστιιμ), também com o significado “habitante da Filisteia”.

Aprenda mais

[Podcast] BTCast 191 – Canaã Série os outros. Bibotalk.

[Podcast] BTCast 168 – Os outros da Bíblia. Bibotalk.

[Vídeo] QUAL A ORIGEM DOS POVOS? Árabes, Israelitas, Moabitas, Filisteus, e muito mais! Israel com a Aline.

[Livro] Os outros da Bíblia: História, fé e cultura dos povos antigos e sua atuação no plano divino. André Daniel Reinke.

[Livro] Aqueles da Bíblia: História, fé e cultura do povo bíblico de Israel e sua atuação no plano divino. André Daniel Reinke.

[Livro] Os Filisteus: A História do Inimigo Mais Notório dos Antigos Israelitas. Charles River Editors.

[Livro] Os Cananeus e Filisteus: A História e o Legado dos Antigos Inimigos Israelitas na Terra que Se Tornou Israel. Charles River Editors.

[Livro] Sansão e o amor invencível: a vitória de Deus por meio de heróis quebrados. Emilio Garofalo Neto.


Fontes

[1] Jeremiah Chapter 47. Sacred Texts.

[2] Stone, Bryan Jack (1995). “The Philistines and Acculturation: Culture Change and Ethnic Continuity in the Iron Age”.ᅠBulletin of the American Schools of Oriental Research. The University of Chicago Press.ᅠ298 (298): 7–32.

[3] Povo Filisteu. Enciclopédia Britannica.

[4] A etimologia de filisteus e palestino. Ciber Dúvidas.

[5] Filisteu. Dicio.

[6] Yasur-Landau, Assaf (2010). The Philistines and Aegean Migration at the End of the Late Bronze Age. Cambridge, United Kingdom: Cambridge University Press.

[7] Philippe Bohstrom, ‘Archaeologists find first-ever Philistine cemetery in Israel,’ Haaretz 10 July 2016.

[8] Rabin, Chaim (1963). “Hittite Words in Hebrew”. Orientalia32: 113–139.

[9] Peter Machinist (2013). “Biblical Traditions: The Philistines and Israelite History”. In Eliezer D. Oren (ed.). The Sea Peoples and Their World: A Reassessment. University of Pennsylvania Press. pp. 53–83., p. 64.

[10] Dothan, Trude (July–August 1982). “What We Know About the Philistines”. Biblical Archaeology Society Library. Retrieved 22 October 2021.

[11] “Philistines | Follow The Rabbi”followtherabbi.com. Retrieved 25 September 2014.

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