Relativismo

Relativismo é uma vertente filosófica que nega a existência de verdades e princípios universais e absolutos.

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O relativismo é uma filosofia que nega a existência de uma verdade absoluta. Nesta filosofia, a compreensão de algo, ou a verdade de algo, está sujeita a perspectiva de seu observador e de sua cultura.

Esta corrente se encontra presente em diversas perspectivas filosóficas e religiosas da atualidade. Por negar a verdade, ela tem se mostrado um perigo para a fé, para o estudo da história e para a sociedade em geral.

Por negar a existência da verdade e sujeitar a compreensão de algo ao seu observador, essa visão tem levado a compreensões errôneas em diversos espectros da sociedade, como história, religião, ética, saúde e etc.

Neste artigo apresentamos a história do relativismo, suas diferentes formas, definição e falhas.


Relativismo cristão

O relativismo cristão, ou relativismo teológico, é uma abordagem filosófica que busca misturar os fundamentos da fé cristã com o relativismo filosófico, levando a relativação de todos os princípios, dogmas e conceitos do cristianismo.

Relativismo da Bíblia

A Bíblia, por exemplo, passa a ser vista não como a Palavra definitiva de Deus, mas sim como um extenso conjunto de ensinamentos sujeitos as mais variáveis interpretações. Dentro do pensamento relativista, cada uma dessas interpretações são igualmente válidas.

Além disso, a Bíblia passa a ser considerada apenas mais um meio de seu conhecer a revelação plano de Deus e obra de Jesus Cristo, e não o único. Isso acaba relativizando a autoridade da Bíblia e negando a doutrina dos 5 solas.

Primeira Edição da tradução Almeida em 1681
Primeira Edição da tradução Almeida em 1681

Negação do pecado

Práticas e comportamentos pecaminosos passam a ser aceitos e considerados válidos dentro da fé. Para os relativistas não existe o conceito de pecado.

Os textos bíblicos que condenam diversas práticas profanas, são revistos e considerados válidos apenas para o povo e cultura da Antiguidade, e não para os dias atuais. Alguns chegam a considerar que a interpretação ortodoxa está errada, pois não questiona a aplicabilidade da Bíblia para o mundo atual.

O relativismo cristão surge a partir de debates sobre ética, sexualidade, justiça social, moralidade e até mesmo sobre a identidade de Cristo e sua divindade. Seus defensores negam os fundamentos do cristianismo, para abraçar filosofias e comportamentos mundanos, buscam conciliar a beleza do cristianismo com as práticas e pensamentos adotados pelos pensadores modernos.

Origem do relativismo na igreja

Ao longo de toda história do cristianismo, algumas doutrinas, conceitos, práticas e demais elementos relacionados a fé cristã, foram questionados e reinterpretados. Isso deu origem a diversas heresias conhecidas, como: arianismo, nestorianismo, maniqueísmo e pelagianismo.

Apesar das heresias que se criaram, e eventualmente foram condenadas, ao longo da história da Igreja, até o século XVIII não existia a relativização dos dogmas do cristianismo. O que se havia ,eram grupos que discordavam que alguns pontos e acabavam por criar uma nova vertente cristã, como os ortodoxos e os protestantes.

No século XVIII, com a proliferação das ideias relativistas nas universidades e pensadores da época, a secularização e sincretismo religioso, começou-se a relativizar doutrinas e dogmas da Igreja, levando a novas heresias e os questionamentos encontrados hoje.

Ilustração do sincretismo, estante com elementos de diversas religiões
Ilustração de representação do sincretismo, estante com elementos de diversas religiões

Relativismo na Igreja Católica Apostólica Romana

A Igreja Católica, assim como no protestantismo, condenou o relativismo cristão. Os católicos enxergam essa filosofia como uma dos maiores problemas atuais para a fé a moralidade cristã [18]. Os papas João Paulo II e Bento XVI, por exemplo, condenaram as interpretações relativistas da Sagrada Escritas e dos dogmas da Igreja.

Críticas do Papa Leão XIII

O primeiro papa a mencionar o relativismo e considerá-lo ao pecaminoso e incorreto, foi Leão XIII. Em um documento oficial, chamado de Humanum genus, o papa considerou a maçonaria como uma filosofia relativista. [19]

Críticas de João Paulo II

Ao longo de todo seu pontificado, o papa João Paulo II fez diversas críticas a filosofia relativista, crescente no fim do Século XX. Ele via o relativismo como uma ameaça à moral, fé e dignidade humana.

As críticas de João Paulo II, esta filosofia:

  • Negava a verdade objetiva;
  • Distorcia a moral;
  • Distorcia o conceito de liberdade;
  • Impacta negativamente a fé cristã;
  • Criava uma “cultura da morte”.
Foto de 1985, do papa João Paulo II
Foto de 1985, do papa João Paulo II
Negação da verdade objetiva

No documento Veritatis Splendor de 1993, o papa João Paulo II descreveu a filosofia relativista como uma das maiores ameaças a dignidade humana.

Ele defendeu que a verdade moral, por exemplo, não pode ser baseada nas meras opiniões subjetivas de cada um, mas sim através da descoberta das verdades deixadas por Deus para a humanidade.

Para o papa, os princípios deixados por Deus são encontrados a partir da fé e da razão, e não pelas diferentes opiniões humanas.

“Hoje, uma das maiores ameaças ao homem e à sua dignidade é a rejeição da verdade moral universal, que é a base da liberdade humana”.

Veritatis Splendor, n. 32
Distorção da moral

João Paulo II considerou o relativismo o maior causador da crise moral enfrentada no século XX. Ele considerou com o subjetivismo, encontrada nos pensamentos relativistas, levou a uma confusão mental do entendimento de “certo” e “errado”.

A partir desta confusão, as pessoas se permitiram experimentar toda espécie de imoralidade e pecado, assim como os habitantes de Canaã antes da chegada israelita.

“O relativismo moral leva ao hedonismo e ao utilitarismo, onde os critérios de julgamento moral são apenas prazer ou conveniência”.

Veritatis Splendor, n. 118
Distorção da liberdade

Com a confusão mental causada pelas ideias relativistas, a pessoas passaram a distorcer a compreensão de liberdade. Crendo que liberdade é a ausência de restrições e limites éticos.

Para o papa João Paulo II, a liberdade é uma capacidade natural do ser humano orientada pela verdade e reponsabilidade moral.

“A liberdade separada da verdade conduz ao arbítrio e à destruição da pessoa”.

Fides et Ratio, n. 90
Impacto negativo a fé cristã

O papa considerou o relativismo o principal causados no pluralismo cultural e religioso do século XX. Ele condenou a tendência de equiparar todas as religiões e de negar a revelação cristã.

“Se todas as verdades são relativas, então a própria mensagem cristã é posta em questão. Mas Cristo é a Verdade que não muda”.

Encontro com os Jovens na Polônia, 15 de agosto de 1991
Criador da “cultura da morte”

João Paulo II acusou o relativismo de ser o criador e propagador da, chamado por ele, “cultura da morte”. Para ele a crescente aceitação do aborto e da eutanásia no século passado, são resultados das filosofias subjetivas e da desmoralização da vida promovidos pelos pensadores relativistas.

“A cultura contemporânea, impregnada pelo relativismo, relativiza o valor da vida humana, subordinando-o a critérios utilitaristas”.

Evangelium Vitae, n. 23

Críticas de Bento XVI

Assim como seu antecessor, o papa Bento XVI realizou diversas críticas a filosofia relativista. Antes de assumir o pontificado, ele disse que o mundo “caminha em direção a uma ditadura do relativismo”. [20]

Durante a Jornada Mundial da Juventude, o papa argumenta que o pensamento relativista é um dos responsáveis pelos os problemas causados pelas revoluções comunistas e sexual do século XX. Em seu discurso aos jovens, ele defende que essas ideias tiram a dignidade e escraviza o ser humano a uma ideologia mundana, incapaz de salvar o mundo.

Bento em Zagreb , Croácia, 2011
Bento em Zagreb , Croácia, 2011

Em uma missa, no dia 6 de junho de 2005, o papa disse ao professores e educadores cristãos:

Hoje, um obstáculo particularmente insidioso à tarefa da educação é a presença maciça em nossa sociedade e cultura daquele relativismo que, não reconhecendo nada como definitivo, deixa como critério último apenas o eu com seus desejos.

E sob a aparência de liberdade, ele se torna uma prisão para cada um, pois separa as pessoas umas das outras, trancando cada pessoa em seu próprio ‘ego’.

Discurso do papa Bento CVI na Abertura do congresso eclesial diocesano na basílica de São João de Latrão

Críticas do Papa Francisco

O papa Francisco descreve o relativismo como fruto de uma “cultura do descarte”. Ele defende que pelas ideais relativistas excluírem a ideia de uma verdade absoluta, elas acabam por criar um estado de barbárie, no qual cada pessoa decide o que é “certo” ou “errado” conforme seus interesses próprios ou por conveniência.

“Uma das causas desta situação está na relação que estabelecemos com o tempo, que nos leva a privilegiar um imediatismo que despoja a ação de sentido transcendente e a deixa prisioneira de uma dinâmica que só busca resultados imediatos. (…)

O relativismo gera uma lógica que legitima práticas sociais de exclusão e destruição do outro.”

Fala do papa Francisco sobre a filosofia relativista

Ainda dentro da “cultura do descarte”, ele argumenta que essas ideias são utilizadas pelos poderosos para excluir os menos favorecidos.

“O relativismo, aliado à idolatria do dinheiro e do poder, conduz à exclusão dos mais fracos e indefesos.”


Relativismo religioso, além do cristianismo

A filosofia relativista pode ser encontrada e defendida como doutrina em diversas religiões do mundo. Muitas dessas religiões são de origem oriental e possuem dogmas diferentes das religiões abraâmicas.

Abaixo apresentamos as principais religiões que defendem esta visão do mundo.

Budismo

O Budismo Madhyamaka adota a chamada “doutrina das verdades”. Esta doutrina prega que existe uma verdade relativa, ou verdade convencional, e uma verdade última.

As verdades relativas, são aquelas de sendo comum, que descreve as experiências diárias das pessoas no mundo físico. Ela é formada a partir do que é aparente, e está sujeita as percepções de cada indivíduo, ao que ele observa e entende do mundo. Essa verdade está limitada ao que a pessoa está compreendendo e ao que ela já compreendeu da realidade.

Na chamada “verdade última”, a pessoas não está mais presa a suas perspectivas e ao que ela compreende do mundo. Nesta etapa a pessoa atinge a sunnyatā, e está livre da necessidade de compreender a realidade.

Sunnyatā, traduzido como “vazio”, é um conceito do budismo que descreve um estado de o indivíduo compreende que todas as coisas são vazias de existência e natureza intrínsecas. [2]

Em nossa visão a doutrina das duas verdades, acaba por negar a necessidade de uma verdade, ou seja, nega a obrigação de uma explicação para as coisas do mundo material e imaterial.

Estátua de Buda em Bodh Gaya, um dos lugares mais sagrados do budismo
Estátua de Buda em Bodh Gaya, um dos lugares mais sagrados do budismo

Jainismo

O Jainismo, uma religião de origem indiana, adota a doutrina da anekantavada. Criada pelo pregador Mahavira, esta doutrina nega a existência de uma verdade absoluta, e considera que a verdade está sujeita as perspectivas adotadas por cada indivíduo.

Para os estudiosos da religião, como John Koller, a doutrina da anekantavada respeita as diferentes visões de mundo adotadas pelas pessoas, independente se essas visões são fixas (duradouras) ou relativas (mudam constantemente). Entretanto, essa doutrina não considera que todas essas visões , assim como seus argumentos, são iguais em valor, peso e coerência. [1]

Essa doutrina se aparenta muito contraditória, pois na mesma medida que respeita a verdade individual de cada pessoa, não considera todas as verdades válidas, e também não define uma verdade absoluta.

Homem jaina no interior do templo de Ranakpur. A parte inferior de seu rosto encontra-se coberta com uma máscara de modo a não inalar insectos
Homem jaina no interior do templo de Ranakpur. A parte inferior de seu rosto encontra-se coberta com uma máscara de modo a não inalar insectos

Sikhismo

O Sikhismo considera que existem muitos caminhos que levam a salvação da alma e ao conhecimento do deus único.

Para o Sikhismo, todas as religiões que incentivam a realização de ações virtuosas (boas obras), conduzem para a iluminação espiritual e devem ser estudadas por seus fiéis. Para seus seguidores, o bom fiel é aquele que estuda a religião, pondera seus ensinos e pratica os ensinamentos de seus profeta/líder.

Em seu texto sagrado Sri Guru Granth Sahib, estão registrados:

“Não diga que os Vedas, a Bíblia e o Alcorão são falsos. Aqueles que não os contemplam são falsos.”

Sri Guru Granth Sahib, página 1350

“Os segundos, minutos e horas, dias, semanas e meses, e as várias estações se originam do único Sol; Ó nanak, da mesma forma, as muitas formas se originam do Criador.”

Sri Guru Granth Sahib, página 12 e 13

Como pode ser observado por seus escritos sagrados, para o Sikhismo todas as “boas” religiões levam para a salvação.

Islamismo

O islamismo, assim como o cristianismo, possui alguns pensadores relativistas, como buscam reinterpretar seus textos sagrados com base na cultura atual. Mas a religião em si, não possui dogmas e doutrinas que relativizam o conhecimento de seu deus e seus profetas.


História do relativismo

Apesar de ser uma filosofia com um destaque relativamente recente na cultura ocidental, o relativismo possui suas raízes na Grécia Antiga, sendo seu principal pensador Protágoras de Abdera.

Esta filosofia se desenvolveu lentamente ao longo da Antiguidade e da Idade Média, ganhando mais destaque durante a Idade Moderna.

Nesta seção apresentamos os principais pensadores e o desenvolvimento desta filosofia que tem ganhado protagonismo na Idade Moderna.

Origem do relativismo

A filosofia relativista foi fundada pelos sofistas gregos no final do século V a.C. Ela nasceu como um contraponto das ideias de Platão, que defendia que os conceitos morais, como a justiça, a bondade, o bem e a beleza, eram eternos e estavam inscritos na alma de todos os homens.

Protágoras e Platão

Para Platão o conhecimento obtido a partir dos sentidos do corpo são enganosos, enquanto o chamado “conhecimento inteligível” leva ao entendimento verdadeiro das coisas. As ideias de Platão acerca do entendimento da verdade estão exemplificadas em seu livro Teeteto.

Os pensadores sofistas, com destaque em Protágoras, argumentam que a verdade está sujeita aos sentidos e percepções de cada indivíduo. Em resposta a Platão, Protágoras disse: “O que é verdade para você é verdade para você, e o que é verdade para mim é verdade para mim”. [3][4]

Outra frase famosa de Protágoras que resume seu pensamento é: “O homem é a medida de todas as coisas”. Nesta frase ele defende que a verdade depende das experiências pessoais e do ponto de de vista de cada um.

Além de Protágoras os principais filósofos sofistas que defendiam ideias semelhantes, foram Górgias e Hípias.

Protágoras de Jusepe de Ribera, em 1637. Criador do relativismo
Protágoras de Jusepe de Ribera, em 1637

Outros filósofos sofistas que defendiam o relativismo

Górgias argumentava que nada realmente existe, e caso existisse, não poderia ser conhecido ou comunicado através dos sentidos. [5]

Para Hípias a verdade é subjetiva e varia conforme a perspectiva individual, enfatizando a relatividade do conhecimento. [5]

Idade Média

Durante a Idade Média o platonismo é neoplatonismo foram as principais visões filosóficas discutida a dentro dos grande centro a de conhecimento, com o igrejas e monastérios. Neste período o relativismo pouco se desenvolveu, sendo discutido apenas por alguns filósofos nominalistas.

Guilherme de Ockham e o nominalismo

Guilherme de Ockham, um dos principais filósofos nominalistas, argumentou que os conceitos universais eram meramente nomes, levando a um ceticismo sobre a verdade objetiva. [6][7]

A visão de Ockham se consolidou na Escolástica, onde a razão humana foi vista como incapaz de alcançar verdades absolutas. Para ele a verdade está relativa a o contexto humano. [6]

A partir disto relativismo moral começou a ganhar forma, negando a existência de normas éticas universais, refletindo a crença de que o indivíduo é a medida de todas as suas percepções do mundo.

Representació de Guillem d'Occam en una vidriera emplomada de l'església de Tots els Sants a Ockham (Surrey)
Representació de Guillem d’Occam en una vidriera emplomada de l’església de Tots els Sants a Ockham (Surrey)

Críticas ao nominalismo de Ockham

A principal ao nominalismo é o ceticismo excessivo de Ockham. O filósofo questiona ****a capacidade da razão humana de conhecer verdades universais, o que acabava por levar a um estado de dúvida sobre a própria verdade.

Outra crítica ao nominalismo é o fato do mesma relativar a moralidade, argumentando que a moral é subjetiva as crenças pessoais de cada um. Os críticos ao nominalismo argumento que este pensamento permitiria justificar práticas abusivas em nome da cultura, desafiando a dignidade humana.

Renascimento

Durante o Renascimento, o relativismo se desenvolveu como uma resposta ao absolutismo medieval e à autoridade religiosa da Igreja Católica.

Este período foi caracterizado por um crescente interesse na experiência individual e na razão. Desafiando verdades universais pregadas pela Igreja e promovendo a ideia de que a verdade é subjetiva e contextual.

A Escola de Atenas (1509–1511) por Rafael
A Escola de Atenas (1509–1511) por Rafael

Os principais filósofos relativistas deste período foram Giordano Bruno, Bernardino Telésio e Michel de Montaigne. Em seus escritos sugeriam que as diferentes culturas e contextos moldam a compreensão do indivíduo a cerca da verdade. O que tornaria a verdade relativa ao contexto em que a pessoa se encontra, levando a inexistência de uma verdade única e universal.

Giordano Bruno defendia que o universo é infinito e que há multiplicidade de verdades. Enquanto Bernardino Telésio tinha uma visão naturalista do mundo, enfatizando a experiência sensorial como fonte de conhecimento para cada pessoa.

Por fim Michel de Montaigne sustentava uma visão mais cética do mundo. Questionava a existência de uma verdade universal, como defendido pelo cristianismo, e considerava a verdade um fruto das perspectiva individual do ser humano.


Formas de relativismo

O relativismo se apresenta de diferentes formas e em diferentes contextos dentro da sociedade. Nesta seção apresentamos suas principais formas.

Relativismo filosófico

O relativismo filosófico é uma corrente de pensamento que nega a existência de verdades universais e absolutas. Esta corrente filosófica se manifesta em diversas outras áreas de pensamento, como:

  • Moralidade;
  • Cultura;
  • Antropologia;
  • Linguística;
  • Estética;
  • Lógica;
  • Tempo;
  • Ideologia.

Relativismo cultural

O relativismo cultural é um conceito que prega que não existem valores ou normas universais, e que as concepções de cada cultura são verdadeiras de acordo com a sua civilização.

Desse modo, cada cultura constrói e sustenta seus próprios valores morais e seu próprio conceito de verdade. Para seus pensadores, esse conjunto de valores e verdades não podem ser questionados ou considerados errados por outras culturas, visto que todos são verdadeiros para seus praticantes.

Franz Boas e Ruth Benedict são os principais filósofos que desenvolveram esta visão relativista da cultura. A partir de seus estudos de antropologia, definiram que cada cultura é única e que suas verdades não podem ser julgadas ou questionadas por ninguém fora de seu contexto.

Foto de Ruth Fulton Benedict
Foto de Ruth Fulton Benedict

Relativismo moral

Desenvolvido por Gilbert Harman e David Wong, o relativismo moral prega que não há valores morais absolutos e universais, os padrões morais são subjetivos e relativos a cultura, sociedade e indivíduo. [15]

Segundo esta visão filosófica não existe ao imoral, o que é considerado imoral por determinada pessoa ou grupo, na verdade é um conjunto de moralidade diferente do seu.

Esta corrente de pensamento vem tomando diferentes esferas da sociedade desde o início do século XX. Presente principalmente em movimentos mais progressistas, que pregam a liberdade e desapego de uma visão conservadora.

Relativismo ético

O relativismo ético, assim como o moral, prega inexistência de um padrão ético universal e absoluto. Diferente do relativismo moral, o ético é discutido mais em nível acadêmico.

Para seus pensadores, não é possível definir um padrão ético universal, pois a sociedade possui diferentes padrões morais que são equivalentes, um não é superior ao outro.

Relativismo cognitivo ou relativismo epistemológico

Desenvolvido ao longo do século XX por pensadores como Richard Rorty, Thomas Kuhn e Paul Feyerabend, o relativismo cognitivo, também chamado de epistemológico, defende que as teorias científicas e perspectivas sociais são moldadas por contextos históricos, e não possuem uma verdade objetiva.

Thomas Kuhn, por exemplo, argumentava que o paradigma científico vigente molda a visão do mundo em sua época. [16]

Apesar de abstrato, esta filosofia tem sido um pensamento crescente dentro dos centros acadêmicos modernos, sendo debatido tanto por professores, alunos e pessoas comuns da sociedade.

Foto de Thomas Kuhn
Foto de Thomas Kuhn

Relativismo linguístico

Proposto pelos antropólogos Benjamin Lee Whorf, Edward Sapir, o relativismo linguístico defende que a estrutura de linguagem adotada por um povo, influencia sua forma de perceber e compreender o mundo.

Para eles, cada idioma molda as experiências individuais de cada pessoa, levando a compreensões diferentes do falante de outro idioma [17]. O mesmo vale para os diferentes dialetos dentro de um idioma.

Relativismo antropológico

O relativismo antropológico é um conceito da antropologia que defende a ideia de que as crenças, valores, costumes e práticas de uma cultura devem ser compreendidos dentro do seu próprio contexto, e não podem ser julgadas pelos padrões de outras culturas.

Ela é vista como uma oposição a visão etnocêntrica, que busca julgar uma outra cultura com base em seus próprios valores e costumes.

A visão relativista antropológica utiliza a abordagem descritiva, que busca descrever o conjunto de verdades adotadas por determinado grupo sociocultural.

Um antropólogo com um ameríndio
Um antropólogo com um ameríndio

Relativismo descritivo

O relativismo descrito é um termo utilizado para descrever como as coisas aparentam ser dentro de determinado grupo sociocultural. Ele é um método de observação, no qual o observador reconhece que cada grupo social possui seu próprio conjunto de verdades.

Esta abordagem se limita a simplesmente descrever as diferentes verdades adotadas pelos diferentes grupos sociais e culturais.

Nesta visão, o observador reconhece que as crenças morais variam significativamente para cada grupo. Com isso não é possível julgar as práticas de um grupo com base na cosmovisão de outro ou mesmo com base em um código moral universal.

Os críticos deste modo de observação da sociedade, consideram que esta visão pode levar a aceitação de absurdos como o abandono de crianças com “más formações”, realizado por algumas tribos indígenas, e ao abuso infantil, realizado em países que tem como cultura casar meninas com homens adultos.

Alguns defendem que esta observação não implica necessariamente na aceitação dos padrões morais de outro grupos, mas apenas os descreve.

Uma gravura, geralmente intitulada John Wesley pregando aos índios , artista sem atribuição
Uma gravura, geralmente intitulada John Wesley pregando aos índios , artista sem atribuição

Relativismo normativo

Sendo um contraponto ao relativismo descritivo, o relativismo normativa vai muito além de apenas descrever as verdades adotas por cada cultura/grupo.

Esta abordagem defende que não há uma maneira certa para avaliar e observar as diferentes verdades de cada cultura, pois o observador possui um entendimento de verdade completamente diferente do grupo observado, e sua visão de observação sempre estará enviesado a seu próprio contexto.

Esta visão sustenta que os padrões de “certo” e “errado” não são universais, são contextuais dentro de seu grupo e só podem ser compreendidos dentro de seu próprio grupo. Um observador externo é incapaz de descrevê-lo corretamente, pois seu julgamento está enviesado as suas próprias experiências e perspectivas, diferentes das experiências e perspectivas do grupo observado.

Relativismo jurídico

O relativismo jurídico é uma vertente da filosofia relativista que defende que os princípios que norteiam a justiça, e o próprio conceito de direito, são relativos ao contexto social, histórico, cultural e até político de cada pessoa.

Esta visão defende que a justiça só é válida se for baseada no sistema de valores e no contexto social de cada indivíduo. A lei utilizada para determinada classe social não pode ser utilizada para outra classe, da mesma forma que a lei aplicada sobre um determinado grupo étnico não pode ser aplicada para outra.

Na prática esta visão leva a inexistência de um conjunto de leis consolidado, como a Constituição ou o Código Civil.

Projeto do Código Civil, elaborado pelo jurista Clóvis Beviláqua, em impressão da Imprensa Nacional em 1900
Projeto do Código Civil, elaborado pelo jurista Clóvis Beviláqua, em impressão da Imprensa Nacional em 1900

Relativismo ontológico

O relativismo ontológico questiona a existência de verdades/realidades objetivas, tornando-as subjetivas para cada pessoa.

Para seus defensores, a realidade varia de acordo com as percepções e perspectivas individuais/culturais. Dessa forma a realidade está sujeita as experiências de cada pessoa, o contexto sociocultural molda sua visão de realidade.

Os principais pensadores que desenvolveram esta visão de mundo, foram:

  • Protágoras;
  • Nietszsche;
  • Foucaul;
  • Richard Rorty;
  • Thomas Kuhn ;
  • Jean-François Lyotard.

Críticas ao relativismo ontológico

Ao tornar a verdade e a realidade relativas a cada indivíduo, conceitos como “correto”, “errado” e “justiça“ tornam-se obsoletos.

Dessa forma um criminoso não poderia ser julgado conforme um padrão legal ou ético da sociedade. Um padrão legal ou ético não pode existir em uma sociedade em que cada indivíduo segue sua própria verdade.

Relativismo estético

O relativismo estético defende que conceitos como beleza, bom gosto e o que é aparentemente aceitável, são pessoais e não podem ser impostos por uma cultura ou grupo.

Basicamente, a pessoa possui o direito de alterar qualquer característica estética de seu corpo/aparência, sem ser julgada ou considerada “fora do padrão“. Pois não existe um “padrão“ a ser seguido.

O principal defensor desta filosofia é o americano Richard Shusterman, um filósofo pragmático professor na Florida Atlantic University. [8][9]

Relativismo lógico

O relativismo lógico argumenta que as verdades lógicas, como a matemática, e as regras da linguagem humana, são relativas aos diferentes sistemas de crenças. Com isto, não existe um sistema lógico universal, mas sim diversos sistemas lógicos distintos sujeitos a seus conjuntos de crenças. [10]

O principal autor da lógica relativista foi o matemático Willard Van Orman Quine. Este desenvolveu seus pensamento a partir da relativística ontológica.

Foto de Willard van Orman Quine
Foto de Willard van Orman Quine

Relativismo temporal

O chamado “relativismo temporal”, defende uma ideia que as verdades estão relativas a seu tempo. Ou seja, o que foi verdade para uma geração não será verdades para geração seguinte. Dessa forma, a verdade varias conforme o período histórico, cultura e filosofia vigente. [11]

Este pensamento foi desenvolvido pelo metafísico idealista, J.M.E. McTaggart. Ele desenvolveu este conceito a partir de suas observações das mudanças socioculturais do final do século XIX e início do século XX.

Relativismo psicológico

Desenvolvido por Jean Piaget, um biólogo e psicólogo suíço, o relativismo psicológico sugere que a compreensão da realidade varia conforme o estágio cognitivo que cada indivíduo se encontra. Os estágios cognitivos, conforme estabeleceu Piaget, são diferentes níveis de desenvolvimento psicológico. [12]

Relativismo da verdade pragmática

O relativismo da verdade pragmática é uma corrente filosófica que nega e existência de uma verdade única. Segundo esta visão, se uma ideia funciona bem na prática, logo ela é verdadeira. Se algo produz resultados considerados satisfatórios para o grupo que o realiza, logo este algo é uma verdade satisfatória para este grupo. [13]

Os principais pensadores que desenvolveram a esta corrente filosófica, foram William James e Charles Sanders Peirce. Os dois pensadores são considerados os pais do pragmatismo do século XIX, sua visão relativista é fruto de seus estudos e observações da sociedade da época.

Foto de William James
Foto de William James

Relativismo progressista

O “relativismo progressista” é um termo utilizado para descrever um conjunto de conceitos e práticas relativistas adotadas por movimentos progressistas. Este termo foi cunhado pelos críticos dos movimentos progressistas de esquerda. [14]

Segundo seus críticos, esses movimentos tendem a relativizar valores e verdades absolutas em nome da diversidade e da inclusão. Isto pode ser observados através da “cultura do cancelamento” e a relativação moral produzida por movimentos LGBTQIA+.


Relativismo e outras correntes de pensamento

Além do relativismo encontramos diversas correntes de pensamentos adotadas e defendidas da sociedade. Algumas dessa correntes defendem princípios semelhantes entre si, enquanto outras são completamente opostas.

Nesta seção queremos apresentar as principais correntes filosóficas vigente no mundo e quais suas semelhanças, ou divergências, com a filosofia relativista.

Relativismo e niilismo

Muitos comparam o relativismo com o niilismo, por conta de suas visões contrárias ao conservadorismo. Entretanto, enquanto o relativismo está associado a uma diversidade de pensamentos e ao desapego de uma verdade universal e absoluta, o niilismo prega a completa ausência de valores intrínsecos.

AspectoRelativismoNiilismo
DefiniçãoA verdade é subjetiva e depende do contexto cultural, histórico ou individual. Não há uma verdade universal.Negação de valores, significados ou propósitos objetivos na vida e no universo.
OrigemSurgiu em contextos filosóficos como a Grécia Antiga (sofistas) e se consolidou em correntes modernas.Origem no ceticismo extremo da filosofia grega e desenvolvido por Friedrich Nietzsche e outros no século XIX.
Visão sobre a verdadeA verdade é relativa e mutável conforme diferentes perspectivas.A verdade objetiva não existe ou é irrelevante; tudo é vazio de significado.
Visão éticaA moral é culturalmente determinada e variável. Não existem valores morais universais.Os valores morais não possuem base real; podem ser ilusórios ou irrelevantes.
Impacto culturalInfluenciou debates sobre multiculturalismo, pluralismo e direitos individuais.Pode levar a crises existenciais, pessimismo ou, paradoxalmente, liberdade absoluta.
Crítica principalPode levar ao subjetivismo extremo e à falta de base para julgar práticas imorais.Pode fomentar niilismo passivo, desespero ou apatia frente à vida.
Principais pensadoresProtágoras, Michel Foucault, Richard Rorty, Jacques Derrida.Friedrich Nietzsche, Jean-Paul Sartre (na vertente existencialista), Martin Heidegger.
Influência na filosofia contemporâneaFundamenta correntes como o pós-modernismo e relativismo cultural.Inspirou debates sobre existencialismo, absurdismo e pós-estruturalismo.

Relativismo e etnocentrismo

O etnocentrismo é uma visão de mundo que considera os valores e cultura de um povo superior as outras, e que sendo superior deve ser ensinada e praticada pelos demais povos.

Em contrapartida, o relativismo considera que os valores adotados por um povo não podem ser considerados superiores ou inferiores aos valores de outro povo.

AspectoRelativismoEtnocentrismo
DefiniçãoDoutrina que afirma que valores, costumes e verdades são relativos ao contexto cultural ou subjetivo.Visão que considera a própria cultura ou grupo como superior aos outros.
Principais PensadoresProtágoras, Michel Foucault, Franz Boas.William Graham Sumner, Claude Lévi-Strauss.
Perspectiva sobre a CulturaTodas as culturas têm valor igual e devem ser entendidas em seus próprios contextos.As culturas são julgadas com base nos padrões e valores da própria cultura.
Origem FilosóficaDeriva do ceticismo filosófico grego e é reforçado pelo pensamento antropológico moderno.Surge de preconceitos históricos, sociais e falta de exposição à diversidade cultural.
Impacto na TolerânciaPromove a tolerância, valorizando a diversidade cultural.Diminui a tolerância, levando à discriminação e preconceitos culturais.
Atitude para com Outras CulturasAceitação e esforço para compreender sem julgamento externo.Julgamento ou rejeição de culturas que diferem dos próprios valores e costumes.
Exemplo Prático“O que é moralmente certo em uma cultura pode ser moralmente errado em outra, e ambas devem ser respeitadas.”“Minha cultura é a mais civilizada; outras deveriam se adaptar ao meu modo de vida.”
Relação com a MoralidadeA moralidade é vista como relativa ao contexto cultural e histórico.A moralidade da própria cultura é considerada universalmente válida.
Implicações PositivasEstimula o diálogo intercultural e a valorização da diversidade.Pode fortalecer a identidade cultural e coesão dentro de um grupo.
Implicações NegativasPode levar ao relativismo moral extremo, onde nada é considerado objetivamente errado.Alimenta preconceitos, discriminação e conflitos entre culturas.
Críticas ComunsRelativiza valores universais, dificultando a aplicação de direitos humanos globais.Ignora a complexidade de outras culturas, impondo um ponto de vista único.
Contribuição ao Debate CulturalIncentiva a análise e compreensão de diferentes perspectivas.Limita o diálogo e reforça estereótipos sobre culturas diferentes.

Relativismo e absolutismo

O absolutismo e o relativismo são visões opostas do mundo. Enquanto o absolutismo filosófico sustenta a existência de valores, princípios e verdades universais e imutáveis, o relativismo prega que qualquer verdade ou princípio está relativo ao contexto cultural de um povo.

Ambas as visões vivem em constante discordância, sendo adotadas conforme a visão de mundo de cada. Diversas religiões, como o cristianismo, pregam uma visão absoluta do mundo, enquanto religiões, como o Budismo Madhyamaka, prega uma visão mais relativa com a existência de diferentes verdades.

AspectoRelativismoAbsolutismo
DefiniçãoDoutrina que afirma que valores, verdades e moralidade são relativos ao contexto cultural, histórico ou subjetivo.Doutrina que sustenta que existem verdades ou princípios universais e imutáveis, válidos para todos os tempos e lugares.
Principais PensadoresProtágoras, Michel Foucault, Franz Boas.Platão, Immanuel Kant, Tomás de Aquino.
Perspectiva sobre a VerdadeA verdade é subjetiva e contextual; varia de acordo com a cultura, a época ou o indivíduo.A verdade é objetiva, universal e independente de variações culturais ou históricas.
Origem FilosóficaDeriva do ceticismo e das ideias sofistas na Grécia Antiga, ganhando força no pós-modernismo.Enraizado no pensamento metafísico de Platão e no racionalismo filosófico clássico.
Relação com a MoralidadeA moralidade é relativa ao contexto e às normas sociais de cada sociedade ou indivíduo.A moralidade é baseada em princípios universais e invariáveis, válidos para todos os seres humanos.
Impacto na TolerânciaPromove a tolerância e o entendimento das diferenças culturais, mas pode enfraquecer padrões éticos universais.Oferece bases sólidas para direitos humanos universais, mas pode ser rígido em relação às diferenças culturais.
Atitude perante a DiversidadeValoriza a diversidade, considerando todas as culturas igualmente válidas dentro de seus contextos.Julga culturas ou práticas com base em padrões universais, podendo rejeitar práticas consideradas erradas universalmente.
Exemplo Prático“O que é certo em uma cultura pode ser errado em outra; tudo depende do contexto.”“Há valores e princípios que devem ser respeitados independentemente da cultura.”
Implicações PositivasIncentiva a flexibilidade e o diálogo intercultural.Estabelece normas éticas universais, como os direitos humanos e a dignidade humana.
Implicações NegativasPode levar ao relativismo extremo, onde nenhuma prática é condenável, incluindo violações de direitos humanos.Pode gerar intolerância ou imposição cultural ao desconsiderar particularidades culturais locais.
Críticas ComunsRelativiza verdades fundamentais, dificultando o consenso em questões éticas e morais globais.Pode ser dogmático, ignorando a complexidade das culturas e contextos individuais.
Contribuição ao Debate FilosóficoAmplia a compreensão das variações culturais e históricas, desafiando noções rígidas de verdade.Proporciona uma base sólida para estabelecer princípios éticos comuns e universais.

Relativismo e subjetivismo

Enquanto o relativismo considera que a verdade e a moralidade está relativa a um grupo e contexto cultural em que esse grupo se encontra, o subjetivismo defende que a verdade e moralidade são determinadas a partir das percepções e opiniões que o indivíduo adota ao longo da vida.

Para o subjetivismo os conceitos de verdade e moral não são sólidos e mudam conforme a pessoa se desenvolve e muda de opinião.

Apesar de possuem poucas diferenças, ambas correntes de pensamento acabam se complementando e se mesclando. Ao ponto de alguns autores consideram uma sinônimo da outra.

AspectoRelativismoSubjetivismo
DefiniçãoDoutrina que afirma que a verdade, moralidade e valores são relativos ao contexto cultural, histórico ou social.Corrente que sustenta que a verdade, moralidade e valores são determinados pela percepção ou opinião individual.
Principais PensadoresProtágoras, Franz Boas, Michel Foucault.David Hume Jean-Paul Sartre, Friedrich Nietzsche.
Origem FilosóficaDeriva do ceticismo e do pensamento sofista da Grécia Antiga, com reforço pela antropologia moderna e o pós-modernismo.Enraizado no empirismo britânico e no existencialismo europeu.
Perspectiva sobre a VerdadeA verdade é relativa ao contexto sociocultural e histórico.A verdade depende da percepção, opinião ou experiência individual.
Relação com a MoralidadeA moralidade varia entre culturas e períodos históricos; não existe uma moral universal.A moralidade é subjetiva e baseada em sentimentos ou julgamentos individuais.
Impacto na TolerânciaPromove a tolerância cultural, valorizando a diversidade entre povos.Valoriza a liberdade individual, mas pode enfraquecer padrões coletivos de conduta.
Atitude perante a DiversidadeDefende a validade de diferentes normas e costumes em contextos culturais distintos.Cada indivíduo pode estabelecer seu próprio sistema de valores, independentemente de normas externas.
Exemplo Prático“O que é considerado moral em uma cultura pode não ser em outra, e ambas estão certas dentro de seus contextos.”“O que é moral para mim pode não ser para outra pessoa, mas ambas as perspectivas são válidas.”
Implicações PositivasIncentiva o diálogo intercultural e a compreensão mútua.Promove a autonomia individual e a liberdade de pensamento.
Implicações NegativasPode levar ao relativismo extremo, dificultando a condenação de práticas prejudiciais universalmente.Pode resultar em egoísmo ou em uma sociedade desprovida de normas compartilhadas.
Críticas ComunsRelativiza verdades fundamentais, dificultando a aplicação de princípios universais.Pode justificar atitudes imorais ou prejudiciais como meras “opiniões pessoais”.
Contribuição ao Debate FilosóficoEnriquecer a análise das variações culturais e históricas, questionando verdades absolutas.Estimula a reflexão sobre o papel das experiências individuais na formulação de valores.

Relativismo e pragmatismo

O relativismo e o pragmatismo são visões de mundo muito semelhantes. Enquanto o relativismo prega a diversidade de verdades, o pragmatismo sustenta que algo só pode ser considerado uma verdade, se possuir uma utilidade prática para o indivíduo e gerar resultados benéfico para sua vida.

AspectoRelativismoPragmatismo
DefiniçãoDoutrina que afirma que a verdade, valores e moralidade são relativos ao contexto cultural, histórico ou subjetivo.Filosofia que avalia ideias e verdades com base em sua utilidade prática e nos resultados que produzem.
Principais PensadoresProtágoras, Michel Foucault, Franz Boas.Charles Sanders Peirce, William James, John Dewey.
Origem FilosóficaDeriva do ceticismo e do pensamento sofista da Grécia Antiga, com reforço pelo pós-modernismo e antropologia cultural.Surge nos Estados Unidos no final do século XIX como uma reação ao idealismo e empirismo tradicionais.
Perspectiva sobre a VerdadeA verdade é relativa ao contexto sociocultural e histórico, variando entre grupos e épocas.A verdade é instrumental; uma ideia é verdadeira se funciona bem em um contexto prático.
Relação com a MoralidadeA moralidade varia entre culturas e períodos históricos; não existe um padrão moral universal.A moralidade é avaliada por seus efeitos e utilidade prática para promover o bem-estar coletivo.
Impacto na TolerânciaPromove a tolerância cultural, valorizando a diversidade entre povos e costumes.Foca em soluções práticas para problemas sociais, promovendo o diálogo e a cooperação.
Atitude perante a DiversidadeReconhece e respeita diferentes sistemas de crenças e normas, considerando-os válidos em seus contextos.Busca métodos pragmáticos para lidar com a diversidade, priorizando soluções funcionais e inclusivas.
Exemplo Prático“O que é certo ou errado depende do contexto cultural; nenhuma visão é universal.”“Se uma ideia resolve um problema ou promove progresso, ela deve ser considerada válida.”
Implicações PositivasEncoraja a aceitação da diversidade cultural e histórica.Promove soluções práticas e colaborativas, com foco na eficácia e no progresso.
Implicações NegativasPode levar ao relativismo extremo, dificultando a condenação de práticas prejudiciais universalmente.Pode ignorar princípios morais ou éticos em favor de resultados imediatos ou pragmáticos.
Críticas ComunsRelativiza verdades fundamentais, dificultando o consenso em questões éticas globais.Pode ser excessivamente utilitarista, desconsiderando valores intrínsecos ou a longo prazo.
Contribuição ao Debate FilosóficoEnriquecer a análise das variações culturais e históricas, questionando verdades absolutas.Introduz uma abordagem prática e orientada a resultados para resolver problemas filosóficos e sociais.

Relativismo e ceticismo

O ceticismo é uma filosofia que nega a possibilidade de se alcançar uma verdade ou uma variedade de verdades. Em contrapartida, a filosofia relativista, prega a existência de diversas verdades, cada uma delas sujeita a seu povo e contexto sociocultural.

Para os filósofos céticos, não existe uma verdade, ou mesmo uma diversidade de verdades, tudo deve ser questionado e tudo é incerto.

AspectoRelativismoCeticismo
DefiniçãoDoutrina que afirma que a verdade, valores e moralidade são relativos ao contexto cultural, histórico ou subjetivo.Corrente filosófica que questiona a possibilidade de alcançar certezas absolutas sobre a verdade ou o conhecimento.
Principais PensadoresProtágoras, Michel Foucault, Franz Boas.Pirro de Élis, Sexto Empírico, David Hume.
Origem FilosóficaDeriva do pensamento sofista da Grécia Antiga e do relativismo cultural desenvolvido pela antropologia e pelo pós-modernismo.Originado na filosofia grega, especialmente com Pirro, como uma reação às certezas dogmáticas dos filósofos anteriores.
Perspectiva sobre a VerdadeA verdade é relativa ao contexto sociocultural, histórico ou subjetivo, variando entre grupos ou indivíduos.A verdade é incerta ou inatingível, e toda afirmação deve ser questionada ou suspensa.
Relação com a MoralidadeA moralidade é relativa a normas culturais ou preferências individuais, sem um padrão universal.Questiona se podemos conhecer ou definir padrões morais com certeza.
Impacto na TolerânciaPromove a tolerância cultural e a valorização da diversidade entre povos.Pode incentivar uma postura de abertura ao desconhecido, mas também pode gerar inação ou indecisão.
Atitude perante a DiversidadeRespeita e valoriza as diferenças culturais, considerando-as válidas dentro de seus próprios contextos.Não julga as diferenças culturais, mas suspende qualquer afirmação definitiva sobre elas.
Exemplo Prático“O que é moral em uma cultura pode não ser em outra, e ambas são válidas em seus contextos.”“Não podemos ter certeza sobre o que é moral ou imoral; devemos suspender o julgamento.”
Implicações PositivasEstimula o diálogo intercultural e a compreensão mútua.Fomenta a dúvida saudável e a investigação crítica, evitando dogmatismos.
Implicações NegativasPode levar ao relativismo extremo, dificultando a condenação de práticas prejudiciais.Pode gerar paralisia intelectual ou falta de ação diante de problemas concretos.
Críticas ComunsRelativiza verdades fundamentais, dificultando a formulação de princípios universais.Exagera na suspensão do julgamento, ignorando a necessidade de decisões práticas ou éticas.
Contribuição ao Debate FilosóficoQuestiona verdades absolutas e estimula a análise crítica das normas culturais e históricas.Desafia certezas filosóficas, incentivando uma postura investigativa e crítica.

Relativismo e empirismo

A filosofia relativista defende a existência de diferentes verdades, relativas a cada pessoa e cultura. O empirismo, por sua vez, é uma teoria filosófica que defende que o conhecimento, a Verdade, é adquirido a partir das experiências sensoriais de cada pessoa.

O empirismo defende a existência de uma verdade universal e absoluta, e não a pluralidade de verdades.

AspectoRelativismoEmpirismo
DefiniçãoDoutrina que afirma que a verdade, valores e moralidade são relativos ao contexto cultural, histórico ou subjetivo.Filosofia que sustenta que todo conhecimento deriva da experiência sensorial e da observação.
Principais PensadoresProtágoras, Michel Foucault, Franz Boas.John Locke, George Berkeley, David Hume.
Origem FilosóficaDeriva do pensamento sofista da Grécia Antiga, com desenvolvimento posterior na antropologia moderna e no pós-modernismo.Desenvolveu-se no período moderno, especialmente na Inglaterra, como uma reação ao racionalismo cartesiano.
Perspectiva sobre a VerdadeA verdade é relativa ao contexto sociocultural, histórico ou subjetivo.A verdade é obtida por meio da observação, experimentação e verificação empírica.
Relação com o ConhecimentoO conhecimento é condicionado pelo ambiente cultural e pelas perspectivas individuais.O conhecimento é limitado à experiência sensorial; ideias que não podem ser verificadas empiricamente são rejeitadas.
Relação com a MoralidadeA moralidade é vista como um produto de convenções culturais ou individuais, sem padrões universais.A moralidade pode ser explicada como resultado de experiências e hábitos humanos adquiridos.
Método de ValidaçãoAnalisa contextos sociais, culturais e históricos para entender verdades locais.Depende de métodos empíricos, como observação e experimentação, para validar conhecimento.
Impacto na TolerânciaPromove a aceitação de diferentes culturas e valores, considerando-os válidos em seus próprios contextos.Neutralidade perante crenças até que possam ser validadas por evidências observáveis.
Atitude perante a DiversidadeReconhece a diversidade cultural e histórica como base para diferentes verdades e normas.Examina as diferenças culturais com base na observação e nas evidências.
Exemplo Prático“O que é considerado moral ou verdadeiro em uma cultura pode ser diferente em outra, e ambas têm valor.”“A teoria só será aceita se for comprovada por meio de experiências sensoriais ou experimentação.”
Implicações PositivasEstimula a aceitação da diversidade cultural e histórica, promovendo a tolerância.Contribui para o progresso científico e o desenvolvimento de métodos rigorosos de investigação.
Implicações NegativasPode levar ao relativismo extremo, dificultando a aplicação de padrões éticos universais.Ignora aspectos não mensuráveis da experiência humana, como espiritualidade ou subjetividade.
Críticas ComunsRelativiza verdades fundamentais, dificultando o consenso em questões éticas e morais.Reduz a complexidade do conhecimento humano ao limitar-se apenas à experiência sensorial.
Contribuição ao Debate FilosóficoQuestiona verdades absolutas e incentiva a análise crítica das normas culturais e históricas.Introduz métodos científicos rigorosos, moldando a ciência moderna e a epistemologia.

Relativismo e universalismo

O universalismo é uma doutrina que defende a ideia de verdades, princípios e valores universais, que são válidos para todas as culturas e pessoas. Enquanto o relativismo, em oposição, defende a inexistência de valores e verdades universais, sustentando que elas são relativas e válidas a cada povo e pessoa.

AspectoRelativismoUniversalismo
DefiniçãoDoutrina que afirma que a verdade, moralidade e valores são relativos ao contexto cultural, histórico ou subjetivo.Doutrina que sustenta a existência de verdades, valores e princípios morais universais válidos para todos os seres humanos.
Principais PensadoresProtágoras, Michel Foucault, Franz Boas.Immanuel Kant, Tomás de Aquino, John Rawls.
Origem FilosóficaDeriva do pensamento sofista da Grécia Antiga e foi amplificado pelo desenvolvimento da antropologia cultural e do pós-modernismo.Enraizado no pensamento grego clássico (Platão e Aristóteles) e fortalecido pelo racionalismo e pelas tradições éticas modernas.
Perspectiva sobre a VerdadeA verdade varia conforme o contexto cultural, histórico ou subjetivo; não há uma verdade única.A verdade é objetiva, absoluta e imutável, aplicando-se a todos os tempos, lugares e pessoas.
Relação com a MoralidadeA moralidade é relativa aos costumes e normas de cada sociedade ou indivíduo.A moralidade é baseada em princípios universais que transcendem culturas e períodos históricos.
Impacto na TolerânciaPromove a aceitação de diferentes valores e normas culturais, valorizando a diversidade.Busca estabelecer princípios universais que promovam a dignidade e os direitos humanos.
Atitude perante a DiversidadeRespeita e valoriza as diferenças culturais, considerando-as igualmente válidas dentro de seus próprios contextos.Considera que certas normas ou valores podem ser comuns a todas as culturas, promovendo padrões éticos universais.
Exemplo Prático“O que é moral em uma cultura pode não ser em outra, e ambas estão certas em seus próprios contextos.”“Os direitos humanos, como a liberdade e a dignidade, são princípios universais válidos para todos.”
Implicações PositivasEstimula o respeito à diversidade cultural e histórica, promovendo a tolerância.Fornece uma base sólida para a defesa de direitos humanos universais e da justiça global.
Implicações NegativasPode levar ao relativismo extremo, dificultando a condenação de práticas prejudiciais universalmente.Pode ser visto como etnocêntrico ou imperialista ao impor padrões universais a diferentes culturas.
Críticas ComunsRelativiza verdades fundamentais, dificultando o consenso em questões éticas globais.Pode ignorar a complexidade e especificidade das culturas locais em nome de princípios universais.
Contribuição ao Debate FilosóficoEnriquece a análise das diferenças culturais e históricas, questionando verdades absolutas.Oferece um quadro ético abrangente para lidar com questões globais, como direitos humanos e justiça.
Aplicação na SociedadeEstudos antropológicos e culturais que valorizam as perspectivas locais e contextuais.Declaração Universal dos Direitos Humanos, que reflete princípios universais de dignidade e igualdade.

Características do relativismo

O relativismo é uma corrente filosófica crescente, que se manifesta em diferentes contextos e de distintas formas, caracteriza, principalmente, pela negação de uma verdade, princípios e valores, universais a absolutos.

Dentre as principais características dessa filosofia, podemos citar:

  • Afirmar que as verdades e valores morais são relativos aos contextos históricos, culturais e sociais em que são produzidos;
  • Sustentar que não existe uma verdade absoluta ou validade intrínseca;
  • Considerar que os pontos de vista adquirem significado apenas em relação a fatores subjetivos;
  • Negar que existe uma verdade universal;
  • Considerar que o certo e o errado são conceitos que variam de pessoa para pessoa.

Significado de relativismo

Relativismo é uma vertente filosófica que nega a existência de verdades e princípios universais e absolutos.


Aprenda mais

[Vídeo] A DITADURA DO RELATIVISMO. Hernandes Dias Lopes.

[Vídeo] “O relativismo é um problema filosófico”, afirma Pondé. Jornalismo TV Cultura.


Perguntas comuns

Nesta seção apresentamos as principais perguntas, com suas respectivas respostas, sobre este termo teológico.

O que é relativismo religioso?

O relativismo religioso é uma corrente de pensamento que nega a existência de uma verdade absoluta e universal, promovida por algumas religiões. Esta corrente considera todas as religiões igualmente válidas, eliminando a necessidade da adoção de dogmas, de uma ortodoxia ou ortopraxia específica.

Qual o objetivo do relativismo cultural?

O relativismo cultural tem como objetivo promover uma visão relativa e igualitária do mundo. Cada cultura possui sua própria visão de mundo, chamada de conjunto de verdades, e esse conjunto de verdades não é superior ou inferir ao conjunto de outra cultura, todas possuem uma equidade, são verdadeiras e válidas dentro de seu próprio contexto.

O que é relativismo ético?

O relativismo ético é uma posição filosófica que nega a existência de valores e princípios universal/absolutos, os conceitos de “certo” e “errado” são condicionados as experiências e percepções de cada indivíduo ou grupo.

O que é uma postura relativista?

A postura relativista é uma abordagem filosófica que nega a existência de verdades universais e absolutas. É uma forma de enxergar o mundo de modo a tornar tudo relativa, ou subjetivo, a percepção de seu observador.

Quando surgiu o relativismo?

O relativismo, como corrente filosófica, surgiu na Grécia Antiga em V a.C. com os sofistas, sendo seu principal filósofo Protágoras. Ao longo dos século a filosofia foi se desenvolvendo, agregando pensamentos do subjetivismo, ceticismo e outras correntes filosóficas.


Fontes

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[5] Sofistas e a arte da retórica – Mundo Educação, UOL.

[6] Gandra Filho: As raízes e os frutos do moderno relativismo moral. Conjur.

[7] O que é o relativismo? Presbíteros.

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[14] A podridão moral do relativismo progressista e antissemita. Mario Sabino. Metrópolis.

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[16] Luper, Steven (2004). «Epistemic Relativism»Philosophical Issues: 271–295.

[17] Sapir–Whorf hypothesis (Linguistic Relativity Hypothesis)

[18] “World Youth Day News August August 21, 2005”.

[19] “Humanum genus”.

[20] “Mass “Pro Eligendo Romano Pontifice”: Homily of Card. Joseph Ratzinger”.

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