O antropocentrismo é uma visão filosófica que coloca o homem, ser humano, no centro do universo. Nesta visão, os valores, interesses e necessidades individuais estão acima de tudo e de todos, desconsiderando o bem estar social e as necessidades dos outros.
Esta visão foi criada como oposição ao teocentrismo, que como coloca Deus como centro do universo, e do cosmocentrismo, no qual a harmonia do universo deve ser colocada acima das necessidades individuais.
Neste artigo apresentamos as ideias centrais desta filosofia, sua aplicação, críticas e comparações com outras correntes de pensamento.
Filosofia do antropocentrismo
A filosofia antropocêntrica surgiu no Renascimento, como um contraponto aos ensinos da Igreja Católica. Ela veio para combater, principalmente, a visão teocêntrica.
Apesar de ter origem na Renascença, discussões parecidas existem desde a Grécia Antiga.
Primeiras discussões antropocêntricas
Apesar de não ser explicitamente uma visão antropocêntrica, a filosofia grega discutia o valor do homem em referência a natureza e Deus.
Protágoras, o pai do relativismo, afirmava:
“O homem é a medida de todas as coisas”
Ele defendia que o foco da filosofia deve ser nas experiências e interpretações do ser humano acerca do mundo.
Ao longo do Antiguidade e da Idade Média, o pensamento filosófico predominante foi o teocentrismo. Apenas no final da Idade Média alguns pensadores começaram a ressaltar a razão humana e questionar a verdade bíblica.
Origem do antropocentrismo
O antropocentrismo como conhecemos hoje, surgiu nos primeiros anos da Renascença como um contraponto da visão teocêntrica da era medieval.
Esse movimento surgiu a partir do redescobrimento das ideias humanistas da Antiguidade Grega. A partir dos escritos gregos os pensadores renascentistas começaram a questionar a fé católica e a ideia de um deus único, dando espaço para o racionalismo e ao humanismo.
Antropocentrismo no Renascimento
Giovanni Pico della Mirandola, um dos principais pensadores renascentistas, em seu discurso Oratio de Hominis Dignitate (Discurso sobre a dignidade do homem) disse:
“O homem é o escultor de si mesmo, modelando sua própria essência.”
A frase dita por Mirandola resume bem o sentimento do período, de que o homem deve ser o note da sociedade e tudo o que ela produz, e não um deus ou uma fé específica.
Na mesma linha de pensamento Francesco Petrarca, considerado o “pai do humanismo”, incentivou a leitura dos escritos gregos sob uma perspectiva de valorizar a racionalidade humana Ele é autor da frase:
“Os homens podem fazer coisas maravilhosas quando inspirados pelo amor à virtude e à glória.”
A filosofia antropocêntrica inspirou outras áreas do conhecimento e da sociedade, como a política e as ciências. Dentre os principais nome do antropocentrismo na história, se encontram:
- Nicolau Maquiavel, autor de “O Príncipe”;
- Nicolau Copérnico, astrônomo e matemático criador da “teoria heliocêntrica”;
- René Descartes, um dos principais filósofos da Renascença.
Características do antropocentrismo
As principais características do antropocentrismo são:
- Valorização do ser humano, acima de Deus e da fé;
- Foco na racionalidade e na ciência;
- Humanismo;
- Menor influência da religião na sociedade.
Valorização do ser humano
Com uma visão antropocêntrica do mundo, o ser humano passou a ser visto como a ser supremo da Criação, dotado de inteligência e capacidade de discernimento. Todas as conquistas e capacidades humanas passaram a ser extremamente valorizadas, o colocando como centro do mundo.
Essa visão levou a valorização do individualismo, incentivando cada pessoa a pensar e agir por si mesma.
Racionalidade e ciência
A racionalidade se tornou o principal instrumento para se alcançar o conhecimento. O chamado “método científico” passou a ser usado como o único meio para se compreender o universo.
Para seus pensadores, a religião não era capaz de levar o ser humano as verdades do Universo. Uma vez que ela não poderia ser provada pelo “método científico”.
Humanismo
Os humanistas enfatizavam o potencial individual de cada ser humano em prol do bem estar social. Eles procuravam exaltar as características humanas, como força, beleza e, principalmente, racionalidade.
Menor influencia da religião
Embora a religião, em especial a cristã, não tivesse sido apagada e esquecida, ela deveria ser enfraquecida.
A influencia da religião na política, saúde e educação foi se perdendo gradativamente. Para seus pensadores, a fé não era mais capaz de responder as questões humanas ou guiar a sociedade como a razão e a ciência.
Perigos do antropocentrismo
A partir da visão cristã, podemos observar que o antropocentrismo apresenta diversos perigos a nossa fé e erros teológicos que conduzem a um estado de apostasia. Nesta seção queremos apresentar os periogos desta visão filosófica a fé cristã.
Deus é retirado do centro
A Bíblia deixa claro que Deus é o centro de tudo e Ele é o soberano sobre toda a criação. Romanos 11:36, por exemplo, nos diz “Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas […]”. O antropocentrismo distorce essa verdade bíblica, ao enaltecer o homem acima de todas as demais coisas.
Ao colocar o homem no centro, essa filosofia acaba negando a soberania de Deus.
Essa inversão acaba levando o ser humano a idolatria de si mesmo, e o afastando da verdade bíblica que o conduz a Deus e a redenção.
[…] Estas são as palavras do Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o soberano da criação de Deus.
Apocalipse 3:14 (NVI)
Negligência pela Criação de Deus
O homem foi colocado na Terra com o propósito de cuidar da Criação do Senhor (Gn 2:15). A visão antropocêntrica leva a visão que a natureza e os animais existem para servir ao homem e não para serem cuidados por ele.
Sob essa perspectiva, o ser humano vem destruindo toda a boa Criação do Senhor, distorcendo a vontade do Criador. Podemos ver essa destruição nos desmatamentos, na poluição, na mudança climática e todos os demais pertubações feitas a natureza do nosso planeta.
O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo.
Gênesis 2:15 (NVI)
Falta de humildade
O antropocentrismo leva o homem a um estado de arrogância e enfraquece sua humildade perante Deus.
“Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma.
João 15:5 (NVI)
Perca da dependência de Deus
Colocando o homem como centro e Deus em segundo plano, o antropocentrismo promove uma falsa visão de autossuficiência. O ser humano passa a acreditar que é capaz de viver sem Deus, sendo autônomo em tudo, inclusive em sua salvação.
Perda do propósito eterno
O antropocentrismo leva a uma visão limitada e egoísta da vida, no qual o propósito do ser humano passa a ser apenas a busca pelo prazer e satisfação pessoal. O homem perde o sentido de glorificar a Deus e realizar seus mandamentos.
Nesta visão ignoramos a centralidade de Cristo em nossas e a missão nos dada de levar a mensagem de salvação ao mundo.
Antropocentrismo e Teocentrismo
O antropocentrismo e o teocentrismo são filosofias contrárias, que defendem conceitos distintos. Uma coloca o ser humano no centro do universo, enquanto a outra coloca Deus como centro e rebaixa o ser humano a uma posição de servo.
Aspecto | Antropocentrismo | Teocentrismo |
---|---|---|
Definição | Visão de mundo que coloca o ser humano no centro de tudo. | Visão de mundo que coloca Deus como o centro de tudo. |
Origem do termo | Do grego: anthropos (homem) + kentron (centro). | Do grego: theos (Deus) + kentron (centro). |
Contexto histórico | Surgiu com força no Renascimento, influenciado pelo humanismo. | Dominante na Idade Média, especialmente na filosofia e na teologia cristã. |
Foco principal | O homem como medida de todas as coisas. | Deus como o centro e objetivo da existência. |
Relação com a religião | Muitas vezes secular ou separada da religião. | Estritamente ligado à crença religiosa, especialmente no cristianismo medieval. |
Visão da natureza | A natureza existe para servir às necessidades humanas. | A natureza é criação divina e reflete a glória de Deus. |
Papel do ser humano | Ser autônomo e responsável pelo próprio destino. | Ser subordinado a Deus, vivendo conforme Sua vontade. |
Exemplos históricos | Ideais do Renascimento e do Iluminismo; figuras como Leonardo da Vinci. | Filosofia escolástica; figuras como Santo Agostinho e Tomás de Aquino. |
Impactos na cultura | Avanço das ciências, artes e filosofias voltadas ao homem. | Desenvolvimento da teologia, arte sacra e da moral cristã. |
Conceito de verdade | A verdade pode ser descoberta pela razão e experiência humana. | A verdade é revelada por Deus e está nas Escrituras. |
Relação com o universo | O homem busca dominar e compreender o universo. | O universo é expressão da soberania divina, e o homem é servo dessa ordem. |
Legado contemporâneo | Influência na ciência, direitos humanos e individualismo. | Presente em tradições religiosas e perspectivas teológicas. |
Antropocentrismo e Humanismo
O antropocentrismo e o humanismo são filosofias irmãs, ambas se desenvolveram na Renascença e buscam questionar a ideia teocêntrica do relacionamento de Deus com a humanidade.
O humanismo surgiu dentro dos centros acadêmicos medievais, com a redescoberta dos escritos gregos e romanos. Essa filosofia buscou fortalecer as disciplinas humanas, redefinir alguns valores ensinados pela Igreja Católicas e fazer um equilíbrio entre a religião e a razão.
Aspecto | Antropocentrismo | Humanismo |
---|---|---|
Definição | Doutrina que coloca o ser humano como o centro do universo, destacando sua importância em relação ao resto da criação. | Movimento intelectual e cultural que valoriza o ser humano, sua dignidade, razão e potencial, muitas vezes em oposição à visão medieval. |
Origem do termo | Do grego: anthropos (homem) + kentron (centro). | Do latim: humanitas (qualidade humana). |
Contexto histórico | Popularizado no Renascimento como contraponto ao teocentrismo medieval. | Surgiu no Renascimento, inspirado na redescoberta da cultura clássica greco-romana. |
Foco principal | O homem como medida de todas as coisas, acima de outras perspectivas. | Valorização da educação, ética e artes centradas no ser humano e na sua capacidade criativa e racional. |
Relação com a religião | Pode coexistir com a religião, mas muitas vezes é associado a visões seculares. | Originalmente não era antirreligioso, mas buscava conciliar a fé com a valorização do ser humano. |
Visão da natureza | A natureza existe para servir aos interesses humanos. | A natureza é vista como algo a ser compreendido e apreciado pelo ser humano. |
Papel do ser humano | Central e dominante, com autonomia para moldar o próprio destino. | Figura de destaque na busca por conhecimento, ética e progresso moral. |
Exemplos históricos | Leonardo da Vinci, Michelangelo (ênfase no homem em suas obras). | Erasmo de Roterdã, Francesco Petrarca, Thomas More. |
Conceito de verdade | A verdade pode ser alcançada pelo raciocínio humano e experiência empírica. | A verdade é buscada através da razão, da educação e do estudo das culturas clássicas. |
Legado na cultura | Inspirou o avanço das ciências e o desenvolvimento do individualismo. | Influenciou a reforma educacional, as artes renascentistas e o desenvolvimento de uma ética humanista. |
Semelhança principal | Ambos destacam o papel do ser humano como central e importante na experiência universal. | Ambos rejeitam a submissão cega a dogmas e tradições sem reflexão. |
Diferença principal | Mais voltado à centralidade do homem em relação ao cosmos e à natureza. | Foco no desenvolvimento integral do ser humano, incluindo ética, arte, literatura e ciência. |
Antropocentrismo e Ecocentrismo
O antropocentrismo e o ecocentrismo, são correntes de pensamento distintas que discutem a relação do homem com a natureza.
O ecocentrismo coloca a natureza como o centro das preocupações morais do ser humano.
Aspecto | Antropocentrismo | Ecocentrismo |
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Definição | Visão que coloca o ser humano como o centro do universo, considerando-o superior e prioritário em relação à natureza. | Perspectiva que valoriza o equilíbrio ecológico, colocando a natureza e todas as formas de vida no centro das preocupações éticas e ambientais. |
Origem do termo | Do grego: anthropos (homem) + kentron (centro). | Do grego: oikos (casa, natureza) + kentron (centro). |
Contexto histórico | Surge como uma visão dominante desde o Renascimento, destacando a superioridade humana. | Desenvolveu-se no século XX com movimentos ecológicos e preocupações ambientais. |
Foco principal | O bem-estar e os interesses humanos, muitas vezes em detrimento da natureza. | O equilíbrio e a interdependência entre os seres vivos e os ecossistemas. |
Relação com a natureza | A natureza é vista como recurso a ser explorado para benefício humano. | A natureza é intrinsecamente valiosa, independente de seu uso humano. |
Papel do ser humano | Dominador e gestor da natureza, com poder e direito de moldá-la conforme suas necessidades. | Parte integrante do ecossistema, com responsabilidade de preservá-lo. |
Visão ética | Ética centrada nos direitos humanos e no progresso da humanidade. | Ética biocêntrica, considerando o valor de todas as formas de vida e a necessidade de harmonia com o meio ambiente. |
Exemplos históricos | Agricultura intensiva, industrialização, urbanização. | Movimentos ambientalistas, práticas de conservação e desenvolvimento sustentável. |
Impacto ambiental | Desmatamento, poluição e degradação ambiental. | Proteção de habitats, reflorestamento, redução da pegada ecológica. |
Conceito de verdade | O homem pode descobrir e moldar a verdade por meio da razão e da ciência para seu benefício. | A verdade está na interconexão de todos os seres e no equilíbrio natural dos ecossistemas. |
Legado na cultura | Desenvolvimento tecnológico e científico com foco humano, mas muitas vezes com impacto ambiental negativo. | Desenvolvimento de práticas sustentáveis e maior conscientização sobre a crise climática e a preservação ambiental. |
Semelhança principal | Ambos reconhecem a importância da ação humana no mundo. | Ambos buscam soluções para melhorar a vida, mas divergem na prioridade entre homem e natureza. |
Diferença principal | Centraliza o homem como superior à natureza. | Valoriza a natureza como igual ou superior em importância ao homem. |
Significado de Antropocentrismo
O antropocentrismo é uma visão filosófica que coloca o ser humano como o sempre do Universo e a medida de todas as coisas. A palavra é formada a partir das palavras gregas “anthropos“, que significa humano, e “kentron”, que significa centro, e significa “o homem no centro”. [1]
Aprenda mais
[Vídeo] Antropocentrismo na Igreja. Pr Paulo Jr.
Perguntas comuns
Nesta seção apresentamos as principais perguntas, com suas respectivas respostas, referentes a este termo teológico.
O que é antropocentrismo?
Antropocentrismo é a visão que coloca o ser humano como centro e medida de todas as coisas, sendo o ser de maior valor em todo o universo.
Como se pronuncia antropocentrismo?
A palavra antropocentrismo se pronuncia da seguinte forma:
An-tro-po-cen-tris-mo
- An: com o som de “ã”.
- tro: com o “o” fechado, como em “troco”.
- po: com o “o” fechado, como em “povo”.
- cen: com o “e” fechado, como em “cena”.
- tris: com o “i” como em “triste”.
- mo: com o “o” fechado, como em “moro”.
Qual a diferença entre antropocentrismo e teocentrismo?
Antropocentrismo coloca o ser humano como centro de tudo, valorizando a razão humanas e todas as suas realizações. Já o teocentrismo coloca Deus como o centro de tudo, Ele é a origem e propósito de todas as coisas.
Antropocentrismo quando surgiu?
O antropocentrismo surgiu na Renascença (séculos XIV-XVI), quando as pessoas começaram a redescobrir os escritos gregos e exaltar o ser humano e suas capacidades.
Quem criou o antropocentrismo?
O antropocentrismo não foi criado por uma única pessoa, ele é uma filosofia que desenvolveu a partir das ideias de diversos pensadores renascentistas, como Francesco Petrarca e Pico della Mirandola.
Como o antropocentrismo perde espaço no Barroco?
Com o crescimento de uma visão mais espiritual e focada em Deus, o antropocentrismo perdeu um pouco de espaço para o movimento Barroco.
Durante este período, voltou-se a valorizar a fé e representá-la através das artes, músicas, arquitetura e etc.
O que é antropocentrismo no Renascimento?
O antropocentrismo é uma visão filosófica que surgiu no Renascimento, influenciada pelas ideias humanistas deste período.
Como surgiu o antropocentrismo?
O antropocentrismo surgiu a partir das ideias humanistas da Renascença, com a valorização do homem e o distanciamente do teocentrismo ensinado pelo cristianismo.
Fontes
[1] Antropocentrsimo. Educa mais Brasil.