Onã foi o segundo filho de Judá e sua esposa cananeia, destacando-se por sua breve e trágica história no livro de Gênesis. Sua vida, marcada pela recusa em cumprir uma obrigação familiar fundamental, resultou em julgamento divino.
A narrativa deste personagem é importante para entender aspectos da lei do levirato e da importância da linhagem na cultura hebraica antiga [1]. Ele é lembrado por suas ações em relação à viúva de seu irmão mais velho, Er, e pela forma como desrespeitou uma prática estabelecida por Deus.
Sua história oferece ensinamentos importantes sobre obediência, responsabilidade e as consequências da desobediência. Sua figura levanta debates teológicos sobre justiça divina e a natureza do pecado.
Nascimento e família de Onã
A história de Onã se desenrola em Gênesis 38, dentro do contexto da vida de seu pai, Judá, após sua separação dos irmãos.
Este capítulo oferece um vislumbre da vida familiar e das práticas sociais da época. Ele nasceu de Judá e sua esposa, a filha de Suá, uma mulher cananeia.
Ele tinha um irmão mais velho, Er, e um irmão mais novo, Selá [2]. A narrativa familiar é de grande importância para o povo de Israel, pois as linhagens determinavam a identidade e o futuro das famílias.

Judá, pai
Judá foi o quarto filho de Jacó e Lia, e um dos patriarcas das doze tribos de Israel. Ele desempenhou um papel significativo na história de José, sendo quem sugeriu vendê-lo aos ismaelitas em vez de matá-lo [3].
Mais tarde, ele se distancia de seus irmãos e se casa com uma mulher cananeia. Judá é uma figura complexa, marcada por falhas, mas também por um notável senso de responsabilidade e arrependimento em momentos cruciais de sua vida. Dele viria a linhagem messiânica [4].
Filha de Suá, mãe
A mãe de Onã é mencionada apenas como “a filha de Suá”, uma mulher cananeia com quem Judá se casou [5]. Sua origem cananeia é notável, pois Jacó havia alertado seus filhos a não se casarem com mulheres de outras terras [6].
Este casamento fora das tradições familiares pode ter contribuído para alguns dos desafios enfrentados por Judá e seus filhos. Pouco se sabe sobre ela, além de ter sido mãe de Er, Onã e Selá.
Er, irmão
Er foi o primogênito de Judá. A Bíblia o descreve como um homem “mau aos olhos do Senhor” [7]. Por causa de sua maldade, Deus o fez morrer.
A Escritura não especifica a natureza exata de sua maldade, mas sua morte precoce por intervenção divina é um evento que precipita os acontecimentos envolvendo Onã e Tamar. A morte de Er foi o gatilho para a aplicação da lei do levirato [8].
Selá, irmão
Selá foi o filho mais novo de Judá e seu terceiro filho com a filha de Suá. Após a morte de Er e Onã, Judá prometeu Selá a Tamar em casamento, quando ele crescesse [9].
No entanto, Judá hesitou em cumprir sua promessa, temendo que Selá também morresse, assim como seus irmãos mais velhos. Selá representa o último recurso para Tamar cumprir a lei do levirato, mas a recusa de Judá em entregá-lo desencadeia um novo capítulo na história.
Tamar, cunhada/esposa
Tamar é uma personagem central na narrativa de Onã e na linhagem de Judá. Ela foi a nora de Judá, casada primeiro com Er e, após a morte dele, deveria se casar com Onã, segundo a lei do levirato [10].
Quando Onã falhou em seu dever e também morreu, Judá a enganou, não cumprindo sua promessa de entregá-la a Selá. A determinação de Tamar em garantir a continuidade da linhagem de Judá a levou a um plano engenhoso e controverso para obter filhos de seu sogro [11].
O contexto do casamento levirato
A prática do casamento levirato, conhecida como yibbum no hebraico, era uma instituição social e religiosa importante no antigo Israel. Sua finalidade principal era preservar o nome e a linhagem do homem que morria sem deixar descendentes [12]. Essa prática era crucial para garantir a continuidade da família e a herança da terra.
Propósito do levirato
A lei do levirato é formalmente codificada em Deuteronômio 25:5-10 [13]. Ela estabelecia que, se um homem morresse sem filhos, seu irmão deveria casar-se com a viúva.
O primeiro filho gerado dessa união seria considerado descendente do irmão falecido.
Isso assegurava que o nome do falecido não fosse esquecido em Israel e que sua herança permanecesse dentro da família [14].
A importância da linhagem era fundamental na sociedade israelita, pois a terra era concedida por Deus como herança eterna às famílias [15].
Um homem que morresse sem filhos corria o risco de ter seu nome e sua herança apagados. Assim, o levirato não era apenas um costume, mas uma obrigação piedosa e uma forma de justiça para a viúva e para o falecido.

História de Onã e Tamar
A narrativa de Onã está intrinsecamente ligada à lei do levirato e à figura de Tamar. Após a morte de Er, seu irmão mais velho, ele foi instruído por seu pai, Judá, a casar-se com Tamar [16].
A intenção de Judá era que el cumprisse o dever de irmão, gerando um herdeiro para Er e mantendo o nome de seu irmão vivo.
A conduta de Onã
A Bíblia relata que Onã se deitou com Tamar, mas sempre que estava com ela, derramava seu sêmen no chão [17]. Essa atitude tinha um propósito claro: evitar que Tamar engravidasse e desse um filho a seu irmão falecido.
El não desejava que o filho fosse considerado de Er, pois isso implicaria que o herdeiro não seria dele, e sua própria parte na herança familiar poderia ser diminuída ou comprometida [18].
Ele via a situação como uma perda pessoal, e sua recusa em cumprir o dever levirato foi motivada por egoísmo. ele priorizou seus próprios interesses sobre a obrigação divina e familiar, desconsiderando o legado de seu irmão e o direito de Tamar a um herdeiro [19].

O julgamento de Deus
A conduta de Onã foi vista como má e perversa aos olhos do Senhor [20]. O texto bíblico afirma explicitamente que “o que ele fazia era mau aos olhos do Senhor, por isso o Senhor também o matou” [21]. Este é um momento de julgamento direto de Deus, evidenciando a seriedade do pecado dele.
A morte dele, por intervenção de Deus demonstra a importância que o Senhor atribuía ao cumprimento do dever levirato e à continuidade das linhagens [22]. Seu pecado não foi apenas um ato físico, mas uma rejeição de sua responsabilidade social e uma demonstração de desrespeito aos planos divinos para a família e a posteridade.
Implicações do pecado de Onã
O pecado de Onã vai além do ato físico que ele cometeu. Ele revela uma profunda questão de obediência e prioridades espirituais. Deus condenou suas ações não por uma simples técnica contraceptiva, mas pela motivação egoísta e pela recusa em cumprir uma obrigação moral e religiosa [23].
Desobediência à Lei e ao Costume
A lei do levirato, embora formalmente estabelecida mais tarde em Deuteronômio, já era um costume conhecido e praticado na época de Onã [24]. Ao se recusar a levantar descendência para seu irmão, ele desobedeceu a uma expectativa cultural e a um princípio divino que visava proteger a viúva e a linhagem do falecido.
Sua desobediência foi um desafio direto à ordem estabelecida e uma negligência de um dever sagrado. Isso não era apenas uma quebra de um mandamento humano, mas uma afronta à justiça e à providência de Deus [25].
Desconsideração pela Linhagem e Herança
A atitude de Onã demonstrava uma profunda desconsideração pela importância da linhagem de seu irmão e pela herança familiar. Ele se preocupava mais com sua própria parte na herança do que com a perpetuação do nome e da memória de Er [26].
Essa perspectiva egoísta entra em contraste com a valorização das gerações e da continuidade familiar presentes em toda a narrativa bíblica [27]. A recusa em preservar a linhagem de seu irmão era, em essência, um ato de apagamento da memória e do legado de Er.
Injustiça para com Tamar
O pecado de Onã também representou uma grande injustiça para Tamar. Como viúva sem filhos, ela dependia do levirato para garantir sua segurança e seu futuro. A falha dele a deixou em uma posição vulnerável, sem herdeiro e sem perspectivas [28].
Ele usou-a para seu próprio prazer, mas negou-lhe o direito mais fundamental que a lei do levirato lhe oferecia. A dor e a frustração de Tamar são palpáveis na narrativa, e sua subsequente astúcia para obter justiça destaca a gravidade da recusa dele [29].

Onã na exegese cristã
A história de Onã gerou intenso debate e diferentes interpretações ao longo da história cristã. Muitas vezes, o “pecado de Onã” é erroneamente associado exclusivamente à contracepção ou à masturbação. No entanto, uma análise mais cuidadosa do texto bíblico revela uma motivação e um contexto muito mais amplos [30].
Mal-entendidos sobre o Pecado de Onã
A Igreja Católica, por exemplo, historicamente usou a história de Onã como uma das bases para sua proibição de métodos contraceptivos [31].
Contudo, muitos teólogos protestantes e até mesmo alguns católicos reconhecem que o cerne do pecado dele não estava no ato de “derramar o sêmen no chão” em si, mas em sua recusa egoísta em cumprir sua obrigação para com seu irmão falecido e Tamar.
O foco da reprovação divina está na desobediência à lei do levirato e no desprezo pela vida e linhagem do irmão, não primariamente no método contraceptivo utilizado [32].

A questão da posteridade
Na cultura hebraica, ter descendência era uma bênção e uma parte essencial da promessa divina [33]. Negar descendência ao irmão falecido era um ato de rejeição dos propósitos de Deus para a família. A história de Onã deve ser compreendida dentro deste contexto maior da importância da posteridade e da perpetuação do nome.
A conduta dele foi um ataque à ordem familiar divinamente instituída e um ato de rebeldia contra a responsabilidade que lhe foi dada [34]. Seu pecado reside no egoísmo que o levou a privar seu irmão de um herdeiro e a Tamar de um futuro.
Etimologia e significado de Onã
O nome Onã, no hebraico ‘Ônān (אוֹנָן), possui um significado que reflete, de forma irônica ou preditiva, sua história e caráter. Embora a etimologia exata seja objeto de alguma discussão acadêmica, as interpretações mais comuns apontam para a ideia de força ou vigor [35].
Alguns estudiosos derivam o nome da raiz hebraica que significa “forte”, “vigoroso” ou “cheio de força” [36]. Outras interpretações sugerem “sua força” ou “seu vigor”, implicando uma posse ou qualidade intrínseca.
A ironia reside no fato de que, apesar de um nome que sugere força e virilidade, ele usou essa força de forma perversa, recusando-se a cumprir um dever vital para a perpetuação da linhagem de seu irmão. Seu vigor foi empregado para frustrar a vida, em vez de criá-la [37].
Aprenda mais
[Vídeo] Teológico | Bíblia & Teologia.
[Vídeo] QUEM FOI ONÃ NA BÍBLIA: CONHEÇA A HISTÓRIA DO HOMEM QUE DEUS TIROU A VIDA. Impacto Bíblico.
Perguntas comuns
Nesta seção apresentamos as principais perguntas, com as respostas, que as pessoas fazem sobre este personagem bíblico pouco lembrado na descendência de Judá.
Qual foi o pecado de Onã?
O pecado de Onã foi o egoísmo e a desobediência à lei do levirato. Ele se recusou a dar um herdeiro a seu falecido irmão, Er, com a viúva Tamar. Para isso, derramava sua semente na terra, um ato que Deus considerou mau (Gênesis 38:9-10).
Qual o significado de Onã?
O nome Onã (em hebraico: אוֹנָן, ‘Onan) geralmente é traduzido como “força”, “vigor” ou “poder”. Há uma ironia em seu nome, pois ele usou sua virilidade de uma maneira egoísta que desobedeceu a Deus, resultando em sua própria morte por juízo divino.
O que aconteceu com Onã?
Após a morte de seu irmão Er, Onã se recusou a cumprir seu dever de gerar um herdeiro com a viúva Tamar. Por derramar sua semente na terra para negar um descendente ao irmão, seu ato foi considerado mau aos olhos de Deus, que o matou.
Por que Deus matou Er e Onã?
Deus matou Er porque ele “era mau aos olhos do Senhor” (Gênesis 38:7), embora a Bíblia não especifique seu pecado. Onã foi morto por sua desobediência egoísta, ao se recusar a dar um herdeiro a seu irmão falecido, um ato que Deus também considerou mau.
Quem é Onã na Bíblia?
Onã é um personagem de Gênesis 38, o segundo filho de Judá. Após a morte de seu irmão mais velho, Er, ele foi instruído a se casar com a viúva Tamar para gerar um herdeiro em nome do irmão, mas se recusou e foi morto por Deus.
Fontes
[1] Alter, Robert. The Five Books of Moses: A Translation with Commentary. New York: W. W. Norton & Company, 2004. p. 222.
[2] Gênesis 38:3-5 (Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Corrigida – ARC).
[3] Gênesis 37:26-27 (ARC).
Demais fontes
[4] Gênesis 49:10 (ARC); Mateus 1:2-3 (ARC).
[5] Gênesis 38:2 (ARC).
[6] Gênesis 24:3-4 (ARC).
[7] Gênesis 38:7 (ARC).
[8] Wenham, Gordon J. Genesis 16-50. Word Biblical Commentary. Vol. 2. Dallas: Word, Inc., 1994. p. 363.
[9] Gênesis 38:11 (ARC).
[10] Gênesis 38:6-8 (ARC).
[11] Gênesis 38:13-26 (ARC).
[12] Magonet, Jonathan. Biblical Ethics. SCM Press, 2005. p. 69.
[13] Deuteronômio 25:5-10 (ARC).
[14] Tigay, Jeffrey H. The JPS Torah Commentary: Deuteronomy. Philadelphia: Jewish Publication Society, 1996. p. 235.
[15] Números 27:8-11 (ARC).
[16] Gênesis 38:8 (ARC).
[17] Gênesis 38:9 (ARC).
[18] Kidner, Derek. Genesis. Tyndale Old Testament Commentaries. Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1967. p. 187.
[19] Hamilton, Victor P. The Book of Genesis, Chapters 18-50. New International Commentary on the Old Testament. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1995. p. 437.
[20] Gênesis 38:10 (ARC).
[21] Gênesis 38:10 (ARC).
[22] Von Rad, Gerhard. Genesis: A Commentary. Philadelphia: Westminster Press, 1972. p. 353.
[23] Sarna, Nahum M. Genesis: The JPS Torah Commentary. Philadelphia: Jewish Publication Society, 1989. p. 263.
[24] Mathews, Kenneth A. Genesis 11:27-50:26. New American Commentary. Vol. 1B. Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 2005. p. 687.
[25] Waltke, Bruce K. Genesis: A Commentary. Grand Rapids, MI: Zondervan, 2001. p. 504.
[26] Gênesis 38:9 (ARC).
[27] Gênesis 12:2; 15:5; 17:6 (ARC).
[28] Longman III, Tremper. Genesis. The Story of God Bible Commentary. Grand Rapids, MI: Zondervan Academic, 2016. p. 430.
[29] Niditch, Susan. Genesis. The Old Testament Library. Louisville, KY: Westminster John Knox Press, 2008. p. 116.
[30] Hays, J. Daniel. “The Sin of Onan: Genesis 38:9-10 and Contraception.” Journal of the Evangelical Theological Society 40, no. 3 (1997): 381-397.
[31] Pope Paul VI. Humanae Vitae. Encyclical Letter. Vatican City, 1968.
[32] Wenham, Gordon J. Genesis 16-50. Word Biblical Commentary. Vol. 2. Dallas: Word, Inc., 1994. p. 364.
[33] Gênesis 1:28; 12:2 (ARC).
[34] Sailhamer, John H. The Expositor’s Bible Commentary, Vol. 2: Genesis–Numbers. Grand Rapids, MI: Zondervan, 1990. p. 235.
[35] Brown, Francis, S. R. Driver, and Charles A. Briggs. The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon. Peabody, MA: Hendrickson Publishers, 1994. p. 20.
[36] Strong, James. Strong’s Exhaustive Concordance of the Bible. Nashville, TN: Thomas Nelson Publishers, 1990. G472.
[37] Baker, Warren, and Eugene Carpenter. The Complete Word Study Dictionary: Old Testament. Chattanooga, TN: AMG Publishers, 2003. p. 838.
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